O Jogador de Basquete e o Gótico escrita por Creeper


Capítulo 2
Lembranças Indesejadas




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—E aí,Dru!-Brady me cumprimentou na hora do intervalo do dia seguinte.

—Drew.-eu disse sério olhando discretamente para os lados cogitando a idéia de fugir antes de iniciar qualquer diálogo como ontem no vestiário.

—Quem são aqueles ali?-Brady apontou com a cabeça para Gray e Bella que acenavam loucamente para mim.

—Ninguém.-respondi virando a cabeça bruscamente para o lado fazendo meu cabelo balançar.

—Até que a garota é bonitinha...-ele disse com um pouco de malícia.

O encarei de soslaio e imediatamente as cenas horríveis de ontem vieram a minha mente. Balancei a cabeça negativamente e sem dizer nada comecei a me afastar.

—Onde vai?-Brady notou e me olhou inocentemente.

—Por que quer saber?-perguntei entediado ainda me afastando.

—Pensei que podíamos ser amigos,já que tecnicamente você é do time agora.-sorriu.

—Exatamente,somente pensou.-eu disse cruzando os braços.

Não é só porque você está em um devido lugar que deve se tornar amigo das pessoas. E sabia que aquele jogador de basquete só estava sendo legal comigo porque tinha que ser.

As vezes quando uma pessoa vem falar comigo pela primeira vez,sinto-me obrigado a conversar. Como ontem,senti que tinha que responder as perguntas de Brady na esperança que ele me deixasse em paz após isso. Já percebi que ele vai ser um problema em minha vida.

☆☆☆

Já de noite,eu estava deitado em minha cama enquanto encarava o dever de casa em meu caderno.

—Não...Não,não,não!-sussurrei fazendo os cálculos mentalmente. A folha de caderno permanecia branca e intacta.

—Está com dificuldades?-a única voz no mundo que podia me deixar tranquilo e irritado invadiu meus ouvidos. As palavras dela invadiram o ar assim como seu cheiro.

—Não.-menti segurando o lápis firmemente.

—Eu não sou muito boa em cálculo,mas posso tentar te ajudar.-ao dizer isso ela sentou na beira de minha cama.

—Nanda...-eu por um segundo tirei os olhos do caderno e encarei a mulher que sorria ao ouvir do que lhe chamei. Enguli em seco. -Amanda.-me corrigi.

—Drew,você não me conta mais sobre seu dia no colégio faz meses...-Amanda delicadamente pegou o caderno de minhas mãos e analisou a lição.-Até parece que eu não faço mais parte da sua vida.-sussurrou franzindo a testa por um momento.

Sentei-me respirando fundo e encarando meus pés que se mexiam dentro das meias.

—Isso...-Amanda deixou escapar um riso abafado enquanto colocava uma mecha de cabelo cacheado atrás da orelha.-É complicado.-ela olhou da lição para mim.

—Como se eu não soubesse...-revirei os olhos.

—Suas notas andam caindo...-ela colocou o caderno em meu colo.-Tem algum motivo?

Fiquei em silêncio. Amanda já sabia a resposta.

—Sei que está preocupado com ele.-Amanda sussurrou meio triste.

—Não estou não.-neguei cerrando os punhos.

Me negava a me preocupar com ele.

Amanda me surpreendeu com um abraço aconchegante. Eu não sentia nada. Absolutamente nada. Aquilo servia para me acalmar ou confortar de alguma forma? Não funcionou. 

Com um pouco de delicadeza empurrei Amanda e disse sério:

—Preciso dormir. Não consigo pensar,então vou descansar.

Amanda suspirou e forçou um sorriso enquanto se retirava do quarto,antes de fechar a porta e apagar a luz disse:

—Boa noite,Drew.

—Boa noite...-sussurrei mesmo sabendo que ela não ouviria.

Afundei o rosto no travesseiro enquanto lembrava-me de como conheci Amanda.

Há oito anos,eu estava parado em frente a uma estação de trem a noite. Aqueles que se diziam meus "pais" disseram para esperar ali enquanto iam resolver assuntos de adultos. Eles nunca voltaram. Dias se passaram,eu permaneci ali com fome,frio e medo. Temia que algo de ruim tivesse acontecido com eles,mas isso mudou quando vi um bilhete em minha mochila: 

"Drew,não esperamos que entenda nosso lado,deve ser difícil para você aceitar . Você nasceu por acidente,assim como as Meninas Super Poderosas. Você ama o desenho animado delas,não é mesmo? Eu e seu pai não podemos assumir um filho,somos muito jovens. Isso é um adeus. Se cuide. "

Porém, eu não sabia ler na época,não fazia idéia do que estava escrito. Então,andei um pouco usando as poucas forças que me restavam e avistei uma moça jovem,negra e com os cabelos cacheados. A achei tão linda assim que a vi. Ela estava sentada em um banco lendo um livro, imaginei que ela pudesse ler o bilhete deixado por meus pais.

"-M-Moça...-pedi envergonhado puxando levemente a barra de sua saia para que lhe chamasse a atenção.

—Oi,querido?-ela sorriu docemente.

—P-Pode ler isso aqui para mim?-lhe entreguei o bilhete.

