Um Imprinting Inesperado escrita por valentinaLB


Capítulo 20
Capítulo 17 - Confusões




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CAPÍTULO 17 – CONFUSÕES

POV JACOB

Voltei pra casa me sentindo a pessoa mais infeliz do mundo, mas por outro lado estava aliviado. Agora não havia segredos entre mim e Nessie.

Eu poderia perdê-la para sempre, as chances eram grandes, mas se ela me aceitasse seria porque me amava integralmente, como homem e como lobisomem.

Minha vida agora dependia de um “se”. Eu estava entre parênteses, metaforicamente falando. Enquanto não passasse esses trinta dias e eu soubesse a decisão de Nessie, eu não tinha presente nem futuro... Eu era um nada.

Depois de uma semana que Nessie tinha ido embora, consegui arrumar ânimo para voltar ao consultório. A medicina me dava muito prazer. Modéstia à parte, eu era um excelente médico. Tinha me dedicado com afinco aos estudos e me preparado muito bem para exercer minha profissão.

Entre gravidez, partos e cólicas menstruais, meus dias iam se passando. Só as noites não passavam. Rolava na cama até o amanhecer, abraçado ao travesseiro que quase não guardava mais o perfume de Nessie. Minhas lembranças eram tudo o que tinha me restado. Lembranças de seu cheiro, seu gosto, seu corpo, sua voz, sua risada... sua timidez.

- Ei, Dr. Lobo Vermelho, resolveu voltar pra sua gente!! – Conhecia aquela voz muito bem. Estava saindo do consultório quando virei-me e vi Leah vindo em minha direção, com um enorme sorriso no rosto.

- Oi “Lobisoma”, não perdeu o jeito gozador, heim!! – Falei rindo, correndo para abraçá-la.

Fazia dez anos que não nos víamos. Leah estava linda. Tinha deixado os cabelos crescerem e parecia mais feliz.

- Você está linda!! Estava com saudades, menina. – Dei um beijo em seu rosto.

- Também senti muito sua falta, Jake. Não devia ter sumido por tanto tempo. Que bom que voltou! – Tinha sinceridade em sua voz e também um pouco de mágoa.

Eu e Leah, apesar do seu jeito arredio, tínhamos uma ligação bem forte. Eu era quem mais a entendia. O único que enxergava sua verdadeira essência embaixo da dureza que demonstrava ter.

No dia que nos despedimos, antes de ir embora para New York, foi a primeira vez que a vi mostrar fraqueza. Ela chorou com a cabeça em meu peito.

- Vou sentir sua falta, Jake. Ninguém aqui me entende como você. – ela falou, cheia de tristeza.

- Não se preocupe, Leah, volto sempre que puder.

Mas não voltei. Abandonei minha amiga. Nos falamos algumas vezes e só.

- Quando você voltou? – Perguntei.

Leah tinha ido para África há um ano, como voluntária da Cruz Vermelha.

- Cheguei hoje. Seth já tinha me dito que tinha voltado. Aliás, ele me contou também que você sofreu Imprinting. Que sinistro, heim!! Com uma “cara pálida”?? Não tinha como ser menos complicado não? – Era a mesma Leah de sempre.

- Nem queira saber... Minha vida tá de um jeito que se jogar uma lona em cima, vira circo – brinquei. - Tá difícil... Vamos entrar que te conto tudo.

Ficamos na varanda conversando até o anoitecer. Eu contei tudo o que tinha acontecido comigo, desde aquele fatídico dia no consultório até a revelação do segredo e ela me contou suas aventuras e desventuras amorosas na África. Tinha deixado um namorado para trás e também estava sofrendo sem saber se ficava na aldeia ou voltava para se casarem, como ele tinha sugerido. Ela também estava apaixonada.

Já era mais de uma hora da madrugada quando ouvi o telefone tocar. Estava na cozinha fazendo uns sanduiches para nós.

- Jake, vou atender. – Leah gritou – Deve ser minha mãe, desesperada porque eu não dei notícias.

A ligação durou pouco tempo, logo ouvi o barulho do telefone sendo desligado.

- Não era ninguém, assim que falei “alô” ficou silêncio, depois desligaram. – Leah falou, entrando na cozinha.

- Deve ser alguma paciente que achou que estava interrompendo algo – falei rindo.

Comemos e Leah foi embora. Pela primeira vez, desde a partida de Nessie, dormi bem. Conversar com Leah tinha sido muito bom.

A partir da chegada de minha velha companheira, meus dias ficaram mais alegres. Ainda sofria muito pela falta de Nessie e me desesperava só de imaginar que ela poderia não me aceitar, mas conversar com Leah me anestesiava. Ela sempre ia para minha casa depois que eu saía do consultório e ficávamos conversando até altas horas da noite sobre nossos amores. Só nos despedíamos quando estávamos mortos de sono. Desse jeito lidávamos melhor com a dor que nos consumia à noite.

Como Leah se sentava sempre na poltrona perto do telefone, foi ela que atendeu a maioria dos trotes que comecei a receber. Sempre a mesma coisa. Assim que dizia alô, a pessoa desligava. Isso já estava enchendo o saco.

