Tudo começou em uma fatídica manhã de quarta. Kageyama estava entrando em sua sala quando foi abordado por Hinata.

— Kageyama, olha isso! — Ele literalmente enfiou um panfleto na cara de Tobio.

— Tira isso da minha cara seu imbecil! — Kageyama segurou o braço de Hinata e o afastou. — O que foi?

— Vai ter uma convenção de cosplay aqui na cidade!

— E…?

— Vai ser super legal! — Kageyama tomou o panfleto de Hinata antes que ele o amassasse. — Imagina todos os cosplays maneiros que vão estar lá!

Kageyama não fazia a mínima ideia de como era um evento daqueles, mas ele não achava que tinha tantos cosplayers assim na região.

— Você vai comigo, Kageyama?

O sinal soou antes que ele pudesse responder e Hinata foi correndo para a sala depois de falar algo sobre seu professor.

×××

— Acho que vou naquela convenção com um cosplay de Naruto.

Kageyama encarou Hinata com o cenho franzido e o canudinho de sua caixinha de leite preso entre os lábios.

— Sério?

— É! A amiga da minha mãe é costureira, e ela disse que pode fazer a roupa pra mim... — Hinata pareceu envergonhado de repente, e começou a mexer em um tomatinho cereja de seu bentô com o hashi. — Você podia fazer o Sasuke...

— Nem pensar. — Kageyama disse imediatamente.

Hinata achou mesmo que ele fosse aceitar? Que ideia ridícula.

E ele nem era tão fã de Naruto assim.

Para o alívio de Kageyama, Hinata perguntou algo sobre a tarefa de matemática, mudando o assunto da conversa.

×××

Kageyama havia até se esquecido do tal evento de cosplay quando, do nada, Hinata disse que havia conseguido uma roupa do Sasuke para ele.

— Você não precisa ir comigo! — Hinata disse enquanto desviava dos tapas e socos de Kageyama. — Você vai lá em casa amanhã e só veste pra ver como fica! Foi a amiga da minha mãe que quis fazer!

Kageyama prometeu que provaria a roupa, mas não disse nada sobre aparecer em público vestindo aquilo.

Entretanto, no instante em que Kageyama saiu do banheiro da casa de Hinata usando a roupa, e viu o sorriso enorme que Shouyou e Natsu abriram, ele soube que teria que ir àquela maldita convenção de cosplay.

— Tá igualzinho ao Sasuke! — Natsu disse, ainda olhando boquiaberta para o amigo de seu irmão. — Não tá, nii-chan?

— Ficou parecido mesmo! — A forma como ele o olhou de cima a baixo fez Kageyama se sentir ainda mais envergonhado.— E a roupa serviu direitinho!

— Só o cabelo que tinha que ficar assim. — Natsu gesticulou com as mãozinhas para mostrar como o cabelo do personagem era arrepiado.

— É, tinha que ser tipo voosh. — Hinata fez os mesmos gestos. — Kageyama, a gente pode mexer no seu cabelo?

— O quê? Não!

— Por favor! — Natsu segurou a mão dele e deu alguns pulinhos. — A gente arruma depois!

— Tá bom. — Kageyama suspirou. Ele acabaria em situações ainda mais estranhas se não aprendesse logo a dizer não aos Hinata.

Depois de passarem alguns minutos tentando deixar o cabelo dele o mais parecido possível com o de Sasuke, eles chegaram à conclusão de que o cabelo de Kageyama sempre voltaria para o lugar.

"Pelo menos eles não tiveram a ideia de usar gel” ele pensou, sentindo-se aliviado, de certa forma.

— Se veste de Naruto, nii-chan! — Natsu pediu, ainda mexendo no cabelo de Kageyama.

— Ok, vou me vestir! — Ele pegou as roupas e foi para o banheiro.

Kageyama não soube dizer se aqueles minutos que ele passou sozinho com Natsu foram os mais vergonhosos ou os mais fofos de toda a sua vida.

A menininha não parava de falar sobre Naruto, e sobre como ela adorava o Sasuke, e como o seu irmão a ajudava a ler o mangá de vez em quando.

