Manual do Clichê escrita por Shelley


Capítulo 2
Capítulo 2 — a escola clichê


Notas iniciais do capítulo

e aí, meu povo?? Quero agradecer por todos os comentários no último capítulo, tô sentindo que essa fic vai ser sucesso!!
espero que gostem desse capítulo ♥



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Capítulo 2 – Escola

Para início de conversa, se você leu a introdução, já está sabendo que uma escola clichê só possui duas regras: a primeira diz que, não importa o que você fizer, você sempre passará de ano; a segunda, que você não deve estudar, a escola foi feita para fazer amigos e inimigos, chorar no banheiro, desfilar pelos corredores e causar. Portanto, assim como eu fiz, você terá que arrumar uma escola desse tipo se quiser ser clichê.

Me levantei e corri para o banheiro. Depois de escovar meus dentes, encarei meu reflexo no espelho e pensei: “é agora”. Eu nunca havia feito um coque frouxo na vida, então fiquei até tarde ontem buscando por tutoriais na Internet. Respirei fundo e fiz um rabo de cavalo, enrolando-o em volta do dedo indicador e, por fim, o prendi com um nó. Não estava a oitava maravilha do mundo, mas foi o que eu consegui, então, com meu – não tão – belo penteado, fui ao meu quarto para escolher minha roupa, já que, como todos sabem, escolas clichês não possuem uniformes e, quando têm, são parecidos com aquelas roupinhas de Sailor Moon. A não ser que seja uma fanfic de Harry Potter, se esse for o caso, você irá para Hogwarts ou, sei lá, alguma escola de magia aleatória para conquistar um bruxo sarcástico e bonito e descobrir que é a escolhida de uma antiga profecia.

Eu precisava de algo que, na minha mente, era básico, mas chamaria a atenção de qualquer um que passasse. Acontece que só posso usar moletons e tenho um motivo perfeitamente razoável para tal: meus seios são bem pequenos, ou seja, se eu usar um moletom mais largo, posso ir para qualquer lugar sem usar sutiã e fico mais confortável sem que ninguém perceba. Então vesti um moletom roxo e uma calça que deveriam levá-lo à um link na polyvore, e, quando me virei para calçar meus crocs verdes – conforto, está lembrado? – me deparei com alguns pelos arroxeados se movendo debaixo da minha cama e, de repente, dois olhos verdes começaram a me encarar.

— Poliana, você já está atrasada! – minha gata avisou, me entregando uma torrada com requeijão.

— Obrigada, isso torna o meu dia mais clichê – agradeci, pegando a torrada.

Saí correndo e, ainda segurando a torrada, peguei minha mochila e fui em direção à escola, que não era muito longe dali. Mais um detalhe, pequenos gafanhotos: personagens clichês estão sempre atrasadas para a escola, então, elas saem correndo de casa, completamente estabanadas, com um torrada na boca. Tirando o fato de que correr com crocs era difícil, o maior problema foi que meu coque insistia em se desfazer no meio da correria, ou seja, de cinco em cinco minutos, eu precisava parar pra ajeitar meu cabelo, até que desisti e fui com os cabelos soltos para a escola. Porque eu agora eu preciso ser assim, sabe? Bem diferentona, sem me importar com as aparências.

Já fui entrando com toda a minha pose de rebelde, eu queria causar uma boa impressão. Pois é, não tenho essa de “sou fria demais para amar” ou “não tenho tempo para isso” como a maioria das protagonistas de histórias colegiais, eu quero mais é que chova gente me querendo. Porém, como a boa menina clichê que tento ser, não posso nem pensar em demonstrar isso, afinal, que tipo de garota, com excessão da patricinha metida, fica dizendo por aí que quer arrumar um namorado logo? Mas, como a expectativa sempre supera a realidade, o que eu achava que estava sendo uma entrada triunfal, provavelmente ficou mais parecida com uma entrada desajeitada e sem importância.

