O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 17
Capítulo 17




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Estou na casa de Stacey com mil roupas espalhadas pelo chão do quarto. Ela já pintou minhas unhas de preto com uma francesinha por cima e já penteou meu cabelo centenas de vezes. Em um surto de indecisão libriano, trouxe minhas melhores roupas para que ela pudesse me ajudar à decidir e então descobri que ela trabalha em um salão de beleza e sabe bem como deixar uma mulher com a auto-estima lá em cima!

Essa morena linda também me contou que esse trabalho é algo fixo, mas que, às vezes, trabalha de modelo e entende de moda. Stacey é uma faz tudo do mundo fashion, mas não esperaria menos, ela é realmente muito bonita e tem uma desenvoltura incrível. Ela é a minha musa, não tenho dúvidas. Fico feliz que tenha, finalmente, descoberto mais de sua vida e como seria diferente? Estamos juntas há pelo menos duas horas com todo esse processo de embelezamento e decisões.

Disse — e bati o pé, que não faria uma alta produção, porque não quero causar uma falsa impressão em Pete. Eu não uso muita maquiagem, então concordamos que um batom era mais do que suficiente. E um batom um pouco mais escuro que minha boca, diga-se de passagem, nada tão forte. Por fim, escolhemos uma saia cinza quadriculada com pequenos branquinhos e uma camisa preta de manga longa, coberta por uma jaqueta também preta e um salto não muito alto. Ela prendeu meu cabelo em um coque um pouco desajeitado que adorei e não arrumei.

É hora de ir, a abraço apertado e agradeço por cada coisinha de hoje. Seu celular apita e ela dá um sorriso cúmplice, quando eu cruzo a porta para ir embora. Com certeza é Paul, mas vamos ter que deixar essa história para um outro dia. 

Escuto a voz de Peter falando com Doc e decido esperar mesmo no corredor — essa é a vantagem de morarmos tão perto. Rio baixo, enquanto me lembro do bilhete que encontrei essa tarde ao chegar do trabalho. Foi algo inesperado e que eu achei que não teria a oportunidade de ver nunca mais: era um poema de Peter. Um poema feito para mim. Eu li tantas vezes que decorei...

 

"O dia amanheceu amarelo,

a distância é amarela,

queima, mas não convence.

 

A tarde é cinza,

a espera é cinzenta,

é cheia de ruídos, mas não tem a batida perfeita.

 

A noite é negra,

o mistério e o prazer são escuros,

histórias ocultas, esperando a lua iluminar.

 

Traga suas cores bonitas para as minhas cores tristes, essa noite.

Eu quero ser colorido por você."

 

Mordo meu lábio com um pouco de força, me lembrando das palavras dele e de como foi intenso, para me chamar para sair e reforçar que eu era suas cores e luz. Gosto tanto desse segredo que conheci, que sei que o estou vendo com outros olhos e bem mais doces do que nunca. Estou animada em ver que Peter é uma pessoa tão real como qualquer um, ao invés de ser uma máquina sexual desprovida de coração.

Ele sai do apartamento e me dá seu melhor sorriso. Parece que realmente esperou por isso o dia todo, tanto ou até mais que eu. Beija meu rosto e toca meu ombro, logo depois checando minha roupa — como sempre, e caminhamos até o elevador. Não conversamos nada, apenas olhares e expressões felizes enquanto descemos, mas é o suficiente. Dizem que ações valem mais que mil palavras e esse momento prova tudo: duas pessoas que estão felizes por simplesmente estarem próximas.

Passamos por Bob, que já vai caminhando para a sua casa. Apesar de não estarmos de mãos dadas, é evidente que estamos juntos, eu acho, porque o mesmo para em sua porta para nos fitar. Sinto meu rosto corar um pouco.

 

— Cuide da menina! — Ordenou ele.

— Ah, seu velho... Você já me disse isso uma vez. Estou fazendo o meu papel! — Riu, revirando os olhos.

— Vão jantar? — Manteve os olhos em mim, mas eu ria e Peter prosseguiu.

— Vamos! Aqui perto... — Assentiu. — Entra logo, é hora da novela.

— Não sou eu quem vê novela por aqui! Só não desejo que Paul quebre o elevador porque a menina tem que subir. Andem logo e se divirtam. — Esboçou um sorriso, apontando a porta.