—Claro.-ela pegou o papel de minhas pequenas mãozinhas. A moça ficou em silêncio por alguns segundos,parecia estar em choque,abriu a boca para falar algo,mas nenhuma palavra saiu. Ela expressava tristeza.-Q-Qual s-seu nome?-foi a única coisa que conseguiu pronunciar.

—Drew.-sorri.

—S-Sou a Amanda.

—O que está escrito?-perguntei.

—E-Está escrito...-ela engoliu em seco.-Que seus pais vão ficar um tempinho fora e v-você v-vai...-olhou para os lados,parecia nervosa.-Vai morar comigo! Eu irei cuidar de você até eles voltarem!-forçou um sorriso.

Sorri de orelha a orelha,naquela época não batia bem da cabeça, somente gritei um "EBA!".

—Mas...-eu disse.-Eles estão bem?-fiquei preocupado.

—E-Estão sim!-Amanda respondeu rapidamente.

Após um tempo,quando cheguei na casa de Amanda,ela me alimentou e me deu um banho,até mesmo me contou sobre sua vida pessoal,por exemplo que tinha brigado com seus pais por isso saiu de casa para morar sozinha.

—Nanda...-sussurrei enquanto ela me cobria para que dormisse,eu estava cansado,não pregava os olhos fazia dias.-Papai e mamãe vão vir me buscar logo?

Amanda engoliu em seco e sem me encarar disse:

—Não tenho certeza. Mas até lá,prometo cuidar de você.

—Obrigado...-sussurrei sorrindo e sentindo as pálpebras ficarem pesadas.

—Durma bem.-Amanda beijou minha testa e se retirou do quarto.

Quando eu cresci (estava com mais ou menos treze anos),ainda tinha esperanças que meus pais viessem me buscar,mas...Acabei encontrando o bilhete que eles escreveram dentro de uma gaveta no quarto de Amanda.

O papel estava amassado e amarelado pelo tempo,porém ainda era possível ler o conteúdo.

Lágrimas quentes e amargas escorreram por minhas bochechas quando terminei a leitura,cheguei a me ajoelhar no chão e gritar com todas as minhas forças, gritava como se quisesse que meus pais ouvissem minha dor. 

Soquei o chão como se não acreditasse no que tinha acabado de ler,por anos vivi uma mentira. Amanda não estava em casa nesse dia,então pude chorar até que não tivesse mais água em meu corpo.

Desde aquele dia nunca mais chamei Amanda de "Nanda",achei que ela não merecia mais aquele apelido carinhoso. Desde aquele dia eu nunca mais derramei uma lágrima sequer,jurei nunca mais chorar. Desde aquele dia eu me uni as trevas e virei um gótico. Não revelei para Amanda que tinha lido o bilhete,decidi manter isso em segredo para saber quando ela pretendia me contar a verdade .

—Nós decidimos o que é bom para nós,qual é o caminho certo que devemos tomar...-murmurei.-No meu caso foram as trevas...Porque é isso que eu sou. Um gótico.-fechei os olhos.

Amanda adotou um outro garoto que dizia ter fugido de casa,Jack. Jack tinha a mesma idade que eu e era bem rebelde

Nós três formavamos uma família. Eu só conseguia me sentir confortável perto deles,Jack era como um irmão e Amanda como uma mãe. Porém,com o tempo isso foi mudando...As brigas entre mim e Jack ficaram mais frequentes de acordo com nossa idade,eu me afastei de Amanda e me tornei anti social. Toda forma de carinho que eu recebia era retribuida por falas irônicas ou ações malvadas. Mesmo assim,eles nunca deixaram de me "amar". Mas,como podiam me amar se não tínhamos vínculos familiares? Estavam enganando a si próprios? Jack se envolveu com as pessoas erradas,passou a passar menos tempo em casa e mais tempo na rua,parou de frequentar o colégio. Eu ouvi até boatos mentirosos que Jack tinha engravidado uma garota e estava metido com drogas. Eu não quis acreditar nisso,não aceitava esse tipo de coisa vinda de Jack...Quando Jack não voltou para casa,passei a não me importar com ele e aceitar os boatos .

Amanda insiste que eu me preocupo com Jack,mas ela está errada. Não me preocupo com ninguém,não quero encher minha cabeça com preocupações alheias.

—A vida é curta demais para se preocupar com pessoas que não deviam nem fazer parte dela...-sussurrei encarando o teto.-O mundo é grande demais...Não.-franzi a testa.-O mundo não é grande,nós é quem somos pequenos,somos pequenos pois deixamos as decepções nos consumirem até não existirmos mais,isso leva as pessoas a cometerem suicídio...-na minha cabeça soou mais como uma pergunta do que uma afirmação.-Eu estou vivendo ou apenas existindo? Será que eu só ocupo espaço no mundo? Afinal,eu nasci por acidente...-fechei os olhos e cerrei os punhos. Enguli em seco. Balancei a cabeça negativamente e abri os olhos rapidamente.-Eu devo estar no mundo por um motivo,ou então não faria sentido...Não posso deixar o mundo me fazer me sentir inferior a ele!-sentei-me e suspirei.-Não me rebaixarei a esse nível.

Ouvi algo bater levemente na porta,seguido de um barulho de passos apressados correndo pelo corredor. Ao olhar para a porta entre aberta sussurrei:

—Amanda...


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? Espero que sim XD! Até o próximooooo!
Bjjjjs.
—Creeper.



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