Um Imprinting Inesperado escrita por valentinaLB


Capítulo 19
Capítulo 16 - Amor e Medo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/67864/chapter/19

CAPÍTULO 16 – AMOR E MEDO

POV JACOB

Era como se apenas um dia tivesse se passado desde a última transformação. Sentia-me completamente à vontade na forma de lobo. Ainda não entendia por que tinha me transformado, mas estava sem tempo para conjecturar. Precisava correr atrás de Nessie. Ela já me conhecia como homem, agora iria me ver como lobisomem. Sabia que iria assustá-la, mas se houvesse a menor chance dela me aceitar depois de saber o que eu era, então o melhor seria ela conhecer logo meu outro lado antes de tomar qualquer decisão.

Usei meu faro para localizá-la. Com meu olfato de lobo seu cheiro era ainda melhor. Ela estava perto. Parei de correr e caminhei lentamente, quase imperceptível.

Nessie parou quando percebeu minha presença, ou melhor, a presença do animal. Pareceu indecisa se virava para me encarar, mas acabou girando a cabeça, fazendo nossos olhos se cruzarem. Seu rosto foi ficando pálido, e antes que pudesse fazer algo, ela desmaiou bem na minha frente, batendo a cabeça em uma pedra. Um filete de sangue começou a escorrer de sua testa.

Transformei-me no mesmo instante, agachando-me para ver como ela estava. Havia um corte profundo acima de sua sobrancelha. Peguei-a no colo, ainda desacordada.

Eu estava com um grande problema. Precisava levar Nessie urgente para o consultório, mas estava completamente nu. Como iria andar pela aldeia daquele jeito? Iam achar que fiquei louco. Resolvi correr por dentro da floresta até os fundos da casa de Sam.

Quando cheguei bem perto, comecei a gritar seu nome, mas quem apareceu foi Emily. Abaixei o corpo de Nessie de modo que tampasse a parte “constrangedora” e pedi que me arrumasse uma roupa de Sam. Ela entendeu na hora o que tinha acontecido.

- Você a machucou? – Perguntou, desesperada com a possibilidade de ter acontecido com Nessie o mesmo que acontecera com ela. No passado Sam tinha se transformado muito próximo dela, causando-lhe cortes gigantescos em sua face, que a deixou com uma horrível cicatriz.

- Não!! Ela se cortou quando desmaiou ao me ver transformado. – Respondi, tranqüilizando-a.

- Vou buscar uma roupa pra você e... Pode me dizer por que  isso voltou? – Perguntou, referindo-se à transformação.

- Não sei, Emily. Espero que Sam saiba. Também estou confuso.

Logo voltou com uma bermuda e uma camiseta. Deixou próximo de mim e saiu, me deixando à vontade para me trocar.

Coloquei Nessie delicadamente sobre a relva e vesti as roupas. Segurei-a de novo e corri para casa. O corte já tinha parado de sangrar. Cuidaria dela lá mesmo.

Deitei-a na cama, limpei seu rosto, cuidei de seu ferimento e estava acabando de fazer um curativo quando percebi que ela estava acordando.

- Nessie, meu amor, como está se sentindo? – Perguntei baixinho para não assustá-la.

- Minha cabeça está doendo – reclamou, demonstrando-se incomodada. – Por acaso participei de alguma orgia regada a drogas e rock and roll? 

Comecei a achar que poderia não ter sido um simples corte, se bem que perguntas descabidas era a especialidade de Nessie.

- Bem, – disse rindo – drogas e rock and roll não acho que teve... Quanto à orgia... Hum, não está muito longe do que fizemos esta noite. - Brinquei.

Apesar de estar rindo, sabia que aquela poderia ser a última vez que ficaria perto de Nessie. Assim que ela recobrasse os sentidos, provavelmente me abandonaria. Uma dor cortante se apoderou de mim novamente.

- Então por que estou tendo alucinações? Lembro-me de um monstro horrível atrás de mim. – Ela ainda estava confusa.

- Nessie, você se lembra da nossa conversa? Lembra-se das coisas que te contei? – Perguntei.

Ela me fitou aterrorizada. Estava se lembrando de tudo.

