O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 10
Capítulo 10




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Stacey e Paul desapareceram pela praia, isso foi o que Josh chegou me dizendo. Acho que ele não é do tipo mentiroso, desses que falam coisas para tirar vantagem e conseguir ficar sozinho comigo. Somos adultos! Se ele quiser ficar sozinho, é só pedir. Quem negaria isso à ele? E se tem uma coisa que eu quero, é ficar sozinha com ele. Qual o problema? Estamos juntos, certo? Certo?

Peter se foi. Isso tudo foi um passeio, o melhor que eu tive, aliás. Me senti protegida, valorizada, cuidada... Ele foi tão diferente do idiota que pareceu quando me alertou do beijo... Quer dizer, eu sabia que ia ser assim. O que ele pensou? Que eu ia esperar que ele me pedisse em casamento? Não, não mesmo! Só de pensar em vestido branco gigante, lembro que mal sei operar minha máquina de lavar. 

O moreno lindo não me fez muitas perguntas, nada além de quantas voltas na roda gigante eu dei e se eu me diverti. Coisas simples, que o deixaram feliz por mim e eu achei isso a coisa mais doce do mundo! Homens costumam não dar a mínima, mas parece que ele se importa com isso. Ótimo!

O caminho de carro não era tão longo e por uma estranha razão, ele decorou. Eu já teria entrado em duas ruas antes e talvez terminássemos na Disneylândia. Ou em Nárnia. Quem sabe o que poderia acontecer se eu estivesse dirigindo, não é? Desastre Reed passando, saiam da frente, de trás, dos lados e da calçada... 

Chegamos na casa enorme da quem-sabe-o-quê de Paul. A casa era toda de vidro, eu não tinha reparado antes. Acho que me incomodaria muito em viver assim, mas quando as pessoas visitam a praia, gostam disso. A porta da varanda estava aberta, então suponho que Stacey passou por aqui, como um furacão, tirando tudo do lugar. Meu palpite era forte, mas ela não está lá fora e nem responde meus gritos. A casa está escura, também, mas iluminada pelas luzes de fora, até que Josh acende a luz da cozinha e eu me movo rapidamente até lá. Você sabe, a escuridão e eu não somos as melhores amigas e se ela fosse uma pessoa, eu com certeza a bloquearia no Facebook ou Twitter.

 

— Estamos sozinhos... — Josh pegou uma maçã e a mordeu, enquanto eu fui beber água.

— Pois é. — Sorri. — Eu acho que se perderam, mas eles têm nossos celulares e...

— Eu espero que eles demorem pra ligar, gatinha. — Terminou de comer e analisou meu corpo. Minha espinha gelou.

— É? Por que? — Sério, Rachel? Que resposta é essa?

— Porque eu quero aproveitar você.

 

Não respondi, mas sorri e me virei para lavar o copo, quando segundos depois, senti alguém em minhas costas, tocando minha cintura e respirando próximo da minha orelha. Ok, ele é bom mesmo e meu corpo começa à concordar com isso, então enxugo as mãos, me viro para ele e nos beijamos. Sem medo, sem pensamentos ruins e sem ninguém atrapalhando. Apenas um beijo comum, de duas pessoas que querem isso e não vêem problema.

A mão dele desceu para a minha coxa e isso me faz, automaticamente levá-la até sua cintura e abraçá-lo pelo pescoço. Você sabe o que isso significa: isso está esquentando e estamos sozinhos. Ignoro os pensamentos de que alguém pode chegar e desci a mão pela sua nuca e costas, pressionando os dedos. Ele parece me agradecer com beijos no pescoço. Isso é bom, Josh... 

Sabe, beijos fora da boca começam logo quando a pessoa quer retomar a conversa. É um jeito sexy de dizer "Olha, eu esqueci de dizer alguma coisa, então vou te beijar e falar. É uma boa combinação. Você mal vai ouvir e confirmar!", exatamente isso. Apoiei uma das minhas mãos na pia, saboreando os beijos e esperando a conversa que me desviaria dos meus pensamentos.