E quando Hinata saiu do banheiro — com os riscos nas bochechas e tudo —, ela ficou ainda mais feliz.

— Você ficou tão legal de Naruto, nii-chan! — Ela gritou e bateu palmas, e Kageyama não pôde deixar de sorrir para aquela cena.

Hinata se parecia mesmo com o Naruto, mesmo com seu cabelo laranja.

— É, parece que seremos uma ótima dupla naquela convenção, né Kageyama?

Ele não disse nada, com medo de acabar com toda a alegria de Natsu — só dela, ele não ligava para Hinata, nem pensar.

×××

Quanto mais a convenção se aproximava, mais empolgado Hinata ficava, e mais vergonha Kageyama tinha de ter que usar aquela roupa em público.

E aí, na véspera da tal convenção, Kageyama percebeu que não teria saída. Ele teria que usar aquele cosplay e andar por aí vestido de personagem de anime por um dia.

— Aqui tá o cos-

— Obrigado, Hinata — Kageyama quase gritou, tomando as sacolas de supermercado das mãos de Hinata e recebendo olhares de todos do time.

Por que Hinata resolveu entregar aquele troço logo depois no treino, bem na frente de todo mundo?!

— Que isso? — Perguntou Noya.

— É que-

— Nada, não é nada — Kageyama o interrompeu de novo.

Se ele deixasse, Hinata contaria a todos do clube sobre a convenção, e eles não podiam saber disso, de jeito nenhum. Principalmente o Tsukishima.

— O que foi, Kageyama? — Suga perguntou preocupado.

— A gente vai-

— Vocês estão enrolando demais! — Daichi gritou do lado de fora da sala. — Não vou comprar nikuman pra ninguém se vocês não saírem agora!

Enquanto todos se apressavam para sair, Kageyama deu um soco nas costelas de Hinata.

— O que foi?!

— Não conta isso pra todo mundo!

— Do cosplay? Aah, por que não?

— Porque não! — Ele suspirou e apertou a ponte do nariz. — Agora vamos.

Para o alívio de Kageyama, Hinata não tocou no assunto na frente do pessoal, e ninguém perguntou por que eles estavam estranhos assim.

— Kageyama — Hinata o chamou assim que se separaram dos outros no caminho para casa. — Vamos nos encontrar lá às dez?

— Sim.  

— Você sabe o endereço, né?

— Sei. Está naquele panfleto que você me deu.

— Ah, é verdade. — Eles chegaram até a esquina onde seguiam caminhos diferentes, e Hinata montou em sua bicicleta. — Então, até amanhã!

— Até.

Kageyama voltou para casa tentando ignorar a ansiedade que sentia. Era muito estranho achar aquilo parecido com um encontro?

×××

No dia seguinte, Kageyama acordou às nove da manhã se sentindo tão cansado quanto estava quando se deitou. Ele passou muito tempo rolando de um lado para o outro na cama antes de cair no sono.

Depois de tomar café e escovar os dentes, Kageyama vestiu roupas normais e saiu de casa com uma mochila nas costas.

É claro que ele não iria até lá de cosplay, nem pensar. O evento devia ter algum lugar onde ele pudesse se trocar.

A convenção aconteceria em um clube da cidade, que não ficava muito longe da casa de Kageyama. Para não incomodar seus pais, ele iria a pé.

Ao longo do caminho, Kageyama pensou em voltar para casa e mandar uma mensagem para Hinata dizendo que estava doente, ou alguma coisa assim. É claro que ele não faria aquilo, seria muita falta de respeito, mas a ideia não deixava de ser tentadora.

Aproximando-se do clube, Kageyama viu algumas poucas pessoas vestindo cosplays de personagens que ele desconhecia. Saber que ele não seria o único vestindo roupas estranhas ali o deixou mais tranquilo.

Kageyama estava tão distraído que nem percebeu que a pessoa que ele procurava estava bem ali na sua frente

— Kageyama! — Hinata estava ali na porta do clube, vestido de Naruto, com os riscos nas bochechas e tudo, e segurando sua bicicleta. — Cadê sua roupa de Sasuke?

— Você veio até aqui vestindo isso?! — Kageyama se sentiu envergonhado por Hinata.

