O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 19
Capítulo 19




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Talvez eu devesse ter ficado e esperado uma explicação, mas tenho certeza que seria pior. Nosso passado sempre tem um ponto a mais do que qualquer pequeno caso do presente. Sei disso porque já deixei pelo menos uns três caras por causa de James. Acabamos optando pelo que conhecemos e pelas coisas boas que tal pessoa faz — não que ele tenha sido tão bom. Talvez, optemos pelo costume.

Após sair do prédio em prantos, tentando disfarçar e sem muito sucesso, fui até o trabalho, pedir um dia de folga. Eu, que não sou a empregada exemplar, pedindo folga no primeiro emprego fixo. Era evidente que Mark não estava totalmente de acordo, mas me viu mal o suficiente, para concordar. Queria poder contar que estava sofrendo por amor, mas isso soava ridículo até para mim.

Eu? Sofrendo por amor? Nunca me aconteceu! Eu sempre impressionava minhas amigas por ter um "coração frio" e agora estou aqui, querendo viver em um casulo por Peter e o que aconteceu.

Saí do Starbucks sem qualquer direção. O único lugar que eu queria ir, era o único lugar que eu não deveria ir. Precisava de casa e isso me faria ouvir barulhos e vozes dos dois, quem sabe, até, ouvir o sexo de reconciliação...

Fiquei sentada em um banco de madeira, próximo ao shopping, tentando organizar meus pensamentos. A sombra do local cobria onde eu estava, então parecia mais cedo do que realmente era, deixando mais escuro e evitando que as pessoas me olhassem diretamente.

Era preciso que eu fosse em casa, se quisesse ter dinheiro para alugar algo para morar ou ficar alguns dias, mas seria o último lugar que eu voltaria, apesar de tudo o que eu queria era arrumar um outro apartamento e me mudar. Não sabia por onde começar. Meu cérebro estava lento. Todas as pessoas que poderiam, quem sabe, me ajudar, estavam fora da minha mente e nada além da dor de conhecer uma garota muito melhor que eu, me preenchia.

Permaneci, ali, por um tempo, quando algo começou a vibrar no bolso da saia. Eu não fazia ideia que estava com o celular, mas, por sorte, ele não havia caído na noite anterior. Com a pressa em me vestir, sequer notei que ele estava ali, ainda. Puxei-o, torcendo que não fosse Peter e não era. Uma ligação surpresa me deu o alívio que eu precisava. Era Carter, meu irmão. Atendi, depressa, tentando disfarçar o choro compulsivo.

 

— Carter! — Tentei fingir empolgação e controlar o ar, mas suspirei.

Oi! — Fez uma pausa, tentando me diagnosticar. — O que aconteceu, ursinha? Está chorando? — Ele sempre me chamou de ursinha, alegando que sou uma preguiçosa.

— Eu... Nada, aconteceu alguma coisa? — Franzi o cenho.

Você não quer passar aqui esse fim de semana para conhecer seu sobrinho? — Disse, empolgado.

— Você quer dizer que Kate... Que vocês estão... — Sorri.

Grávidos! De quatro meses. Ah, ursinha, eu quero tanto que você veja o ultrassom antes da mamãe e do papai. Não está trabalhando?

— Não... — Cocei o nariz e ele demorou à responder, como se tivesse percebendo algo errado comigo.

Vem pra cá, então!

— Estou sem dinheiro para enfrentar uma viagem agora, Carter...

Pega um táxi e eu pago aqui.

 

Bem, eu não o deixei fazer isso. Algo nessa cena me pareceu tão Peter que eu preferi me afastar dessa sensação, fazendo algo por mim mesma. Uma viagem até sua casa levaria mais de uma hora e um táxi por tanto tempo é um favor bem caro, mesmo que fosse favor de irmãos. O plano, então, era pegar um ônibus que ligasse aqui ao outro estado. Voltei ao Starbucks e pedi para que Mark me adiantasse o que já me cabia no mês, explicando minha viagem repentina — conseguindo camuflar a tristeza.

Por sorte, deu tempo de eu me esconder debaixo do balcão quando Peter apareceu e assim, saí um pouco depois dele, sabendo que ele não voltaria à passar por ali. Eu imaginei que ele me procurasse, quando tivesse um tempo, para tentar dar explicações as quais eu não estava disposta à ouvir, naquele momento. E talvez nunca. Por isso, quando eu voltasse, procuraria um apartamento de imediato.

