Limpei meu rosto e saí da sala.

E a única pessoa que tinha no corredor era o Cris.

Que merda.

—Bruna? – Ele parecia confuso, e provavelmente meu rosto com lágrimas escorrendo e cabelo bagunçado não o fazia sentir melhor. -Você pode me explicar o que aconteceu entre você e Logan? Ou melhor porque os dois estavam nessa sala?

Agora sim a confusão dele tinha sumido e a raiva tomou conta de seu rosto. Ele não podia saber, Logan não ia estragar tudo isso que demorei tanto para ter, eu estou feliz, ou deveria estar feliz. Por que eu não estou feliz?

—Fazendo exatamente o que você pediu.

Saí andando na esperança dele não me seguir e deixar isso para atrás, mas foi em vão.

—Como?

Ele segurou braço me fazendo parar.

—Você me pediu pra ser amiga do Logan, você me pediu pra se aproximar dele mesmo ele sendo um babaca comigo todas as vezes que estamos juntos!

—Vocês pareciam estar se entendendo, deram até uma trégua!

—As aparências enganam.

—Foi realmente só isso?

Ele falou me olhando nos olhos, aqueles olhos que eu sempre sonhei que me admirasse.

—Sim.

Falei e fui pra sala, estava mentindo para o meu melhor amigo e até então namorado, mas até quando ele seria isso para mim?

A aula já tinha começado a muito tempo, eu não tinha mais noção de quanto tempo tinha ficado fora de sala, quando abri a porta o quadro estava todo escrito e o professor olhou para mim com uma cara nada amigável, parecia que hoje todos estavam me julgando ou odiando.

—Senhorita, você não pode mais entrar na sala.

Eu precisava inventar uma desculpa logo, não posso ter mais uma advertência no meu histórico, não por conta do Logan.

—Eu estava na enfermaria, passei muito mal professor.

—Bem, sua cara não está a das melhores, coloque o comprovante da enfermaria na minha mesa e sente-se.

—Er, eu não trouxe, na correria acabei esquecendo de pedir.

—Senhorita Bruna, não se atreva a brincar com a minha Inteligência.

Eu já estava indo buscar meus materiais quando ele falou.

—Logan, você estava na enfermaria, a senhorita Bruna também estava?

Eu olhei pra ele com uma cara de cachorro que caiu da mudança, depois de tudo que ele fez, ele me deve essa.

—Não senhor, não me lembro dela lá professor.

Caralho, eu odeio esse garoto, como eu pude se quer deixar ele confundir meus sentimentos em relação ao Cris? Logan só sabe me destratar e bagunçar minha cabeça. Eu devo ter passado uns 5 minutos parada olhando para ele, se eu pudesse teria o matado com meu olhar, despertei ao ouvir o professor mandando eu pegar minhas coisas e pegar a advertência. Toda a sala olhava pra mim, eu sentia que todos sabiam o que se passava na minha cabeça, tudo que houve entre mim e Logan, pela primeira vez eu saí da sala com o olhar baixo, a vergonha tomou conta de mim. Que tipo de pessoa eu me tornará, onde eu me perdi? Talvez eu não seja tão diferente da minha mãe.

Fui para casa e me deitei, passei o resto do dia fazendo exatamente vários nadas, no intervalo eu pensava em todas as formas de torturar e matar o Logan, mas nada que eu pensava provocava a dor que eu queria faze-lo sentir.

Quando a noite chegou Cris apareceu em minha porta.

—Oi.

Falei

—Oi amor.

Ele me beijou, eu esperei as faíscas, esperei as borboletas no estômago, mas nada veio.

—Tudo bem?

—Tá sim, vamos ver um filme? Pai não vai dormir em casa hoje, já fiz até brigadeiro pra gente.

—Queria que ele estivesse, to achando que é a hora de assumir, não acha?

Como assim? Tão cedo? Eu não estava preparada.

—Cris, ainda tá muito cedo...

Falei tentando ficar calma, ele não podia achar que era medo, pois era isso que eu sentia.

—Cedo? Bruna, nos conhecemos desde pequenos, todos já falavam que namorávamos mesmo sem isso acontecer, seu pai me adora, nossas famílias diziam que deveríamos namorar, você mesmo me disse que era apaixonada por mim a muito tempo, o que tem de cedo nisso?

Eu não sabia o que dizer, tudo que ele dizia fazia sentindo, tudo que ele dizia era verdade, porém algumas verdades mudaram e eu não sei se realmente sou apaixonada por ele, alguma coisa eu sinto, não posso mentir. Mas paixão? Paixão é isso? Sem borboletas no estômago, faíscas no meu coração? Onde está o calafrio que percorre toda a espinha que fala em todos os livros? Onde está o sentimento de saudade quando o beijo acaba tão cedo? Onde minha cabeça está? Eu já não sei onde ela está.

—Bruna? Me diz o que tá acontecendo, eu não posso entrar de cabeça no escuro, você precisa se abri pra mim.

Antes de falar com ele eu precisava falar com outra pessoa.

—Minha mãe, ela me ligou ontem e discutimos, eu não to bem Cristian.

Mais mentiras.

—Vem cá, pequena.

Ele me abraçou, seu abraço era bom. Seu abraço era acolhedor e aconchegante. Mas só.

—Cris, sei que você vai ficar chateado, mas me deixa ficar sozinha hoje, estou precisando de um espaço para resolver tudo na minha cabeça, prometo que tudo voltará a ser como antes. Eu juro.

—Tudo bem, eu não vou ficar chateado, você não tá bem e eu entendo. Mas tem certeza que quer ficar sozinha?

—Sim.

—Ok, te amo.

