O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 2
Capítulo 2




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— Hey, Bob!

— Olá, filho!

Abro os olhos. Alguém entrou gritando. Quer dizer, pareceu estridente porque o corredor estava mudo por um bom tempo. A voz era grossa e bonita, tinha empolgação e o senhor respondeu ao mesmo tom. Agora entendi, o senhor da portaria chama Bob. Eu estou aqui há horas, ele me pagou um sanduíche e eu sequer tive a educação de perguntar seu nome.

— Cartas para mim?

— Acho que não. Teve uma boa noite?

— Muito boa. Estou chegando dela agora! — O jovem riu, abrindo seu mini armário. 

— Um novo recorde, hum? Chegando da sua bagunça às três da tarde. — Bob riu. — Vou anotar no nosso caderninho, Clark!

— Pode anotar!

Clark? Ele era mesmo um quase Clark Kent de tão gato. Com uma calça clara e um suéter azul marinho, visivelmente alto, bronzeado, olhos pretos e cabelo que puxava ao loiro não é de se espantar que esse homem estivesse roubando corações até essas horas. Ele não me vê, a mesa me esconde, tenho certeza, mas consigo vê-lo se mover para ir ao elevador. Seria engraçado se Bob esquecesse de avisar...

— Filho, elevador em manutenção... — Apontou a escada.

Droga. Não foi dessa vez.

— De novo? — Fez uma careta. — Quem transou nele dessa vez?

— Cá entre nós? Acho que foi o Paul do 401. — Riu.

— Ah, seu velho! Você sabe que viu alguma coisa e fica me escondendo. — Riu também, abaixando a boina do Bob.

— Já te contei demais! Vai pra casa! Já percebi que não dormiu. — Bateu com a boina em seu ombro, recolocando-a.

— Não mesmo. Te vejo mais tarde.

Agora que notei, mas estava sorrindo para os dois. A energia de Clark é significativa e apesar de parecer um Don Juan, não faz o tipo egocêntrico e chato, que desrespeita os mais velhos. Pelo contrário, eles pareciam bem íntimos e isso era legal. Ok, eu posso conviver com esse cara, mesmo que pareça que ele não vive em casa, mas ainda assim, em uma reunião de condomínio não vou me importar em respirar o mesmo ar que ele.
O quase-loiro se aproximou da escada, tocando minha perna com seu All Star marrom encardido e riu.

— A princesa se incomoda em vazar da escada ou vou precisar passar por cima?

Eu disse coisas boas dele? Esquece o que eu falei. Encaro-o por um tempo e cruzo os braços, inclinando meu pescoço pro lado. Se isso foi uma piadinha, foi péssima e eu não vou me mexer porque o príncipe quer passar.

— Vou ter que pedir por favor? — Ergueu as sobrancelhas, rindo.

Isso, tente por esse caminho e talvez eu saia. Sorri de modo irônico para ele, quem sabe ele entenda o sinal. Seja educado, essa é a minha escada, pelo menos é onde eu estou morando até o elevador voltar.

— Bob! O que a princesa muda faz na escada? Quem dispensou ela? — O quê? Ninguém! Me sentei e ele ganhou o jogo.

— A menina é nova aqui! É moradora, não amante. — Riu, apontando nós dois. — Dê uma mão à ela. É sua vizinha.

— O quê?! — Nós dois exclamamos e nos olhamos.

É sério? O príncipe da putaria vai ser meu vizinho? E eu vou ter que aguentar as piadinhas dele? Acho que vou entrar no meu apartamento e não sair nunca mais, só para evitar o risco de vê-lo e ouvir mais gracinhas. E ótimo, Bob quer que ele me ajude. Com o quê? Ah, sim, as malas...

— Sim, sim. Ela é sua vizinha de parede. E já que vai subir, pode levar as malas da moça e dar as boas vindas.

— Ah, velho, o que eu não faço por umas fofocas suas. — Estendeu a mão para mim e eu levantei, arrumando a calça jeans preta. — Vou te dar uma mão.

— Não precisa, obrigada. 

— Para de ser nariz empinado, vamos. Te dou uma mão e você me dá outras coisas. — Riu, pegando as duas malas maiores. — Brincadeira, você é vizinha.

— Ha. Ha.

