O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 7
Capítulo 7




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— Você vai o que?!

 

Peter abriu a porta, sem camisa e descalço, vestindo apenas uma calça de moletom cinza. Eu não esperava vê-lo. Eu esperava... Eu não sei o que, mas não era isso. Ele parecia estar dormindo ou coisa assim, então sei que eu realmente estava gritando, mas Stacey não saiu, apenas ele. Por que? Será que ele ouviu todo o resto ou só o final? Eu não sabia o que responder. Segui ali, parada, com a respiração acelerada pelos gritos e ansiedade, enquanto ele se encostava em sua porta, de braços cruzados e sério, repetindo a pergunta.

 

— Você vai o que? Se mudar?

— Eu não sei.

— Não sabe? — Ergueu as sobrancelhas, irônico. — Engraçado, Rachel, eu ouvi você dizer exatamente isso. — Rachel? Ele disse Rachel?

— Eu sei o que eu disse. — Estou nervosa, agora.

— O que está acontecendo com você, hein? Você foi para a cama com o cara lá?

— Quê?!

— Foi ou não? — Sua voz ficou áspera.

— Talvez. — Dei de ombros. — Não é da sua conta.

— Sim, é. — Desencostou da porta e deu um passo à frente, ainda sério ou pior que isso.

— Não, não é!

— É, Rachel, é! — Gritou, balançando os braços. Vai me bater?

— Não, eu já disse não e sabe por que? Porque você não é meu irmão, meu pai ou nada meu. Eu não sou sua Jessie e não estou na faculdade! Você não precisa ter pena de mim.

— Eu não tenho pena de você!

— Então? Compaixão?

— Eu... — Passou a mão no rosto. — Eu sinto ciúmes de você.

— Ciúmes. — Ri. — Ciúmes, Peter? Você fez uma garota gemer a noite toda na minha cabeça e no dia seguinte estava com duas! Bela forma de demonstrar. — Bati palmas. Não consegui raciocinar o suficiente. Sei que estou tomada por um nervosismo maior que eu.

— Você não entende nada, Rachel. Nada! — Gritou.

— Eu entendo que você é um egoísta! Você quer brincar comigo, como faz com todas! — Gritei e o empurrei.

— Você acha que vou fazer isso com você? — Andou até mim, me encarando tão firme. Agora vai me bater.

— Acho. — Coloquei as mãos na cintura, séria.

— Você é diferente.

— Diferente. — Rolei os olhos e dei uma risadinha.

— Muito.

 

Ele seguia absurdamente irritado, mas eu não dei a mínima, dando uma risada alta, com toda a força dos meus pulmões. Eu esperei escutar isso antes de começar alguma coisa com Josh ou antes daqueles gemidos. Esperei que ele entrasse na loja e deixasse as amigas para trás. Meu Deus, como desejei isso! Essa risada foi a minha vingança e um grito por toda a minha batalha interna durante todos esses dias.
Eu estava livre, gritei o que quis e mostrei que ele não me convenceria com meia dúzia de palavras para me levar para a cama. Não me importava mais nada do que aconteceria essa noite. Até então.

Minha risada secou quando as mãos dele seguraram meu rosto com força, colando os lábios dele nos meus, me beijando depressa. O que? E o discurso de eu ser a irmãzinha? 

Meu ar também foi embora, quando sua língua começou a explorar o céu da minha boca e logo a minha. Minhas pernas ficaram moles, então encostei meu corpo no dele. Seu peito é quente e forte, me dando abrigo e proteção. Já o havia sentido antes, mas não assim, não sem sentir medo ou me sentir inferior. Hoje, aquele corpo me quer e eu o quero.

Quero, não posso negar. Estou tendo a melhor sensação de todos os dias. Não consigo parar de beijar e agora levo minhas mãos ao rosto dele, como se o impedisse de ir. Ele reage, me tomando nos braços e me segurando tão forte que estou nas pontas dos pés. Sim, ele é alto, muito alto! E forte... Sua mão estava me prendendo mais à ele e minha mão escorregou para a sua nuca. Uau! Esse beijo está durando mais que o meu com Josh.

Josh? Droga! Por que vocês ficam competindo pelos meus pensamentos? Agora estou beijando pensando em outro. Comparando. Hey, Josh não faz isso com a língua, mas nessas horas ele estaria com a mão em outro lugar... Rachel! Pare agora!

