Severus andava desanimado até sua rua — o barulho dos seus sapatos gastos amassando as folhas secas era reconfortante, mas nem isso o deixava minimamente feliz. Mesmo que sua vida em Hogwarts não fosse a mais satisfatória possível, ele se sentia mal sempre que seu ano letivo acabava e ele era obrigado a voltar para casa. Não gostava de sua casa, tinha vergonha.

Convivendo com pessoas tipo Lucius Malfoy — que morava na maior mansão da grã-bretanha, com Nott e sua fortuna, isso sem falar das milhares joias que ostentavam as irmãs Black, era impossível não compara-los a si mesmo.

Sua vestimenta era de segunda mão, junto com seus livros e tudo que possuía, sua casa era tão pequena e velha que sempre que chovia ficava praticamente toda alagada, estragando ainda mais os poucos moveis que tinha. Apesar de seu pai ter sobrenome prestigiado, ele já morrera há muito, deixando dividas e mais dividas para sua mãe, sua única herança — se é que podia chama-la assim — era a casa moribunda que morava.

As vezes Severus questionada se havia um Deus ou algo do tipo, sua mãe era uma mulher muito religiosa, sempre rezando por melhoras em sua vida, mas nunca fazendo nada para que isso aconteça. E morando em um bairro trouxa, e convivendo com eles em suas férias, ele acaba, mesmo que não queria, tendo um pouco de inveja. De sua ignorância.

Queria ser ignorante.

Queria acreditar no tal Deus e ser uma pessoa menos cética, olhava a leveza nos rostos alheios e queria ser assim. Sua cabeça é cheia de coisas, na maioria das vezes nada boas. Usa seu tempo livre lendo e criando poções, não considera seus colegas de casa como amigos para ter uma conversa mais profunda — Lily não falava com ele fazia tempos, e no fim, a saudade dela já se tornara costumeira em seu peito. — Então ele apenas se afunda nos livros, meio que desesperadamente.

Acha poções a coisa mais genial que existe — Criar sorte? Poder matar a pessoa que mais odeia com apenas um gole? Isso é inacreditável! Poções é de longe sua matéria favorita. Se tem algo que almeja ser um dia, é um mestre de poções, se conseguisse seria o melhor do seu mundo.

Ele se sentou no jardim, entediado. Seus cabelos estavam caindo no seus olhos mas não os cortaria, era a cópia do seu pai, a única coisa que os diferenciava eram os cabelos, não queria ser mais parecido com ele do que já era. Gosta de estar sempre ocupado, pois uma mente ocupada é uma mente (quase) saudável. Tempo livre é tempo para pensar em coisas que não quer pensar, como sua mãe extremamente depressiva em casa, ou com o fato de que não tem amigos.

Sente como se tivesse uma atmosfera negra e densa em volta da sua cabeça o tempo todo.

Por mais que muitas vezes queria se abrir com as outras pessoas, não consegue, fazer amizades é abrir o caminho para estranhos saberem tudo que se passa em sua vida e em sua mente, e Severus não quer isso.

Ninguém tem que saber nada sobre ele.