Encarei Bob com o cenho franzido. Ele estava fazendo um jogo comigo? Ele apenas ri e acena para mim. Ele está aqui há mais tempo que eu, vamos tentar do jeito dele. Eu só espero que ele não esteja me empurrando para esse cara e que esse não seja um esquema dos dois para atrair mulheres. Em todo caso, eu não ficaria com ele.

Já conheço esse tipo de cara e só de pensar, me cansa.
Eu passo a mão pela alça da terceira mala e a seguro, subindo lado a lado com o macho alfa do prédio. Eu estou morrendo com esse peso, mas ele parece estar carregando sacos de ar. Faz o esforço sorrindo. Quando chegamos na parte superior da escada do terceiro andar, estou ofegante e encosto na parede, tomando ar e deixo que ele cruze para o quarto. Eu o acompanho com o olhar, enquanto ele sobe uns quatro degraus. Ele tem um traseiro legal e cheinho. Ok, isso não é uma informação relevante. Sigo me recuperando e ele nota que subiu sozinho e gira o corpo para me olhar.

— Que foi? — Minha voz saiu ofegante.

— Só testando se você não caiu da escada. — Riu. Tudo para ele é tão engraçado... — Parou por que?

— Porque estamos subindo pro céu e estou acabando de morrer. — Larguei a mala em um canto e sentei no primeiro degrau do quarto andar.

— Essa é boa! — Riu alto, descendo os degraus, parelhando as malas à que eu deixei e se sentando ao meu lado. — Se acostuma, princesa, o prédio é quase sempre assim.

— Eu espero que esteja falando isso para me assustar. — Rolei os olhos. — Carter não me avisou isso.

— Carter? Eu achei que ele tinha casado... Você é a namoradinha que ele vai visitar escondido? Tem alguns casos desses por aqui.

— Não! — Arregalei os olhos. — Carter é meu irmão! Dá pra não pensar em sexo por cinco minutos?

— Irmão? Ah, foi mal! Prazer então, Reed. —Estendeu a mão. — Clark...

— Rachel. — Dei a mão. — Então seu nome não é Clark?

— Não, sobrenome. Peter, mas pode me chamar de Pete.

— Sei... — Olhei em volta. — Vamos?

— Já se recuperou?

— Já e você precisa dormir.

— É, preciso mesmo.

Levantamos e pegamos as malas ao mesmo tempo, subindo o quarto andar. Eu não sei se pareci grossa, mas eu não estou certa se quero dar esse passo da intimidade e chamá-lo de Pete. Não é drama, preciso me explicar: homens não podem ter uma pontinha de intimidade que eles já se acham no topo do mundo. Um apelido é muita intimidade? Não, mas pra eles é um alerta moral de "Ela está tão na sua!" e eu não estou. É New York e ele não é o único cara bonito daqui.
Ele me olhou algumas vezes nos próximos dois andares e eu tentei não fazer um contato visual direto, para ele não manter uma conversa longa. Não tínhamos o que conversar e meu lema era apenas ser sociável com as pessoas do prédio, antes de me entregar à uma emoção maior. Alguém com problemas de confiança aqui? Sim!
Estamos na metade da escada do sexto andar e ainda falta um lance de 20 degraus — sim, eu contei. Peter me olha demorado e acho que está checando para ver se eu morri ou se vai ter que me carregar também. Sinto meus poros se abrirem, minha bochecha corar e meu coração acelerar pelo cansaço, mas não vou parar agora. Minha casa está perto e essa subida já parece eterna.

— Você morava onde? — Seus olhos encontraram os meus e parece que era tudo que ele precisava.

— Na minha casa. — Sorri. Outra piadinha na mesma tarde. Ele gargalhou.

— Boa! Você é louca, mas é engraçada. Sério, onde?

— Los Angeles. — Eu desviei o olhar e ele ainda parecia empolgado.

— E via os famosos por lá?

— Algumas vezes...

— Devia ter tentado ir para Hollywood ou coisa assim. Você é uma gata. — Fez uma pausa. — Bom, não exatamente agora, mas lá embaixo você era...

