O Espirito do Lobo escrita por Sensei


Capítulo 21
A dor se torna algo belo


Notas iniciais do capítulo

É isso aí, Erika finalmente entrou no mar!
Okay, a partir de agora todos os capítulos narrados pela Erika serão debaixo da água, então quando imaginarem a cena, imaginem-a com cauda e o cabelo amarrado em uma trança.
Se quiserem podem pensar nos filmes da Barbie kkkkk
Câmbio e desligo



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Capítulo 20

Viajar pelo mar é tão cansativo quando andar na terra. Depois de um dia inteiro de viagem a minha cauda não conseguia mais se mover um centímetro, eu não tinha mais força para balançar e me colocar para frente.

—Ah, não aguento mais Rock. Não posso seguir em frente. Vá sem mim. Eu ficarei bem. –Falei me encostando em um coral e deitando o rosto dramaticamente.

Rock sorriu e negou com a cabeça, já acostumado com as minhas idiotices.

—Nós conseguimos um bom caminho até aqui hoje. Estamos quase chegando na cidade da anêmona.

Levantei o rosto, interessada.

—Cidade da anêmona? Não era Cidade Viva a mais perto de La Push?

Ele foi nadando a frente, de forma lenta como se me desse a chance de segui-lo.

—É chamada assim também como um apelido, por que tem uma anêmona gigante bem no centro onde os Sirens costumam se reunir para... –Ele pensou na melhor forma de explicar isso até achar o som correto. -...Socializar.

Mas o sorriso malicioso que ele deu em seguida me pareceu estranho, como se socializar não fosse bem a palavra correta. Nadei rapidamente entrando em sua frente, meus cabelos, amarrados em uma trança, caíram lentamente no ombro.

—O que você quer dizer com socializar?

Ele riu.

—É um lugar para procurar parceiros, Erika. Sejam sexuais ou amorosos. –Explicou.

—É tipo um lugar para achar um encontro?

Ele pensou sobre a definição e acenou que sim com a cabeça.

—Algo assim. –Percebendo meu interesse ele sugeriu: -Podemos passar por lá se quiser, fazer um pouco de... Como é o som que o Carter usou? Er... Turismo!

Pensei por um segundo, tentada a ver esse novo aspecto do mundo das sereias, mas em seguida desisti.

—Não, vamos descansar um pouco e continuar nosso caminho.

Ele deu de ombros, rindo um pouco.

—Você quem sabe.

Então continuou nadando em frente.

Rock estava certo quando disse que estávamos perto da cidade. Não precisamos nadar muito até encontrarmos o lugar, e eu não estou brincando quando digo que era a coisa mais incrível que eu já vi! Não era nada parecido com a cidade humana. Era bem fundo no oceano então a luz do sol não era muita, principalmente por que já estava anoitecendo lá em cima, mas eles não precisavam de luz do sol. Os corais, muito parecidos com o que mamãe entregou para nós, brilhavam na escuridão do mar como um neon. Alguns eram tão grandes que pareciam faróis.

Sereias e tritões nadavam por todo lado, peixes de diferentes tamanhos e cores, em grupos ou sozinhos, passavam de um lado a outro, numa sincronia sem organização alguma. Olhei bobamente para tudo ao redor, para toda aquela informação nova.

Eu me sentia numa espécie de Las Vegas subaquática.

—Bem vinda a cidade da Anêmona. –Rock falou, sorrindo.

—--

Rock procurou um lugar para descansarmos um pouco e passar a noite. Eu segurei em sua mão o caminho todo, morrendo de medo de me perder naquele lugar, e com mais medo ainda de alguém perceber que eu era uma completa caipira.

Acabamos ficando em uma espécie de pousada, na falta de uma melhor palavra para explicar. O dono era um Siren metade humano e metade tubarão, sua cauda tinha até a barbatana das costas e ele não tinha escamas como eu e meu irmão, era uma pele cinza e esticada, como um tubarão de verdade. Era incrível!

O lugar inteiro parecia ter sido levantado com pedras e corais e acolchoado com o que parecia esponja do mar. Eu não tinha ideia do que era aquilo por isso perguntei ao Rock. Ele ria a todo momento quando me via fazer caretas e questionando as coisas mais simples. Então percebi por que ele parecia tão feliz, havíamos mudado de lugar, dessa vez eu era o “peixinho fora d’água”. E isso o divertia demais.

—Para de rir! Mas que coisa! –Bati de leve no seu ombro.