- Jacob, o que você me contou na praia não foi pesadelo?

Ela não disse sonho, disse pesadelo. Era assim que ela via meu segredo... como um pesadelo!

- Não, meu amor, infelizmente não foi. Você está confusa porque caiu e bateu com a cabeça em uma pedra e também porque foram muitas informações que não estava esperando.

- Jacob, aquele mons... hã... bicho... era você? – Seu olhar praticamente suplicava que eu dissesse não.

- Sim, Nessie, era eu. Eu me transformei logo depois que você saiu correndo. Não sei como aconteceu, mas foi até bom. Queria que me visse na forma de lobisomem... ou lobo, como preferir. Agora é mais fácil você acreditar no que te contei.

Ela estava chorando. Seu sofrimento era culpa minha. Mais uma vez eu estava acabando com seus sonhos. Eu devia ter lhe contado antes de nos envolvermos. Eu tinha sido covarde e agora Nessie pagava por minha inconseqüência.

- Você ia me atacar? – Sua voz quase não saía.

- É claro que não, Nessie. Mesmo transformados, continuamos com nossa consciência e sentimentos humanos. Eu jamais faria mal a você, meu amor. Só queria saber se estava bem. Não podia deixar que fosse embora daquela forma. – Bem que tentei segurar, mas as lágrimas insistiam em sair dos meus olhos.

- Jacob, faz idéia do quanto isso é louco pra mim? Eu nem sei mais o que você é!! Não consigo ordenar meus pensamentos. A palavra “lobisomem” não sai da minha cabeça. – Seus olhos estavam fechados enquanto falava. Ela estava com medo de mim, deduzi.

Queria abraçá-la, dizer que estava tudo bem, que eu a amava mais do que a mim mesmo, mas tinha receio de me aproximar dela e assustá-la. Ela estava apavorada.

- Eu posso imaginar o que está passando, Nessie. A primeira vez que me transformei eu tinha dezesseis anos. Foi desesperante descobrir que eu era um lobisomem, mesmo sabendo que não se tratava de um monstro como apareciam nos filmes. Sam me ajudou, afinal já tinha passado pelo mesmo que eu, mas mesmo assim eu quase pirei.

- Você tem toda razão de estar confusa – continuei. – Acaba de descobrir que seres míticos como lobisomens e vampiros existem. Qualquer um no seu lugar ficaria assim. – Tentei segurar sua mão, enquanto falava mais percebi que, intencionalmente ou por reflexo, ela puxou, afastando-a das minhas.

Sentia-me sendo sugado por um buraco negro. Os meus piores temores estavam se concretizando.

- Jacob, foi Sam quem fez aquilo no rosto de Emily? Ele a atacou? – Sua pergunta deixava bem claro que Nessie não se sentia segura ao meu lado.

- Foi Sam quem a machucou sim, mas não foi proposital. Ele se transformou num momento de nervosismo, enquanto estava muito próximo de Emily. Naquela época ele tinha pouco controle sobre as transformações. Ele se culpa até hoje. Sofre muito por ter feito aquilo em seu rosto. – Não queria que achasse que Sam era um monstro cruel.

- Você poderia me machucar, Jacob, mesmo que sem querer? – Aquela era a pergunta que eu mais temia que ela fizesse.

- Provavelmente não, Nessie. Agora já temos bastante controle sobre nossas reações, mas não posso afirmar que não aconteceria. Eu estaria mentindo se te desse cem por cento de certeza que não há essa possibilidade. – Agora sim, tinha assinado minha sentença de morte, mas não conseguiria mentir pra Nessie. Ela precisava saber os riscos que corria se envolvendo comigo.

- Nossos filhos poderiam ser lobisomens também? – Aquela baixinha não ia deixar passar nada. Ia me fazer todas as perguntas que criariam um verdadeiro abismo entre nós.

- Há uma chance grande de nascerem com o gene da transmutação sim, mas só se transformariam se houvesse um estímulo, no caso, vampiros por perto.