Será que Peter está fazendo o mesmo com meu beijo? Com qual das mil mulheres ele vai comparar? Talvez ele só tenha tido umas 100. Cem? Não é hora de pensar nisso. Balanço a cabeça e ele chupa meu lábio. Eu noto como estou sem fôlego e rio, ele ri também, dando um beijo menor, cortando com selinhos e beijando minha testa ao final. Ele é lindo. O que eu dizia mesmo?

Sua mão gigante subiu até meu cabelo, fazendo cafuné e eu encostei em seu peito. Posso sentir seu sorriso e sei que sorrio como boba, também. Seu coração bate descompassado e minha respiração está acelerada. Eu disse, não sou muito boa em exercícios e desde o primeiro dia ele tira meu fôlego, literalmente.

 

— Minha Rach... — Beijou minha testa, outra vez.

— Pete... — Fechei os olhos.

 

Eu confesso: não sei mais o que pensar. Não penso em nada, estou aqui, abraçada no Pete, tentando controlar minha respiração e sonhando com o beijo que acabei de dar. Acho que minha mente me deu um devido descanso. Olho o peito dele e começo a tocar, fazendo carinho. Esse momento parece eterno, mas parece que não durou tanto assim.
O elevador apitou e se abriu. Eu estava de costas, mas Pete levantou o olhar e eu reconheci a voz. Era Bob. Em todos esses dias eu nunca o vi aqui, será que alguma coisa aconteceu? Pelo menos não era algo com o elevador...

 

— Crianças... Estão pedindo para vocês fazerem um pouquinho menos de barulho. — Fez uma careta engraçada e indicou o sinal de menos com uma mão.

— Foi tão alto assim? — Peter riu.

— Mais do que isso! Por pouco não escutei da minha casa. Tudo bem com você, menina? — Curvou o corpo para ver meu rosto e eu me virei para vê-lo.

— Tudo... Desculpa! — Sorri e meu rosto corou.

— Sem problemas! Boa noite aos dois. Cuide dela, rapaz.

— Pode deixar, boa noite. — Acenou para Bob.

— Boa noite! — Eu disse.

 

A porta do elevador se fechou e ficamos sozinhos, outra vez. Peter me olha e eu o olho de volta. Não estamos sorrindo, agora, mas seguimos abraçados. Acho que estamos tentando nos ler, mas não é assim tão fácil. Não nos conhecemos. É tudo novo, incluindo esse beijo. Eu não sei o passado dele e ele não sabe o meu. Não que isso seja importante, mas eu ainda tenho Josh e ele ainda tem... Quem quer que seja. Foi um beijo incrível e inesquecível também — até porque nunca beijei em um corredor antes, mas ainda assim, foi um beijo, apenas. Suspiro e resolvo retomar a conversa.

 

— É melhor, eu, hum... — Apontei minha porta. Eu não queria terminar minha frase. Droga!

— Já? — Olhou a porta e voltou a me olhar.

— É melhor. — Dou de ombros.

— É. — Fez uma pausa, coçando a nuca. — Eu acho que sim.

— Boa noite, Pete. — Beijei sua bochecha.

— Boa noite, Rach. — Sorriu e sei que foi porque disse seu apelido mais uma vez.

 

Quando dei um passo para o lado, me afastando para abrir a porta, ele me puxou, dando mais um beijo curto e lento. Sorrimos, acenamos e entramos meio que sincronizados, cada um em seu apartamento. Certo, isso foi muito bom. Foi... Surreal. Essa noite, eu beijei os dois caras mais gatos que já conheci e apesar disso me fazer uma pessoa um pouco errada, meu peito bate forte, pedindo mais. É possível que pessoas que conheço apenas há alguns dias me façam sentir melhor que meu ex tentou fazer em anos? Eu não sei, mas é assim que me sinto.

Vamos focar em Peter.

Agora, ele tem ciúmes de mim. Eu o vi irritado e doce, também. Ele é protetor, comigo e não me convidou para entrar na sua casa, como todas as outras. Sim, ele tem outras e eu não sei como posso lidar com isso. Quer dizer, como você consegue beijar alguém, sabendo que outras bocas vão passar ali? Pode imaginar os germes? Eu sei que poderia estar pensando em mil coisas prós e contras de estar com Peter, mas deve passar das duas da manhã e estou pensando em... Germes! E eu nem sou tão higiênica assim, me rastejando para trocar a roupa, jogando as peças que estou vestindo pela casa toda e tendo a certeza que vou dormir de maquiagem.

