O Espirito do Lobo escrita por Sensei


Capítulo 29
A escolha mais dolorosa


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo.
O que será que a Erika escolheu no final?
Câmbio.



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Capítulo 28

Quando o canal de mensagem sumiu o soldado que estava a minha frente soltou um suspiro de alívio.

—Sinto muito. –Falei.

Ele sorriu, negando com a cabeça.

—Estou bem, senhorita. Vamos, eu preciso mostrar o caminho que deve seguir. –Ele disse.

Olhei para a escuridão silenciosa do abismo. Um calafrio percorreu minhas costas e respirei fundo, reunindo coragem. Eu estava sozinha, pela primeira vez.

—Vamos. - Falei de forma decidida.

Nós descemos juntos até o que pareceu ser uma encosta escura, como se fosse à beira de um precipício. Eu não conseguia sentir frio normalmente, mas minha pele estava arrepiada e meus ossos pareciam congelar.

—Ali. Está vendo aquele declive? Ele desce cada vez mais para baixo. Tem uma corrente de água quente que faz com que o visitante não congele e não seja afetado pela pressão. Mas só funciona para uma pessoa. –O Soldado explicou.

Acenei que sim com a cabeça.

—Então eu só preciso descer até encontrar Nadine? –Questionei.

—Sim. Ela está bem no fundo e é uma escuridão completa lá embaixo. Se você ver qualquer coisa brilhante, não chegue perto, apenas soe em voz alta que está ali para ver Nadine. E não saia, de forma alguma, da corrente de água quente. Entendeu? Isso é muito importante senhorita Erika. –Ele disse, a voz um pouco assustadora, e me segurou pelos ombros. –Essas instruções podem salvar sua vida.

—Sim. Nada de me aproximar de coisas brilhantes.  –Repeti.

Ele pareceu ficar mais tranquilo.

—Siga a corrente e você ficará bem. –Ele falou.

—Seguir a corrente. Entendi.

O soldado soltou meus ombros e fez uma leve reverência.

—Boa sorte senhorita Erika. –Falou ele. –Eu a esperarei aqui até que volte.

Fiquei surpresa com aquela afirmação e em seguida sorri me sentindo mais tranquila. Ele me esperaria aqui. Eu só tinha que me manter segura até chegar lá em baixo e arrumar um jeito de voltar. Acenei com a cabeça me despedindo brevemente dele, que sorriu, me encorajando. Segui até o declive e senti a corrente quente que ele havia falado.

Olhei para trás, o mar azul e o soldado, então pulei e entrei no abismo.

—--

Quanto mais baixo eu ia, mais escuro se tornava. No início eu ainda conseguia ver formas distintas, mas depois de um tempo eu não conseguia ver mais nada. Escuridão absoluta e sem fim. Eu não podia mais ver e meu corpo se guiava pelos sentidos.

Quanto tempo havia se passado?

Minutos? Horas?

Eu não tinha noção.

Eu seguia o calor que aos poucos me levava para mais e mais fundo. Até que eu já não me lembrava qual era o meu objetivo ali. Só queria chegar ao fim daquela escuridão.

Não acabaria nunca?

Estou nadando em círculos?

Onde estou?

Não há fim?

Isso é a realidade?

Será que já estou morta?

Esse é o inferno?

Comecei a respirar rapidamente, a água entrando em meus pulmões, cada vez mais rápido. A ansiedade me fazendo ter um ataque.

Foi quando uma pequena luz surgiu do nada e todo o meu nervosismo pareceu sumir. Era uma luz clara e parecia me trazer paz.

—Olá? –Chamei.

A luz se aproximou devagar, ficando cara vez maior e cada vez mais próxima. Até que a voz do soldado soou como um alarme na minha cabeça, me lembrando do meu dever. ”Se ver qualquer coisa brilhante, não chegue perto, apenas soe em voz alta... ”

—Estou aqui para ver Nadine.

A luz parou.

De forma lenta a luz começou a se espalhar ao redor me mostrando a forma de um polvo. Ele era gigante, tentáculos se moviam ao seu redor, cada um mais grosso que o meu braço.

Eu congelei, em pânico. Abracei a mim mesma numa forma fútil de proteção. O polvo moveu os tentáculos me encarando, como se esperasse por algo.

Eu queria fugir, mas o soldado falou que eu não devia sair da corrente.

Foi quando minha cabeça finalmente se esclareceu. O Polvo estava me esperando fugir. Ele estava esperando que eu enlouquecesse de medo e saísse da corrente, assim ele poderia me pegar.

Aos poucos meu medo foi se acalmando por saber que estava segura enquanto permanecesse na corrente. Olhei para o monstro e falei.

—Isso não vai acontecer. Estou aqui para ver Nadine. –Falei.

Então, reunindo toda a coragem dentro de mim, dei as costas ao polvo e desci cada vez mais.

—--

A cada metro uma luz diferente aparecia, antes que ela se aproximasse eu já me adiantava.

—Estou aqui para ver Nadine. –Falei.

E a luz desaparecia.

Eu descia, repetindo a mim mesma meu objetivo.