- Jacob, além dessa disposição toda que tem para... hum, você sabe... Você tem outras habilidades não humanas? – Pela primeira vez, desde que começamos a conversar, tive vontade de gargalhar. Não queria alimentar falsas esperanças, mas senti que Nessie estava ficando mais relaxada.

- Bem, Nessie, não sei te dizer se esta “disposição toda” que citou seja devido ao que sou, é mais provável que seja por causa da capacidade de sedução de uma “certa” garota tímida que cruzou meu caminho e que me deixa louco na cama. 

Olhei para o rosto ruborizado dela e tive a certeza que só continuaria vivendo se ela me aceitasse.

 – Quanto às outras habilidades, bem... enquanto nos transformávamos sempre, tínhamos uma força bem acima da média, ouvidos e olfatos muito apurados, podíamos correr quilômetros sem nos cansar e, enquanto o gene está ativo, paramos de envelhecer. Acho que é só.

- Só?? Você ainda tem estes poderes? – Nessie estava boquiaberta.

- Sou um pouco mais forte que o normal, mas o olfato e a audição voltaram a ficar normais nestes últimos dez anos e também voltei a envelhecer, para meu desgosto total, agora que estou apaixonado em uma garotinha – falei rindo.

- Mas você se transformou hoje. Esses poderes podem voltar? – Parecia que queria informações para tomar sua decisão.

- Não acho que o que aconteceu hoje seja sinal de algum perigo que justifique a volta das transformações. Foi apenas fruto do meu desespero por achar que tinha te perdido e, mesmo que você resolva me deixar, não acho que acontecerá mais.

Nessie se levantou da cama sem dizer nada. Assim que ficou em pé, pendeu o corpo para frente, num claro sinal de vertigem. Antes que fosse ao chão, segurei-a em meus braços, passando as mãos por sua cintura e a abraçando. Percebi que seu corpo tremia por inteiro, mas desta vez não era de desejo. Quando olhei em seu rosto pude ver o pavor que eu estava lhe causando. Ela tremia de medo... medo do monstro que eu agora era.

Foi como se uma faca estivesse sido fincada em meu coração. Deixei Nessie no quarto e saí às pressas. Fui para a praia e fiquei lá até o anoitecer. Não conseguia voltar pra casa e encarar o fato de Nessie sentir pavor de mim.

Sam apareceu na praia.

- Soube que contou tudo à Nessie e que depois se transformou. Pela sua cara, ela não lidou bem com nosso segredo, estou certo? – Perguntou, dando um tapa em meu ombro em sinal de apoio.

- Ela está assustada, Sam. Na verdade está apavorada. Ela me acha um monstro... – Aquela constatação me deixava arrasado.

- Dê um tempo a ela, Jacob. Nessie precisa quebrar alguns paradigmas para nos entender. É uma garota tipicamente urbana. A magia não está em seu sangue, muito menos na sua cultura, mas ela te ama muito, e isso muda tudo. Ela vai te enxergar com o coração, é só uma questão de tempo. Tudo vai ficar bem.

As palavras de Sam me acalmaram um pouco.

- Sam, acha que há vampiros por perto? – Perguntei, tentando entender o que aconteceu.

- O único monstro que eu vejo aqui é o que assombra sua alma, Jacob. O monstro da dor de amor.

- Obrigado, irmão. 

Sam me deu um abraço confortador e se foi.

Voltei pra casa e estava tudo em silêncio. Uma onda de pânico me dominou. Nessie tinha ido embora sem nem me avisar. Senti um dor no peito e percebi que não conseguia respirar direito.

- Jacob? – Sua voz me tirou da “crise”. - Fiquei preocupada. Você está bem? – Ela estava sentada no escuro, no sofá da sala. Sua mala estava ao seu lado.

- Eu estou bem, Nessie – menti. - Estive caminhando um pouco, precisava pensar. E você, a cabeça ainda está doendo? Se quiser posso te dar um remédio. – Estava tão desolado que tinha me esquecido que ela poderia estar precisando de analgésicos enquanto estive fora.

- Eu estou bem. Jacob, preciso falar com você. – Sua voz era mansa, mas fria.

- Sim, Nessie, pode falar. – Sentei-me na poltrona a sua frente, sentindo a crise de pânico voltar.

