Me diz algo sobre você escrita por Risoto


Capítulo 2
Cookies, clavicules et vinaigrettes


Notas iniciais do capítulo

"Cookies, clavículas e curativos"

Eu gostei dessa ideia de fazer os títulos serem em francês. E como eu obviamente não falo francês, vai ser tradução do google tradutor mesmo. Se alguém achar algum erro grotesco, peço perdão (e estou aberta a correções)



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Tinha algo quase pecaminoso em segurar Marinette nos braços. E Chat não entendia porquê.  

Ele carregava civis dessa maneira o tempo todo. Era mais prático. Por Deus, ele já havia carregado o prefeito de Paris dessa maneira. E ainda assim... 

Talvez fossem os fios da franja dela fazendo cócegas no seu rosto. Ou a textura dolorosamente vívida da dobra de sua calça jeans. Ou ainda o decote canoa de seu suéter com estampa de poá que deixava sua clavícula tensionada à mostra. Provavelmente era porque tudo isso acontecia enquanto os dois corriam pelos telhados da cidade do amor iluminados pela lua e pela luz da Torre Eiffel. 

O que quer que fosse, era esquisito. Chat não costumava notar esse tipo de coisa sobre Marinette em sua forma civil. Na verdade, a interação de suas formas civis se baseava em risadas constrangedoras e conversas desconexas. Antes ele achava que fosse por que ela nunca tivera realmente superado o episódio do chiclete, mas tantos meses haviam se passado desde então, e Marinette havia perdoado coisas muito piores de outras pessoas. Com o tempo, ele passou a acreditar que ela simplesmente não se sentia confortável perto dele.  

Mas depois de hoje... Tinha sido tão bom. Chat costumava guardar momentos alegres como aquele. Nino chamava-o de cabeça de ferro, porque ele sempre lembrava de cada detalhe das conversas que eles tinham, mas não era nada disso. Ele só queria manter um banco de dados de memórias felizes onde ele estava cercado de gente para quando ele estivesse em casa, sozinho. Ou ainda para o caso de ter que sair da escola e voltar à sua patética rotina de modelo educado em casa.  

Chat quis se amaldiçoar. Era só ter uma conversa decente com uma garota bonita que o fazia rir que ele começava a ter pensamentos pervertidos? Onde estava sua fidelidade? Não importava se Marinette era divertida, atenciosa e fofa, Ladybug era quem ele gostava. Ficar indeciso sobre seus sentimentos só iria fazê-la perder o pouco crédito que tinha nele. 

Quando chegou na varanda de Marinette, Chat interrompeu seus pensamentos e a colocou com cuidado no chão. Abriu a portinhola que levava ao quarto dela e, oferecendo sua mão como apoio, indicou para que entrasse. O frio era cortante nas poucas partes de seu corpo que estavam expostas, e não queria imaginar como devia estar para ela com um suéter decotado. 

Com ela do lado de dentro e sentada na cama, Chat entrou também e fechou a portinhola atrás de si. Respondendo à sua pergunta silenciosa, ela apontou uma das gavetas em sua penteadeira, que continha um kit de primeiros socorros bastante respeitável. Ele voltou a subir a escadinha de sua beliche e sentou-se ao lado dela, levantando a manga do suéter para revelar o machucado feio no braço esquerdo. 

— Você costuma se machucar, hein? Nunca vi um kit de primeiros socorros mais completo. — ele disse, com um sorrisinho. Ela olhou para ele e devolveu a expressão. 

— Podemos dizer que sou desastrada. Me machuco tanto que decidi parar de importunar meus pais com isso, então faço meus próprios curativos. — ela abaixou o olhar para o braço, onde a mão dele passava o algodão com antisséptico com movimentos cuidadosos — Mas tem um certo super herói que acha que eu não aguento um arranhãozinho e insistiu em fazer isso por mim.  

Chat riu baixinho enquanto passava a pomada pelo machucado. Um pouco de sangue ainda saia da abertura e se misturava com o remédio, o que causou um leve incômodo nele. Ótimo, pensou, então eu tenho aflição de sangue.  

— Talvez esse certo herói se sinta culpado por ter causado um corte imenso em você. — podia sentir o olhar dela em cima de si, a respiração no seu cabelo. 

— Então ele seria um idiota, porque se não fosse por ele eu teria sido transformada em panqueca. — finalmente Chat olhou-a de volta, absorvendo a expressão acusatória dela. Decidiu descontrair. 

— Pelo menos eu não sou intolerante a lactose.  

Achou que ela fosse suspirar pela piada ruim, como sua Lady fazia, mas se surpreendeu com a risada contida, mas verdadeira, que saiu dela. O som aqueceu seus ouvidos, e ele pegou o esparadrapo com um sorriso nos lábios, terminou de fechar o curativo e voltou a olhar para ela, que já estava se virando para descer a escada de sua beliche: 

— Espera aí, tenho uma coisa para você! — ele ouviu o som da porta que levava à área comum da casa dela ser aberta e fechada, e, apesar de confuso, Chat desceu da beliche e esperou por ela no divã. Nem teve tempo para absorver o ambiente antes que ela estivesse de volta, dessa vez com um prato de cookies nas mãos.  

