A partida escrita por slytherina


Capítulo 6
Aparição




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678170/chapter/6

 

Dean leu e releu as instruções. Desenhou os símbolos no chão. Amassou e misturou as ervas prescritas. Acendeu velas nos pontos cardeais. Prostrou-se de joelhos e entoou a ladainha em latim. Nada aconteceu. Releu novamente as instruções. Fizera tudo certo. Não entendia porque não funcionara. Sentou-se no banco do motorista do Impala, e ficou admirando as velas negras derreterem.

"Que idiota que eu sou. Deveria ter aguardado anoitecer. Alguns feitiços só funcionam nas trevas. Burro!" Disse para si mesmo, batendo na própria testa.

"Burro não, só cretino." Ele ouviu numa voz inconfundível. Virou-se rapidamente e deu de cara com seu irmão sentado no banco do carona.

"Sam!" Dean exclamou excitado, enquanto tentava abraçar o irmão, mas não encontrando nada tangível.

"Dean!" Sam respondeu numa voz comedida, enquanto dava um sorriso triste.

"Então … o feitiço funcionou. Eu nunca pensei que fosse conseguir." Dean engoliu um nó que se formou em sua garganta, e olhou pra cima pra impedir que as primeiras lágrimas caíssem.

"Na verdade estive te observando desde que voltou pra casa de Bobby."

"Seu sacana! Por que não tentou se comunicar?"

"Quanto mais eu tentava, mas você se afogava em bebida. Resolvi me afastar e dar um tempo. Achei que agora era a melhor chance. Graças ao feitiço de Missouri Moseley você pode me ver e ouvir."

"Eu vi você na casa dela. Por que ela não serviu de intermediária entre nós dois?"

"Ela achou que você queria privacidade."

"Certo! Por que teve que enfrentar os wendigos sozinho, Sam? Por que de repente achou que era o super-homem indestrutível?"

"Minha morte iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Ninguém dura muito tempo na vida de caçador."

"Sim, mas papai está vivo até hoje. Bobby está vivo até hoje. Custava tomar um pouco mais de cuidado? Você deveria ter levado mais um caçador pra lhe ajudar. O que você fez foi estúpido e amador. Deus ... até eu, que já me afastei dessa vida há tempos, não cometeria esse erro." Dean ficou olhando para o irmão incrédulo, enquanto Sam desviou o olhar e então abaixou a cabeça, mudo.

"Você não vai me dizer nada, Sam? Que espécie de irmão mais velho é você, que comete erros primários, colocando a própria vida em risco, para morrer uma morte estúpida, deixando a mim e papai órfãos da sua presença. Hein? Sabe o que eu acho, Sammy? Você não passa de um egoísta." As lágrimas agora escorriam livremente pelo rosto de Dean, e ele não tentou mais escondê-las.

"Não conseguiria mais viver longe de você." Sam falou num fio de voz.

"Mas que estúpido! Você acha que eu ficaria longe de você por muito tempo? Você acha que alguma vez eu deixaria de ser seu irmão? Nascemos ligados pelo coração, seu tonto. Eu nunca … nunca deixaria de te amar, nunca te abandonaria. O que você fez, Sam?" Dean não conseguiu mais falar e ficou soluçando.

"Sinto muito!" Sam disse tristemente. "Agora que eu morri, você pode seguir com sua vida. Pode se casar, ter 1,3 filhos, ter um emprego estável. Coisas que eu nunca tive e sempre quis."

Dean esfregou as mãos no rosto, com o intuito de enxugar as lágrimas, sem muito sucesso. "Não aceito ficar sem você. Não aceito."

Sam o olhou compadecido. "Não há nada que possa fazer, Dean. Faz muito tempo que estou morto. Estou vagando até hoje, na esperança de me despedir de você, mas eu sinto o chamado, como uma força da natureza me atraindo para bem longe, como se minha alma também estivesse morrendo. Não sei te explicar direito, mas é como se a lembrança do homem que eu fui, pudesse ser apagada da minha mente. Acho que um dia não poderei mais me comunicar com as pessoas que me conheciam em vida. Afinal de contas, o esquecimento é o meu destino."

Dean o olhou magoado. "Você está com medo, Sam, de ter que enfrentar isso sozinho?"

"Um pouco, sim, mas não arrastaria ninguém comigo nessa jornada."

"Não precisa ficar solitário, eu te faço companhia." Dean falou isso e sacou a pistola do cós da calça.

"Você enlouqueceu? Não faça isso!"

"Você que enlouqueceu, enfrentando dois wendigos sozinho."

"Ok! Ok! Escute, pessoas que se suicidam ficam presas no loop da morte. Elas ficam repetindo por anos a fio, o momento da própria morte. Eu não iria querer isso ao meu pior inimigo."

Essas palavras tiveram o dom de despertar o bom senso em Dean, que voltou a guardar a pistola. Sam suspirou aliviado.

"Talvez eu não acabe com tudo isso, aqui e agora, no melhor estilo Romeu e Julieta, mas eu posso fazer como você fez, afrontar o perigo e rir na cara dos inimigos, pra ver quem me leva primeiro. Afinal foi o que aprendi com meu irmão mais velho, não é, Sam?"

"Está bem! Está bem! Eu errei! Está melhor assim? Eu fui um imbecil em não dar valor a minha vida. Fui um paspalho em não me lembrar que meu irmão caçula ia ficar de coração partido com a minha morte. Eu sou um idiota. O maior de todos. Está contente agora, Dean?"

"Ainda não! Nunca!" Os lábios de Dean começaram a tremer, e as lágrimas voltaram com força.

"Dean, não faz assim. Vamos fazer o seguinte. Eu vou resistir o máximo que eu puder ao chamado. Ficarei ao seu lado e te guardarei dos inimigos, não sei como, mas eu aprenderei."

"No melhor estilo Patrick Swayze?"

"Sim, se for isso que você deseja."

"Eu desejo que meu irmão não estivesse morto." Dean deu um sorriso triste.

"Eu só gostaria que você não voltasse à vida de caçador, mano. Queria que tivesse a vida de um civil."

"Está bem."

Sam sorriu para ele e uma piscadela depois, ele não estava mais lá.

"Sam? Sammy! Ainda é cedo. Não vá agora." Dean gritou desesperado. Então ele ouviu no fundo da mente a voz do irmão dizendo: "Não fui a lugar nenhum, você apenas não consegue me ver. Estou a seu lado. O tempo todo."

Dean fechou os olhos e sorriu. Conformou-se com a sina de ter um irmão fantasma a lhe acompanhar pelo resto da vida. Saiu do Impala e recolheu os apetrechos do feitiço. Então engatou a primeira marcha e saiu da floresta, pelo desvio da estrada. Decidiu-se por Sioux Falls como moradia, ao menos por enquanto. Iria exercer sua profissão civil, mas queria manter contato com a comunidade de caçadores. Talvez um dia constituísse família com alguma garota legal, que gostasse de rock clássico e armas antigas, e sua primeira filha se chamaria Mary, como a avó. Agora o menino, se chamaria Samuel, como o bisavô materno. Ele tinha certeza que Sam, ao seu lado, gostaria da homenagem.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A partida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.