- Jacob, - ela começou a falar – eu te amo muito, tanto que chega a doer, mas apesar disso não sei se consigo conviver com seu segredo. Não posso amar só metade de você, não seria justo conosco. Preciso te aceitar por inteiro. Não estou indo embora da sua vida, só te peço que me dê um mês para eu pensar e me decidir se quero adentrar no seu mundo de magia. Gostaria que não me procurasse nesse período. Vamos nos encontrar daqui trinta dias, no “nosso lugar” de sempre. Qualquer que seja a minha decisão, ou a sua, pois você também pode não me querer mais... Então, seja qual for nossa decisão, conversaremos no parque.

Mais uma vez “trinta dias” me separavam da vida e da morte, da felicidade e da tristeza, do riso e do choro. Nessie tinha meu futuro em suas mãos.

- É justo que tenha um tempo para pensar, Nessie. Quero que saiba que eu ainda sou o mesmo Jacob que você conheceu há sete meses. Não precisa ter medo de mim, eu jamais faria algo que pudesse te machucar, apesar de achar que é exatamente isso que venho fazendo desde que me conheceu. – Não consegui falar mais nada. Abaixei o rosto e deixei as lágrimas rolarem em silêncio.

Nessie se levantou, aproximou-se de mim, ajoelhando-se na minha frente, e deitou sua cabeça em meu colo.

Passei as mãos em seu cabelo, sem conseguir me conter.

- Posso te perguntar uma coisa, Jacob? – Falou, sem se mexer.

- O que você quiser, meu amor.

- Se não fosse esse tal de imprinting, você teria se interessado por alguém como eu? – Sua voz estava embargada também.

Levantei seu rosto, fazendo-a olhar para mim.

- Nessie, se “alguém como eu” quiser dizer linda, sedutora, amiga, engraçada, doce e meiga; sim, eu me interessaria por você de qualquer forma. Não quero que pense que o que me une a você seja uma espécie de magia ou algo etéreo. É verdadeiro, Nessie, é real, palpável. É a ligação mais forte que pode haver entre duas pessoas. Você corre em minhas veias, meu amor.

Nessie respirou fundo e se levantou sem dizer nada. Seu rosto estava sereno.

- Você poderia ma levar à Seattle? Meu vôo sai de madrugada.

- Claro, claro. Só vou me trocar e poderemos ir.

Senti uma vontade louca de beijá-la, mas não sabia como ela reagiria, então fui para o quarto.

- Seus pais sabem que está voltando? – Perguntei, enquanto dirigia até Seattle.

- Eu avisei minha mãe. Não se preocupe, Jacob, não contarei seu segredo pra ninguém. Jamais farei isso.

- Eu sei Nessie. Confio em você. – Falei agradecido.

Não queria que viajássemos naquele clima tenso, então me lembrei de algo que poderia nos render boas risadas.

- Nessie, já que lhe contei meu segredo, não acha que também devia contar o seu? – Imprimi um tom sério em minha voz, mesmo estando com vontade de rir.

- Que... que segredo? – Ela estava surpresa.

- Por que seu apelido é Nessie? Você prometeu me contar, lembra? – Era tão fácil deixar Nessie sem graça.

- Você é um monstro, Dr. Jacob Black. Pensei que tinha se esquecido desse assunto. 

Caí na gargalhada. Ela era espirituosa.

- Sou mesmo! – Respondi, fazendo cara de quem estava esperando a resposta dela.

- É porque eu nasci tão feia que meu Tio Emmet ma chamava de “monstro do Lago Ness”. Aí ficou Nessie, com o passar do tempo. – Nem ela estava conseguindo segurar a vontade de rir.

- Então você foi monstro antes de mim e não ia me contar? Isso quer dizer que nossos filhos podem nascer monstrinhos também se te puxarem? – Eu estava claramente fazendo sátira das perguntas que ela havia me feito.

Ela tentou manter a pose mais caiu na risada.

- É, podem. Acho até melhor não nos reproduzirmos. O mundo nos agradeceria.

Rimos por um bom tempo.

