O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 9
Capitulo 9




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Eu sei. Você tem toda a curiosidade do mundo de saber por quem me decidi, certo? Na verdade, eu também tenho. As coisas não são tão simples como quando pensamos ou achamos que vai acontecer exatamente como é na nossa cabeça.

A vida é confusa e sempre... Sempre imprevista. Em um segundo você sabe tudo e no outro, quem sabe? Quantos segundos se leva para dizer um "sim" ou "não"? Segundos mudam toda uma cena. Imprevistos, também. Destino... Talvez seja meio por aí. Destino.

A melhor decisão para quando você não pode fazer algo, é não fazer nada. Seria egoísta demais eu optar por uma só pessoa, sendo que eu não as possuo. Eles não são meus! Pessoas são só pessoas e não têm dono. Então, eu decidi que ia cuidar de mim mesma, do meu coração e deixar que a vida se encarregasse de todo o resto, no tempo dela.

Isso também tem a ver com que eu não sei decidir nada. Não sei. Há os que não acreditam em astrologia, mas eu sou libriana e, bem, é uma luta para termos uma resposta na ponta da língua. Eu quase nunca me lembro disso, exceto quando acontece essas coisas, vai entender.

Enfim... Eu escolhi deixar as coisas no lugar delas e me deixar viver, uma coisa por vez. Só espero que isso não seja tão difícil como nos meus planos. Eu preciso pegar leve e eu vou pegar. Já é quase fim de semana e é hora de relaxar. Esvaziar a mente turbulenta que essa semana confusa deixou.

Relaxar, Rachel.


•••

 

Stacey passou para pegar um café e me esperou para irmos juntas para casa. Sabe, acho que ando um pouco estranha, carente, mesmo, porque isso me fez tão bem. Ela é a melhor pessoa dessa cidade e isso eu tenho certeza. Ninguém me faz sentir tão bem como ela. Seus detalhes, sua proteção, seus mimos... Eu não preciso de mais nada! Ter amigos é ter tudo. Pode apostar que é, mas ter essa garota maluca vai além!

Estávamos chegando em casa, quando Paul está segurando a porta do elevador para nós. Bem, ele está sozinho e nada errado pode acontecer, então corremos para aceitar a carona.

 

— Ciao, bellas. — Ele não perde essa mania, mas diz isso com uma voz e um sorriso incrível.

— Hey, Paul! — Stacey disse. — Você não vai quebrar o elevador hoje!

— Não... — Sorriu. — Só se vocês quiserem.

— Hoje não, mas obrigada. — Rimos e ela ajeitou sua bolsa no ombro. — E aí, qual seus planos pro fim de semana?

— Ficaram sabendo do super show que vai ter na praia de Coney Island? Quase um Coachella!

— Eu ouvi... — Suspirou. — Estou sem carro e sem dinheiro pra hotel, senão iria.

— Uma... Amiga me emprestaria uma casa com seis quartos, vocês não pagariam nada! Só precisamos de um carro! — Abriu os braços.

— Rachel... — Me olhou de lado com um sorriso sapeca. — Seu namoradinho não tem carro?

— Não! Não, não e não! — Balancei os braços depressa. — E ele não é meu namorado!

— É só uma carona, linda. Lá vocês podem até dormir em quartos separados. — Paul fez biquinho. 

— Por favor, Rachel, por favor! — Stacey juntou as mãos e dava pulinhos curtos.

 

Olho os dois e suspiro. Loucos.

 

•••

 

Estamos no carro de Josh, como se fosse um filme. Ele dirigindo em alta velocidade, com nossos cabelos voando, menos o dele que está sempre engomadinho no gel. No rádio, toca Lean On do Major Lazer e Stacey e Paul fazem uma dancinha no banco de trás, enquanto nós rimos muito no banco da frente. A energia deles é tão contagiante que começamos à dançar, também, tentando acompanhar o ritmo.

A viagem correu o mais leve e divertida possível. Piadinhas, músicas e uma Pringles dividida, o que mais poderíamos pedir? Josh foi um amor, beijava minha mão, às vezes e eu voltei à me sentir bem com ele... É aquele sorriso descontraído e lindo de sempre, o culpado de tudo.

Deixamos as malas na casa enorme da "amiga" de Paul, vestimos algo mais confortável e fomos atrás de ingressos o mais rápido possível. Tudo certo. O festival é na praia, dá pra ser melhor? Um palco enorme, montado perto do mar e a roda gigante acesa do lado oposto, iluminando ainda mais a areia. É um sonho! Há quanto tempo eu não via um cenário desses?