 

Agradecemos e nos despedimos dele. Bob é encantador e a brincadeira dos dois preenche ainda mais meu coração de bons sentimentos. 

Essa noite vai ser a melhor. Eu também sinto isso.

 

•••

 

Peter me trouxe à um restaurante japonês. Diferente de Josh, ele não deve ter família japonesa, então é um encontro comum e realmente perto de casa. Eu não havia notado esse restaurante e não faço ideia de quanto tempo não como essas coisas, então estou mesmo ansiosa. Ok, mentira, não estou ansiosa pela comida, eu nem consigo pensar tanto em comer. Minha cabeça se divide entre o poema e o perfume maravilhoso que ele está.

Tudo é bem tranquilo. Uma mesa de canto, para observarmos lá fora e ficarmos distantes de toda movimentação e conversas paralelas. Peter puxa a cadeira para mim e nos sentamos. Rolo os olhos e rio. Ele sabe que não precisa disso, mas aquele playboy, às vezes é um teimoso romântico. 

Concordamos em pedir yakisoba e saquê. Não sei se é uma boa combinação, mas está sendo...

 

— Me fala de você, Rach. — Era hábil com os "pauzinhos" enquanto me questionava.

— O que quer saber? — Dei de ombros e ri. — Você é meu vizinho, sabe mais de mim que o pessoal do trabalho.

— Aquele Mark... — Estreitou os olhos, me apontando.

— Ele namorava... Agora acho que ele e Daya têm alguma coisa. — Olhei para ele, fixamente. — Por que?

— Porque eu esperei essa confusão toda com o... Como era mesmo? — Olhou para cima, como se recuperasse o nome. — Joshua. Eu não quero que outro idiota passe na minha frente.

— Bem... Um idiota passou na sua frente, porque você foi um idiota. — Ficamos em silêncio e eu coloquei um pouco de comida na boca, derramando uns fiozinhos.

— E eu fui. — Riu baixo, limpando o canto do meu lábio, sussurrando em seguida. — Mas eu não serei mais.

 

Mais uma vez, permanecemos em silêncio. É um pouco chocante ainda, vê-lo dizendo essas coisas para mim, sem nada que estragasse o final da sua frase — e o meu coração. Eu sorri, porque algo em mim me diz para acreditar fielmente, porque ele não está sendo o mesmo que é com as outras. Quer dizer, ele também deve dizer coisas bonitas para elas, porque ele é todo profundo, mas sinto que ele me mostra um pouco mais.

Suspiro e ele se curva sobre a mesa, inesperadamente, me dando um selinho e firmando isso com as mãos no meu rosto. Correspondo e dou mais alguns breves e ele volta para o lugar. Umedece os lábios com a língua, como se provasse meu mini-beijo e sorri com os olhos mais vivos. Ele deseja o mesmo que eu: um beijo maior.

Terminamos de comer e estamos no terceiro copo. Não estamos bêbados. Nada disso! Estamos bem e apenas nos divertindo, mas decido parar o drink. Quero me lembrar dessa noite e ele parece fazer o mesmo.

Conversamos mais um tempo. Eu contei sobre a faculdade que fiz e descobri que o pai dele também o forçou a fazer Economia. Eu sei que nossos pais sempre, sempre querem nosso melhor, mas a frustração em seus olhos me dói um pouco. Devemos sempre ser o que queremos e vejo que por alguns anos ele não foi... Quando fiz a minha, não tinha uma perspectiva ou sonho maior, então eu acabei me adaptando ao que cursei. 

Ele também me contou que Jessie cursa Direito e que sua relação com o pai já está mais resolvida. Que, diferente do meu, o apartamento é dele, mas cedido pelo pai. Não falamos sobre sua noiva, mas uma pergunta estranha pairou do nada, no fim da conversa.

 

— Quantas vezes você já esteve perto do altar? — Recostou-se à cadeira e me olhou.

— Eu? Nunca! — Ri. — Nunca nem fui pedida em casamento... 

— Nenhum homem foi capaz de notar que você merecia isso? — Franziu o cenho em completo choque.

— Não é isso, eu acho. Eu só não tive uma relação tão duradoura pra eu pensar: uau! Preciso casar com esse homem.

— Você veio pra New York com o coração quebrado? — Ele me analisa, mas eu não preciso esconder nenhum detalhe.

— Não. Fazia um tempinho que nós tínhamos terminado. James e eu tivemos uma relação de tempo médio, mas ele era o baixista de uma banda de rock e...