Ele riu mais ainda. Agora entendi como ele se sentiu perdido nos primeiros dias morando conosco. Eu provavelmente erraria muitas coisas óbvias para ele que o farão rir de mim, do mesmo modo que eu ri dele por não saber usar o chuveiro.

—Vamos! Precisamos descansar um pouco e saímos em seguida.

Ele me puxou em direção ao que parecia um quarto, lá dentro havia uma bolha gigante... Não, mais como uma água viva.  Ele explicou que não era realmente uma água viva quando perguntei, mas algo que imitava o formato delas e serviam como as camas dos humanos. Quando me deitei percebi que na verdade eram muito melhores que camas, era como um puff gigante, mas que tinha água dentro. Eu não tinha como explicar em palavras a complexidade daquele objeto, mas desejei ardentemente trazer um desses para casa comigo.

Deitei-me na cama meio cansada, Rock estava de um lado para o outro organizando tudo. Sentia-me meio inútil, mas não havia o que fazer. Pensei em Carter e Embry, como será que eles estavam? E Bella? Será que haviam resolvido o mistério do vampiro que invadiu a casa dela?

Foi quando, nessas divagações, uma visão me tomou.

“Era Carter, ele estava com uma vampira, olhos vermelhos, cabelos negros e um olhar frenético.

—Qual é o seu nome? –Carter perguntou.

—Bree. –Ela disse.

Os cullens estavam lá também, eles olhavam tristemente para a garota.

—Ela se rendeu! –A voz de Edward soou em algum lugar.

O olhar de Carlisle era desolado. Ele queria ajudar a vampira.

Então os Volturi apareceram. Eles queriam mata-la”

A visão se foi tão rápida quanto veio. Passei uns segundos, confusa. Havia uma vampira que queria se unir aos Cullens e os Volturi queriam matá-la? Eu pensei sobre por que eu teria essa visão. O olhar desolado de Carlisle me impactando mais do que eu imaginaria ser possível. E aquela vampira... Bree. Ela era tão jovem, não devia ter mais que 15 anos, coitada.

Sem entender bem o que devia fazer eu apenas bufei, levemente irritada com meus próprios poderes confusos.

—O que foi? - Rock perguntou.

—Nada. Nada. –Falei, virando para o lado.

O que eu não podia mudar não seria mudado. Decidi esquecer isso por enquanto.

Não demorou muito para que dormíssemos, Rock e eu. Acordei algumas horas mais tarde com ele me empurrando com a cauda e falando que já havia amanhecido, que era melhor pegarmos o caminho para a próxima cidade se quiséssemos chegar antes de anoitecer. Antes de irmos embora, Rock comprou uma roupa para mim que não destacava muito dos outros sirens, uma vez que eu havia jogado fora meu biquíni há muito tempo e estava praticamente nua só com a parte de cima. Se houvesse algum momento em que eu precisasse voltar a ser humana seria realmente constrangedor. Ele me deu para vestir uma espécie de vestido feito de tiras azul royal, cobria meus seios em X e descia enrolando até a cintura, onde se abria em uma saia que provavelmente ficaria curta quando eu criasse pernas, mas que realmente ficou linda na minha cauda.

Continuámos nosso caminho pelos próximos 10 dias que se seguiram, as vezes parávamos em algum lugar para descansar, as vezes nadávamos noite a dentro usando o coral luminoso que mamãe havia nos dado para guiar o caminho.

Foi quando chegamos a cidade em que Mamãe e Rock costumavam viver.

—--

—Estamos perto? –Questionei certo momento da viagem.

Rock estava olhando de um lado para outro, havia um toque de nostalgia em seu olhar que me fez perceber que ele já havia vindo muitas vezes aqui antes.

—Sim. Essa é a última parada até chegarmos até a fortaleza da bolha de ar onde Tia Serafine mora. –Respondeu de forma aérea.

Franzi o cenho, confusa com a reação dele.

—Está tudo bem, Rock?

Ele pareceu perceber que estava agindo estranho e sorriu, tentando me tranquilizar.

—Aqui é onde eu e a mamãe moramos... Bem ali depois daquele declive rochoso. –Ele explicou. –Eu estava pensando em te levar até nossa casa.

Arregalei os olhos, entre surpresa e excitada.

—SÉRIO?! –Soltei um som alto fazendo com que alguns sirens que passavam ao redor olhassem em nossa direção. Me joguei em seus braços girando com ele na água. –Sim! Sim! Isso seria incrível!

Rock riu e me abraçou de volta, até que uma voz interrompeu atrás de nós.

—Rock?

