Me diz algo sobre você escrita por Risoto


Capítulo 3
Ma couleur préférée est le rose


Notas iniciais do capítulo

"minha cor preferida é rosa"



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Era quinta feira. E Adrien não poderia estar mais animado. 

Eles estavam na última aula do dia. Nino já tinha pedido para ele parar de balançar a perna cinco vezes, mas ele estava ansioso demais. Ainda mais com a razão de sua ansiedade sentada bem atrás dele.

Durante todo o dia o universo havia mandado sinais para ele. Quando ele abriu o youtube pela primeira vez, o primeiro vídeo era de uma receita de cookies (veganos, mas ainda assim). Nino tinha levado um tablete de chocolate branco para o lanche, e ele tinha certeza que quando cumprimentara Marinette naquela manhã, ela tinha cheiro de biscoitos recém-assados.

Desde segunda feira, Adrien começara a prestar mais atenção em sua colega de classe. A começar pelos olhos, que eram impossivelmente azuis. Como o céu, ou talvez como o mar. Não qualquer mar, Adrien percebera nos últimos dois dias. Os olhos dela tinham a cor do Mar do Caribe, como um paraíso natural.

Ele também percebera algumas outras coisas, como o fato dela sempre fazer listas. Até agora, ele sabia das listas "Palavras preferidas", "Comidas para experimentar", "Lugares para visitar", "Séries para assistir" e "Lojas de tecido preferidas". Também percebeu que ela tinha mania de morder a ponta do lápis, rabiscar estrelas com caneta esferográfica nos tornozelos, estralar os dedos e guardar recortes de revistas de moda. 

Sabe, coisas normais de se notar. 

Quintas feiras eram dias bons, normalmente. As aulas do dia eram legais, sua única atividade extracurricular era piano (a que ele mais gostava), e era dia de patrulha, o que por si só já era suficiente para fazer com que Adrien se sentisse andando nas nuvens. Some tudo isso à companhia de Marinette sob às luzes de Paris e cookies de chocolate branco e você tem o dia perfeito.

Talvez o que mais animasse Adrien na perceptiva de ver Marinette fora da escola, sob outra identidade, fosse sua curiosidade. Por mais que a considerasse sua amiga, e passasse cada vez mais tempo com ela como consequência do relacionamento de Alya e Nino, ele a conhecia muito pouco. Quase nunca tinham conversas completas que durassem mais que cinco minutos, e por grande parte do tempo em que se conheceram, ela não fora capaz de formar uma sentença completa perto dele. Quando conversou com ela no shopping, foi quase como um teste-drive, uma amostra grátis do potencial máximo que ela tinha a oferecer. E ele estava pronto para o pacote completo. 

Ansiava por ele, na verdade.

Ao som do sinal da saída, Adrien se levantou num salto, se juntando à Nino, Alya e Marinette. Caminhando até o pátio, Nino começou a falar, animado:

— Meus velhos vão passar um dia num spa chique para comemorar o aniversário de casamento na quarta que vem, e meu irmão vai passar a tarde na casa de um amigo e dormir por lá. Vocês podiam passar a tarde lá, que tal? 

— Claro que sim! Super topo. — Alya disse, dando pulinhos. — E vocês dois?

Marinette sorriu com a animação da amiga e assentiu, inconscientemente olhando para Adrien procurando sua resposta, que parecia receoso. Alya se colocou na frente dele, em postura de negociação.

— A gente vai poder jogar Ultimate Mecha Strike III sem culpa durante a noite toda! — a morena começou, erguendo um dedo.

— E ouvir música no volume que a gente quiser. — Nino continuou.

— Vamos poder comer um monte de porcaria em vez de um almoço de verdade.

— E podemos até fazer uma festa do pijama clandestina! — com isso, Nino chamou a atenção de todos, que o olharam em dúvida.

— Nem em um milhão de anos minha mãe vai deixar eu dormir na casa de um menino sem os pais dele em casa. — Marinette constatou, como se fosse óbvio.

— Muito menos os meus pais, ainda mais com o menino em questão sendo meu namorado. — Alya concordou, ainda que com uma expressão triste.

— Por quê? — Nino questionou, com as sobrancelhas erguidas. — Isso não faz o menor sentido.

— Ah, Nino, para nossos pais nós, adolescentes de 15 anos, não temos controle sobre nossos impulsos. — Marinette disse, séria. — De qualquer maneira, mesmo se a ideia de dormir não role, todo o resto parece muito divertido. Conta comigo. 