— Te traiu.

— Isso. Daí foi cada um foi para o seu lado. Eu chorei, é claro, fiquei triste, mas também foi um alívio.

— Então você pode afirmar que o esqueceu? — Ergueu a sobrancelha.

— Sim, é claro! Eu não tinha os maiores sentimentos por ele.

 

Ele riu de algo que eu não entendi, pedindo a conta em seguida. Caminhamos a distância curta, até em casa, andando mais próximos, porque fazia muito mais frio do que quando saímos. Tentei perguntar o motivo da risada, mas fui interrompida por uns amigos que o cumprimentaram. Eu os reconheci, eram os da praia e eles me reconheceram de volta, me dando beijos e me abraçando. 

Peter, sua irmã e amigos são muito enérgicos, preciso me repetir isso sempre! Eu sei que eles devem pensar que eu sou uma coisa coisa de Pete que não sou, mas estou sendo hoje. Acho que me embolei. Enfim.

Entramos e subimos, com os mesmos sorrisos do início da noite, mas ao chegar no nosso andar e sairmos, eu criei coragem para falar.

 

— Por que riu de mim? — Pisquei algumas vezes, confusa.

— Eu não ri de você. Dos seus sentimentos, sim. — Sorriu, colocando as mãos nos bolsos.

— Não entendo...

— Talvez você não tenha se permitido sentir nada por ninguém até hoje. Amor, é ao que me refiro.

— Nunca veio para mim, Pete. Sempre gostei das pessoas que me envolvi, mas... Eu sobrevivia bem sem elas. — Abri os braços.

— Eu desejei por muito tempo ser assim... E quando finalmente consegui, — Suspirou e fez uma pausa. — você apareceu.

— E-eu? — Gaguejei.

— Sim. Sim! Rach... Eu quero te dar sentimentos hoje. — Colocou as mãos no meu rosto e eu senti as pernas moles. — Ou pelo menos te mostrar sentimentos reais. Por favor, me deixa fazer isso. 

— Eu deixo. — Ri, nervosa. — Meu Deus, Pete, é claro que deixo.

 

Eu o beijei. Sim, eu. Não tenho que esperar por ele todo momento e ele correspondeu. Caminhamos, lentamente, sem desgrudar nossas bocas e ele abriu sua porta sem ver, como se já tivesse feito isso mil vezes. E sabemos que ele já o fez.

Entramos e abro um olho para seguir um caminho que não conheço tão bem e noto Doc deitado no sofá, nos testemunhando. Sorrio para ele e Pete me puxa para dentro do quarto.

Estamos quentes, externa e internamente falando. Meu coração parece que vai sair pela boca a qualquer momento, especialmente quando ele deixou minha jaqueta cair e subiu minha blusa, tirando-a. Não há quem nos impeça, agora. 

Ele retira sua jaqueta e camisa, olhando meu corpo e em seguida encarando meus olhos. Solta meu cabelo com tanta gentileza que confunde meu corpo, mas isso me envia estímulos bons. Ambos nos desfazemos dos sapatos e ele me puxa para si, me deitando em sua cama. Estamos nos olhando com adoração, curiosidade e prazer. É lindo. Toco seu rosto e ele beija minha mão, descendo por toda a extensão do meu braço e sobe para o meu pescoço, enquanto suas mãos reconhecem meu corpo e retiram meu sutiã. 

Nos beijamos, outra vez e nos tocamos, ao nos livrar do resto da roupa e sentir nossos corpos colados. Tudo o que eu penso é Peter. Tudo o que eu quero é Peter. Eu não lembro de querer tanto algo ou alguém há muito tempo, mas eu o quero. Ele encontra uma camisinha e tudo o que eu queria aconteceu.

Fizemos amor. 

Fizemos paixão.

Fizemos... O que parecia ser destinado para nós, desde que eu cheguei aqui. 

A noite toda eu pertenci à ele. Aos seus toques fortes ou macios. Ao seus desejos ou adoração. Ao Peter que queria amor ou algo mais quente. Fui inteira dele. Eu me entreguei.

 

— Eu espero que tenha conseguido te dar sentimentos. Os mesmos que os meus ou pelo menos a metade. — Ofegou e me puxou para seu peito.

— Você me deu sentimentos, Pete. — Contornei seus lábios com um dedo. — Me deu cores. 