“Estou aqui para ver Nadine”

Até que aquilo se tornou um mantra, uma saída para não enlouquecer.

Então mais uma luz surgiu, dessa vez pouco mais a minha frente.

Eu paralisei.

Estava dentro da corrente. Como?

Se estava na corrente, podia me pegar?

—E-eu estou...

Gaguejei sem saber o que dizer, o medo fechando a minha garganta

—Está aqui para ver Nadine... –Uma voz falou.

Era rouca e melodiosa.

A luz a minha frente tremeu, então, lentamente, como aconteceu com o polvo lá trás, o corpo começou a brilhar ficando cada vez mais visível, até que, a minha frente uma siren se formou.

Da cintura para baixo ela tinha uma cauda de escamas, a ponta da cauda era formada de espetos, estes me pareciam extremamente mortais. Da cintura para cima ela tinha o corpo de uma mulher, a diferença era que sua pele era transparente, me deixando ver seus órgãos internos. Seus dedos eram grudados por uma membrana, ligando-os, e de cima de sua cabeça tinha uma espécie de antena, com uma luz na ponta.

Seus olhos eram leitosos... Ela era cega.

 -Eu sou Nadine. –Ela disse sorrindo, mostrando-me dentes pontudos e ameaçadores.

Uma siren... metade humana e metade peixe abissal.

—--

Minha voz não saia.

Nadine me encarava parecendo satisfeita com minha mudez aterrorizada. Ela gostava de se sentir assustadora.

—Você veio até mim... O que você quer? –Ela questionou.

Abri a boca e movi os lábios, mas nada saia.

Nadine riu baixinho, a risada ecoando na escuridão.

—Eu tenho um pedido! –Eu disse de uma vez, num guincho fino, com toda a coragem que tinha.

A siren nadou em minha direção girando ao meu redor, me fazendo encolher para evitar que ela me tocasse.

—Que tipo de pedido, Erika?

Ofeguei. Como ela sabia o meu nome?

O sorriso dela aumentou como se soubesse que havia me assustado. Respirei fundo tentando me acalmar.

—Me contaram que você tem o poder de viajar pelas dimensões.

—De fato. –Respondeu ela. –Esse é o meu poder.

—Eu preciso viajar até uma dimensão onde eu tenha um favor de Hécate e voltar. –Expliquei. –Isso é possível?

Nadine nadou de volta para o lugar onde estava quando cheguei, era uma espécie de cama, feita de pedras e algas. Ela se sentou, parecendo pensativa.

—Sim... É possível. –Ela disse. –Mas o que você me daria em troca?

Esse era o momento que eu mais temia. O que eu teria para dar em troca?

—O que você quer?

O sorriso de Nadine se expandiu. Parecia que era exatamente isso que ela queria ouvir.

—Desde que desceu até o mar você soltou três lágrimas de tristeza. Uma pela sua mãe. Outra por seu primo. E mais uma pelo seu amante. – Ela levantou três dedos. –Dê-me uma delas e eu permitirei que viaje entre as dimensões.

Coloquei a mão em frente ao peito, onde as pérolas estavam.

—Para que você iria querer essas pérolas? –Questionei.

Ela sorriu maliciosa.

—Eu poderia simplesmente dizer que isso não é da sua conta, mas... Acho que saber é bem mais divertido. –Ela riu. –As pérolas que as sereias soltam são a representação das memórias que você tem e compartilha com o outro. A memória da criatura com a qual você compartilhou momentos está dentro dessa pérola. Isso significa que a pessoa que você escolher... Se esquecerá de você.

Senti meu estômago afundar.

—Não, por favor. Por favor, não faça isso comigo. –Eu implorei, me afastando.

Ela era um monstro. Como ela poderia me pedir isso? A minha mãe, a mãe que me amava mais que tudo, que chorou milhares de pérolas de saudade de mim e pela qual eu ansiei todos os dias da minha vida. O meu primo, meu guardião, a quem eu confio com todo meu coração e esteve sempre do meu lado. E o meu amante, o homem que amo, o homem que adotou o meu filho como dele e que me amou sem reservas desde o primeiro momento.

Como? Como eu poderia escolher um eles?

Como eu poderia fazer um deles esquecer nossas preciosas memórias?

Eu não queria! Eu não podia fazer isso!

—Ou você me entrega uma lágrima ou não haverá trato. –Ela disse de forma simples.

Minha mente ficou em branco.

Eu pensei em todas as três opções e em três diferentes tipos de agonia. Eu não tinha saída. Eu tinha que conseguir o favor de Hécate ou todos iam morrer.

Levantei o rosto, o olhar cruel de Nadine me encarava, já ciente de que eu tinha feito minha decisão. Coloquei a mão no meu decote e tirei uma pérola. Olhei carinhosamente para a pequena pérola.

—Me desculpe, mamãe. –Falei lacrimosa.

Eu não podia abrir mão de Embry e Carter.

Nadine esticou a mão e eu coloquei a pequena pérola nela. A siren fechou a mão e uma luz azul brilhou, para se apagar em seguida. Eu fechei os olhos tristemente.

—Feito. –Ela disse, sorrindo.

Eu a olhei magoada.