— É, eu vim. — Ele levantou sua bandana, que começava a cair sobre os olhos. — Cadê sua roupa?

— Tá na mochila. Eu não ia sair na rua vestido daquele jeito! — Kageyama cruzou os braços, incomodado com toda aquela gente olhando para eles. — Vem, vamos entrar.

— Vamos!

×××

Como esperado, havia um vestiário só para cosplayers naquele evento. Hinata ficou do lado de fora enquanto Kageyama se trocava. Não havia quase ninguém ali dentro, então ele pôde se trocar tranquilamente.

— Kageyama! — Hinata o chamou logo que ele saiu do vestiário. — Um monte de gente pediu pra tirar foto comigo!

Hinata estava muito empolgado. Seus olhos brilhavam quase como quando ele falava sobre vôlei — espera aí, por que Kageyama reparou nisso?

— Tem barraquinhas de comida ali, e lojinhas ali, onde você quer ir primeiro? — Ele perguntou, levantando, mais uma vez, a bandana que caía sobre seus olhos.

— Quer que eu amarre essa bandana direito?

— O quê? Ah, é que eu amarrei de qualquer jeito antes de sair e aí o nó afrouxou, pode amarrar.

Kageyama soltou a bandana, puxou as duas faixas de tecido para trás e deu um nó.

— Tá muito apertado?

— Não, tá bom assim. — Hinata disse, e Kageyama deu um segundo nó.

Então, um flash e o som de obturador chamou a atenção dos dois.

Três meninas estavam paradas ali do lado, uma apontando a câmera do celular para eles.

— Que fofo! — Uma delas disse.

Kageyama ficou sem reação. Elas acabaram de tirar uma foto dele amarrando a bandana de Hinata?! E o que tinha de fofo nisso?

— Ah, desculpa! Eu esqueci de pedir para tirar! — A que estava com o celular na mão disse. — Querem que eu apague?

— Tudo bem! Não precisa apagar! — Hinata disse antes que Kageyama falasse qualquer coisa.

— Faz uma pose aí pra eu tirar outra foto!

Hinata tirou uma kunai de plástico do bolso e a segurou com o braço estendido para frente, agachando-se um pouco e sorrindo. Kageyama só ficou parado ao seu lado, sem saber o que fazer. As meninas riram e tiraram várias fotos, e Hinata parecia gostar da atenção que estava recebendo.

— Viu, Kageyama! — Hinata disse assim que as meninas foram embora. — Elas gostaram da gente!

— Só por que a gente está vestido de personagem de anime. — Kageyama revirou os olhos. — Vem, vamos olhar o que tem aqui.

O evento acontecia dentro da quadra coberta do clube, onde havia várias barraquinhas montadas. Em um auditório ali do lado, ocorreriam palestras e entrevistas, mas nenhum dos dois estava interessado nos temas que seriam abordados, então eles ficariam na quadra.  

Eles decidiram olhar as lojinhas primeiro, já que ainda era cedo e eles não estavam com fome.

Havia muita gente vestindo roupas estranhas. Kageyama se lembrou de uma reportagem que viu na TV sobre Akihabara, que mostrava pessoas vestidas mais ou menos da mesma forma. Por sorte, aquele evento não era tão lotado quando as ruas que apareceram na reportagem, entretanto, as pessoas ali pareciam ser mais barulhentas do que as que apareceram na televisão.

Como esperado, não havia muita gente de cosplay. Kageyama não conhecia tantos personagens assim, mas ele conseguia reconhecer vagamente algumas roupas e cabelos. Mesmo assim, ele não se sentiu tão descronfortável usando aquele cosplay de Sasuke, já que a maioria das pessoas ali não estava vestindo roupas normais.

Hinata ficava impressionado com tudo e não parava de falar sobre assuntos aleatórios. Estranhamente, Kageyama não se incomodou com Hinata falando sem parar, talvez ele já tivesse se acostumado. Mas uma sensação estranha subia por sua barriga toda vez que seus olhos encontravam os de Hinata, que brilhavam de empolgação, e Kageyama não fazia ideia do que era aquilo. Parecia aquele frio na barriga que ele sentia antes de jogos importantes, mas era um pouco diferente.