Nós dois viramos a ponto de ver um tritão metade polvo olhando para nós de forma curiosa. Ele tinha cabelos curtos, cortado bem rente a cabeça, e sorria de forma maliciosa.

—Aí galera, parece que o Rock voltou! –Ele gritou.

Do declive onde Rock havia apontado que era nossa casa vieram um grupo de Sirens adolescentes, eles deviam ter mais ou menos nossa idade. Eram três garotas e quatro caras. Desses, duas garotas e três caras tinham escamas como nós, o garoto que restou era como o dono da pousada, metade tubarão, mas pela cor imaginei que era um tubarão tigre e não um cinza, enquanto a última menina não tinha cauda, ela tinha o corpo todo translúcido e fios gelatinosos no lugar das pernas, uma siren metade água viva.

Olhei para o grupo cara vez mais interessada.

Uma garota se destacou vindo mais rápido e parando a nossa frente, encarando Rock com um olhar esperançoso. Ela apareceu abraçada com o tritão metade tubarão, mas havia deixado ele para trás para se aproximar de nós, o que deixou o siren parecendo irritado.

—Shamrock... –Ela soou como se fosse um suspiro.

Olhei para meu irmão que parecia um pouco hipnotizado, sua expressão era triste, até que piscou e pareceu se recompor, sorrindo.

—Oi pessoal. –Ele disse sem muito ânimo.

—Achei que você tinha ido atrás do seu pai. –O garoto polvo falou, parecendo analisar o modo como eu e Rock ainda estávamos abraçados. –Mas pelo jeito você achou mais do que isso.

Rock franziu o cenho, parecendo não gostar do tom de voz dele.

—Essa daqui é a Erika, nós... –Interrompi.

—Estamos juntos.

Não havia mentido exatamente. Nós estávamos juntos, mas não sexualmente falando. Rock me encarou com a sobrancelha arqueada. Eu olhei para ele indicando que ele devia continuar o teatro.

—Estamos juntos. –Ele disse com um sorriso, dando de ombros no final. –Encontrei meu pai e um adendo inesperado também. –Ele me indicou com a cabeça. -Eu a trouxe para a casa da minha mãe, para ela se familiarizar com o lugar.

O grupo fez barulhos de choque.

A garota que havia parado em nossa frente olhava para Rock confusa, como se não esperasse aquela novidade repentina.

—Bom... Parabéns.  –A garota falou.

Sua expressão repentinamente sombria.

—Obrigado. –Ele disse com um aceno de cabeça.

Ela bufou levemente e voltou para onde o grupo estava, voltando a ficar no abraço do homem tubarão.

—Vamos embora pessoal . – Ela disse.

O grupo se foi dando olhares um pouco hostis demais em nossa direção.

—Minha nossa, o que foi isso? –Questionei.

Rock suspirou e pareceu entristecer. Ele pegou a minha mão e seguiu em direção ao declive, para a casa da mamãe.

—Aquela era a Memphis. Somos amigos de infância. –Ele explicou. –Eu me declarei para ela antes de viajar para encontrar o papai, mas ela disse que estava apaixonada por outro. Antigamente ela detestava esse grupinho, no entanto, parece que o tempo que passei fora os aproximou bastante. Quem diria que era pelo Gizo que ela estava apaixonada.

Ele suspirou tristemente.

—Sinto muito, Rock. –Falei colocando a mão em seu ombro.

Ele negou com a cabeça, sorrindo tristemente.

—Eu jamais imaginei que ela fosse olhar para mim daquele jeito.

Mais uma vez ele suspirou tristemente. Nadei um pouco mais rápido entrando em sua frente e sorrindo para tentar animá-lo.

—Vamos lá Rock. Não quero que me mostre a casa com esse tom de tristeza no rosto. Me dê um sorriso, sim?

Ele riu e em seguida tentou sorrir. Estava uma negação, mas ele tentou.

Por fim fomos em direção a uma casa, quer dizer, não era bem como uma casa da terra, parecia uma entrada de caverna, estava decorada com conchinhas e pedrinhas.

—Fui eu quem fez a fachada junto com a Memphis. Mamãe surtou no início, mas no final acabou se acostumando. –Ele disse, rindo levemente.

Sim, era realmente bonito. Ele me puxou para dentro, havia uma porta, quer dizer, uma esponja gigante no lugar de uma porta, pelo qual Rock passou facilmente, mas pediu que eu esperasse um pouco antes de entrar. Uns minutos depois ele apareceu novamente e me puxou para dentro, de forma que eu passei pela esponja também.

