O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 1
Capítulo 1




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O ar frio se mistura com o ar quente do aeroporto e beija meu rosto sem culpa, enquanto a porta se abre para eu sair. New York continua a mesma, com as suas nuvens cinzentas, brincando em um céu tentando se mostrar azul. Eu não sei se vai chover hoje, na verdade, eu nunca sei, meu sexto sentido é péssimo para o clima, então acho que eu devia apenas sair correndo em busca do primeiro táxi disponível para mim e minhas três malas.

Agradeço quem quer que seja pela invenção dos carrinhos de aeroporto ou sem eles eu estaria toda desajeitada com malas gigantes na calçada. Não pense que eu estou de viagem para cá e como a metade das garotas de Upper East Side, estou com milhões de roupas nas malas. Não. Não é assim. Eu estou de mudança. Carter, meu irmão, acabou de casar e deixou um apartamento livre, para alugar e eu decidi tentar a sorte por aqui. Não que Los Angeles fosse ruim, mas eu já tenho 25 anos e não posso morar com a minha mãe para sempre.

Economizei dinheiro suficiente para o aluguel, despesas em casa e esse táxi, então preciso rapidamente de um emprego. Eu não acho que $ 1000 vão sobreviver por muito tempo. É claro que ninguém sabe que eu saí de casa apenas com isso, mas não importa. Eu vou dar meu jeito.

Bagagem no porta-malas, eu entro no banco de trás dando o endereço e o taxista segue seu curso sem muitas palavras. No rádio, toca alguma música do Pink Floyd, com certeza, mas eu não sei dizer qual, pois não é muito meu estilo musical. A letra diz algo como ser jovem e a vida ser longa, com um tempo para desperdiçar. Eu tive isso, por um longo tempo, na verdade, mas agora é hora de mudar. Preciso mudar. Apesar do frio na barriga, seria tão decepcionante voltar para casa dizendo que eu não consegui ser boa o suficiente...

O táxi continua correndo e eu olho cada parte desse lugar incrível e gigante demais para mim. Visitei a cidade poucas vezes e havia me esquecido o quanto ela me maravilha. Agradeço aos céus por Carter ter se mudado para New Jersey e essa oportunidade ter surgido para mim. Ninguém acreditou quando eu disse que iria me mudar e não os culpo. Todos à minha volta estavam acostumados à uma garota acomodada, passiva, relaxada em morar no mesmo lugar durante, praticamente, toda a vida e então ela diz que vai sair da saia da mãe e: uau, ela ficou louca!

E eu fiquei mesmo, acredito que é o momento de mudança. Não pense que é por James que eu me mudei. Nós terminamos há alguns meses e eu nem o amava, tanto assim. Quer dizer, gostava, mas amor? Amor não. Isso é uma coisa que exige muito esforço e eu não gosto. Eu não sei como as pessoas podem perder o tempo delas amando, se esse sentimento se esgota. Não existem finais felizes ou eu, pelo menos, não conheci um. Não, nem dentro de casa, meus pais são divorciados. E não pense que eu sou uma solteirona amargurada, pois eu tive, sim, namorados durante a vida toda. Eu só... Não me adapto à eles o suficiente para amar e me dedicar inteiramente, como em uma história que vemos nos filmes.

Sem namorado, sem dinheiro da família e perdida nesse lugar... Eu sou a nova Rachel Green! Sorrio com a comparação, mas de igual apenas temos o primeiro nome – Rachel. E eu sou morena, meu cabelo é maior que o dela, sou mais alta e meu corpo é mais volumoso, tenho certeza. Ah, nossos olhos também são parecidos, mas ela segue sendo a musa inspiradora de gerações e eu, sou apenas eu.

