A partida escrita por slytherina


Capítulo 5
Jerk & Bitch




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          Ele parou no grande estacionamento cimentado e triste. Procurou a recepção com o cartão de crédito novinho em folha, que recebera pelo correio numa transação legítima. Não mais golpes com cartão de crédito falso, que ele sabia que seu pai ainda praticava. Não mais arriscar a sorte em mesas de sinuca, torcendo para que o otário da vez não percebesse o quanto seu irmão mais velho era fino na arte do bilhar. Não mais aquela vida de mortos de fome, que não podiam se dar ao luxo de frequentarem lojas de grife, ou simplesmente aproveitar um dia de lazer caro e dispendioso. Isso tudo ficara para trás na vida de Dean Winchester. Ele era agora um bacharel, competente o bastante para dar aulas ou sentar-se atrás de bureau, para dar afamados e precisos conselhos na sua especialidade. Não senhor, não mais cavar sepulturas, tocar fogo em cadáveres, ou entrar em luta corporal com monstros. Se bem que essa última parte até que era divertida.

“É, mas um monstro me matou e devorou, seu idiota.” Dean ouviu no pensamento a resposta seca e cortante de seu irmão mais velho. “Puto”! Foi a primeira coisa que lhe veio à mente para responder-lhe.

Dean deitou-se na cama de motel barata, esperou que o cansaço da longa jornada o ninasse para dormir, uma vez que sua mente estava alerta e não o deixava se esquecer do seu objetivo. Sam. Por que tivera que perder o irmão tão cedo? Eles eram unha e carne, Batman e Robin, Fred e Barney. Nasceram um para o outro. Não no sentido bíblico do termo, mas como almas gêmeas, como gêmeos siameses. Não havia Dean se não havia Sam. Como ele pudera imaginar que Dean poderia sobreviver sem ele?

“Você sempre foi um romântico, Dean.”

Dean quase podia ouvir a voz do irmão, como se ele ainda estivesse vivo, com a expressão triste e resignada de irmão mais velho, que tem que carregar o fardo mais pesado para poupar o irmão mais novo.

“Sou um romântico tanto quanto você é um sentimental.” Dean falou em voz alta para ninguém.

“Retardado!” Dean ouviu nos recônditos da mente, ao que respondeu sem pestanejar: “Reclamão!”

Nessa hora, Sam iria lhe dar um meio sorriso que queria dizer que tudo estava bem entre eles, e então ajeitaria a coberta sobre seus ombros e lhe diria ternamente: “Durma com os anjos”, como uma verdadeira mãe o faria. Dean então adormeceu.

Muitas horas depois, uma noite calma de sono profundo chegou ao fim. O sol despontou no firmamento, iluminando o estacionamento do motel. Um brilho branco e sem graça varou pelas frestas das persianas da janela, e por baixo da porta. Mais pelo costume de levantar-se cedo do que pela urgência de aliviar-se, Dean despertou e tratou de suas necessidades. Serviu-se de barras de cereais que estavam no frigobar e de uma garrafinha de suco de laranja. Sam sentiria orgulho dele, se estivesse vivo, afinal vivia pegando no seu pé para que comesse coisas saudáveis, e não o adorado cheeseburger com Coca-Cola, ou mesmo sua paixão da vida toda: torta de frutas. Podia até ver diante de si a cara de desdém de seu irmão, ao admirá-lo devorando aquele monte de gulodices.

“Sou quase um vegano agora, Sam.”

Dean riu-se da própria frase. Parou de rir ao se lembrar de que estava sozinho e seu irmão, morto. Arrumou sua tralha e entregou a chave do quarto na recepção. Este seria um dia de mais sofrimento, dirigindo sem parar até Sioux Falls. Deveria ligar para Bobby, avisando-o de sua chegada. E foi o que ele fez antes de pegar a estrada.

“Alô, Bobby? É Dean. Ouça, estou chegando aí em sua casa pelo amanhecer de amanhã, ok? Há? Você não está em Sioux Falls? Papai o chamou para uma caçada? Ok, ok! Depois eu ligo. Obrigado!”

Dean desligou o celular irritado, e ficou imaginando se talvez tudo não estivesse irremediavelmente perdido e danado. De que adiantava falar com o espírito de um morto, se não poderia trazê-lo de volta à vida? A melhor coisa a fazer seria voltar para a Califórnia e levar uma vida de civil. Dar adeus definitivamente ao mundo do sobrenatural. Dar adeus definitivamente a seu irmão. Ele esfregou as mãos no rosto e inspirou fundo.

“Eu quero que a Califórnia e a vida civil vão pra putaqueopariu!”

Falou alto enquanto enxugava as lágrimas que apareceram indiscretas. Se fosse preciso abraçar de vez aquele mundo de caçadas, ele o faria, se isso significasse ficar perto de Sam, ao menos figurativamente falando.

Juntou suas coisas e caiu na estrada. No primeiro desvio fez a curva e foi parar dentro do mato. Estacionou o Impala, e apesar de ser em plena luz do dia, resolveu proceder o feitiço ensinado pela sensitiva.


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