Ele me deu um selinho e saiu da minha casa, logo em seguida subi e troquei de roupa, desci as escadas e fui na casa a frente, eu precisava falar com Logan.

Bati a porta, toque companhia e ninguém me atendia. Quando já estava quase desistindo a mãe dele vinha chegando.

—Bruna, quanto tempo!

—Oi senhora Martins, nem faz tanto tempo.

Dei um abraço e sorri, fazia sim muito tempo.

—Veio procurar o Logan?

Ela parecia confusa, pelo visto quando se  trata de mim e Logan todos ficam confusos.

—Sim, mas eu toquei e ninguém apareceu, ele não deve estar em casa.

—Ah, tá sim. Olha a moto dele ali.

A moto dele estava ao lado da casa, eu não tinha visto ela ali, isso significava que eu estava sendo ignorada.

—Entra. -Ela falou depois de abrir a porta. -Você ainda lembra como chega no quarto dele? A última vez que você veio ainda era uma criança.

Mal sabe ela que já estive aqui a algum tempo atrás.

—Lembro sim, não precisa se incomodar Sra. Martins.

—Para de me chamar de senhora, me chame de Laura. Vou passar um cafezinho, daqui a pouco venha tomar minha querida.

Ela saiu em direção a cozinha e eu do quarto de Logan. Não tive o trabalho de bater na porta, apenas entrei. Ele estava só de cueca deitado na cama enquanto mexia no celular, parecia concentrado.

—Além de me ferrar vai me ignorar também?

Assim que falei ele deu um pulo na cama, e ficou em pé.

—O que você tá fazendo aqui.

—Querendo saber porque diabos você ferrou comigo na escola. Já não basta na vida pessoal?

—Eu não quero falar com você, vai ter DR com seu namoradinho e me deixa em paz, beleza?

Ele falava apontando para a porta, eu já estava muito brava, comecei a andar em sua direção bem devagar.

—Me escuta, para de ferrar comigo, para de brincar comigo, eu não admito que você faça isso!

Ia dar um tapa na sua cara mas ele segurou meu punho, nossos rostos estavam colados demais, pertos demais, era perigoso demais. Então nos beijamos e dessa vez eu não parei, dessa vez eu não resisti, eu queria aquilo e ele também. Eu senti tudo, borboletas no estômago, faíscas saindo do meu corpo, calafrio na espinha e sensações que eu nem sonhei que era possível sentir. Passamos algum tempo assim, as coisas estavam indo para outro nível, mas a mãe dele nos interrompeu.

—Crianças? Fiz um lanche, apareçam na cozinha para comer.

Assim que ela começou a falar no outro lado da porta que se encontrava fechada eu pulei de cima da cama onde já estávamos, ele apenas de cueca e eu quase sem roupa, antes de me perguntar o que estava fazendo e ter mais uma crise existencial ele falou.

—Hoje de manhã na escola, eu me senti muito mal ao ver a forma que você saiu da sala, eu sei que faço tudo errado, eu sei que sou um merda. Tentei falar com o professor depois mas ele disse que eu não precisava fazer isso e você deveria aprender uma lição, eu quase bati nele de tanta raiva.

—Isso é o de menos, Logan. -Eu falava sentando ao seu lado. -O que estamos fazendo é errado.

—Eu sei. – Ele falou abaixando a cabeça, por extinto eu o abracei e passei a mão em seus cabelos. -Eu tentei, eu juro que tentei. – Ele disse voltando a me olhar. – Quando eu percebi que você gostava dele, eu comecei a te tratar mal, tentei te afastar da minha vida. Mas ele não te notava e eu pensei que você poderia se apaixonar por esse ogro aqui, mas você sempre vai ter olhos para ele e eu sei disso, eu sei que isso não passar besteira, isso que estamos fazendo não pode atrapalhar aquilo que você sempre sonhou e eu aceito isso, mas se afasta de mim, você não me ajuda a te esquecer se aproximando assim, foi por isso que fui um idiota com você hoje na sala, eu queria que você me odiasse, mas ao invés disso você vem aqui e me beija.

—Eu não consigo mais te odiar.

—Como?

—Eu acho que esperei demais que o Cris prestasse atenção em mim e não prestei atenção ao meu redor. Eu esperava sentir algo com o Cris, mas todas as sensações que eu esperava sentir com ele só sinto quando você me toca, me beija. Eu não sei o que fazer, Logan.

—Não, não, não. O Cris vai nos odiar. Isso não pode tá acontecendo.

Ele levantou da cama bagunçando seu próprio cabelo, coisa que ele fazia quando ficava nervoso, e eu comecei a chorar, não suportaria perder a amizade do Cris, nunca.

—Hey, não chora.

Ele me abraçou, seu abraço era mais que confortante, era como se preenchesse meu ser, me completasse.

—Eu vou dar um jeito nisso. Não se preocupe, vai pra casa, não fala nada pra ele.

—Como?

Eu estava confusa, mais um pra lista que não entende o que se passa entre mim e Logan.

—Eu vou arrumar tudo, tudo vai voltar a ser como antes.

—Eu não quero que seja como antes, antes eu não te olhava dessa forma.

—Mas precisa ser.

Ele me deu um selinho e olhou para a porta, entendi o recado e saí.

Eu fui pra casa, quando subi no meu quarto e olhei para a janela do Cris, lá tinha um pano vermelho, mas ignorei. Eu não estava afim de vê-lo agora, ou amanhã, ou depois. Eu não sei se poderia olhar para sua cara depois de tudo que fiz. E assim passei meu final de semana, encurralada em casa, sem sair ou falar com ninguém, na segunda feira fui a escola e tudo parecia normal, mas a cadeira atrás de mim que era ocupada pelo Logan estava vazia.