- Me lembre de quebrar a cara do seu Tio Emmet quando o conhecer. É impossível que você tenha sido feia, Nessie... Simplesmente impossível. – Era gostoso tirar sarro dela, mas acreditar que aquela garotinha linda poderia ter nascido feia... Sem chance!

Chegamos ao aeroporto.

Fiquei com ela até a hora do embarque. Nessie me deu um abraço e disse que estaria me esperando no “nosso banco”.

- Eu estarei lá, meu amor.

Fiquei olhando ela se afastar. A melhor parte de mim embarcou naquele avião. Voltei vazio para La Push.

POV NESSIE

Eu estava tendo um pesadelo horrível. Jacob segurava minha cabeça com suas mãos, apertando forte. Queria que ele parasse, pois doía muito, mas ele apenas gritava a palavra lobisomem, várias vezes, olhando para mim. Seus olhos estavam estranhos, pareciam de animal.

- Jacob, por favor, deixe-me correr – eu implorava, mas ele continuava gritando e não soltava minha cabeça.

De repente tudo ficou escuro e podia ouvir apenas a respiração do monstro e seus olhos vermelhos me fitando, à espreita.

- Jacob, me tira daqui!! – Eu pedia. – Vamos fazer amor! – Então cenas de nós na cama invadiam minha mente. Cenas quentes, luxuriantes.

E a escuridão voltou...

Acordei com Jacob ao meu lado. Estava em seu quarto. Minha cabeça doía.

- Nessie, meu amor, como está se sentindo? – Jacob falava baixinho.

Cenas de meu pesadelo voltavam a minha mente. Lobisomem, monstro, sexo... eu estava confusa.

- Minha cabeça está doendo – reclamei. – Por acaso participei de alguma orgia regada a drogas e rock and roll? – Parecia que tinha usado drogas.

- Bem – Jacob estava rindo – drogas e rock and roll não acho que teve... Quanto à orgia... Hum, não está muito longe do que fizemos esta noite.

Se Jacob estava me deixando encabulada então era porque tudo estava normal.

- Então por que estou tendo alucinações? Lembro-me de um monstro horrível atrás de mim. – A imagem do monstro começou a ficar muito nítida na minha cabeça.

- Nessie, você se lembra da nossa conversa? Lembra-se das coisas que te contei?

A pergunta de Jacob desencadeou uma série de lembranças da gente na praia. Ele tinha me contado seu segredo, uma história absurda de que ele era um lobisomem.

Comecei a me conscientizar, apavorada, que tudo tinha sido real.

- Jacob, o que você me contou na praia... não foi pesadelo? – Eu já sabia a resposta.

- Não, meu amor, infelizmente não foi. Você está confusa porque caiu e bateu com a cabeça em uma pedra e também porque foram muitas informações que não estava esperando.

Todo o pavor que tinha vivido naquela praia estava de volta.

- Jacob, aquele mons... hã... bicho... era você? – Aquele homem lindo e perfeito por quem me apaixonei não podia ser aquele monstro horrível que tentou me atacar.

- Sim, Nessie, era eu. Eu me transformei logo depois que você saiu correndo. Não sei como aconteceu, mas foi até bom. Queria que me visse na forma de lobisomem... ou lobo, como preferir. Agora é mais fácil você acreditar no que te contei.

Comecei a chorar. Parecia que minha vida tinha virado um filme de terror, mas só que neste enredo mocinho e vilão eram a mesma pessoa.

- Você ia me atacar? – Minha voz quase não saía só de pensar na possibilidade de que meu namorado pudesse ter tentado me matar.

- É claro que não, Nessie. Mesmo transformados, continuamos com nossa consciência e sentimentos humanos. Eu jamais faria mal a você, meu amor. Só queria saber se estava bem. Não podia deixar que fosse embora daquela forma. – Jacob começou a chorar. Era a primeira vez que o via chorar. Parecia que estava sendo sincero, mas já não sabia em que acreditar.

Por mais que tentasse, não conseguia achar coerência em nada que Jacob havia me contado. Não era possível acreditar que ele e aquele monstro fossem um só.