Não conseguimos ficar lá na frente, é claro, então ficamos numa área mais livre de pessoas se esmagando e assistimos o show pelo telão. Josh comprou cerveja para os quatro, na mini lojinha e nos relaxamos ainda mais.

Tudo estava mais do que perfeito. Halsey tocava no fundo e eu dançava colada em Josh, muitos toques e olhares... Ele me beijou e eu correspondi. Eu queria isso. Era perfeito para que isso acontecesse e então me deixei levar. Até que Paul e Stacey começaram a pular em cima de nós, é claro e nos separamos rindo. É oficial: estamos ficando, de novo.

Assistimos mais umas três bandas e o céu indicava que era de madrugada. O festival acabou por hoje e andamos quase em círculos, procurando a saída. A duplinha seguia atrás de nós, rindo mais do que tudo, sem dar atenção à nada e paramos para conversar com um grupo de amigos de Josh. Eu já os havia visto na festa e foram ótimos comigo, mas eu não conseguia me concentrar tanto assim. Eu só consigo olhar o mar, a vista, as luzes brilhante da roda gigante e... Espera aí.

Não pode ser. Eu não enxergo tão bem de longe, sem óculos, mas eu tenho certeza do que meus olhos vêem: Peter está aqui.

Ele não me vê, apesar de olhar em volta da mesma forma em que eu estava. Ao seu redor, há alguns homens de sua mesma idade e não há nenhuma mulher, então digo à Josh que vou falar com uns amigos e vou me certificar de que é ele.

Subo uma boa parte da areia, pois ele está lá em cima. Acho que ele estava indo embora e esperava seu grupo se reunir, não sei. No caminho, reparo em minha roupa: parte de cima do biquíni azul claro, parcialmente coberto com um moletom preto e branco que roubei de Stacey; shorts jeans e chinelo. 

Ele nunca me viu assim e quando ele me olha, eu coro.

 

— Rach! — Abriu um sorriso largo e me abraçou, colocando as mãos nos meus braços e checando meu corpo. — Uau! Que linda!

— Obrigada, você também não está nada mal. — Abracei-o e ri.

— Vem, quero te apresentar para uns caras. — Me abraçou com uma mão e me levou ao centro da rodinha em que ele estava. — Martin, Nick, Seth, Doug... Essa é a Rach, minha amiga e a princesa do prédio.

— Peter! — Abri a boca e sorri, acenando para eles. — Ele está mentindo, mas oi! — Todos me beijaram na bochecha e Peter me puxou para trás.

— Já abusaram, era só um oi. Vou dar uma volta com ela. Me encontrem no hotel.

— Você pode ir com eles, está tudo bem, eu estou com uns amigos... 

— Eu quero ficar com você, Rach... — Segurou meu queixo e apertou um pouco. — Me diz, seus amigos te levaram na roda gigante?

— Não! Não deu tempo... — Cruzei os braços e sorri. — E você, foi?

— Também não. Por que não vamos agora?

— Não, Peter... — Fiz uma careta. — Até chegarmos lá, já desligaram. 

— Soube que vai passar quase 72 horas em funcionamento, com intervalos curtos. Vamos, Rach! 

— Você se empolga como uma criança, sabia? — Ri.

— Você me deixa assim. — Sorriu e me abraçou pelo pescoço.

 

Andamos uma trilha até a roda gigante que parecia sem fim. É repetitivo, mas um fato, a vida nessa cidade — e com Peter, é um longo exercício. A fila estava pequena e depois de vermos uma turma subir, era a nossa vez. Ele pagou, porque eu estava sem dinheiro nenhum e pareceu bem feliz por isso. Homens...

Ele me deu a mão para entrar no circuito fechado e não me soltou até estarmos dentro da cabine. Essa proteção dele aperta meu coração. Eu gosto, mas é confusa. Balanço a cabeça, para distrair meus pensamentos, enquanto o assisto sentar e afivelar nossos cintos.

 

— De lá, da fila, parecia que cabiam quatro pessoas nas cabines...

— E cabem, Rach, mas eu comprei a em dupla.

— Que? — Ri. — Por que?

— Porque gosto de ficar só com você. — Deu de ombros. — Além do mais, homens entrariam aqui e olhariam suas pernas.

— Minhas pernas finas e brancas! Que lucro para eles. — Ergui as sobrancelhas, irônica.

— Rach. — Balançou a cabeça. — Não é assim.

— Então como?

— Você é como Coney Island. As pessoas vêem por fotos ou chegam perto da praia e dizem "É bonita" ou "É promissora", mas à medida que sobem nessa roda... Notam que a cidade tem muito à ser explorada e é muito mais que bonita. 