•••

 

Os dias correram devagar e calmos, como não via há certo tempo. Tudo aqui é calmo, com exceção dos rádios relativamente altos de alguns vizinhos, mas é relaxante. Sem contar com o bom humor das pessoas que vivem nesse estado.

Apesar de todas as lágrimas que rolaram no trajeto New York - New Jersey, eu chorei pouco nos últimos dias. Estou tão feliz pelo meu irmão e a esposa que lutei ao máximo para ficar bem.

Um bebê é algo tão mágico, que eu não podia manter energias ruins perto dele.

Carter, apesar da empolgação, esteve me observando o tempo todo, como se eu fosse me romper em mil pedaços no meio da sala de estar. Por sorte, ele era desviado para ligações dos amigos felicitando esse novo passo...

E eu tenho um bônus estando aqui: Anna. A melhor amiga de infância que eu tive. Anna é de Los Angeles, mas se mudou para estudar mais e mora na garagem deles, já que é irmã de Kate. Ela é tão amorosa e talentosa! Jonathan, seu noivo, é um homem de sorte e a revista que a tiver como editora, vai ser a número um do país!

Nossa vida, algumas vezes, tem mudanças tão imensas e repentinas, que voltar ao início é sempre bom. Estar em família é sempre acolhedor e estar com a sua confidente da vida é melhor ainda. É claro que já não somos mais adolescentes e não vamos ter a mesma relação, mas o amor de quase-irmãs é para sempre.

A verdade é que mesmo depois de termos nos visto tão pouco nos últimos tempos, tudo seguia ali. Naquele momento, eu só queria deitar no seu colo e me conectar à minha "raíz", desabafando tudo.

 

— E então a garota dele chegou, como se nunca tivesse ido embora? — Colocou seu longo cabelo liso e castanho em um ombro, abaixando o olhar ao me fazer cafuné.

— Praticamente isso... — Dei de ombros, encarando a porta da garagem fechada até a metade, em um fim de tarde ensolarado.

— E você saiu sem cobrar uma explicação? Sem dizer que ele era um cretino que brincou com você? — Eu senti sua cara de desaprovação, mas não a encarei de volta.

— O que você queria que eu fizesse, Anna? Você esperaria lá? — Franzi o cenho. 

— Eu estou dizendo você, Rachel... — Seu tom foi doce. Nos olhamos e ela sorriu. — Vamos! Onde está aquela garota forte que saiu de Los Angeles? A que discutia com James no mesmo tom? Que não fica sem respostas... Você precisa reagir! Eu iria amar que você viesse morar aqui, mas é o que você quer?

— Não. — Eu me sentei ao seu lado e minha negativa foi quase inaudível.

— Nós saímos de casa para sermos independentes. Você conseguiu, mas olhe pra mim. — Olhou em volta, fazendo careta e riu, irônica. — Eu sigo em uma garagem, esperando meu casamento, para me mudar e ter algo meu! Entende o que quero dizer?

— Você acha que eu deveria voltar, então? — Retorci o nariz.

— Não hoje, porque estou com saudades. — Me abraçou apertado e fez bico. — Daqui alguns dias, quando se sentir melhor.

— Você poderia ir e morar comigo, hum? — Encolhi o corpo em seu abraço, sabendo a resposta.

— Só se alguma coisa com Jonathan der muito errado ou eu receber uma proposta bem louca de alguma revista... — Riu, fazendo uma pausa. — Por enquanto, eu prometo uma visita!

— Mal posso esperar! — Eu confirmei, gentilmente, com a cabeça e sorrimos, uma para a outra, permanecendo abraçadinhas por mais um tempo.

 

Apesar da energia que as "minhas" pessoas emanam, não posso negar, sinto a falta de Peter o tempo todo como nunca senti de alguém antes e isso me deprime tanto. Ao lembrar que não sei tanto da vida dele quanto precisaria, no momento, piora tudo. Não sei o que a noiva segue representando em sua vida ou se ela foi a última ou a primeira. Não faço ideia de Jessie ficará feliz ao vê-la, como fazia comigo ou se ficará desapontada com a recaída do irmão. Não consigo adivinhar se os pais de Peter a aprovavam tanto assim. Nem sequer sei se ele tem uma mãe!

Eu não sei nada e pelo visto vou ficar sem saber...

 

•••

 

Depois de dois dias isolada naquela casa, eu finalmente consegui ficar na varanda, vendo alguns grupos cruzando a rua, provavelmente para uma festa em alguma dessas casas. É claro que me passa pela cabeça algumas lembranças de quando estive em uma, pela última vez. Foi onde conheci Josh. Foi onde... Eu vi Peter dar algo parecido à uma cena de ciúmes, antes de eu sair. O que teria acontecido se estivéssemos juntos, desde então? Talvez essa garota não tivesse aparecido.

