Ah, eu me lembro daquele dia como se fosse hoje.

Eu era apenas uma criança. Qual era a minha idade na época… Sete anos? Sim, talvez. Mas a minha idade não importa.

Estava passeando com os meus pais. Eles queriam me levar em um parque. Sabe, eu era (e ainda sou) uma garota muito antissocial. Meninas da minha idade brincavam de casinha. Eu gostava de ver o Animal Planet. Meus pais acharam que me levar em um parque poderia fazer com que eu arrumasse algum amigo.

Eles estavam errados.

Quando chegamos, logo percebi que havia um grupo grande de pessoas reunidas ao redor de um balanço. Curiosa, corri na direção do balanço, ignorando os gritos de meus pais. Empurrei algumas pessoas para finalmente poder ver o que estava acontecendo.

Lembro de ter franzido a testa. Afinal, não tinha visto nada demais na situação. Era apenas um garotinho de minha idade brincando no balanço, sozinho. Ele era, talvez, mais alto do que eu. Seu cabelo negro era espetado como o de um porco-espinho e seus olhos eram de um tom de castanho esverdeado. Era muito pálido, parecia albino, e usava óculos.

Todas as pessoas olhavam para o balanço, chocadas, e o menino parecia achar aquilo engraçado. Eu estava confusa. Afinal, era apenas um menino em um balanço. O que aquilo tinha de tão chocante?

— Olá! – eu tinha dito.

Olharam para mim como se eu fosse louca. O menino então me encarou, assustado, mas sem parar de continuar brincando no balanço. Ele ficou em silencio, me olhando. Atordoado, ele perguntou:

— Você… Você pode me ver?

— Claro que posso te ver! – havia respondido. – Qual o seu nome?

Ele não respondeu.

— Posso brincar com você? – perguntei.

Ele ia responder. Eu tinha a certeza de que ele ia responder. Mas antes que ele fizesse isso, minha mãe me puxou para longe do balanço.

— Lily! – ela me repreendeu. – Eu fiquei desesperada te procurando!

— Mamãe, eu fiz um amigo! – eu exclamei.

Ela franziu a testa.

— Sério? – perguntou. – Quem?

— O menino no balanço, mamãe! – respondi.

Minha mãe olhou para o balanço e me encarou, os olhos castanhos arregalados.

— Lily. – ela disse tranquilamente. – Não tem ninguém no balanço.

Franzi a testa, olhando novamente para o garoto, que continuava me encarando.

— Mas ele está ali, mamãe! – insisti. – Ele está ali!

— Sim, Lily, claro que ele está ali. – ela resmungou, revirando os olhos. – Vamos para outro parque... Esse aqui está muito tumultuado para o meu gosto.

Enquanto era arrastada por minha mãe, olhei para trás. As pessoas me encaravam, assombradas.

Eu era nova demais para entender na época, mas depois que minha avó morreu, eu entendi o que acontecia comigo.

Meu nome é Lily Evans, me formei em medicina nesse ano e eu tenho o estranho dom de ver pessoas que passaram para o outro lado da vida.

Seja bem-vindo a minha vida.