Após o acontecido, eu tentei procurá-la em todos os cantos do colégio. Não a encontrei. Ora essa Richard! A garota deve ter ido embora. Agora eu precisava encontrar o armário da garota e devolver seu celular, ou então, descobrir onde era a sua casa.

  Tive que esperar a aula terminar e, após isso, ficar seguindo seus amigos. Logo os escuto conversando sobre a garota. Tento me aproximar o máximo possível sem ser notado.

— “Onde a Kory mora mesmo?”— Ouvi alguém perguntar.

— “Há duas quadras daqui. Ela mora num prédio.”

— “Qual prédio? Há vários prédios indo para norte da cidade.”

— “É o terceiro prédio. Ela mora no oitavo andar, número 39.”

— “Acho que irei lá.”

— “A ruiva tá muito mal, não vai querer visita de ninguém.”

  Olha que sorte. Já sei onde ela mora, posso ir até lá, devolver o celular e vazar. Não devo nada a ela, então não há problema nenhum. Passo por eles sem chamar a atenção. Segui em direção à saída e fiz de tudo para não topar com Xavier e sua gangue de maníacos. Depois que sai da escola corri para o ponto de ônibus. Dali eu iria pro apartamento da ruiva. Atravesso a rua e caminho os dois quarteirões. Não eram tão longos, era uma caminhada rápida. Logo sigo para o terceiro prédio da rua.

— Posso ajudar? – O porteiro se dirigiu a mim.

— Err... Por acaso, é aqui que mora a Kory?

— Ah, sim. – Ele sorri. – Quer que eu avise que está aqui? – Ele iria por a mão no telefone e me olha.

— Não. Eu só vim devolver o... Caderno dela. – Menti. – Por favor, eu só quero isso.

— Ok. – Ele me olha, desconfiado.

— Obrigado. – Agradeci. – Err... Qual o...?

— Oitavo andar, nº 39. – Ele sorri.

— Obrigado, de novo. – Ele assente e eu vou em direção ao elevador.

  Após algum tempo, eu acabei chegando ao oitavo andar. Respiro fundo e começo a caminhar olhando os números nas portas, até que finalmente encontro o nº 39. Paro diante a porta e fico ali, fitando o número. Direciono meu dedo até a campainha, mas paro. Eu não sabia o que estava fazendo. Coloco o celular no chão e decido ir embora, mas algo me para. Curiosidade. Volto e coloco o ouvido na porta. Eu podia ouvir alguém chorando. Era a garota. Algo fez meu coração se apertar. Pego o celular e saio correndo. Desço pelas escadas, com a cabeça baixa. Passo pelo porteiro sem dizer nada.

  Eu já havia perdido o ônibus mesmo, mas isso não me fez parar. Eu simplesmente iria correr até em casa. Mais ou menos no meio do caminho a chuva começou a cair. Logo começou a chover mais e mais forte. Cheguei em casa e acabei derrapando, sorte que não havia ninguém na rua. Acabei me molhando mais na poça que estava na frente das escadas para a entrada do prédio.

  Subi as escadas o mais rápido possível. Entrei em casa e tranquei a porta. Joguei minhas coisas em cima da minha cama e entrei no banho quente o mais rápido possível. Coloquei uma calça e uma blusa qualquer e fui para meu quarto. Sentei no chão e fui mexer no celular daquela garota. Afinal, quem é Kory?

  Abri sua galeria e olhei foto por foto. Um impulso tomou conta de mim. O que eu podia ter feito? Nada. Quando notei, eu conectei o celular ao computador pelo cabo USB e fiz uma cópia de todas suas fotos e vídeos. Eu realmente não sabia o porquê deu estar fazendo aquilo. Arquivei num lugar bem complicadinho de se encontrar.

  Fui lutar. O que eu podia ter feito? Nada! Logo acabou escurecendo.  Fiz algo para comer e fui mexer no meu celular. Eu havia deixado de lado todas as minhas redes sociais e até deixei o WhatsApp de lado. Eu estava cheio de SMS. Fui lendo cada um, mas sem responder.

  Decidi que naquela semana eu não voltaria na escola. Ninguém iria sentir minha falta mesmo, então eu iria aproveitar a minha oportunidade. Acabei entrando no meu Facebook, e fui atrás do perfil de Kory Anders. Ela era uma pessoa famosinha, mas muito amável. Ela tinha vários e vários elogios dos amigos. Fotos com algumas pessoas que pareciam ser... Eu não sei. Notei que sua foto de perfil era junto com Xavier.

— Lindo, em? – Digo amargurado. Saio de meu Facebook o mais rápido possível.

  A semana passou bem rápido. E foi ótimo para eu poder faltar esses dias. Pude treinar bem mais, ter mais tempo para ficar depressivo e pensar como minha atual vida é uma verdadeira droga em relação a anterior, que era exatamente o contrário... Era perfeita.

  Depois que passou o final de semana, voltei para aquele inferno. O que meu pai queria eu realmente não sei. Eu já tinha boas notas. Já tinha apreendido a lição. Eu deveria agradecer todos os dias por minha vida e etc. Sempre que lhe mandava meu boletim, ele retornava com um e-mail dizendo:

“Muito bem! Continue desse jeito. Quando terminar de aprender o que foi aprender ai em Jump, eu te trago de volta.”

  E nem adiantava eu lhe mandar um e-mail dizendo que queria voltar ou qualquer coisa que não se relacionasse a escola e minha preciosa “lição”, há qual eu nem sequer sabia mais qual era. Ele nunca me retornaria. No máximo o lia, mas nem sequer se preocupava em responder.