Enfim faltavam apenas dois dias para o meu encontro com Nessie. Parecia que milhões de borboletas habitavam meu estômago. Ia para New York um dia antes, para não correr o risco de chegar atrasado no parque.

Enquanto arrumava minha mala fiquei me lembrando do quanto foi difícil me controlar para não ligar para Nessie. Queria ter lhe dito o quanto a amava, para que não se esquecesse que era a razão da minha existência, mas como tinha me pedido, respeitei sua vontade, não a procurei.

Cheguei ao parque quase duas horas mais cedo. Queria garantir que ninguém ocupasse o “nosso banco”.

Meu coração batia tão acelerado que pensei em colocar um remédio embaixo da língua. Poderia enfartar a qualquer hora. Olhei no relógio umas cem vezes. Já estava convencido que as horas dele tinham muito mais do que sessenta minutos. O tempo não passava.

Enquanto estava naquela aflição uma moça veio e se sentou no banco comigo. Perecia que estava me paquerando, mas tudo o que eu queria é que ela fosse embora. Aquele banco tinha donos, era meu e de Nessie.

- Você se importa de sentar-se em outro lugar – falei, sabendo que estava sendo mal educado. – Meu namorado está chegando e estou guardando o lugar para ele. – Tive vontade de rir da cara de decepção que ela fez.

A moça balançou a cabeça e saiu. Tudo bem que ela estava pensando que eu era gay, mas pelo menos o lugar de Nessie estava garantido.

Quando já eram quatro e quinze, comecei a desesperar. Ela nunca se atrasava. O que poderia ter acontecido? Liguei em seu celular várias vezes, mais caia na caixa postal. Esperei mais um pouco.

Quatro e meia... Cinco... Cinco e meia... Seis... Ela sequer tinha se dado ao trabalho de me ligar desmarcando. Ela não só me abandonara como também parecia ter me esquecido.

Eu já estava acostumado a chorar por Nessie, mas desta vez nem as lágrimas vieram... Eu estava morto por dentro. Senti-me como aqueles vampiros que matava. Não havia sequer uma célula viva em meu corpo.

Peguei um taxi e dei o endereço de Nessie. Queria ouvir de sua boca que não me amava mais. Seria o golpe fatal, aquele me levaria para o fundo do abismo, onde passaria o resto dos meus dias.

Quando o taxi estacionou na entrada do prédio, meus olhos se deparam com a imagem que me deixou estarrecido... Nessie estava abraçada a um rapaz loiro. Ele a envolvia pela cintura com seus braços e ela estava com o rosto afundado em seu pescoço. Eles certamente eram mais que amigos. Nessie tinha encontrado um cara normal para namorar... Um que não virava monstro...

POV NESSIE

Chorei durante toda a viagem. Cansei de responder que estava tudo bem; as comissárias me perguntavam o tempo todo se eu estava com algum problema.

Pouco antes de aterrissarmos fui ao banheiro e me recompus. Não queria que minha mãe percebesse meu estado.

Quando entrei no saguão do aeroporto, meus pais estavam me esperando.

- Nessie, minha querida, que bom que voltou logo. Eu já estava com saudades! – Minha mãe me abraçou, dando um beijo em meu rosto.

- Estava sentindo sua falta, filha. Nem bem saiu daquele quarto e já te perdemos de novo. – Meu pai também me deu um longo abraço.

- Pai, mãe, eu também estou feliz em revê-los, apesar de ter ficado fora menos de quatro dias. – Disse, rindo da recepção que me deram, parecendo que estava chegando de outro país.

Percebi que eles não paravam de me olhar, parecendo analisarem qual meu estado emocional. Eles estavam traumatizados com meu período depressivo.

- Ei, gente, eu estou bem. Não se preocupem – falei, tentando disfarçar a tristeza.

Para minha grata satisfação meus pais me deixaram ir para meu quarto sem fazerem nenhuma pergunta. Sabia que teria de contar-lhes o que tinha acontecido em La Push, mas aquela trégua tinha sido providencial para repor minhas forças.

Já era noite quando saí do quarto. Minha mãe tinha me chamado para jantar.

- E aí, querida, podemos saber como foram as coisas com Jacob? – Minha mãe perguntou, enquanto me servia torta de carne.

- Estou certa de que Jacob me ama, mãe. Disso não tenho dúvidas. – Falei, tentando imprimir o máximo de empolgação na voz.

- Ele vai voltar para New York e reabrir o consultório? – Agora era meu pai quem perguntava.

- Não sei pai. Tem alguns detalhes que temos de resolver antes de sabermos se ficaremos juntos. Às vezes só o amor não é suficiente para uma relação dar certo... – Abaixei a cabeça enquanto falava de medo que percebessem minha tristeza.

- Nessie, aconteceu alguma? Você está triste desde que chegou. Somos seus pais, querida, é impossível não notarmos que está sofrendo. – Intuição materna é a treva, pensei.

Não podia contar pra eles que precisava decidir se queria passar o resto de minha vida ao lado de um lobisomem...

- Nessie, Jacob fez alguma coisa que a aborreceu? Ele foi desrespeitoso com você? – É claro que essa era a maior preocupação do meu pai!

