Alguns dias tinham se passado desde o resfriado repentino de Elsa e ela agora se sentia totalmente curada. Seus poderes retornaram ao estado anterior a sua doença e estavam sob controle novamente. Além disso, ela e Anna retornaram as suas respectivas rotinas e deveres. Elsa como rainha, desempenhava o papel de chefe de Estado de Arendelle e tinha que cuidar da política de seu reino. Anna, por sua vez, retornara as suas aulas com sua tutora, sra. Ella.

Mas nem tudo era rotina para as irmãs. Anna passara a dormir todas as noites com Elsa e elas sempre jantavam juntas. Havia sido um tipo de trato estabelecido por Anna.

— Você não tem ideia o quão desagradável é acordar e não encontrar você ao meu lado para dar bom-dia. — resmungou Anna

— Sinto muito, Anna. Meus compromissos iniciam antes de suas aulas, por isso acordo mais cedo. Não acho justo você acordar no mesmo horário que eu. — justificou-se Elsa

— Eu não me incomodaria!

— Oh, é mesmo, princesa Anna? — duvidou Elsa com uma sobrancelha arqueada

Anna pigarreou.

— Pode apostar! — rebateu — Além disso, o ponto é que costumo tomar café da manhã e almoçar sem você! É solitário, Elsa! — choramingou

— Desculpe, Anna, mas há muitas pendencias a serem resolvidas ainda. Com tudo que aconteceu após a coroação... — algumas lembranças desagradáveis cutucaram em sua mente, mas ela balançou a cabeça tentando afastá-las — Não será sempre assim, Anna. Estou me esforçando ao máximo para corrigir tudo que é preciso, para que então tenhamos mais tempo. Nem que seja café da manhã e almoço juntas todos os dias.

Anna brincava com a ponta de uma de suas tranças enquanto encarava a irmã.

— Promete?

Elsa sorriu e confirmou com um balançar de cabeça.

— Prometo. Agora preciso ir. Tenho uma reunião com alguns parceiros comerciais.

— Espere. Já que durante o dia você é tão ocupada, faça um esforço para jantar comigo todas as noites, então? Os deuses sabem quando você resolverá tudo que precisa. Não quero ficar esperando, minha rainha. — falou Anna determinada

Elsa amava aquela expressão obstinada e petulante no rosto de Anna.

— Muito bem, princesa Anna. Os jantares serão nossos! — declarou solenemente — Vejo a senhorita mais tarde, alteza.

Anna sorriu da brincadeira da irmã e antes de se separarem beijou-lhe a bochecha delicadamente. Os beijos também se tornaram rotina. Principalmente por parte de Anna. Elsa ainda se sentia desconcertada sempre que os recebia. A lembrança do quase beijo sempre vinha a sua mente nesses momentos.

Anna adorava como Elsa corava toda vez que ganhava um beijo. Ela tinha certeza que a irmã não esquecera o quase beijo assim como ela. Era diferente e confuso o sentimento e o pensamento. Mas a fazia feliz a lembrança.

Agora com uma pilha de papeis para analisar, Elsa sorria com a lembrança do acordo que fizera com a irmã. Não apenas do acordo, mas também do beijo. Lembrar-se do quase beijo e dos beijos que ganhava de Anna causava uma sensação que a rainha ainda não tinha certeza do que se tratava. Elsa percebera que vez ou outra se pegava pensando em sua irmã, lembrando as coisas que faziam juntas e ansiando pelo anoitecer quando então jantariam juntas e iriam para cama conversar até caírem no sono. Esta era definitivamente a melhor parte de seu dia.

Elsa sacudiu a cabeça levemente tentando retomar sua concentração. Papeis referentes a acordos políticos e tratados comerciais ela estava conseguindo manter em dia, no entanto havia uma quantidade de cartas que ainda permanecia fechada. Estas, não envolviam politica ou comercio, não diretamente pelo menos. Tratavam-se de pedidos de casamento. Embora ainda fechadas, a rainha sabia o assunto principal, pois cartas contendo pedidos de casamento e aliança militar carregavam um tipo diferente de símbolo.

A rainha encarou as cartas e decidiu que ainda não lidaria com elas. Ela estava protelando a situação obviamente. Chegaria o momento que ela teria de abri-las e lidar com a situação da melhor forma possível. Ela só não se sentia pronta naquele momento. Prometeu mentalmente a si mesma que resolveria o mais breve possível.

Uma leve batida na porta a despertou de seus pensamentos.

— Entre.

Kai cruzou a porta e curvou-se respeitosamente.

— Com sua licença, majestade. Princesa Anna solicita sua presença para o jantar. — informou ele

Elsa abriu um sorriso.

— Está bem, Kai. Muito obrigada. — Agradeceu ela. — E, não precisa avisá-la. Farei uma surpresa.

Anna estava sentada a grande mesa de jantar aguardando por sua irmã, ela balançava a perna impacientemente.

— Puxa vida! Custa ela não demorar tanto?! — resmungou para o vazio que a cercava — Ela não deveria gastar nosso tempo com a cara metida em tantos papeis! Tudo bem que ser rainha é algo grandioso que exige muita dedicação, eu entendo! Mas são muitos anos que temos para repor!

