O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 8
Capítulo 8




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Eu acordei bem hoje. Certo, eu não vou mentir que não bocejei o dia todo e Daya me disse para descansar e andar uns cinco minutinhos para me recuperar. Apesar do sono, estou bem. Eu saí até mais cedo e o dia está bem claro. Acho que eu deveria comprar uma bicicleta, porque, às vezes, esse caminho cansa. Você pode dizer que são três à cinco minutos, mas eu trabalho o dia todo em pé! Se eu tenho dinheiro para comprar uma? Bem... Eu não sei, preciso checar isso.

Estou cantando Love Myself da Hailee Steinfeld, quando entro no prédio. Peter está saindo do elevador, enquanto estou fazendo uma dancinha e movendo a cabeça. Ele me escuta cantar que vou me amar e não preciso de mais ninguém e sorri para mim. Eu fico vermelha. Meu Deus, ele viu minha dancinha ridícula. Bob também está na portaria, mas ele sempre me vê assim — e move as mãos, dançando, também.

Paro no meio do corredor, acho que estou envergonhada demais para me mover ou parecer descolada depois... Disso. Bob aponta o quadro de correspondências e sei que está me dando uma ideia para seguir vivendo e também porque nunca abri aquilo. Conta de luz, uau, quantas pessoas usaram a luz comigo desde que me mudei? Eu hein.

 

— Menina, espere. Há essa caixa para você. — Aponta uma caixa regular no balcão.

— Para mim?— Me aponto, enquanto abro a caixa, pegando uma nota na tampa.

"Querida Rachel,

Você, agora, é uma mulher e com isso aparecem responsabilidades.

Essa secretária eletrônica era minha, mas será sua.

Não role os olhos, nem sempre a modernidade é eficiente.

Use-a, você irá gostar.


Com amor,

Papai."


— Hum, Rach ganhou um presente... — Peter disse, encostado na parede das correspondências.

— Algo assim, meu pai me deu. — Agarrei a secretária eletrônica grande e desnecessária e fui fechar meu armário.

— Uma secretária? Uau! Bem anos 90. — Riu. É bonitinho como ele é descontraído.

— Sim, talvez o John Travolta me ligue. — Dei de ombros e ele gargalhou.

— Ou talvez gravem um episódio de Friends na sua casa...

— Algo assim. — Dei uma risadinha, tirando a franja dos olhos. A conversa esfriou e isso não é bom. Droga!

— Rach... Sobre o beijo... — Olhou em volta e eu também. Bob havia desaparecido. O tom de voz de Peter soava como se estivéssemos vendendo algo proibido.

— Sim? Está tudo bem, eu acho. Quer dizer... Foi só... — Sorri um pouco forçado.

— Sim... Só um beijo, eu sei. Não quero que fique alguma coisa ruim entre nós. Digo, você é minha amiga.

— Sou? Sou. — Sou?

— É, claro que é. — Acariciou meus braços. — Não quero que nada mude.

— Não vai. Você disse, somos amigos...

— Porque... — Fez uma pausa. — Eu não quero que você se mude.

— Peter, eu não vou me mudar. — Ri. — Tenho uma secretária eletrônica para instalar, conta de luz que eu parcialmente nem usei para pagar e um salário que nem recebi. Como vou sair daqui?

— Isso é bom. Muito bom. — Sorriu, mas não o de sempre. Acho que ele se preocupou mesmo se eu ia me mudar.

— E você, hein? Por que não está dormindo? — Esbarrei o ombro no dele, tentando parecer legal.

— Eu preciso comprar algo para o almoço...

— Almoço... Às cinco da tarde. — Ri, olhando para cima.

— Isso. — Riu, tocando meu ombro. — Precisa de ajuda para carregar isso ou eu posso ir?

— Eu posso, eu juro.

— Certo. A gente se vê. — Beijou minha bochecha e foi para a porta.

— A gente se vê... Amigo. — Acenei e o acompanhei com o olhar.


•••

 

 

Instalei a coisa desnecessária assim que cheguei. Ela até que combina com a casa e é bonitinha. Dá um ar vintage, sabe? É a primeira "minha coisa" que coloquei na casa, desde que cheguei. Todos os móveis e equipamentos são do Carter. Acho que preciso fazer algumas mudanças sobre isso, mas meu dinheiro já está acabando...