Havia umas sete ou oito lojinhas ali, com todo tipo a venda, desde camisetas estampadas com personagens de anime e jogos até álbuns caríssimos com fotos de cosplayers famosos. Kageyama viu coisas ali que ele nem imaginou que existissem — ele ficou particularmente impressionado com um mousepad de meninas de anime que tinha um apoio para pulso nada convencional.

Hinata comprou um chaveiro de um personagem que Kageyama não conhecia, e uma touquinha de panda para Natsu.

Várias outras pessoas pediram para tirar fotos dos dois. Hinata fazia poses diferentes, enquanto Kageyama só ficava parado ao seu lado, sem saber o que fazer. Mesmo assim, muita gente o elogiou, dizendo que ele estava igualzinho ao Sasuke.

Hinata tirou foto de todos os cosplayers que ele encontrou, e até com algumas pessoas que só estavam vestindo roupas legais.

E Kageyama até que estava se divertindo, considerando que ele achou que aquela seria uma experiência terrivelmente embaraçosa.

×××

Perto da uma da tarde, os dois resolveram almoçar.

Hinata pegou uma porção de guiozas de porco, e Kageyama pediu um yakisoba. A comida não era lá das melhores, mas dava para acabar com a fome.

— Ah é — Hinata disse assim que acabaram de comer. — A Natsu pediu pra gente tirar uma selfie.

Ele arrastou sua cadeira de plástico para o lado de Kageyama e tirou o celular do bolso.

Hinata abriu o aplicativo e mudou para a câmera frontal, e se inclinou para o lado, fazendo um sinal de paz e amor com a mão e sorrindo.

— Você tá cortando minha cabeça, levanta mais. — Kageyama tentou levantar o celular, mas Hinata tirou a foto mesmo assim.

— Ficou tremida!

— Tira outra. — Ele percebeu que havia um pouco de molho na bochecha de Hinata. — Espera aí, seu rosto tá sujo.

Kageyama lambeu o próprio polegar e o esfregou na manchinha escura. O rosto de Hinata estava tão perto do seu que ele podia até sentir o cheiro de guioza que seu hálito tinha. Isso era meio nojento, mas Kageyama sentiu aquela coisa esquisita na sua barriga de novo.

Por algum motivo estranho que nem ele mesmo sabia, Kageyama se lembrou daquela famosa cena de um dos primeiros episódios da série clássica, em que Naruto e Sasuke se beijaram acidentalmente.

E, por um motivo mais estranho ainda, Kageyama imaginou como seria se aquela cena acontecesse com ele e Hinata. Aquela ideia não lhe causou nojo nem nada do tipo, na verdade, ele sentiu aquele negócio subindo por sua barriga, só que dessa vez mais forte.

— Kageyama, você passou o dedo lambido em mim?! — Hinata esfregou a bochecha onde a mancha estava, borrando a pontinha dos dois riscos pretos. — Que nojo! Eu vou te lamber também!

Hinata o puxou pela camisa, colocando a língua para fora, e Kageyama sentiu seu coração parar com a certeza de que ele o beijaria naquele exato momento.

Kageyama o empurrou para longe, levantou-se e saiu correndo.

Sua cabeça estava uma bagunça, e ele ainda estava tentando entender por que pensou em beijar Hinata. Ele foi para o banheiro masculino e se trancou em uma das cabines, tentando se acalmar.

A cena do beijo de Sasuke e Naruto se repetia em sua cabeça, e ele também pensava em Hinata e nas vezes que ele sentiu aquela coisa estranha em sua barriga. O que era aquilo?! Por que ele se sentia tão confuso assim?

— Kageyama? O que aconteceu? — A voz de Hinata veio acompanhada de uma batidinha na porta da cabine. — Tá passando mal?

— Não. — Kageyama se encostou na parede e esfregou o rosto. — É só que...

— Você tá bravo comigo?

— Não. — Kageyama pensou em chamá-lo de imbecil, mas preferiu ficar quieto.

— O que foi então?

Nem ele sabia direito o que estava acontecendo, como explicar toda a situação para Hinata?