 

— Dorme comigo, hoje? — Sussurrou, enquanto mordiscava minha orelha.

— Josh... — Coloquei uma mão em seu peitoral. A condição de trazer Paul era a quantidade infinita de quartos, para eu dormir sozinha, mas ele não sabia disso.

— O que tem de errado? Estamos juntos, somos um casal, nada impede. — Recuou um pouco o corpo para me olhar.

— Somos? — Um casal. Não tinha pensado por esse lado.

— É claro que sim. Você me quer, eu te quero. Vamos, gatinha...

— Mas eu não vou dormir com você para... Isso. É recente, para mim, Josh. — Suspirei. — Preciso de um tempo antes que isso aconteça.

— Sem problemas, eu só quero ter você perto. Vamos?

 

Ele acariciava meus braços, enquanto me olhava com aqueles olhos azuis mais penetrantes que nunca e eu não tive forças para recusar. Primeiro, porque ele tinha razão e segundo... Porque estou bem, mentalmente, sobre a minha situação com Peter, então posso me dar ao luxo de seguir minhas vontades e instintos.   

Subimos. Cada um se trocou no banheiro e deitamos. Ele poderia ter se aproveitado de mim ou até me espiado, mas não, ele me respeita. E essa situação toda está melhor do que pensei. 

Depois de alguns beijos, nos acalmamos e ele ficou fazendo cafuné até que meus olhos pesassem mais e mais e eu dormisse. Eu gosto do que ele me dá. Eu gosto de Josh.

 

  •••  

 

Já estava claro, quando senti alguém sacudir e empurrar meu braço. Meu sono estava pesado demais e eu achei que era um sonho. Com a quantidade de passos que dei por aquela praia, ontem, meu corpo pedia algo do tipo "Vamos dormir por 24 horas, comer um sanduíche gigante e depois dormir por mais uma semana?", mas a mão seguia me sacudindo. Eu ouvi alguém fazer "Miau!" e depois chamar meu nome. 

A voz era feminina e claro, era de Stacey. Abri um olho e a vi dando pulinhos na minha frente. Que horas são? Não é possível que alguém tenha acordado cedo e esteja tão feliz. Feliz é uma coisa que não estou, então fecho os olhos e tento dormir, novamente. É bom saber que ela chegou em casa, mas meu sono me comanda, agora.

 

— Rachel! A casa está pegando fogo!

— O que? — Me sentei, depressa, na cama enquanto olhava para ela, assustada.

— Brincadeira, bobinha. — Riu. — Mas isso te fez acordar rapidinho. Sempre funciona.

— Eu vou te matar. — Josh se mexeu e ambas olhamos para ele. 

— Me mata de amor, tomando café comigo. Vem! — Deu a mão para que eu levantasse.

 

Estou de babydoll e mesmo que não adiante tanto, coloquei o casaco da noite anterior e saí do quarto com ela, fechando a porta devagar, porque, afinal, as pessoas merecem dormir! Passamos pelo corredor enorme e descemos as escadas de madeira, com corrimão de vidro. Essa casa é um sonho, estou começando a me acostumar com ela.

 

— Vocês transaram? — Disse, com a mão na boca.

— Stacey! Não! — Ri. Não esperava por essa.

— Por que? Ele estava sem camisa e do seu lado. Meu Deus, ele é um gatinho, com todo respeito.

— Ele é um gatinho mesmo... — Mordi o lábio, enquanto servia suco para nós duas.

— Vocês estão namorando?

— Stacey! Devagar! Eu não sou louca como a amiga que eu arranjei, sabe? Apesar... Que ele disse que somos um casal.

— Vocês namoram! Ah! — Falou alto e finalizou com um gritinho.

— Louca! Toma seu suco e para de gritar. Onde você foi, noite passada?

