A partida escrita por slytherina


Capítulo 2
Irmão mais novo Dean




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Dean Winchester festejou sua graduação com os amigos. Muita cerveja, muita garota bonita, muita música e pegadinhas. Bebeu até cair. O fato de sua família não ter ido a sua formatura não o incomodou. Não o entenda mal, a vida acadêmica era puxada, mas ele havia aprendido muito. Fizera bons amigos e sentia-se capaz e preparado para abraçar uma nova realidade, bem diferente da vida de nômade que tivera durante sua infância e adolescência. Entretanto, ainda queria a família por perto. Ainda via com glamour e espanto a vida de caçador. A sensação do perigo iminente e a adrenalina correndo nas veias eram viciantes. Não reclamaria nem um pouco se pudesse voltar a caçar novamente.

Após estudar muito por quatro anos, Dean resolveu voltar para sua família. Passar uns tempos com eles antes de começar sua nova vida como profissional liberal. A antropologia era uma ciência que o remetia diretamente à mitologia e folclore da vida de caçador. De certo modo, ele ainda lidaria com o sobrenatural, mas de uma forma acadêmica.

Como Sam e seu pai não tinham paradeiro fixo, foi até a casa de Bobby Singer, um velho caçador e membro honorário da família. Ainda tinha o Impala, que conservara novinho em folha durante os quatro anos de faculdade. Era seu orgulho e herança de família. Seu bebê.

Ele estacionou o carro na propriedade que era um ferro-velho, e bateu na porta de Bobby. Este o recepcionou com água benta e um corte com faca de prata. Somente após os testes negativos, Dean teve direito a um caloroso abraço.

"Como foi lá na faculdade? Ainda está estudando?"

"Não, já concluí o curso. Você está diante do mais novo antropólogo da família Winchester." Dean sorriu enquanto abria os braços para se apresentar, como em um show.

"Meus parabéns, então. Seu pai ficará muito orgulhoso."

"E Sam também."

"É."

"E aí? Onde eles estão agora? Algum caso em Nebraska ou Michigan? Atacando algum ninho de vampiros ou armando uma armadilha para um chupacabras?"

Bobby ficou calado. Retirou o onipresente boné e coçou a cabeça, enquanto olhava para o chão.

"Eu vou pegar uma garrafa de whiskey." Disse Bobby indo até a cristaleira velha, abarrotada de livros.

"Já comemorei demais, Bobby. Três dias de bebedeira sem parar. E três gatinhas de parar o trânsito. Mas tudo bem, aceito um gole."

Bobby trouxe a garrafa de whiskey e dois copos. Sentou-se à mesa e serviu as doses. Fez um aceno com a cabeça, para Dean acompanhá-lo. Quando Dean sentou-se, Bobby entornou o primeiro copo e serviu-se de outra dose.

"Ei, devagar com o andor aí, chapa. Eu sou forte, mas não quero carregar sua carcaça velha pelas escadas."

"Eu precisava disso." Bobby bebeu o segundo copo com mais comedimento. "Seu pai não manda notícias há três meses. Ele estava seguindo uma pista que o levaria ao demônio do olho amarelo." Bobby parou de beber e ficou encarando Dean, como se esperasse pela próxima pergunta.

"Você acha que ele está com problemas? Acha que devo ir procurá-lo?"

"Não! John Winchester é um caçador melhor do que muito caçador que existe por aí. Ele é melhor do que eu e você juntos. Se precisar de ajuda mandará um aviso. Se quiser ir atrás dele, lhe darei as coordenadas do último lugar onde foi investigar um caso."

"Sam está com ele?"

"Não."

"Sam está numa investigação independente?"

"Não."

"Não me diga ... não me diga que ele virou um civil?"

"Não. Sam saiu para uma investigação no Novo México sozinho. Um caso de wendigos. As coisas não correram bem e ele não tinha ninguém na retaguarda."

"E o que aconteceu? Ele foi ferido?"

"Sim. Foi atacado por dois wendigos. Conseguiu matar um deles, mas não teve tanta sorte, e o outro sobreviveu."

"E onde Sam está agora? No hospital?"

"Ele morreu, Dean."

O silêncio que se seguiu não foi quebrado por nenhum barulho externo ou por animais ou força da natureza.

"Quando?" Dean perguntou com a garganta apertada, controlando-se para não gritar ou irromper em choro.

"Há dois anos."

"O que? Dois longos anos e você não pensou em me ligar para dizer que meu irmão morreu como um cachorro?"

O pouco de auto-controle começou a ruir e Dean levantou-se bruscamente, fazendo com que a cadeira virasse no chão. Ele andou sem rumo pela sala, enquanto punha as mãos na cabeça, e fazia caretas. Sem conseguir se segurar mais, ele saiu da casa e se dirigiu ao ferro velho, onde se empenhou em destruir tudo. Bobby assistia a tudo de longe, lembrando-se da própria frustração e desespero ao perder a esposa amada.

Nos dias seguintes Dean bebeu muito, falava pouco e dormia o dia inteiro. Bobby entendeu e respeitou o luto do rapaz. Gostaria de consolá-lo, dizer que tudo iria passar e que Sam estava em um lugar melhor, mas aquilo tudo era inútil e não melhoraria em nada seu estado. Por fim, ligou para o pastor Jim e pediu que viesse falar com ele. Ligou para John Winchester também, mas a ligação caiu na caixa postal, como das outras vezes.

John era um homem duro e teimoso. Sua tenacidade era inexorável. Jamais permitira que se avisasse Dean sobre a morte do irmão. Na visão estreita de águia, do patriarca Winchester, o caçula havia optado por uma vida longe da família, e não deveria ser perturbado por problemas e acontecimentos ligados a ela. Se ele queria continuar fazendo parte da família, deveria ter pensado duas vezes antes de sair de casa para ir pra faculdade.

Bobby pensava diferente. Sabia que os irmãos eram muito ligados, como se fossem siameses. Uma só alma habitando dois corpos. Parecia clichê de literatura feminina piegas, mas era assim que as coisas eram com aqueles dois irmãos. E agora, Dean teria que aprender a viver sem sua cara-metade. E Bobby sabia muito bem o que era viver pela metade, como se a vida tivesse levado embora a melhor parte dele.


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