Marinette sentou-se de pernas cruzadas no pequeno sofá e indicou que ele fizesse o mesmo. De frente com ela, iluminados pela pouca luz que vinha da janela e do abajur na cabeceira da beliche, ele quase não conseguia ver suas sardas.  

— Fiz esses cookies hoje de manhã. Eu ia levar para Alya quando nos encontrássemos, mas me esqueci. Vai, prova. — babando, Chat estendeu a mão e pegou um dos cookies. As gotas de chocolate quase transbordavam da massa. — Considere como meu pagamento pela sua gentileza.  

Os dois comeram num silêncio confortável, como se apenas a presença do outro fosse o suficiente. O chocolate derretia na boca, como se tivesse acabado de sair do forno, e a massa estava crocante. A cada cookie novo ele lambia os dedos para ter certeza de que aproveitaria cada pedaço. 

Quando terminaram, ainda com o gosto do chocolate na boca, Chat bateu as mãos para tirar as migalhas, se levantou e fez uma referência: 

— Eu posso dizer com certeza que esse foi o cookie de chocolate mais gostoso que eu já comi. — Marinette também bateu as mãos e se levantou, dando um sorriso, encenando uma reverência com vestido. 

— Fico feliz. — ela ficou em silêncio e Chat achou que fosse sua deixa para sair. Deu um aceno com a cabeça e estava quase na escada da beliche quando ouviu a voz dela: — Quinta feira vou fazer de chocolate branco.  

A ideia de visitar Marinette para comer mais cookies era atraente demais, tanto por ser ela quanto pela comida. Seu lado racional dizia para ele parar, lembrava-o que só de passar meia hora com ela sua mente tinha começado a notar coisas esquisitas como a textura de calças jeans e clavículas.  

Mas o cookie era muito bom mesmo. 

Chat virou apenas a cabeça para olhar para Marinette, sorriu de lado e disse: 

— Aposto que vai desbancar meu cookie favorito atual. 

E saiu para a noite gelada de Paris. 

*

Marinette realmente não sabia o que estava fazendo.

Deitada em sua cama e olhando para o céu sem estrelas de Paris pela portinhola do teto, Marinette passava as cenas da tarde como num filme. Chat havia partido há horas, mas ela não conseguia parar de pensar nele. E no que ela tinha falado. 

Por que raios eu chamei ele para vir aqui de novo? 

Ela não sabia a resposta para isso. Tudo o que ela sabia era que tinha algo nos olhos dele, no modo como ele segurou sua mão quando a ajudou a entrar em casa, na maneira como ele sorriu quando a fez rir. 

Mesmo sem saber o que esse algo era, Marinette só queria estar perto por mais tempo. Não é nada demais, ela disse para si mesma, eu só gosto da companhia dele. O que não era mentira. Chat Noir era um de seus melhores amigos, e, ainda que não soubesse muita coisa sobre sua vida pessoal, era provavelmente a única pessoa em quem ela confiava completa e totalmente.

Era o efeito colateral de lutar semanalmente ao lado de alguém. Você fica sentimental assim.

Falar com Chat como Ladybug a impedia de conhecer quem ele era. Se perguntasse sobre sua vida civil, tinha certeza que ele perguntaria sobre a dela, e isso estava fora de cogitação. Como Marinette, poderia falar de si mesma sem medo de entregar nada. De certa forma, era libertador.

Além disso, ela pensou, se ele gostar de mim como Marinette, talvez não fique tão decepcionado quando chegar a hora de nos revelarmos.

Eu só quero conhecê-lo melhor, ela repetia para si mesma, como um mantra, tem tantas coisas sobre ele que eu não sei.

Como em uma epifania, Marinette pegou seu celular e criou uma nova nota em seu bloco de notas. Deu o nome de "Coisas que não sei sobre Chat Noir", para logo depois apagar e renomear "Coisas que quero saber sobre Chat Noir". 

Ela foi dormir tarde naquela noite.

*


coisas que quero saber sobre chat noir 

— que séries ele gosta

— suas peculiaridades

— ele gosta de mudanças? ou prefere estabilidade?

— músicas que ele sabe de cor e salteado

— quais são os planos dele para daqui dez anos

— qual idade ele teria se pudesse escolher

— uma habilidade que ele gostaria de aprender

— as habilidades que ele já tem

— o melhor dia do ano para ele

— a última vez que ele subiu numa árvore

— que coisa ele acha que todo mundo devia comer pelo menos uma vez na vida

— seus vícios

— medos irracionais

— cheiros favoritos

— o presente mais importante que ele já recebeu

— a sua cor preferida

— ele é do tipo que chega atrasado?

— ele é do tipo que faz listas?

 


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