Kageyama respirou fundo. Era melhor pensar sobre isso depois.

— Nada, não foi nada. — Ele abriu a porta da cabine e foi até a pia, enquanto Hinata o olhava com ar de preocupação.

— Então tá...

Kageyama jogou um pouco de água no rosto, percebendo que suas bochechas estavam quentes demais.

— Ei, Kageyama.

Tudo aconteceu muito rápido. Ele virou a cabeça para o lado quando ouviu seu nome, no mesmo instante em que Hinata lambeu sua bochecha, fazendo com que a língua dele fosse parar em seus lábios entreabertos.

Nenhum dos dois se mexeu por um tempo — quanto tempo? Segundos? Minutos? O cérebro de Kageyama parecia estar em curto-circuito, era bem provável que fumaça estivesse saindo de suas orelhas. Ele não sabia dizer se estava gostando de sentir a língua de Hinata em seu lábios, mas Kageyama percebeu que talvez — ênfase em talvez — ele estivesse desenvolvendo sentimentos por Hinata, sentimentos que ele nunca teve por nenhuma outra pessoa antes.

E quando parecia que não dava para piorar, a porta do banheiro se abriu.

— Entã- Wow o que tá acontecendo aqui?!

Kageyama empurrou Hinata para longe e finalmente olhou para quem acabara de entrar. Era ninguém mais ninguém menos que Oikawa Tooru, que os olhava incrédulo com uma mão cobrindo os olhos da criança que estava ao seu lado.

— O que foi, tio? — O garoto perguntou, tentando tirar a mão dele de seu rosto.

— Não foi nada, é que eu conheço esses dois. — Oikawa afagou a cabeça raspada do menino. — Vai lá.

— Oi — o garoto murmurou quando passou por Hinata e Kageyama, e entrou em uma das cabines.

— Ora ora, Tobio-chan, não imaginei que fosse te encontrar aqui. — Oikawa se apoiou no batente da porta e puxou seus cabelos para trás. — Ainda mais se agarrando com o Chibi-chan no banheiro.

— N-não foi nada disso! Você entendeu errado! — Hinata gaguejou. Parecia que ele estava prestes a vomitar.

— Esse idiota estava tentando me lamber! — Kageyama deu um passo para trás, tentando ficar ainda mais longe de Hinata. — A gente não tava...

De todas as pessoas que estavam naquele evento e que poderiam entrar naquele banheiro, tinha que ser justo o Oikawa?!

— Claro claro. — Oikawa deu uma risadinha sarcástica. — Aliás, legal o cosplay de vocês.

— Obrigado — Hinata respondeu sem perceber que aquilo não era bem um elogio.

O sobrinho de Oikawa saiu da cabine, interrompendo o clima estranho que se formara ali, e olhou para Hinata e Kageyama com certo ar de admiração.

— Lave as mãos, Takeru.

— Tio, eu posso tirar uma foto com eles? — Takeru perguntou, ficando na ponta dos pés para alcançar a torneira.

— Claro que pode, não pode, Tobio-chan?

Kageyama e Hinata concordaram em silêncio. Depois de saírem do banheiro, eles posaram ao lado de Takeru, que ficou parado entre os dois fazendo um sinal de paz e amor com a mão, enquanto Oikawa tirava a foto com o celular.

— Tobio-chan, você saiu com uma cara meio esquisita, parece que você está constipado — Oikawa disse em tom desdenhoso, entregando o celular para seu sobrinho. — É normal ou você quer tirar outra foto?

— É assim mesmo — Kageyama respondeu qualquer coisa, só para Oikawa ir embora logo.

— O Sasuke é bem sério, tio, ele sempre tá com essa cara — Takeru disse, devolvendo o aparelho para ele. — Obrigado por deixar a gente tirar foto.

— De nada — Hinata respondeu.

— Agora vamos dar mais uma volta por aí. Até mais, Tobio-chan e Chibi-chan.

Os dois ficaram parados, vendo Oikawa se afastar cada vez mais.