—Mamãe... –Choraminguei.

Nadine riu.

—Por que tão triste? Eu só tirei as memórias dela, bobinha. –Ela piscou o olho cego. –Você ainda vai se lembrar. Para sempre. Ah, uma pena que só possa fazer isso uma vez por pessoa.

Ela riu.

Meu coração apertou. Aquilo era uma tortura? Ela queria que eu sofresse eternamente com aquelas memórias, sabendo que eu seria a única que as teria?

—Você é um monstro. –Falei.

Ela fez uma careta e se aproximou de mim, colocando seu rosto bem próximo ao meu.

—Hey, eu poderia ter sido um pouco mais cruel. –Disse ela como se não se importasse realmente.

Eu fechei os olhos, o rosto carinhoso da minha mãe ainda presente em minhas memórias. É, ela poderia ter disso mais cruel. Mas não apaga o que ela fez.

—Se recomponha, por favor? –Ela disse jogando mão para o lado num movimento blasé. –Detesto lidar com pessoas que não são profissionais.

Eu a olhei com amargura e respirei fundo.

—Eu já paguei o preço. Agora me leve para a dimensão em que eu tenha o favor de Hécate. –Falei.

—Atualmente há duas dimensões em que Erika McRae, você, conseguiu um favor da deusa Hécate. –Ela disse se afastando de mim e voltando a sentar na cama. – Em uma delas você perdeu seu pai e seu filho e sua família virou as costas para você. Então você entrou no mar, onde descobriu que sua mãe se suicidou após descobrir que seu pai morreu e agora você vive com seu irmão gêmeo e com mais sete sirens em orgia eterna.

Eu a encarei, chocada.

—Isso é sério? –Questionei.

Ela acenou que sim com a cabeça.

—Devo dizer, prefiro bem mais a versão dessa outra dimensão do que a você aqui da minha frente. –Ela apontou para mim com desdém. –Você é mais divertida na outra.

Engoli em seco e ignorei o que ela disse.

—E a segunda? –Perguntei.

—Na outra dimensão, você perdeu o bebê e foi para Forks, mas sua família não confia em você, vendo-a como uma delinquente. A sua irmã gêmea foi a escolhida para a missão que a você dessa dimensão possui, fazendo com que todos vejam como você é um incômodo. E você não tem ninguém vivo em quem confiar. –Ela respondeu com um sorriso.

Que vidas horríveis! Eu pensei em Carter e Embry, em como meus pais me amavam e em meus amigos. Eu tinha muito o que agradecer por essa vida.

—Eu tenho que escolher uma delas? –Perguntei.

—Claro! –Ela disse com um revirar de olhos. –Ou acha que vou ficar eternamente a sua disposição para viajar entre as dimensões.

Bufei, irritada com o comportamento dela.

—Você...!

Ela sorriu, lambendo os dentes pontudos.

—Obviamente uma das dimensões vai ser mais simples do que a outra de conseguir o favor de Hécate. Eu posso te dizer qual das duas se me der outra pérola. –Ela sugeriu.

Coloquei a mão em frente ao peito onde guardei as pérolas e a encarei com olhos cerrados.

—Achei que só pudesse fazer uma vez por pessoa. –Resmunguei irritada.

Ela deu de ombros.

—Eu só guardaria a pérola, deixando você em tortura eterna pensando se eu não poderia pedir a outra sereia para fazer isso por mim. –Ela riu.

—Não, obrigada. Vou escolher eu mesma. –Falei.

Ela deu de ombros num movimento desinteressado.

—Você que sabe. –Nadine se levantou da cama e nadou em minha direção. –Uma dica de graça. Não se esqueça de que você não deve tocar a si mesma nessa outra dimensão.

—Por quê? –Perguntei.

Ela sorriu girando ao meu redor.

—Só confie em mim, você não vai querer fazer isso. –A voz dela pareceu vir de todo lugar

Então ela nadou em círculos cada vez mais rápidos, era como se um redemoinho começasse a se formar até que ela havia sumido. Eu estava dentro do redemoinho, a água girando ao me redor, quando a voz dela soou.

—A esquerda está a dimensão em que você vive embaixo d’água. –Ela disse quando naquele exato momento um buraco se abriu ao meu lado. –Do lado direito, está a dimensão em que você vive na terra. –Outro buraco de abriu.

Qual deles eu devia escolher? Perguntei a mim mesma.

Nenhum dos dois parecia uma perspectiva agradável de se ver, mas eu precisava escolher e rápido. Foi quando algo que Tia Serafine me disse brotou de repente na minha mente e eu sorri, entrando em um dos buracos. 

Ainda pude ouvir a voz de Nadine ecoar na água antes de sumir portal adentro.

—Boa sorte.

—--


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Notas finais do capítulo

Para quem deixa review:OBRIGADA! Amo vocês Suas lindas *-*
Para quem não deixa por que não tem perfil: Tudo bem, eu perdoo.
Para quem não deixa por preguiça: Gente, o dedo não vai cair, faz esse esforcinho vai, por favor?
BEIJOOOS LIINDAS *----------*
RECOMENDEM PLEASE!
Câmbio e desligo



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