Estou secando o cabelo na toalha, quando escuto um bipe. Sorrio, porque já sei quem é e vou para a sala. Quem seria a única pessoa à deixar um recado nos dias de hoje? Odiamos caixa-postal! Apertei um botão e deixei o telefone no viva-voz.


— Oi, Pai!— Sorrio, como se ele pudesse me ver e sento no banco.

— A sua tecnologia ganhou a minha, sabe? Eu baixei um aplicativo que me avisou quando seu presente chegaria e então eu testei!

— Sei. Isso é típico seu! — Rio e fecho os olhos.— Tudo bem por aí?

— É impossível estar mal na Flórida, querida, você devia vir para cá. Você sabe... Morar comigo.

— Você não vai aguentar a tranquilidade da Flórida por muito tempo... E eu trabalho, agora.

— Oh, é verdade. Minha menininha trabalha. Vamos falar sobre você, como estão as coisas?

— Bem... — Essa palavra soou meio arrastada, duvidosa, então segui. — Tenho um trabalho legal. E uma amiga no prédio.

— E... Um encontro. Como foi, hum?

— Josh é incrível, pai. Foi muito divertido...

— Mas?

— Mas o que?

— Eu já conheço essas frases, Rachel. Josh é maravilhoso, é lindo, o sonho de consumo das garotas, o genro que eu pedi, mas... Não é quem você quer. Há outro homem, não é isso?

— Pai... — Rolei os olhos. Eu não quero falar disso com o meu pai.

— Você está com o outro, agora?

— Não.

— Filha, qual o problema?

— O outro... — Passei a mão no cabelo, como se pudesse organizar meus pensamentos. — Tem a vida dele, somos amigos. E apareceu Josh...

— O suspeito número 1 é um mulherengo e ao passo que o suspeito número 2 fez coisas que ele não fez, mexendo com você. Os dois mexem, mas um te merece e o outro, não.

— Algo assim, eu acho. Quer dizer, eu não sei se nenhum dos dois "me merece". — Fiz o sinal de aspas com os dedos. — Eu não sei nada. É tudo novo e desconhecido, aqui.

— Eu posso te dar um conselho?

— Pode.

— Você sabe por que sua mãe e eu nos separamos?

— Não exatamente...

— Nós encontramos outras pessoas e nos envolvemos com elas. Tentamos fazer o casamento funcionar, passar por cima disso e então eu notei uma coisa.

— O que?

— Se nossa relação estivesse suficientemente boa, a segunda pessoa nunca teria aparecido. Por que dar segunda chance à algo, quando se pode dar a primeira à alguém? Um erro sempre vai ser um erro, Rachel. Entende o que eu quero dizer?

— Sim. Eu acho que sim... — Apoiei o queixo na mão, encarando o telefone.

— Pense nisso. Agora eu irei jantar, Heather me chama.

— O Senhor John Reed tem um jantar... Ele nunca se atrasa para comer. — Sorri. — Diz que mandei um beijo.

— O beijo será entregue, querida. Aproveite e vá comer, também. Eu amo você.

— Eu vou comer, pai, eu vou. Eu te amo.



Desligamos e eu fiquei algum tempo ali, pensando no que ele me disse. Dá para acreditar que eu falei de relações sentimentais com o meu pai? Ele conseguiu me ler tão bem. Talvez eu esteja visível demais ou isso acontece porque ele é meu pai. Eu não sei. Gosto do jeito em que ele me entendeu e foi paciente, amoroso, amigo... Se fosse Carter, estaria gritando — e olha que ele é bem calmo.

Em Los Angeles, eu nunca havia conversado com ele sobre essas coisas. James foi o namorado que ele conheceu por mais tempo e acho que exatamente por isso, ele não consegue superar. Apesar de não termos tocado no nome dele, sei que ele está feliz por eu ter seguido minha vida. Será que ele pensa que o "suspeito número 1" era sobre meu ex? Droga!

De todas as formas, o conselho serviu para ambos: James e Peter, mas... Não posso me basear só nisso e não posso ficar aqui, olhando o telefone para sempre. Preciso fazer algo. Esquecer, sabe? Esvaziar a mente. Não consigo me prender em problemas amorosos por muito tempo e não vai ser agora.

Tive uma ideia.


•••


Estou parada na porta com uma pizza na mão e Stacey não demora para abrir. Sei que foi louco, impulsivo e mal-educado da minha parte, mas eu a escutei chegar e corri para encomendar a comida, para me mudar ao apartamento vizinho. Ela poderia ter um namorado, eles poderiam estar juntos no momento, mas pelo seu grito e empolgação, seríamos apenas ela e eu.