Anna resmungava como se conversasse com alguém. Estava tão entretida que não percebeu Elsa se aproximando da mesa.

— O que você tanto resmunga, afinal, Anna? — indagou a irmã de forma provocativa

A princesa assustou-se e esbarrou na borda da mesa ao se levantar. Um gemido de dor escapou de sua boca deixando sua irmã preocupada.

— Você se machucou? — precipitou-se Elsa em direção a irmã

— Eu sou resistente à dor! — respondeu Anna sorrindo

A rainha acariciou suavemente as costas da mão da irmã e então iniciaram seu jantar como de costume.

— Então, estive pensando. — Começou Anna após algum tempo. — Será que você pode me emprestar seu dia de amanhã?

Elsa levantou o rosto de seu jantar.

— Por que, princesa Anna? O seu dia não é suficiente para todas as suas atividades? — perguntou com um sorriso provocante

— Engraçadinha! — rebateu Anna — Amanha é fim de semana e tenho planos para um passeio no qual você está totalmente incluída, Elsa!

— Isso foi um ultimato? — Elsa arqueou a sobrancelha

— Com toda a certeza! — confirmou determinada — Portanto nem adianta tentar fugir, majestade!

Elsa deu uma risadinha e após entornar um gole de sua bebida encarou a irmã que a observava e expectativa óbvia.

— Elsa! — reclamou Anna

— Muito bem, princesa Anna. Para onde você me levará amanhã?

Anna balançou o dedo indicador em sinal de negação.

— Não vou dizer! Apenas espere e verá.

Elsa ficou observando o sorriso misterioso na face de sua irmã.

— Seu sorriso é tão lindo, Anna. — comentou docemente

— O-o que? Você acha mesmo? — indagou a mais nova

A rainha maneou a cabeça em sinal positivo.

— É provavelmente o sorriso mais belo que já vi. E-eu — ela hesitou – sempre quis dizer isso a você. — admitiu timidamente

Uma sombra de rubor percorria a bochecha de Anna e ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— O mais belo que você já viu? — repetiu a princesa

Ela sabia muito bem o quanto Elsa deveria estar se esforçando para dizer o que disse, mas ela queria ouvir novamente. Queria ouvir Elsa repetir o elogio que estava causando aquela sensação de euforia em seu peito, algo semelhante ao momento em quase a beijara por acidente.

— Sim, Anna. Você é uma linda jovem, não é surpresa que você tenha o sorriso mais lindo, então... — Elsa limpou a garganta e entornou sua bebida

A altiva rainha de Arendelle estava ali tão desconcertada enquanto tecia um simples elogio a irmã mais nova. Anna quase não acreditava no quanto Elsa poderia ser tão fofa.

— Você é tão fofa quando está envergonhada, Elsa.

— E-eu não estou envergonhada, Anna. — desconversou ela desviando o olhar

Anna pousou a mão sobre a sua

— Então por que sua taça está ficando congelada?

Elsa arregalou os olhos e imediatamente descongelou o objeto.

— Perdão, Anna. Ainda deve ser por conta do resfriado-

— Tudo bem, Elsa. — interrompeu a mais nova — Você não precisa mentir para mim. Esconder as coisas não nos fez bem. Podemos tentar ser honestas daqui por diante? – pediu enquanto acariciava a mão da outra

— Você tem razão, Anna.

Elas caminhavam de braços dados lentamente rumo aos aposentos da rainha. Um silêncio agradável pairava no ambiente, e ambas as jovens estavam perdidas em seus pensamentos.

— Obrigada. — murmurou Anna quebrando o silêncio

— Perdão, Anna, mas você poderia ser mais clara?

— Pelo elogio de ainda pouco. Eu adorei!

Elas reduziram os passos parando em frente a uma porta branca. Elsa desvencilhou-se de Anna e acariciou seu rosto com ternura.

— Eu apenas disse a verdade. — falou com um sorriso

Anna aproveitou em silêncio a sensação delicada do carinho de Elsa.

Elas permaneceram se fitando e então a distância entre seus rostos diminuía gradativamente. Anna já era capaz de ver as sutis sardas na face de sua irmã, sardas que só eram possíveis de serem vistas com detalhe quando observadas muito de perto.

— Suas sardas... — sussurrou Anna

Elsa piscou algumas vezes como se estivesse acordando de um sonho.

— O-o que? — Gaguejou.

— Suas sardas. De perto eu posso vê-las melhor.

Elsa tomou consciência do quanto a face de Anna estava perto da sua e se afastou.

— E-eu vou me trocar para irmos dormir, Anna. Por que você não vai até seu quarto se trocar também?

— Mas, Elsa... — dizia Anna

— Já é tarde, Anna. Você não me levará para um passeio amanhã? Não demore, sim?

Dito isso, rainha Elsa não esperou pela resposta da irmã e seguiu para o interior do quarto deixando para trás uma Anna confusa e com uma estranha sensação de frustração.