— Como assim, onde eu fui? Eu vim para casa, muito antes de vocês. 

— Eu te chamei. Mil vezes. — Franzi o cenho.

— E eu ouvi, mas não podia responder. — Deu uma risadinha.

— O que você estava fazendo?

— Amiga, vem aqui e senta do meu lado. — Apertou a mão e me puxou para o seu lado. — Eu preciso te contar o que fiz ontem.

— O motivo pelo qual você entrou saltitante no meu quarto e queimou a casa?

— Isso. Isso!

 

Eu me sentei no longo banco branco, ao lado dela, puxei meu suco de laranja para perto e estiquei o braço para ligar a torradeira, esquentando dois pães para nós. Ela se virou para mim e estamos de frente, agora. Há um segredo em seus olhos. Ela fez algo, noite passada. Será que... Ela beijou Peter? Meu peito apertou. Se for isso, eu realmente não vou saber como responder. Minhas pessoas favoritas, juntas? Não. Eu gosto de não conhecer quem ele leva para cama. É menos doloroso assim e eu estou apenas começando a me curar dele. Vamos devagar...

 

— Stacey, você está me deixando ansiosa e eu não gosto disso. O que houve de errado, ontem?

— Amiga, eu fiz uma coisa louca. — Mordeu a unha e falou embolado, por isso. — Fui para cama com Paul.

— O quê? — Levantei, com os olhos arregalados. — Você ficou louca? Você sabe que ele é... Ele cobrou?

— Não! Claro que não! Ai, Rachel, sua cara... — Ria alto, rodando o banco e balançando as pernas finas. — Eu sei o que ele é, mas não foi isso. Foi casual.

— Você é louca. — Coloco as mãos no cabelo e sinto vontade de rir. Estou nervosa. — E o que vão fazer sobre isso?

— Eu não sei, deixei ele dormindo e fui atrás de você. Achei que você soubesse o que fazer. — Deu de ombros.

— Escolher coisas não é comigo, S... Mas se ficar com ele, vai ter que aceitar o trabalho dele...

— Por essa casa, eu aceito tudo. Não, brincadeira. Eu preciso beber. — Riu e se levantou, abrindo uma garrafa de vodca e despejando um pouco no seu suco. 

— Às... 10 da manhã? — Olhei para o relógio na parede.

— Beber me dá claridade. Olha, eu não namoro pessoas, tenho uma regra pós 25. E eu tenho 23.

— Regra pós 25? — Puxei seu copo e dei um gole, fazendo careta logo depois. — Vamos lá, me fala dessa regra, eu já me encaixo nela.

— Eu fui em uma dermatologista uma vez, ok? Então eu fiz uma regra baseada em estudos de outras pessoas. Nossa pele muda depois dos 25, então eu vou mostrar minha pele bela e jovem para todos os caras da cidade e quando começar a enrugar, eu namoro.

— Então você me "deixou" namorar Josh, porque eu estou velha? — Meu queixo caiu e dei um tapa leve em seu braço.

— Isso. E porque ele é um gatinho lindo que mima você. — Fez cócegas leves na minha barriga.

— Paul é um gato, S. Você sabe disso. 

— E por isso ficamos, mas para a única coisa que quero ser fiel, agora, é para a minha regra. — Abriu os braços e deu um pulinho. — O mundo precisa de Stacey Miller solteira!

— Alguém me socorre! — Ri alto. — Você nunca namorou?

— Antes dos 20, daí me recuperei. — Terminou seu mix de suco e vodca. 

— Mas, agora, você vai ver Paul sempre. Eu pensava nisso quando beijei Peter.

— Paul não vai ser o idiota que ele foi. Vamos fingir que nada aconteceu e ser amigos. Simples! Homens adoram isso! 

 

Ela parecia ter se dado um auto-conselho, então eu ri e encolhi os ombros. Parece que, tecnicamente, os dois iam ficar bem, mas eu ainda acho que beijar alguém que trabalha ou convive com você, vai ser um problema em algum momento. Talvez não quando se é tão mente aberta como Paul e Stacey. 