Rolei os olhos e ri. Ele pelo menos foi sincero e tenho certeza que estou descabelada e vermelha, carregando peso, fazendo careta... Não estou do tipo que um cara ficaria excitado em ver. Ao menos ganhei um elogio e não foi tão quero-te-comer, foi diferente. Humor, Peter parece ter muito e eu gosto disso. A risada me fez tirar um peso das costas e subi o resto dos degraus mais leve. Acho que estava tensa pela conversa que poderia rolar no caminho, mas ela não aconteceu.
Finalmente chegamos. Eu pego a chave no bolso e abro a porta. Não posso acreditar que cheguei! Sorri para mim mesma e para a casa bem perfumada e colorida. Carter me avisou que fez uma mini reforma para eu me sentir confortável e conseguiu. Peter estendeu a mão para eu entrar na frente e fazer as honras e assim o fiz, mas não parei para observar o apartamento, apenas foquei em uma parede livre que eu pudesse despachar a mala. Era o fim! Eu consegui! Olho em volta e quando me viro, ele está na minha frente, quase colado em mim. Ele deixou as malas na frente das minhas e agora sorri para mim.
Eu dei um pulinho de susto, porque quase esbarrei em alguém que nem senti entrar na minha casa — nota mental: ser mais atenta. Ele sorri para mim e coloca suas mãos na cintura. Seu peitoral marca o suéter e sim, o corpo dele parece impressionante. Espero não estar mordendo o lábio tão forte perdida nos meus pensamentos, mas desvio o olhar. É só um corpo bonito e usado pela cidade toda. Isso não é divertido.

— Casa legal! 

— É, ele deu uma reformada antes de eu vir...

— Olha só aquela parede com coisas escritas com giz. Posso deixar mensagem lá?

— Parede com giz? — Olho em volta. — Pode, claro.

As paredes do apartamento são de tijolos expostos na maior parte, em uma parte mais fina, havia mensagens de Carter e sua esposa Kate. Coisas como "Boa sorte!" ou "Sorria hoje." misturado a corações em azul e emojis sorridentes em amarelo. Não é estranho uma pessoa que mal te conhece querer desenhar na sua parede? Bem... Não para Peter, que parece ser um descarado por natureza. Rapidamente localizou a caixa de giz e escreveu um "Oi :)" em verde. Isso foi legal da parte dele, eu acho e Bob ficaria feliz em saber dessa boa vinda. Bom, pelo menos eu acho que ficaria.
Ele aponta a parede e logo limpa as mãos. Eu sorrio em agradecimento, já que não sei exatamente o que se diz quando um cara rabisca sua parede.

— Agora terminei. Posso ir embora ou precisa de mais alguma coisa?

— Isso é tudo, obrigada.

— Certo. — Foi para a porta e eu o segui. — Você sabe onde eu moro, se precisar de mim, eu vou estar dormindo pelas próximas 10 horas, mas fique tocando a campainha que eu acordo.

— Dez horas? Você vai acordar às onze da noite? — Ergui as sobrancelhas e ri, muito sarcasticamente.

— É a hora que a cidade acorda, princesa. — Segurou meu queixo e apertou rápido, antes de sair. — É sério. Você pode me chamar. 

— Acho que eu posso me virar sem colocar fogo em nada, mas vou lembrar disso. — Pisquei. Eu pisquei? Ah, droga!

— Isso. — Virou-se para mim, apoiando um braço no batente da porta. — Se cuida. Até mais, Rach.

— Até!

Rach? RACH? Eu acho que foi a piscada. Ou talvez... Ele se sentiu íntimo demais depois das duas letras — e uma carinha, na minha parede. Não importa o que foi, la estava a intimidade entre nós. Eu deveria ter cortado, mas o que fiz? Fui gentil... Eu não me ajudo! 
Ele se desencostou da porta e eu me apressei para fechá-la. Seu celular tocou e o barulho de sua chave se contrastava com as seguintes palavras:

— Oi, meu amor...

Eu não ouvi o resto, nem era da minha conta, mas era evidente que ele estava falando com a namorada número 100 ou a presa em foco. Não importa. Penso no apelido princesa que ele me deu e acho que ele deve ter um apelido carinhoso para qualquer garota do planeta. Parece a cara dele fazer isso. Aliás parece a cara de todos os homens, para eles não se perderem e errarem os nomes de cada uma. Ele também me chamou de Rach... Talvez desistiu do princesa pela meu amor. Eu não sei e não é uma coisa com que eu tenha que me preocupar. Ele só foi gentil comigo. Ele só fez o que Bob pediu.
Eu sou só a vizinha nova e ele é só o cara do apartamento ao lado.


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