- Jacob, faz idéia do quanto isso é louco pra mim? Eu nem sei mais o que você é!! Não consigo ordenar meus pensamentos. A palavra “lobisomem” não sai da minha cabeça. – Fechei meus olhos para esconder o pavor que estava estampado neles.

- Eu posso imaginar o que está passando, Nessie. A primeira vez que me transformei eu tinha dezesseis anos. Foi desesperante descobrir que eu era um lobisomem, mesmo sabendo que não se tratava de um monstro como apareciam nos filmes. Sam me ajudou, afinal já tinha passado pelo mesmo que eu, mas mesmo assim eu quase pirei.

Percebi que Jacob também sofria com tudo aquilo. Era difícil para ele também.

- Você tem toda razão de estar confusa – continuou. – Acaba de descobrir que seres míticos como lobisomens e vampiros existem. Qualquer um no seu lugar ficaria assim.

Só percebi o quanto estava confusa quando, por reflexo, retirei minha mão para que Jacob não a tocasse. Apesar de amá-lo loucamente, estava com medo do monstro que vivia nele.

- Jacob, foi Sam quem fez aquilo no rosto de Emily? Ele a atacou? – De repente a cicatriz de Emily que tanto tinha me intrigado, fazia todo sentido.

- Foi Sam quem a machucou sim, mas não foi proposital. Ele se transformou num momento de nervosismo, enquanto estava muito próximo de Emily. Naquela época ele tinha pouco controle sobre as transformações. Ele se culpa até hoje. Sofre muito por ter feito aquilo em seu rosto.

A cada palavra de Jacob a realidade ia ficando mais escancarada. Ele era mesmo um lobisomem e, independente de sua vontade, poderia ser perigoso para quem estivesse ao seu lado

- Você poderia me machucar, Jacob, mesmo que sem querer?

- Provavelmente não, Nessie. Agora já temos bastante controle sobre nossas reações, mas não posso afirmar que não aconteceria. Eu estaria mentindo se te desse cem por cento de certeza que não há essa possibilidade.

Eu precisava saber como era viver com um lobisomem.

- Nossos filhos poderiam ser lobisomens também? – Perguntei.

- Há uma chance grande de nascerem com o gene da transmutação sim, mas só se transformariam se houvesse um estímulo, no caso, vampiros por perto.

 Nossos filhos dariam uma definição mais literal ao fato de chamarem crianças de “monstrinhos”.

Nos filmes, lobisomens era monstros ferozes e letais, tamanha sua força. Será que Jacob também tinha poderes especiais? Bem... um deles eu já conhecia.

- Jacob, além dessa disposição toda que você tem para... Hum, você sabe...Você tem outras habilidades não humanas? – Pela cara dele, percebi que tinha falado besteira.

- Bem, Nessie, não sei te dizer se esta “disposição toda” que citou seja devido ao que sou, é mais provável que seja por causa da capacidade de sedução de uma “certa” garota tímida que cruzou meu caminho e que me deixa louco na cama. – Nem tentei esconder meu constrangimento desta vez. - Quanto às outras habilidades, bem... enquanto nos transformávamos sempre, tínhamos uma força bem acima da média, ouvidos e olfatos muito apurados, podíamos correr quilômetros sem nos cansar e, enquanto o gene está ativo, paramos de envelhecer. Acho que é só.

- Só?? Você ainda tem estes poderes? – Eu namorava o superman e nem sabia.

- Sou um pouco mais forte que o normal, mas o olfato e a audição voltaram a ficar normais nestes últimos dez anos e também voltei a envelhecer, para meu desgosto total, agora que estou apaixonado em uma garotinha – falou rindo.

As empresas de cosméticos me deixariam milionária se soubessem que eu tinha um lobisomem.  

-Mas você se transformou hoje. Esses poderes podem voltar?  

- Não acho que o que aconteceu hoje seja sinal de algum perigo que justifique a volta das transformações. Foi apenas fruto do meu desespero por achar que tinha te perdido e, mesmo que você resolva me deixar, não acho que acontecerá mais.