—Eu tinha que avisar ao Monu quem você era, ou ele poderia te machucar. –Ele avisou.

—Monu?

—A esponja que acabamos de passar.

Arregalei os olhos.

—A ESPONJA ESTÁ VIVA?!

Ele pareceu surpreso com meu surto.

— Ele cuida da casa. –Explicou. –Costuma envenenar quem não conhece.

Tremi levemente com a informação. O fundo do mar era um lugar muito perigoso! Parecendo ouvir meus pensamentos Rock riu baixinho.

—Vem, quero te mostrar seu quarto.

Parei, surpresa.

—Meu quarto?

Ele me puxou até um corredor e entrou num quarto com uma cortina de pérolas. Eu entrei em seguida vendo um teto transparente, havia uma cama como aquelas do hotel, um espelho gigante, havia joias e coisas de meninas... Havia também algo que se pareciam brinquedos.

—Ela fez para você há muito tempo. Vem decorando e aumentando de acordo com que o tempo passa. Eu não tinha ideia de que era seu até ela falar que eu tinha uma irmã, achava que era o quarto de descanso dela. Mas ela nunca dormiu aqui. –Rock explicou. –Era uma espécie de santuário. O quarto que ela queria que você tivesse se morasse conosco.

Senti meus olhos quentes e uma lágrima escorrer no meu rosto, apenas para que ela caísse do meu queixo e se tornasse uma pérola. Olhei chocada para ela que caia devagar para o chão. Rock se aproximou e a pegou.

—Isso saiu de mim?! –Perguntei.

Ele sorriu.

—Debaixo d’água não podemos chorar como os humanos, vocês choram de tristeza, choram de alegria, choram de emoção, nós não temos tantos sentimentos, tantas reações. Nossas lágrimas são apenas de tristeza e no final, para não se misturarem a água salgada, elas se tornam pérolas. Uma pérola para cada tristeza.

Como uma concha... A dor se torna algo belo.

Levantei o rosto e vi ao redor do espelho, milhares de pérolas. Ao redor do quarto, na cortina, na cama. Havia pérolas em todo lugar.

Senti meu coração doer um pouco. A minha mãe... A mãe que eu sempre pensei que nunca me quis, na verdade me queria tanto que chegou a criar um quarto para mim, apenas para sentir minha presença. Eu entendia bem o que ela fez. Em Nova York eu tinha feito um quarto para o meu filho, o berço perto para que eu pudesse levantar a noite e acalentá-lo. Chorei semanas ajoelhada em frente ao berço, sonhando com o que eu não tinha.

Por isso, ao olhar para a cama, podia claramente ver a imagem da minha mãe, chorando pela filha que não estava com ela. E enchendo o quarto com pérolas.

Ofeguei sentindo meu coração se encher daquele amor.

Rock se aproximou de mim, me dando um abraço.

—Ela ama muito você.

Eu sorri, sentindo o coração quentinho por dentro. Rock me entregou a lágrima que eu havia soltado pela mamãe e que virou pedra.

—Guarde. Pode vir a ser útil.

Então eu a escondi entre os seios, por dentro da roupa.

Pouco depois de apresentar a casa toda nós saímos em direção à fortaleza da bolha de ar. Durante o caminho, no entanto, eu me lembrei de algo interessante.

—Rock, você disse que a mamãe nunca contou de quem era o quarto, não é? Por isso que achou que era um quarto de descanso? –Questionei.

Ele acenou que sim com a cabeça.

—Isso. Nunca desconfiei que tinha uma irmã.

Eu sorri.

—Papai também tinha um quarto de menino. –Falei de repente. –Eu nunca soube de quem era, mas em toda casa que morássemos ele fazia um quarto extra que sempre permaneceu vazio. Quando engravidei, pedi que ele me desse o quarto para o bebê. Ele o fez, a muito contragosto. Eu nunca tinha reparado até você me contar sobre a mamãe... Mas o papai também fez um quarto para você! –Meu tom era um pouco surpreso. Eu nunca havia pensando naquilo, mas fazia sentido.

Rock pareceu surpreso também, em seguida sorriu, parecia feliz.

—Vamos... Vamos atrás de Tia Serafine logo. Eu quero voltar para La Push. –Ele disse.


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Notas finais do capítulo

Para quem deixa review:OBRIGADA! Amo vocês Suas lindas *-*
Para quem não deixa por que não tem perfil: Tudo bem, eu perdoo.
Para quem não deixa por preguiça: Gente, o dedo não vai cair, faz esse esforcinho vai, por favor?
BEIJOOOS LIINDAS *----------*
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