— E comigo! — Alya acrescentou, dando um high five na melhor amiga, ao mesmo tempo que todos se viravam na direção de Adrien, esperançosos. Com um sorriso nervoso, ele ergueu os ombros e disse, com um tom de desculpa:

— Prometo que vou tentar ir. Meu pai é imprevisível, ainda mais com a nova coleção sendo produzida e o deixando estressado, mas vou tentar.

— Talvez você possa usar isso ao seu favor. — Marinette disse, quase baixo demais. Mas Adrien estava atento a tudo que ela fazia e falava, e a ouviu muito bem.

— Como assim? — ele questionou, inclinando a cabeça.

— Talvez, se você escolher as palavras certas e o melhor momento, você consiga usar o fato de ele estar ocupado a seu favor. Para ele não ter tempo de considerar demais.

Adrien considerou a opção, um sorriso se formando com os cenários favoráveis se formando em sua cabeça. Talvez funcionasse mesmo. 

— Você pensa rápido. 

Com uma risadinha nervosa, ela desviou o olhar e coçou a nunca.

Os quatro estavam na porta da escola, e o motorista de Adrien já esperando por ele. Se despedindo dos amigos, Adrien observou pelo vidro espelhado Marinette seguir na direção oposta do casal de amigos, atravessando a rua e entrando em casa. Pensou nos cookies que talvez fossem ser feitos naquele instante, e sorriu.

*

Marinette deixou o prato com os biscoitos recém-assados na mesa de sua escrivaninha, observando o calor sair deles em forma de fumaça. Quando Chat aparecesse na varanda depois da patrulha, os biscoitos estariam em temperatura ambiente e crocantes. Quase podia sentir o gosto do chocolate derretendo na boca.

Tikki olhava os cookies com um olhar faminto, e Marinette deu risada da visão.

— Eu juro que guardo um para você, Tikki. 

— Se você quiser ir patrulhar hoje, eu não aceito menos que dois desses. — com uma gargalhada alta, Marinette prometeu guardar dois cookies e exclamou:

— Tikki, transformar!

 

*

Ladybug e Chat Noir estavam sentados na beirada da plataforma da Torre Eiffel, as pernas balançando ao vendo gelado parisiense. Eles sempre faziam isso ao final de patrulhas, e muitas vezes nem chegavam a conversar. Pelo menos para Ladybug, estar ao lado dele sempre foi suficiente. 

Aparentemente, para Chat, naquela noite, o silêncio não era o bastante.

— Você não tem nenhuma curiosidade sobre mim? Sobre quem eu sou? Eu confio em você mais que em qualquer outra pessoa, mas não sei nem qual a sua cor preferida.

Ladybug ficou em silêncio, pensando no que responder. Bem no fundo, ela desejava poder ignorar todas suas responsabilidades e dizer que, sim, a corroía por dentro não saber nada sobre ele. Por Deus, ela tinha feito uma lista de coisas que queria saber sobre ele.

Empurrando esses pensamentos para o fundo da mente, Ladybug abriu seu sorriso mais provocador e disse:

— A curiosidade matou o gato, sabia? 

Chat arregalou os olhos momentaneamente, para então sorrir de volta.

— Eu reviraria os olhos se esse não fosse o trocadilho mais perfeito que  eu já ouvi. 

Os dois voltaram a ficar em silêncio, com as buzinas de carro e os sons da cidade como trilha sonora. Pensando na aula do dia seguinte e no fato de que veria Chat em poucos minutos, Ladybug se levantou e, olhando para o perfil do loiro, sentiu como se toda sua racionalidade tivesse sido arrancada de seu corpo e espalhada pelo pátio abaixo deles.

Preparando-se para pular, Ladybug olhou para ele e disse, num tom de voz calmo como a maré baixa:

— Minha cor preferida é rosa.

 


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Notas finais do capítulo

AH DEUS! Eu tinha planejado fazer a visita dele pra Mari logo nesse capítulo, mas eu fui escrevendo e quando vi tinha 1600 palavras, e eu sei que essa visita vai ser gigante e não queria cortar ela no meio. Eu sou uma leitora impaciente e consigo me envolver mais se os capítulos são menores, e acho que tendo a escrever desse jeito também. Enfim.
Próximo cap: Marichat até seu cu dizer chega



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