— Eu sou Coney Island? Sua metáfora foi alta, mas me senti maravilhosa. — Sorri, verdadeiramente, para ele. 

— Você é. Só precisam explorar você. — Me olhou fixamente.

— Você nem me conhece tanto assim, quer dizer, eu sou toda errada, isso você sabe. Sou preguiçosa, você sabe também. Faço sujeira quando como, tenho medo de escuro... E isso você sabe. — Suspirei.

— Eu sei muito, princesa, sei o que digo. — Acariciou meu rosto e logo colocou seu braço por trás de mim, me abraçando.

— Pete, aqui é lindo! Olha as luzes da roda, no mar... Olha o tamanho do palco. — Apontei a janela.

— Tudo parece pequeno agora, não é?

— Sim...

— A vida é assim, princesa. Às vezes ganhamos uns momentos tão bons, que os problemas não significam nada. — Beijou meu cabelo e a roda fez um barulho de trava, se sacudindo. — Tudo bem, chegamos no topo, ela vai parar um pouco antes de descermos.

— Você está cheio das palavras doces, Pete. Eu não conhecia esse seu lado, mas gosto. — Encostei em seu ombro.

— Eu quero ser melhor para você. Não quero te deixar triste o tempo todo e eu sinto que, às vezes você fica. Você merece o melhor, Rach e eu posso melhorar. Eu só não quero que me descarte da sua vida pelos seus novos amigos.

— Eu não vou te deixar por ninguém! — Beijei sua bochecha. — Ah, Peter, por que você anda com tanto medo de eu te deixar?

— Eu não sei. Só não posso te perder.

 

Suspirei. Ele tem a cidade toda na cama dele, é cheio de amigos exatamente como ele, mas será que não tem nenhuma amiga? Eu não sei, mas entendi que não podia mais deixá-lo sozinho. Ele precisava da minha presença. Será que eu consigo isso? 

Sim. Estou abraçada nele e não nos beijamos. Nada errado aconteceu. Eu não "traí" Josh. Sei que não temos nada concreto, mas ele quem me trouxe, nos beijamos e... Eu não repetiria o mesmo erro de dias atrás. O que está acontecendo aqui, com Pete, tem uma energia completamente diferente de quando nos beijamos. Foi um beijo impulsivo, nervoso, desesperado. Hoje, estamos em paz, relaxados, querendo o melhor, um do outro.

A roda gigante desceu, enquanto ele acariciava meu ombro com o polegar e eu escutava seu coração — ele tem um, tem até demais. Aquele abraço me acalma desde o dia que fiquei sem luz, no apartamento. E mesmo que eu tenha me decepcionado desde então com minhas próprias ilusões, sinto que nossa amizade amadureceu um pouco. Ele quer ficar perto e eu quero sua presença. Vamos tentar que isso funcione.

Saio do brinquedo contente e vejo que ele também. Damos alguns passos sorrindo um para o outro, quando um homem nos para.

 

— O casal não quer registrar esse momento em uma foto?

— Nós... Hum... Não... — Faço careta, tentando me explicar, quando Peter me corta.

— Sim, queremos. Duas, por favor. — Tirou sua carteira do bolso e pagou.

 

O fotógrafo bateu duas fotos na sua Polaroid e esperamos um tempo, para conferir, enquanto balançávamos as fotos no ar. Ambas saíram praticamente iguais e acho que essa era a intenção de Peter. Ele me deu uma e guardou a dele em sua carteira. Em um mundo de selfies e fotos digitais, é tão diferente ter algo em papel que me senti ganhando um presente. Guardei no bolso do shorts em que tinha botão, para não perder de jeito nenhum.

Meu celular vibrou com mensagens de Josh.

 

Josh:

Rachel????

Estou preocupado, te procurei por toda a praia

Me da notícias, estou aqui te esperando

 

Eu:

Oi!

Desculpa, encontrei uns amigos e me trouxeram até a roda gigante... Eu já estou voltando, beijos e desculpa de novo :(

 

Josh:
Fica aí, eu vou te buscar de carro

Beijos

 

Avisei à Peter que viriam me buscar e ele pareceu relaxado por isso. Nos despedimos e eu fiquei esperando por Josh mais algum tempo. Não consigo controlar meu sorriso e isso parece evidente, já que as pessoas passam sorrindo de volta, para mim. A noite foi divertida, a madrugada foi mágica. Eu estive, literalmente,no topo, mas agora é hora de voltar à vida real...


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