A partida escrita por slytherina


Capítulo 3
Luto




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Os dias que se seguiram fluíram como uma brisa de outono. Muitas folhas caídas, muitas tardes cinzentas e uma paisagem envelhecida e meio morta. Comparado com isso, Stanford era um verão feliz e inconseqüente, com muitas festas, banhos de piscina e umbigos de fora. O tempo na faculdade parecia agora pertencer a outra realidade, como um sonho ou ficção. A vida real era o aqui e agora. A vida real era uma facada no coração. Era uma sepultura simples e sem adornos, onde se lia "aqui jaz Samuel Winchester". Bobby explicou que enterraram pedaços de carne e trapos de flanela, as únicas coisas que sobraram de seu irmão. Isso e o amuleto que Dean lhe dera como presente de natal, há muito tempo.

Bobby entregou-lhe o amuleto, e Dean passou a usá-lo como uma relíquia, como se isso o ligasse ao irmão além da morte, mas é claro, isso não traria Sam de volta.

Após algum tempo, Dean resolveu seguir com sua vida. O Winchester mais novo havia passado quatro anos estudando. Havia cruzado o portal que separava garotos de homens, mesmo assim, o caçador ainda vivia nele, como se o tempo em Stanford não passasse de férias ou um período de hibernação. Seu pai deveria ficar orgulhoso dele. Já, Sam ...

Pensar em Sam ainda era doloroso. Dean passava pelas quatro fases do luto. Negação, revolta, desespero e resignação. Seu irmão fora um idiota por enfrentar wendigos sem uma retaguarda, sem ninguém para lhe dar apoio.

Imbecil.

Ele poderia ter levado Bobby, ou mesmo alguns dos caçadores amigos de seu pai. Mas não, o herói de meia-tigela tinha que ser teimoso e descuidado, enfrentando dois monstros canibais de uma só vez. Dean tinha certeza de que se Sam não estivesse morto, ele lhe daria um soco certeiro nas fuças, pra ver se enfiava um pouco de bom senso naquele gigante de coração mole.

Dean reuniu sua tralha e se despediu de Bobby. Resolveu seguir o rastro do pai até a cidadezinha de Jericó.

Encontrou seu pai em um motel de beira de estrada. O velho homem investigava aparições de um fantasma e mortes naquela cidade. Um típico caso de "mulher de branco". Moleza! Seu pai poderia dar conta desse caso com uma mão nas costas. E Sam? Não gastaria nem uma semana para resolver isso. Mas Dean era diferente. Ele estava enferrujado. E ele realmente não estava no clima para caçar fantasmas. Ainda chorava internamente pela perda do irmão.

Trabalhar com o pai como nos velhos tempos foi meio incômodo a princípio. Sem frescuras de garotas, como seu pai costumava dizer. Mas ele ainda era sua família e isso o deixava mais perto do irmão morto, de certa forma.

"Como ... como ele estava antes de ... antes de sair para caçar os wendigos, pai?"

"Como sempre, filho. O que quer que eu responda? Eu o alertei dos perigos. Ele era teimoso, só fazia o que queria, e não se importava com a opinião de ninguém."

"Por que não foi com ele?"

"Eu não estava lá, pelo amor de Deus! Eu jamais o deixaria seguir para a morte certa!"

Dean ficou atônito, enquanto o que o pai dizia criava raízes em seu ser.

"Por que ... por que Sam faria isso?"

"Ele ... ele não era mais o mesmo de antes. Descuidado, irresponsável e audacioso. Colocava a vida em risco em toda caçada que fazia. Era um comportamento perigoso, eu o alertei quanto a isso. Acho que ... acho que foi por isso que ele passou a agir solo."

John ficou calado enquanto parecia ruminar considerações.

"Você deveria tê-lo protegido, e não deixá-lo à própria sorte para morrer sozinho."

John deu-lhe uma bofetada, que de certa forma, Dean já esperava.

"Nunca mais diga isso. Está me ouvindo? Nunca mais diga isso." John saiu batendo a porta do motel.

Dean se arrependia por ter forçado as coisas com seu pai, mas a sensação de traição e perda era muito forte. Alguém era responsável por deixá-lo sem irmão, e ele ainda sentia uma vontade imensa de bater, quebrar e destruir alguma coisa, só para deixar fluir sua revolta. Considerou que ficar ao lado do genitor iria tornar tudo pior, pois volta e meia jogava na cara do pai que ele era responsável pela morte do filho mais velho.

Mais tarde resolveu comunicar sua decisão ao pai. Encontrou-o em um café local.

"Sinto muito pelo ... meu comportamento mais cedo. Ninguém é responsável pelo que aconteceu. Afinal faz parte da vida de um caçador, não é?"

"Não precisa adoçar as coisas pra mim, filho. Sam já não era o mesmo há muito tempo. Não podemos mudar a índole ou o espírito de uma pessoa. Eu espero que ele esteja em paz, seja lá onde estiver."

Dean bebeu um gole grande de café pra não responder atravessado. Com que diabos aquele homem podia ser tão frio a respeito da morte de seu irmão? Será que ele era mesmo seu pai?

"Bem, eu vim lhe dizer que vou me afastar da vida de caçador por uns tempos. Vou por as idéias em ordem, antes de decidir o que quero da vida."

"Pensei que já houvesse decidido isso quando foi pra faculdade."

"Eu era uma criança."

"Sei. Na verdade você só foi porque seu irmão insistiu. Se ele adivinhasse que não iria viver muito, nunca teria empurrado você para fora de nossa vida." John falou em meio a garfadas em seu bacon com ovos e catchup.

Dean engoliu em seco. O fato do pai falar do filho, como se já não sentisse tristeza por seu passamento, o enchia de fúria. Respirou fundo e tomou o resto do café. Tinha que dar um desconto para o pai. Sam estava morto já há dois anos, mas para Dean era como se tivesse sido ontem.

"Missouri Moseley." John falou após acabar a refeição.

"Quem é esse? Um caçador?"

"Missouri Moseley é uma vidente. Uma sensitiva. Ela me ajudou a atravessar o período de luto. Ela entrou em contato com o espírito de Sam. Eu consegui achar um pouco de paz. Acho que você deveria falar com ela."

Dean ficou encarando-o incrédulo. Resolveu sair sem falar mais nada. Quando já estava na porta, ouviu o pai dizer "ela mora em Lawrence".


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