Entretanto, talvez... Ela nunca tenha ido embora, realmente e por isso ele seja tão misterioso e tenta afastar as garotas ao máximo. Todos sabemos como é ter uma ex pessoa. As fraquezas, recaídas, assuntos em duplo sentido, perdões, idas e voltas...

Uma lágrima rola pelo meu rosto, sem conseguir ser evitada e quando eu a enxugo, Carter toca meu ombro.

 

— Você está aqui porque alguém quebrou seu coração, não é, Rachel? — Seu rosto estava rígido, mas havia muito de preocupação naqueles olhos quase-verdes.

— Não, eu... — Sorri, sem graça. — Não.

— Eu espero que não tenha sido por James, outra vez. Eu vou quebrar a cara dele. — Agora sim, ele estava oficialmente bravo.

— Eu não sei porque você e o papai não podem simplesmente entender que eu já superei James! — Bufei. — Não faço ideia de onde ou com quem ele está, porque eu não falo mais com ele. Droga.

— Ah, então já tem outro? Eu quebro a cara desse, também. Sem problemas. Só quero te lembrar que você foi morar lá para ter oportunidades na vida e não procurar alguém! — Eu já disse que ele era ciumento e apesar disso, ele estava certo.

— Eu sei. — Mordi o lábio e encarei o piso de madeira pintado de branco, bem como toda a fachada da casa.

— Agora chega de chorar. Por que Anna e você não aproveitam essa noite quente e não saem um pouco? Ted está dando uma festa, no fim da rua. Ele é um cara legal e vocês vão se divertir. — Tocou meu rosto, arriscando um sorriso naquele rosto desconfiado.

— Agora você quer que eu saia e conheça pessoas? — Fiz careta e ri com deboche.

— Só quero que você vá, beba um pouco e se divirta. Sem homens no caminho. — Me apontou.

— Certo, General. — Bati continência.

 

Vesti qualquer roupa e fomos nos divertir. Era uma casa comum, com uma decoração masculina e bandeirinhas dos Giants por toda a casa. Música alta, pouca roupa e muita dança. Também havia uma parte mais calma, onde estavam as poltronas, que foi onde escolhemos ficar — e sentar, enquanto bebíamos uma cerveja e observávamos a disposição da maioria. Jonathan estava lá, então estávamos com um adulto responsável, o que deixou Carter muito feliz. Jon, como chamamos, é o oposto de Peter.

Comprometido com uma garota só, há pelo menos dois anos e meio e um ótimo odontologista. Bebe pouco e é tão concentrado em ter um futuro... Que me pergunto se Peter era assim na época do seu noivado.

Eu sei que ele teve sonhos quebrados, mas não era devia ser esse tipo de cara que trocava o dia pela noite em busca de mulheres. Talvez ele fizesse algo que gostasse. Talvez, assim como Anna faz com Jon, Nicole o impulsionasse... E aqui estou eu, no meio da festa, tentando empurrar as lágrimas para dentro pela centésima vez. A festa se tornou cinza para mim e as músicas pareciam sequer existir.

Anna nota e toca meu ombro, perguntando se quero ir embora e aceito, de imediato e ela cumpre meu desejo, sem hesitar. Ela é tão incrível, já disse isso? Jon estava no meio de uma partida de sinuca e disse para ligarmos ao chegar. Não é tão tarde, não é tão perigoso.

Ao chegarmos, notamos um casal sentado na calçada logo em frente nossa casa, o que era estranho, já que todos os casais estavam na festa ao fim da rua e duvido muito que alguém aqui estivesse esperando visita. À medida em que nos aproximamos, reconheço os rostos — são de Stacey e Peter. Dou alguns passos para trás, tentando evitar a situação, que é sem sucesso, pois eles também começam à andar até nós.

Stacey começa a correr e me abraça forte. Apesar do nervosismo, estou feliz em vê-la e ela não tem culpa alguma sobre os últimos acontecimentos. Na verdade, se não fosse por ela, eu teria desistido daquele lugar há um bom tempo. Anna ri e nos dá um espaço, então a abraço de volta. Ela me dá alguns tapinhas de leve no braço, seguidos de reprovações verbais e eu tento rir como elas o fazem, mas apenas a maçã do meu rosto sobe um pouco e sou tomada por rubor.