O taxista estacionou e me disse o valor: $ 43. Eu quis gritar, mas fiz beicinho como se indicasse "Estou pobre!" e ele reduziu à $ 40. Saí do carro, retirando a franja dos olhos e encarei o prédio. A parede de tijolos era incrível, mas bastante clichê, a escada parecia revestida em mármore, com um corrimão preto e uma porta marrom, estampando o número 310 no vidro. É aqui. Esperei para que o taxista me entregasse as malas e eu subi com duas, ele gentilmente me ajudou com a terceira. Meu coração mole fez eu dar $ 5 por isso e bem no fundo, completar a volta que ele havia feito comigo. O certo é certo.

Eu nunca estive aqui antes, então olho em volta para apreciar cada canto da portaria – e também porque estou perdida. Um senhor vem até mim, me acenando para esperar e eu paro quase na porta. Eu sei que ele quer saber quem eu sou, mas ele não estava aqui antes e eu poderia ter ido onde eu quisesse nesse meio tempo. Sorri para ele, mas sorria mesmo para esse meu pensamento.
 

— Boa tarde, senhorita. Em qual apartamento vai?

— No 703.

— O Senhor Reed não está mais aqui. Ele casou e se mudou. Você veio para conhecer o apartamento?

— Eu sou Rachel, a irmã do Carter. Eu vim morar aqui.

— Rachel! — Seu sorriso se abriu como se me conhecesse e pegou a chave em sua mesa, me entregando. — Seja bem-vinda, menina. Sua nova casa fica no sétimo andar.

— Obrigada! — Reuni as malas como pude e no meio do corredor, o senhor me gritou.

— Menina, espere! O elevador está fora de serviço.

— O quê?! — Arregalei os olhos. — Vai demorar para arrumar?

— Disseram que mais umas duas horas. Se você quiser deixar as malas e subir, posso guardá-las para você.
 

Encaro as escadas por um tempo. Sete andares? Depois de horas em um avião? Não, obrigada. Às vezes sou um tanto preguiçosa e sedentária e essa me parecia a hora ideal para isso. Peguei o travesseiro para avião e fui até a escada, sentando com ele em meu traseiro. Duas horas passam rápido, não é? Você só consegue ver um filme nesse intervalo ou dois episódios de alguma série. Eu deveria atualizar alguma das minhas, lembro de Carter dizer que ele continua pagando o Netflix e que o Wi-Fi aqui pega bem. Tentador, mas eu vou continuar sentada aqui. Apoio os cotovelos nas coxas e o queixo nas mãos, observando todo o comprimento do hall. Sua cor não é branca, varia mais para um amarelo, mas também não tanto. Minha mãe diria que varia para champagne, mas não estou certa se posso definir isso como cor. Existem vários mini armários com números na parede e suponho que deva ser onde deixam as correspondências. Vai ser difícil me lembrar disso e já posso imaginar as contas pagas com atraso. No fim do corredor, o elevador com desenhos em ferros pretos segue fechado, com a luz apagada. Em que andar será que quebrou? Será que estavam fazendo sexo dentro dele? 

Coro um pouco com os pensamentos e noto que o porteiro está me olhando de sua mesa. Ele devia estar observando a porta, mas sua cadeira está de lado, para poder me observar, também.

— Com fome, menina?

Eu demoro um pouco para responder. Já devia fazer umas quatro horas desde que comi no avião e minha barriga começa a protestar. Tenho fome e não deve ter nada além de latas de vento na minha casa. Preciso comer, mas apenas aceno com a cabeça para o senhor, confirmando.
Por trás da escada onde estou, aparece um menino entre seus 16 ou 17 anos, magro, de cabelo preto bem liso, a pele pálida e vestido com uma camisa do Capitão América e uma calça escura. Acena para mim e segue até a mesa.

— Bruce, vá até o Subway buscar um sanduíche para a moça. — Entregou-lhe algumas notas. Por que ele vai fazer isso se não me conhece? Eu só não estou em posto de recusar.

— O senhor também quer?

— Sim, o de sempre. Compre para você, também.