— Cores? — Ele sorriu como nunca para mim.

— Um arco-íris.

 

Dei um selinho e ele me deu um beijo casto na testa, me apertando nele. Estamos plenos, felizes, completos.

Aconchego o rosto em seu peito e fecho os olhos. Eu vou dormir com a cor do amor...

 

•••

 

O sol está iluminando meu rosto e queimando meus olhos. Isso não é legal, não mesmo. Abro-os lentamente, brigando com a luz e noto que Pete ainda segue aqui, com um braço — provavelmente dormente, atrás da minha cabeça, mas dormindo como um bebê. 

Como ele é lindo. Seus lábios estão mais vermelhos essa manhã e noto que ele dorme fazendo um beicinho muito charmoso e fofo. Eu o beijo carinhosamente. Sei que estou sorrindo para ele. Sei que tudo está ótimo aqui, mas eu preciso levantar.

Ainda é Quinta-feira e eu preciso trabalhar, mesmo que meu celular não tenha despertado. Eu não sei onde deve estar, mas eu acho que acabou a bateria.

Chuto a bagunça de roupas perto da cama e abro seu guarda-roupa, procurando minha camisa favorita e a visto. Eu gosto dela. Talvez eu a roube, hoje, não faz falta por aqui...

Lavo a boca e coloco um pouco de pasta de dente no dedo e escovo brevemente. Ignoro o cabelo desarrumado-porém-mais-liso que Stacey deixou ontem e rastejo até a cozinha, entre bocejos.

Tudo está tão bem. Minha manhã está ótima. Existem passarinhos cantando dentro da minha cabeça. E não porque eu fui para a cama de alguém ontem, mas sim, porque eu estou perto dele. Porque agora parece que meus sentimentos são muito grandes para eu contê-los sozinha.

Começo a bater a massa para as panquecas, enquanto dou bom dia à Doc. Somos só nós dois por enquanto e ele não está roendo nada! Rio para o rabinho contente e sigo meu trabalho até que a campainha toca. Deve ser Bruce. Com certeza é, mas eu não posso atender a porta sem calcinha e com toda essa perna de fora. 

Deixo a tigela na pia e corro para o quarto, puxando minha saia e sapatos, arrumando a camisa para dentro dela e tentando arrumar o cabelo enquanto caminho até a porta. Pelo menos eu pareço vestida para trabalhar e não vou encarar o olhar curioso dele. Era melhor que Pete abrisse a porta, como da última vez, mas ele não se move. Eu levantei, fiz um barulho estrondoso na cozinha, a campainha tocou e... Nada. Não acorda!

Abro a porta, que não estava trancada e uma garota apóia o braço no batente, olhando descaradamente para dentro. Ela é mais baixa que eu, mas com um longo cabelo cor de mel. Seus olhos são grandes e puxam um pouco para o verde. Eu não me movo, mas ela olha sobre meus ombros, impaciente.

 

— O Peter está? 

— Sim. É importante? 

— Muito. — Cruzou os braços.

— Ok. Como devo apresentar você? — Soei grossa. Eu não ligo. Não agora.

— Nicole, a noiva. Diga que ela está aqui. — Curvou o corpo e puxou uma mala que estava escondida lá fora.

 

Engulo em seco e minha mão cai da porta, liberando-a. Dou um passo para trás e nos encaramos por um tempo. Eu não sei o que ela pensou. Na verdade, eu não sei o que eu mesma estou pensando. Parece que algo atingiu meu peito tão forte que inclusive esqueci de respirar. 

Nicole entra e eu aponto para o quarto dele antes de sair do apartamento e caminhar rumo à escada. Não quero esperar o elevador e dividir espaço físico com eles. Eu estou zonza, confusa e perdida. Levo a mão para a barriga, tentando recompassar minha respiração, mas só parece piorar. Meus olhos se enchem enquanto desço as escadas correndo e lagrimas molham meu rosto em um ritmo descontrolado. 

Eu não posso. Eu não consigo. Eu não quero pensar. Dói tanto que sequer parece que isso é real. Agora, realmente, está doendo perder alguém tão repentino.

Isso é o que acontece quando você se abre para os sentimentos. Dói. Dói muito. Tudo é dor. Roubam suas cores.

Agora entendo o que aqueles poemas dizem, mas não posso sequer dizer à ele. Eu preciso esquecer.

Preciso desaparecer daqui.

E depois me mudar.


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