 

— Rach! — A voz gelada que tentei evitar, agora está na minha frente com seus olhos escuros e suas mãos no bolso.

 

Anna e Stacey saíram do meu campo de visão e tudo o que estava à minha frente era Peter. Meu coração se contraiu e então acelerou, quase me jogando para frente, mas eu me mantive intacta. Ele esperava que eu dissesse algo, mas eu não podia.

Eu não queria falar ou ouvir. Não conseguia. Ele se aproximou mais e eu engoli seco, apertando as mãos que se congelaram, rapidamente. Foi, então, que entendi que eu estava com medo de Peter. Medo da resposta. De não ouvir o que eu não quero nem pensar. De ser quebrada novamente.

 

— Precisamos conversar. — Agora estávamos nos encarando.

— Eu acho que não. Já vi e ouvi tudo o que precisava. Foi bem esclarecedor e eu não preciso de mais nada. Obrigada. — Eu estava, agora, na defensiva. O passo seguinte ao medo.

— E por isso fugiu? — Franziu o cenho.

— Eu não fugi! Vim visitar meu irmão e a esposa que estão esperando um bebê. Não que isso interesse aqui. — Revidei.

— Ótimo. Parabéns à eles, mas precisamos conversar. — Exclamou alto. 

— Eu já disse que não! Tudo foi bem claro para mim, Peter. E não é a primeira ou segunda vez que há um balde de água fria entre nós. Eu entendi o recado e me cansei. Acabou. Pode voltar. Não precisava ter vindo.

 

Ele parece incrédulo com a resposta. Seu rosto está confuso e um pouco dolorido. Atrás de mim, eu as escuto sussurrar coisas como "Oh, meu Deus!" e "Ela está louca!", mas não pude me mover e olhá-las, já que todo meu corpo estava pronto para bombardear Peter. Eu estou, então, no estágio seguinte, a raiva.

 

— Eu. — Colocou uma das mãos entre nós, como se pudesse usá-la de escudo entre minhas palavras e ele, continuando. — Entendo o que possa ter parecido e sei como ela pode dizer coisas em duplo sentido, mas não esperava ver Nicole nunca mais! Não depois dela transar com o meu melhor amigo depois do nosso jantar de noivado. Esse, que estampou as primeiras páginas de vários jornais, porque adivinha só? Meu pai é assessor do gabinete presidencial, Rachel! Tudo isso foi um movimento dele, para me unir à Nicole, outra vez. — Seus braços se moveram no ar, como se ele estivesse procurando por algo em que se agarrar, enquanto sua voz se desvanecia.

— E o que você fez? — Olhei aquele rosto derrotado, fixamente, ao cruzar meus braços e murmurar.

— Ele e o pai dela queriam mais status com uma fusão das famílias. Eles nos pediram para fazer um evento, como noivos, mas não houve beijos ou toques. Não houve mais nada, porque eu quero você. Só você.

 

Franzi o cenho e balancei a cabeça, algumas vezes, tentando processar um turbilhão de informações que recebi de alguém que sempre as deu minguantes em minhas mãos.

Então é isso? Peter é o canalha do prédio porque as pessoas próximas destruíram seu coração, juntas e por isso ele deixa seu pai, o canalha supremo controlar sua vida. E ele me quer, quer apenas à mim, mas mesmo reconhecendo isso e visto meu desaparecimento, ele foi no tal evento, mostrando à América a sua noiva. Ex-noiva. Que não é a mulher que ele quer, mas o país pensa o contrário. Uau!

Apoio uma perna sobre a outra e tombo, gentilmente, minha cabeça para o lado, ainda analisando-o, quando, de repente, uma mão cruza seu rosto e o acerta de direita. Carter!

 

— Que lindo que você queira minha irmã, babacão, mas que idiota tudo o que você disse antes! — Ofegou, com uma das mãos na cintura, vendo-o no chão.

 

Eu dou um passo para frente, para levantá-lo, mas as meninas são mais breves. Ele tem um corte na lateral dos lábios e Stacey procura, na sua pequena bolsa preta de festa, algo que possa estancar.

 

— Entrem, a vizinhança não precisa assistir essa novela e ninguém vai passar a noite na rua, mas se vocês começarem à gritar, eu te coloco para fora! — Apontou Peter e depois indicou a porta para todos, entrando em seguida.

 

Ótimo! Eu tenho Peter e meu irmão no mesmo lugar durante uma noite toda. Isso não se parece em nada à ideia de fugir que eu tinha.

E eu não faço ideia de como serão os dois, juntos...


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