Eu também tinha causado muito sofrimento a Jacob. Não tinha o direito de ficar julgando-o. Ele era um herói para sua tribo, tinha a defendido do perigo colocando sua própria vida em risco. Fazia parte de uma linhagem de guerreiros respeitados de reverenciados e eu simplesmente o estava tratando como se fosse um monstro. Se não o entendia, então que me afastasse dele, ao invés de ficar repudiando o que para ele era sinal de orgulho.

Levantei-me da cama decidida a ir embora. Não iria fazê-lo sofrer mais com meus medos e preconceitos, mas assim que fiquei em pé senti o quarto girar e antes que me espatifasse no chão, as mãos firmes de Jacob me seguraram pela cintura.

Eu conhecia muito bem aquele corpo másculo que me segurava, mas a imagem do lobo monstruoso me veio à mente e um pavor tomou conta de mim. Meu corpo tremia de medo, por mais que eu tentasse evitar.

Jacob percebeu e saiu correndo, magoado comigo.

Uma crise de choro me tomou e caí de joelhos no chão, sem forças para levantar. Sabia que meu inferno particular estava de portas abertas me esperando.

Fiquei no chão por um longo tempo, maldizendo minha sorte. Perguntando-me por que não podia ser feliz com o homem por quem me apaixonei.

Quando me senti um pouco melhor, tomei um banho e fui pra cozinha comer algo. Qhala já tinha ido embora. Eu estava sozinha.

Aproveitei para pensar no que faria. Como estava não dava para continuar. Tanto eu como Jacob estávamos sofrendo.

Resolvi que precisava me afastar para poder ver a situação com mais clareza. Um lado meu sabia que seria impossível viver sem Jacob. Eu o amava demasiadamente para deixá-lo. O outro morria de medo de encarar o fato de que Jacob era um lobisomem e aceitar as conseqüências disso.

Liguei para o aeroporto de Seattle e comprei minha passagem de volta para aquela madrugada, depois liguei para minha casa.

Voltaria para New York. Estava precisando de colo de mãe, apesar de estar ciente de que não poderia contar nada do que tinha acontecido a meus pais. Jamais exporia o segredo de Jacob a alguém.

Decidi o que faria.

Arrumei minha mala e fiquei aguardando Jacob. Estava preocupada com seu sumiço. Ele tinha saído tão chateado comigo.

Ouvi a porta se abrindo. Estava tão distraída em meus pensamentos que tinha me esquecido de ligar a luz da sala. Acho que ele não me viu.

- Jacob? - Chamei-o. - Fiquei preocupada. Você está bem?

- Eu estou bem, Nessie – sua voz estava triste - Estive caminhando um pouco, precisava pensar. E você, a cabeça ainda está doendo? Se quiser posso te dar um remédio. – Mesmo sofrendo ele ainda se preocupava comigo.

- Eu estou bem. Jacob, preciso falar com você. – Tentei me desligar de meus sentimentos para poder ser mais racional e conseguir dizer tudo que tinha planejado.

- Sim, Nessie, pode falar. – Disse, sentando-se na poltrona em minha frente. Seu rosto estava sério.

- Jacob, - comecei  a falar – eu te amo muito, tanto que chega a doer, - e realmente estava doendo - mas apesar disso não sei se consigo conviver com seu segredo. Não posso amar só metade de você, não seria justo conosco. Preciso te aceitar por inteiro. Não estou indo embora da sua vida, só te peço que me dê um mês para eu pensar e me decidir se quero adentrar no seu mundo de magia. Gostaria que não me procurasse nesse período. Vamos nos encontrar daqui trinta dias, no “nosso lugar” de sempre. Qualquer que seja a minha decisão ou a sua, pois você também pode não me querer mais... Seja qual for nossa decisão então, conversaremos no parque. – Com muito esforço consegui dizer tudo.

- É justo que tenha um tempo para pensar, Nessie. – Jacob falava sem me olhar nos olhos. - Quero que saiba que eu ainda sou o mesmo Jacob que você conheceu a sete meses. Não precisa ter medo de mim, eu jamais faria algo que pudesse te machucar... Apesar de achar que é exatamente isso que venho fazendo desde que me conheceu...