A cabeça de Kageyama estava ainda mais bagunçada, e ele sentia muitas coisas ao mesmo tempo — principalmente vergonha. Primeiro ele percebeu que talvez estivesse gostando de seu colega de time, depois veio aquela lambida — ou beijo acidental? Ele não fazia ideia — e o Oikawa, o Grande Rei Oikawa, presenciou aquela situação toda. Não tinha como aquele dia ficar pior.

— Acho que vou vomitar — Hinata murmurou ao seu lado.

— Corre pro banheiro então, a gente já passou vergonha demais hoje.

— Foi sua culpa, Kageyama! Por que você virou a cara bem na hora? — O rosto de Hinata estava completamente vermelho, assim como o de Kageyama.

— Você me chamou! Eu ia saber que você tava com a língua pra fora pra me lamber? — O estômago de Kageyama começou a doer, talvez por causa do nervosismo. Agora, ele só queria voltar para casa.

— Acho que vou embora — Hinata disse como se pudesse ler sua mente. — Já vi tudo o que tinha por aqui. Você vai ficar?

— Não. Estava pensando em ir embora também. Posso te acompanhar até sua casa. — A única coisa que Kageyama tinha para fazer naquele dia era uma tarefa de matemática, então ele acompanharia Hinata sem problemas.

— Não precisa.

— Tudo bem, eu não tenho nada para fazer hoje.

Os dois saíram da quadra e pararam para pegar a bicicleta de Hinata antes de irem para a rua. Eles caminharam lado a lado por um tempo, o único som ali sendo o da corrente da bicicleta de Hinata e o dos carros passando na rua.

Kageyama ainda pensava em toda aquela situação que ocorreu no banheiro. Aquilo podia ser considerado um beijo? Ou foi só uma lambida? Ele não fazia ideia.

— Eu nunca tinha beijado ninguém — Hinata disse do nada.

— O quê?! — Kageyama não fazia ideia do que dizer. Então Hinata considerou aquilo como um beijo? — Como assim…?

— Aquilo foi meio que um beijo, não foi? — Hinata parou, segurando a bicicleta pelo guidão. — Tipo o Naruto e o Sasuke no começo da série clássica…

Então Kageyama não foi o único que pensou nessa maldita cena.

Se Hinata considerou aquilo como um beijo, então aquele também fora o primeiro beijo de Kageyama.

Um primeiro beijo muito vergonhoso.

— Você não vai contar isso pra ninguém, né? — Kageyama voltou a andar, sentindo que suas mãos estavam mais suadas do que deveriam.

— Claro que não! — Hinata apressou o passo para alcançá-lo. — Mas o Oikawa…

Kageyama não tinha pensado nisso. Oikawa provavelmente contaria a todos da Aoba Josai o que ele presenciou no banheiro daquele evento. Ótimo.

— Ah é, eu te falei daquele filme que eu vi?

— Não.

Hinata começou a contar detalhadamente sobre um filme americano que ele assistira na semana anterior. A história era confusa, e ele não se lembrava do nome da maioria dos personagens, mas foi uma boa distração para que Kageyama não pensasse em todas as dúvidas e memórias embaraçosas que inundavam sua cabeça.

E, antes quando ele se desse conta, os dois estavam na porta da casa de Hinata.

— Quer entrar? — Hinata convidou timidamente.

— Não, já está um pouco tarde.

Eles ficaram calados por alguns minutos enquanto Hinata guardava sua bicicleta, o suficiente para Kageyama se lembrar de que ele talvez estivesse gostando de Hinata, o que deixou aquele silêncio ainda mais constrangedor.

— Até mais.

Hinata o abraçou com força, envolvendo sua cintura com os braços e escondendo o rosto em seu peito. Kageyama ficou sem reação, sentindo o calor dele junto ao seu corpo e a placa de metal da bandana pressionada contra sua clavícula.

— Obrigado por ter me acompanhado no evento! — Hinata disse quando o soltou, e correu para dentro de casa.

Kageyama ficou parado na calçada, atônito. Seu coração batia muito rápido, e ele ainda podia sentir o cheiro do shampoo de Hinata. Ele olhou para baixo, e imaginou Hinata ali, abraçando-o.

E aí, Kageyama percebeu que ainda estava vestindo o cosplay de Sasuke e que teria que voltar para casa assim.