Acontece que, logo depois disso ter acontecido, outra garota entrou ali. E parece que o corredor inteiro parou para que ela caminhasse em câmera lenta entre as pessoas. Até os cabelos ruivos dela balançavam em câmera lenta! E, o pior de tudo: sua aparência era incrivelmente clichê. Já falei dos cabelos, mas não parou por aí, um dos seus olhos era verde e o outro azul, sua pele era impecável, o corpo era maravilhoso, suas roupas eram bonitas e a blusa ainda tinha o símbolo de uma banda de rock que, provavelmente, era bem rara e diferente. Então, quando eu achava que não poderia piorar, ela esbarrou em mim. Sim, ela esbarrou em mim, assim como toda personagem clichê e desajeitada perante a sociedade faz.

— Me desculpe – pediu tímida.

Certo, Poliana, raciocina! Se eu falasse que a escola já era minha ou fosse, de qualquer forma, mal-educada com ela, eu estaria agindo como a patricinha vilã. Eu precisava ser gentil com essa garota, não importa o que aconteça.

— Certo – minha voz saiu mais fria do que eu esperava.

— Eu me chamo Chloe, e você? – e, ainda por cima, ela tinha um nome estrangeiro e muito clichê, como eu odeio essa garota!

— Não te interessa! – eu já não possuía resquício algum de paciência com ela.

— Você é a patricinha vilã? – perguntou com os olhos brilhando – é uma das únicas coisas que faltam para que eu seja completamente clichê.

Eu estava agindo como a vilã? Droga, eu precisava pensar. Vai, Poliana, pensa!

— Não sou a patricinha – disse rapidamente – eu não sou loira!

— É verdade – a garota parecia um pouco chateada. Enquanto isso, eu estava recuperando minha felicidade.

— Viu só, não posso ser a patricinha – afirmei.

Com um suspiro desanimado, ela voltou o olhar para o chão e, batendo seu ombro no meu mais uma vez, se misturou à pequena multidão que ocupava o corredor. Agora eu havia conseguido atenção, não poderia vacilar. Mas nem precisei dizer nada, uma garota segurou meu pulso e me levou ao banheiro feminino da escola. Eu a seguia em passos rápidos, já que ela me puxava correndo, e só paramos quando ela se certificou que não havia mais ninguém ali.

Já parada, pude observar melhor sua aparência: ela era bonita, tinha pele negra, cabelos castanho-escuros que desciam em cachos até a altura dos seios, olhos âmbar, usava um vestido estampado com flores amarelas e enfeitava o cabelo com mais uma flor amarela presa atrás da orelha esquerda.

— Você estava discutindo com a Chloe? – perguntou me fuzilando com o olhar.

— Não estava! – neguei rápidamente, pude perceber minha voz saindo uma oitava mais fina do que o esperado – ela só esbarrou em mim no corredor.

— Ela está perto de se tornar a pessoa mais clichê da escola, só faltam duas coisas: uma patricinha metida e um vacilão loiro! Sabe o que vai acontecer se ela conseguir isso?

— Alguma coisa muito ruim? O fim do mundo? A vitória dos iluminattis sobre a sociedade cega? – comecei a me desesperar.

— Tudo isso e mais um pouco! – ela respondeu, segurando meus ombros.

— Então eu cheguei aqui para salvar o mundo, porque vou me tornar mais clichê do que ela! – fiz uma pose heróica bem ridícula.

Os olhos amarelados me analisaram de cima a baixo, sua expressão se tornou indecifrável, segundos antes de os lábios se curvarem em um sorriso.

— Me chamo Dália, vou te ajudar com isso, já que meu objetivo é tirar a Chloe do poder clichê.

— Por que você quer isso? – perguntei.

Seus cabelos balançaram de forma dramática e sua expressão ficou séria. O vento assobiava melancolicamente e eu pude ver algumas folhas passando pelo banheiro, mesmo que não houvesse árvore alguma por ali.

— Você ainda não está pronta para saber sobre o meu passado trágico – ela disse – mas ainda não sei o seu nome, como você se chama?

— Poliana.

— Não é muito clichê, mas dá para o gasto – Dália disse – agora, precisamos fazer um plano para te deixar mais clichê!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, contem o que acharam nos comentários!!