Stacey me abraçou e me puxou tão rápido para dentro que, por sorte, eu consegui sustentar a caixa sem derrubar. Ela é louca, mas sua energia é simplesmente incrível. Eu estava mais desesperada para conseguir uma amiga, do que alguém mais... Sentimental. Parece que eu consegui, então vamos aproveitar!

Tudo correu tão bem e leve. Já comemos, tomamos meia garrafa de refrigerante e estamos largadas no sofá, sem sapatos, assistindo alguma coisa sem sentido na tv, quando Stacey se senta, meio virada para mim, puxando assunto.

 

— O que foi aquele grito com Peter no corredor?

— Que grito?

— Ai, não se faz, Rachel. — Deu uma risadinha e seguiu. — Vocês gritaram no corredor até o Bob pedir para pararem.

— Eu saí com Josh, sabe? — Sentei com pernas de índio. — Estávamos indo pro finalmente, quando de repente...

— Peter te ligou? — Arregalou os olhos.

— Não! Pior: Peter veio nos meus pensamentos e eu parei tudo.

— Rachel! — Jogou uma almofada em mim. — Era só um pensamento. Você não podia parar. Peter não merece isso! Nem Josh!

— Ai! — Joguei de volta. — Eu sei, mas eu não aguentei e voltei para casa... Fiquei tão irritada comigo e com ele que comecei a falar sem parar na porta dele e ele saiu.

— Ele te machucou? Quero dizer, verbalmente.

— Ele me beijou, Stacey...

— O quê? Men-ti-ra! Vocês ficaram! — Riu, se jogando para trás no sofá, balançando as pernas. — Eu não te disse que não tinha nada fraternal nos cuidados dele?

— Disse...

— Hum, mas você não parece feliz com isso. — Ela se sentou direito e franziu o cenho.

— Só foi um beijo, uma ficada, como vocês dizem. Ele me deixou claro, isso.

— Espera. — Levantou as mãos. — Ele deixou? O que ele disse?

— Que foi só um beijo, que somos amigos e que não quer que eu me mude por isso. — Dei de ombros. Relembrar me deu uma ponta de decepção, tristeza... Eu não sei, mas pareceu pior do que quando ele disse.

— Esse idiota não disse isso... Disse? — Ergueu uma sobrancelha.

— Disse. — Confirmei.

— Eu vou bater nele! — Levantou rápido, mas eu a segurei.

— Não, não, não! Ficou louca?

— Amigos! Ele beija você é agora quer ser amigo. Ele gosta de você e quer ser amigo! Eu quero que ele enfie essa amizade dele no...

— Stacey! — Arregalei os olhos e ri. Estava fácil esquecer os problemas e focar em como ela estava incrível, me defendendo.

— Você não pode correr atrás dele. Eu não deixo! Você é linda, tem um cara legal e Peter não foi nada legal com você. — Me apontou.

— Eu não vou fazer isso, já estamos conversados.

— Nossa, fiquei louca com ele, agora. — Sentou, outra vez.

— Stacey... — Ri. — Você ficou linda brava. Linda!

— Eu vou te defender, Rachel. Linda ou não, mas eu vou. — Deu de ombros, sorrindo.

— Sei que é precipitado, mas... Eu te amo, S.

— Eu te amo mais, amiga. — Me abraçou apertado.

— Amiga não, chega dessa palavra hoje, por favor. — Virei os olhos e ri.

— Minha irmã, mais velha que eu, que eu cuido como se fosse pequena. — Sorriu.

— Isso. — Fiz bico, rindo.

 

Ficamos abraçadas por um tempo e encostei em seu ombro, ganhando um cafuné. Acho que não tinha tido um carinho desses há semanas. Bem, quero dizer, eu recebi mil abraços de despedida, antes de me mudar, mas não assim. Esse era um abraço novo, de recomeço, sem pedir nada em troca. Foi inocente, sincero, bom... Eu amo essa garota e tenho certeza que ela me ama de volta.

Tive sorte hoje. Fui bem mimada, não posso negar. Ouvi conselho dos mais velhos, dos mais novos e também me ouvi. Nada é fácil. Nada, no mundo depende apenas de você, mas suas ações podem determinar o rumo, o caminho que uma ou mais vidas irão tomar. Suas decisões dependem apenas de você e hoje, consigo ver isso com clareza.

Eu já me decidi. Eu escolhi...


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