Estávamos distraídas, quando eu senti um cheiro ardente e próximo de queimado. As torradas! Levantei como uma louca e dei a volta no balcão, desligando antes que a máquina pegasse fogo. Eu já disse que sou um desastre... Mas parecia que a cena ficaria pior que isso, quando S se abaixou e pegou um papel no chão. Droga! Eu conheço aquele papel! É a foto! Dou uma olhada rápida e vejo que o botão do meu casaco está aberto e logo a vejo balançando-a no ar.

 

— Rachel... Ou devo dizer, Rach?

— Sim?

— Você esqueceu de me contar alguma coisa sobre ontem? — Arqueou as sobrancelhas.

— Eu? Não, não... — Apoiei e apertei as mãos na pia, atrás de mim, balançando a cabeça.

— Cara de pau! Você viu o idiota ontem! O que é isso aqui? — Virou a foto para mim.

— Uma foto?

— Com Peter! Vocês ficaram?

— Não, não mesmo. — Fiz uma careta. — Foi só uma volta na roda gigante.

— Quem pediu isso? Você ou ele?

— Ele... Ele quem me convidou.

— Peter te convidou para um encontro romântico! — Deu um gritinho ensurdecedor. — Ele gosta de você.

— Não começa com isso, Stacey!

— E você dele! Você tem até uma foto de recordação.

— Ele também tem! — Eu me defendi.

— O que torna tudo maior. Eu não acredito! O que vocês estão fazendo separados?

— Somos amigos! E me dá essa foto. — Dei a volta no balcão e corri até ela.

— Vem pegar. — Correu, rumo à varanda. — Como vai chamar o OTP? Deixa eu pensar... Rater ou Pechel? 

— Se concentra em Pacey, queridinha! Paul vai logo acordar e te dar uns beijos.

— Nem pensar! Somos amigos, quem sabe ele não me leve na roda gigante? — Riu alto, pulando o degrau e chegando à varanda.

— Eu vou te matar! 

 

Puxei a foto e guardei no bolso, abotoando com todo o cuidado, enquanto ela se jogava na piscina. Toda louca! Stacey é tão alegre, enérgica, feliz e segura. Eu amo essa garota cada dia mais. Ela quer o meu bem e me ver feliz acima de tudo, tem coisa melhor? Vou fazer o mesmo por ela, cuidar e proteger, mesmo que eu sinta que ela sabe fazer isso muito bem sem mim. Tão madura e mais nova que eu! Idade são apenas números, mesmo.

Sento na cadeira de praia e a assisto, enquanto ouço a voz dos "homens da casa" na cozinha e lembro que há duas torradas feitas no balcão, isso deve ajudar a fome deles. Ela joga um pouco de água em mim e eu desvio os pensamentos e o corpo, rindo, mas logo volto à me perder, pois ela começa à nadar, para não atrair a atenção de Paul.

As minhas pessoas favoritas estão nessa casa. As risadas e a felicidade delas, também. É claro que eu ia adorar que Bob estivesse aqui e Bruce, mas pela idade ele não pode vir ao festival. Eu estou construindo uma família de amigos e já não dói tanto estar longe de casa. É claro que sinto saudade, mas finalmente essa é a minha vida, baseada no meu salário e necessidades.

Há outra pessoa favorita faltando. O que será que ele está fazendo, agora? Em que parte de Coney Island será que ele está? Ele já voltou para casa? Eu não sei nem o seu celular e acabo de me sentir meio patética, por isso. Enfim, nossa relação é como uma roda gigante. Ora lá em cima, ora instável... 

Independente de onde ele esteja, ele me deu uma partezinha dele. Uma memória. Coloco a mão no bolso e a aperto sobre a foto. Ele está comigo.

E eu me sinto completa.


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