- Não pai, Jacob não fez nada que eu não quisesse... se é que me entende... – Não tive coragem de encará-lo depois de deixar claro que havíamos transado de novo.

- Eu sabia... – Ele sussurrou. Pelo menos não começou com nenhum sermão.

- Se ele te ama e se vocês se acertaram a ponto de dormirem juntos, o que você faz aqui com essa cara de enterro? – A paciência de papai tinha alcançado o limite.

- Edward, quando ela se sentir à vontade para nos contar, ela o fará – interveio minha mãe, em minha defesa.

Dei boa noite e praticamente fugi para meu quarto. Estava louca de saudade de Jacob. Não fazia nem vinte e quatro horas que tínhamos nos despedido e já sentia sua falta. Tinha vontade de ligar para ele, ouvir sua voz, mas me segurei. Procurei meu celular para ver se tinha ligação sua, mas não o achei em lugar nenhum.

Aproveitei os dias seguintes para preencher algumas inscrições de universidades. Apesar de ter parado de ir à escola naqueles últimos dias de aulas, meu pai conseguiu que o diretor permitisse que eu fizesse as provas finais em casa, assistida por um coordenador da escola. Eu sempre fui uma excelente aluna e isso foi considerado a meu favor, o que me possibilitou concluir o terceiro ano e me formar. Só não fui à formatura.

Agora me sentia bem o suficiente para começar a pensar no meu futuro profissional. Queria fazer medicina também.

Preenchi formulários para umas cinco universidades diferentes. A sorte estava lançada.

Porém a maior parte de meu tempo eu gastava pensando em Jacob e na decisão que tomaria.

Duas semanas depois cheguei a uma certeza: não conseguiria viver sem o amor da minha vida. Teria de aprender a conviver com o miticismo que envolvia Jacob. Eu o aceitaria como ele é, sendo lobisomem... caçando vampiros... e o que por ventura eu ainda viesse a descobrir.

Se já tinha tomado minha decisão, não havia porque esperar mais duas semanas. Estava amanhecendo quando decidi ligar para ele.

- Alô... – Senti um frio na barriga quando percebi que era voz de mulher... E não era Qahla.

O que uma mulher estaria fazendo em sua casa naquela hora? Lá ainda devia ser quase uma da manhã, devido ao fuso. Se tinha atendido o telefone era porque tinha intimidade com Jacob.

Desliguei sem conseguir falar nada. Apenas quinze dias tinham se passado e ele já estava levando mulheres pra sua casa?

A culpa era minha. Eu tinha me colocado na posição de inquisidora, me sentindo no direito de decidir se ele “merecia” me ter ou não. Quem eu estava pensando que era? É claro que na aldeia devia ter dezenas de mulheres que se sentiriam orgulhosas de serem amadas por ele. E era com uma dessas que ele devia estar.

Comecei a chorar. Tanto fiz que acabei jogando-o nos braços de outra.

Alguns dias depois, resolvi ligar novamente. Qualquer um que atendesse eu desligaria.

- Alô...  – Era a voz dela!

Desliguei... Repeti as ligações algumas outras vezes. A maioria foi ela que atendeu.

Para minha sorte, Tia Alice e seu namorado, Jasper, vieram nos visitar. Se não fossem eles provavelmente a depressão teria voltado, tamanha minha dor. Só conseguia pensar que o tinha perdido.

No dia seguinte era nosso encontro. Eu teria de ter forças para ouvi-lo me dizer que tinha se apaixonado por outra. “Alguém que não tem medo de mim”, provavelmente era o que me diria.

Troquei-me para ir ao parque. As lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto, mas eu não podia me acovardar. Iria lá ouvir o que ele tinha a me dizer.

Já tinha contado uma parte da história para Tia Alice, evitando mencionar o segredo. Ela estava me dando muito apoio, até se propôs a me levar ao parque. Ela e Jasper ficariam me esperando no carro. Acho que ela estava com medo da minha reação depois da conversa. Pra ser franca, eu também estava. Meu “inferno particular” andava me rondando.

Desci do carro com o coração acelerado. Minhas pernas tremiam. Fui me aproximando do banco devagar. Foi então que vi Jacob com ela. Ele a tinha levado ao nosso encontro. Provavelmente queria me apresentá-la, mostrar-me a mulher que o aceitou sem “poréns”.

Voltei correndo para o carro para que ele não me visse. Definitivamente não agüentaria passar por aquilo. Não tinha forças para escutá-lo dizendo que não me queria mais.

Assim que entrei no carro, para espanto de Tia Alice e Jasper, coloquei as mãos no rosto e chorei copiosamente. Na verdade eu quase gritava. Eles não perguntaram nada, apenas me levaram para casa.

Nem bem o carro tinha parado, entrei correndo no saguão do prédio, mas percebi que estava desabando. Tudo começou a ficar escuro e só não caí porque Jasper me segurou. Fiquei um tempo em seus braços, respirando fundo para que a tontura passasse.

Entrei em meu quarto e me deitei.

“Bem vinda de volta, Nessie.” A escuridão me recebeu de portas abertas.


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