— Vovô recebeu hoje!

O menino saiu rindo e eu sorri olhando os dois. Era bom saber que aquele homem gentil tinha alguém por ele. Acho que vai me dar um pouco de carência e saudade de casa durante os próximos dias, mas isso deve melhorar quando eu arrumar uns amigos. Eu espero. Suspiro, abafando o pensamento.
Um tempo depois, Bruce voltou com uma sacola e dei um espaço para ele sentar do meu lado. Seu avô se juntou à nós, trazendo sua cadeira e começamos a comer. Eu notei que não havia feito o pedido de como queria, mas o garoto pareceu ter acertado, porque está delicioso. Acho que estou com mais fome do que pensei. Os dois me olhavam como se tivessem curiosidade sobre mim e eu não estava ajudando, permanecendo quieta. Eles são as únicas pessoas que tenho na cidade e irei vê-los sempre. Preciso mudar a tática e dizer algo, mas antes de eu tentar, Bruce chamou nossa atenção.

— Acho que a moça fica olhando pra gente e pensando "Essas vão ser as pessoas que vão estar perto de mim em um apocalipse zumbi. Me ferrei!" — Disse, terminando de engolir e olhando seu avô.

— Eu acho que ela se ferrou mesmo! — Sorriu, piscando para mim.

Ri alto, tentando não derrubar meu sanduíche. Olhei os dois por um tempo.

— É isso mesmo que estou pensando. Pelo menos vai ter alguém com uma camisa legal do meu lado, vai ser um bom cartão de apresentação. Talvez eles até nos poupem. — Uau, eu fiz uma piadinha! 

— Hey, vô, essa garota sabe o que diz. Gostei dela!

— Rachel, eu sou Rachel, Bruce. — Estendi a mão.

— Ela é irmã do Carter. Vai morar aqui. — O senhor simpático interrompeu.

— Sério? Seu irmão é um cara legal. — Estendeu a mão, apertando a minha.

Todos dizem isso do meu irmão e ele é mesmo. Bem mais divertido que eu, mais descolado, mais loiro, mais alto... Enfim, sabemos porque ele casou e eu não.

— E vocês? Só moram os dois aqui? 

— Sim, só meu avô e eu. Eu vim para estudar e tentar uma bolsa em alguma faculdade, no meio do ano. — Só agora notei que ele estava com uma mochila desde então.

— Vai sair para estudar, agora?

— Vou, com um grupo. Eles vão dar uma festa no fim de semana, você pode vir comigo, se quiser.

— Hum, eu não sei, Bruce... Eles vão achar estranho alguém do meu tamanho lá. 

— Vai ser numa república! Vai dar tudo certo! 

— Ok, acho que tudo bem. — Sorri.

— A menina já arrumou uma festa para ir! — Seu avô riu, voltando para sua mesa.

— Nada mal para o meu primeiro dia, hein?

Os dois riram e me juntei à eles. Bruce se despediu de nós e saiu. O silêncio voltou para o corredor. Limpei a bagunça que tinha feito e voltei para a escada. Agora que percebi que deveria ter pedido ajuda para o garoto e subir com essas malas, mas agora já foi. 
Transfiro meu travesseiro de onde estava e o coloco no canto da escada, me deitando por toda a extensão do degrau. O prédio era enorme, mas parecia inabitável, já que ninguém descera até agora. Talvez existam sedentários, como eu, lá em cima. E de qualquer forma, é quarta-feira feira à tarde, as pessoas estão trabalhando. Eu deveria sair e procurar emprego nesse tempo que resta, mas meu corpo alerta que estou exausta. Não dormi nada na noite passada, terminando de arrumar minhas malas. Você sabe, essa mania de deixar tudo para a última hora, não posso me controlar. 
Meus olhos começam a embaralhar e eu olho meu relógio, antes de fecha-los por um tempo. 

Mais uma hora. Eu posso esperar...


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