  Lembro-me do primeiro mês em que cheguei aqui. Eu tinha até marcado o e-mail como IMPORTANTE. Ele havia me enviado um e-mail com todas as regras que eu deveria seguir a risca. Quando cheguei ao bairro, fiquei perplexo com o lugar em que fui parar e, quando entrei no pequeno apartamento fiquei horrorizado com tudo aquilo. Meu pai havia dito que minhas roupas já estavam me aguardando com algum dinheiro e materiais. Quando abri o guarda-roupa, notei que tinha apenas US$800 dólares e roupas se marca. Demorei a me adaptar com tão pouco e tive que aprender controlar todos meus gastos e aprender que tipos de roupas e coisas comprar para me passar por um cara comum. Quando abri o e-mail fiquei perplexo com o inicio do mesmo e horrorizado com as regras que deveria seguir a risco.

“Caro Richard,”

Primeiro, ele nunca me chamava de Richard.

“Com sua mudança, eu acredito que passara de um idiota mauricinho, para um novo e melhor homem. Porque eu realmente preferiria passar todo meu “Império” a Jason do que a você.”

Uou! Uou! Uou! Para o Jason? Como assim?

“Claro que, com sua mudança você recomeçará do zero. Com um novo estilo. Nova maneira de pensar e agir, então, terá que viver com menos... Bem menos do que sua antiga mesada.”

Como assim novo estilo e nova maneira de pensar e agir? Viver com menos do que minha “antiga” mesada? Da onde ele tirou antiga?

“E claro que, você terá que seguir algumas regras a risca se quiser voltar a ver a placa com o nome da Rua da Mansão Wayne.”

Como regras? Não volto se não seguir tais “regras”?

“1º – Você é apenas Richard John. NADA mais que isso.”

Só Richard? Ninguém me conhece por esse nome.

“2º – Você não é rico e apenas recebe dinheiro do seu padrasto para estudar em sua cidade natal, ou seja, Jump City.”

Não sou rico?

“3º – ESQUEÇA as suas antigas redes sociais. Nada de ter contato com os seus amigos de Gotham. Estarei de olho em você!”

O QUE?

“4º – Quero bons resultados, senão esqueça Gotham.”

Terei que... Estudar sério?!

.........

“Acredito que isso seja tudo. Além do mais, você receberá US$800 dólares por mês para pagar as contas, então não gaste com baboseiras e economize para a conta não vir alta, pois não mandarei mais dinheiro para você até o dia cinco do próximo mês.”

US$800 dólares? Não se faz nada com tão pouca quantia. Como ele quer que eu viva? De migalhas?

“E lembre-se... Enquanto não aprender sua lição, não volta para Gotham City.”

Que droga é essa, em? Que raios de vida é essa?

 Demorei muito para poder aprender a controlar o dinheiro, tanto que arrumei emprego como garçom em algumas lanchonetes. O salario não era grandes coisas, mas dava para me ajudar a pagar algumas coisas e eu juntei dinheiro para um computador novo. O salario era mais ou menos US$360 dólares por semana. Juntei dinheiro e pude mobiliar todo o apartamento e comprar um bom computador para atender minhas necessidades escolares.

  Quando notei, estava em frente à escola. Minhas lembranças havia me tomando quase toda a viagem, solitária de minha casa até aqui. Entrei na escola andando quase que colado aos armários para Xavier não me pegar. Pego alguns livros e guardo o celular da ruiva junto ao meu num fundo falso. Quando fechei meu armário, notei Xavier encostado no armário do lado.

— Bom dia, otário. – Ele me empurrou no chão e chutou minha canela bem forte. Eu resmunguei de dor e segui para a sala. Onde eu passava, todos me olhavam, cochichavam e riam. E, obviamente que, alguns engraçadinhos me empurravam e colocavam o pé na frente, e eu acabava tropeçando;

  Cheguei à sala, e notei a ruiva sentada ao lado da janela triste. Logo Mel e John passam ao meu lado e vão ao seu encontro. Ela os olhos e sorri esperançosa.

— Encontraram?

— Lamento Kory, nada. – O garoto respondeu.

— Koma vai me matar, assim que voltar e desconfiar. – Ela afundou o rosto nas mãos. Logo a sala se encheu e eu me sentei em meu lugar de sempre. A aula passou tranquilamente. Puxei um pedaço de papel e o cortei.

“Encontrei seu celular, mas não consegui devolvê-la. Você é linda! Não merece topar com um... Antissocial que apanha de Xavier e sua gangue.”

— Richard

  Quando o sinal bateu, informando o intervalo, corri para fora de sala o mais rápido possível e fui em direção ao meu armário e peguei seu celular e voltei para o armário da ruiva e o abri. Em seu celular, havia a senha anotada do mesmo. Deixei seu celular ali e o bilhete em cima do mesmo. Fechei o armário e sai dali. Ela passou por mim e eu a olhei. Alguém passou e me empurrou para o chão. Levantei e encostei-me a um armário qualquer. Vi a ruiva abrir seu armário e o sorriso que abriu ao ver o celular com a capa rosa. Ela puxou o bilhete e sorriu. Fiquei dali, a olhando. Era tão linda. Ela olhou para os lados, procurando se alguém a olhava, mas desviei o olhar, nisso Xavier passa por mim e vai até ela. Ela vira o rosto e lhe dá as costas.

— “Perfeito!”— Senti uma felicidade inexplicável.

Continua...