Enquanto me troco, vamos falar de Josh. Meu celular se acendeu com um "Só quero saber se chegou bem." e eu respondi com alguns emojis de polegares levantados e outros de beijos. Ah, eu fui fofa. Ele foi fofo. Essa preocupação leve que ele tem comigo me faz tão bem. Eu fui uma idiota com ele e mesmo assim, ele está sendo esse cara legal comigo. Eu não sei sobre a contagem de garotas dele, porque elas não gemem do lado de lá da minha parede, mas supondo que ele esteja no último ano de Publicidade e é dono da maior casa da república, suponho que ele conheça vários pares de seios o tempo todo.

Eu sei que tudo isso sobre os dois pode soar até um pouco pessimista, mas é mais puxado para o realismo. Eu sei o que os dois querem comigo: cama. Eu sei o que quero com eles? Não. Digo, eu também quero cama, mas não quero ser a cliente número 1000 de ninguém! Ser esquecida no dia seguinte, apagada da lista do celular ou notar alguém fugindo de dividir um elevador comigo. Eu quero mais, sabe? Um pouquinho mais. Eu quero um "Eu quero curtir você durante um tempo, Rachel" e não sei em qual dos dois está essa resposta.

Acho que me joguei forte demais na cama. O vizinho debaixo deve estar pensando coisas e estou rindo, imaginando a cara dele, mesmo sem conhecer. Aposto que é um quarentão careca e gordinho, comendo batata Chips e assistindo algum programa de platéia. Ou será que é uma senhora com o cabelo enrolado em uma meia fina assistindo novela? Ambos estariam me julgando agora. Gostaria de enviar um bilhete pela janela, dizendo "Desculpe, eu fiz tudo, hoje, menos o que você pensou", mas acho que eu seria expulsa do prédio.

Estou rindo para mim mesma e é a sensação mais agradável que já provei esses dias. Tudo é diferente, agora. Eu não entrei para o meu apartamento com pensamentos de solidão ou dúvidas. Não estou machucada, hoje. Sou apenas eu mesma, cheia de indecisões, mas ainda assim, tirando um tempo para sorrir sobre todas as coisas. O mundo pode cair lá fora, mas eu não ligo. Acho que eu precisava, antes de mais nada, parar de me negar coisas. Não estou feliz porque beijei. Estou feliz porque realmente soltei o que me prendia, fui sincera comigo e com o mundo à minha volta. 

Ser sincera te abre portas e ser sincera com o seu coração pode mudar o rumo das coisas. É claro que isso não foi uma grande mudança, mas foi um passo para mim. O que fazer com Pete e Josh, o que fazer sobre os meus sentimentos e os sentimentos deles eu ainda não sei, mas me sinto disposta para começar à resolver as coisas, agora. Quer dizer, não agora. Amanhã. 

Deve haver um amanhã e eu vou acordar com olhos de panda, pela maquiagem e por ter dormido pouco. Começo a me ajeitar na cama e puxo meu edredom, olhando para a janela que deixei aberta. Essa cidade é bem mais iluminada que Los Angeles, portanto, as luzes entram no meu quarto. É bonito de se ver e estou preguiçosa demais para levantar e fechá-la. Sigo encarando as luzes entrando sem pedir licença, em busca do sono e ouço uma batida na parede. Olho rapidamente, esperando que a outra noite se repita, mas outra batida acontece e noto que Pete está dando tapas na parede. Um "Rach" é dito do outro lado e eu dou um tapa de volta. Posso escutar sua risada ao fundo e sorrio, também.

Certo. Descobrimos que nossas casas estão mais coladas do que parecia. Ele parece até morar comigo, o que é estranho e engraçado. Acho que descobrimos um jeito de nos comunicar. Observo a parede e agora estamos em silêncio, até que eu o quebro, dando uma batida, ali. Uau, essa doeu. Parece mais fácil quando ele o faz.

 

— Boa noite, Pete. 

— Durma bem, Rach. 

 

Eu vou dormir melhor que nunca. Eu prometo...


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