Quando Jacob abaixou o rosto e percebi que estava chorando, não me segurei. Caminhei até ele, ajoelhando-me à sua frente. Coloquei minha cabeça em seu colo, mantendo minha boca o mais distante da sua. A vontade de beijá-lo era absurda, mas não queria correr o risco de demonstrar medo novamente e fazê-lo sofrer mais ainda.

Senti suas mãos em meus cabelos. Poderia ficar ali a noite toda.

- Posso te perguntar uma coisa, Jacob? – Tinha algo que ainda me intrigava.

- O que você quiser, meu amor. – Era bom ouvi-lo chamando-me de “meu amor”.

- Se não fosse esse tal de imprinting, você teria se interessado por alguém como eu? – Eu também estava chorando.

Ele levantou meu rosto delicadamente para que pudesse me olhar nos olhos.

- Nessie, se “alguém como eu” quiser dizer linda, sedutora, amiga, engraçada, doce e meiga; sim, eu me interessaria por você de qualquer forma. Não quero que pense que o que me une a você seja uma espécie de magia ou algo etéreo. É verdadeiro, Nessie, é real, palpável. É a ligação mais forte que pode haver entre duas pessoas. Você corre em minhas veias, meu amor.

Jacob me amava de verdade. Tinha de parar com minha insegurança.

Eu precisava ir para Seattle senão perderia o avião. Estava na hora de deixar La Push. Respirei fundo procurando forças não sei onde para conseguir ir embora.

- Você poderia ma levar à Seattle? Meu vôo sai de madrugada. – Perguntei, sabendo que Jacob jamais me negaria um favor.

- Claro, claro. Só vou me trocar e poderemos ir.

Em pouco tempo Jacob estava de volta para viajarmos.

- Seus pais sabem que está voltando? – Perguntou, no caminho.

- Eu avisei minha mãe. Não se preocupe, Jacob, não contarei se segredo pra ninguém. Jamais farei isso. – Queria deixar bem claro que seu segredo estava seguro comigo.

- Eu sei Nessie. Confio em você. – Seu rosto parecia aliviado.

- Nessie, já que lhe contei meu segredo, não acha que também devia contar o seu? – Fiquei assustada com a pergunta de Jacob. Do que ele estava falando?

- Que... que segredo? – Estava até gaguejando.

- Por que seu apelido é Nessie? Você prometeu me contar, lembra? – Ele estava se divertindo às minhas custas.

- Você é um monstro, Dr. Jacob Black. Pensei que tinha se esquecido desse assunto. – Pensei que meu trocadilho iria deixá-lo irritado, mas ele caiu na gargalhada.

- Sou mesmo – se limitou a responder, com a expressão de quem esperava minha resposta.

- É porque eu nasci tão feia que meu Tio Emmet ma chamava de “monstro do Lago Ness”. Aí ficou Nessie, com o passar do tempo. – falei, segurando o riso.

- Então você foi monstro antes de mim e não ia me contar? Isso quer dizer que nossos filhos podem nascer monstrinhos também se te puxarem? – Ele se fazia de sério, mas estava adorando tirar sarro da minha cara.

Olhei pra ele irritada, mas não agüentei e comecei a rir.

- É, podem. Acho até melhor não nos reproduzirmos. O mundo nos agradeceria .

Rimos muito e por fim ele falou.

- Me lembre de quebrar a cara do seu Tio Emmet quando o conhecer. É impossível que você tenha sido feia, Nessie... simplesmente impossível.

Olhei para aquele homem gentil e carinhoso do meu lado e percebi que estávamos falando como se fôssemos ficar juntos pra sempre. Realmente meu coração já tinha tomado aquela decisão, só faltava convencer minha cabeça.

Chegamos ao aeroporto.

Ficamos juntos até a hora de embarcar. Passei o tempo todo me preparando para a despedida. Não queria chorar. Não queria que parecesse um “adeus”.

Quando chamaram o número do meu vôo, dei um abraço rápido nele e disse que estaria lhe esperando em “nosso banco”.

Enquanto me afastava percebi que estava deixando a melhor parte de mim para trás. Eu estava voltando vazia para New York.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!