Eu nunca havia visto tanto preto, nem no velório de Jen.

Era tanta gente em uma única igreja que meus cachos ruivos me incomodavam por eu os achar tão chamativos. Um dos poucos momentos em que eu os quis realmente prende-los. Eram tantos heróis que eu não fazia ideia da existência que me senti uma iniciada, como se não fosse uma Vingadora há cinco anos e não tivesse experiência nisso. Alguns eu fui apresentada, e outros chegaram a mim e contaram.

Lion foi comigo e estava abalado, não apenas por ele saber que isso vai trazer problemas para os heróis e que eu estou nesse mundo, como pelo fato de seu primo estar na explosão. O mesmo não sobreviveu. Não consigo me focar na oração, mesmo me sentindo no dever de o fazer. Meus pensamentos estavam distantes, algo que o pastor sempre pedia para evitarmos durante um culto, mas a ocasião era tensa demais.

Quando todos começaram a se levantar e sair, eu permaneci. Olhei para a parede e vi Krys se afastar de seu esposo e se sentar ao meu lado. Fechei os olhos e respirei fundo. Lion segurou minha mão. Eu conheci Daniel Mason em uma festa de aniversário de Lion. Era um garoto muito gentil e cheio de sonhos. Não precisava acabar assim.

— Meri, isso pode ser grande coisa, mas também pode não ser nada. Tudo o que você precisa é ficar tranquila e atenta. - explicou Krystal.

— Estão culpando os heróis. - retruquei.

— Hey, já culparam a S.H.I.E.L.D. por muita coisa! - ela tenta me animar – A questão é não se estressar com isso agora, tá?

— O que pode acontecer de ruim? - perguntou Lion, me abraçando.

— Viu! Lion tá certo! - afirmou Krys – Tem muita coisa boa acontecendo, Meri. E você é a primeira a afirmar isso! Está noiva, acabou de se formar, tem uma vida quase perfeita... o que pode dar errado?

— É, acho que vocês têm razão. - falei, esticando minha coluna. Eu conheço muito bem a introdução da música Take You Back, e sabia que, na maior parte das vezes que se é ouvida, vem do celular de Krystal, como era no caso daquele momento.

— Um minuto. - ela diz, se levantando - É da S.H.I.E.L.D., tenho que atender.

— Vai nessa. - falou Lion. E foi só ela se retirar... - Quero falar sobre a sua roupa.

— O que foi? - perguntei.

— Você fica melhor de vestido rodado.

— Pensei em um estilo mais maduro.

— O estilo maduro não cai bem em você.

— O que você quer com isso?

— Você mudou. Somos pessoas completamente diferentes. O casal de cinco anos atrás não existe mais.

— O que quer dizer com isso? - perguntei olhando em seus olhos, assustada.

— Que não importa o quanto você mude, o meu amor por você vai ser o mesmo e eu preciso que você, corresponda a isso.

— Mas é claro que sim! O que foi? Eu não vou deixar você! - segurei sua outra mão.

— Assim espero. E outra coisa, não pense que você amadurecer é motivo para abandonar seu estilo. Há bastante tempo não vejo a Princesa Vingadora.

— Foi uma faze.

— Ah, foi?

É, eu concordo. Eu tentei reprimir parte da garota que fui aos poucos deixando de ser. A princesinha fofa que se mistura à gótica maluca, que aliás, não tem nada a ver com "Princesa Vingadora". Mas eu gostava daquilo, seja lá o que fosse. Eu amava ser ela. Mas isso foi perdendo a graça. Ou talvez eu tivesse esfriado. Lion beijou minha testa e, então, ouvimos uma confusão do lado de fora. A seguimos e vimos uma mulher brigar com Tony Stark.

— Senhora, eu sei como se sente, mas aquele incidente não tem nada a ver comigo. - afirmou Tony, tentando manter a calma.

— Ah, sério?! - a mulher retruca - Quem financia os Vingadores? Quem esteve colocando na mente de crianças que elas podem viver acima da lei se usarem roupas ridículas e chamativas?! Policiais precisam treinar e carregar insígnias, mas isso não vale nada para você, não é?!

— Alguém a tire daqui! - pediu Happy, que agora era guarda-costas do Stark.

— Você também tem parte nessa loucura, Stark. Agora você também é culpado pela morte do meu filho!

Parker estava no meio da multidão, tirando fotos. Estava lá apenas como o fotógrafo do Clarim Diário. A mulher foi tirada de lá, e logo depois encarei Lion com um olhar de medo. Eu não queria que o fim fosse desse jeito. Não queria que houvesse um fim. E um provável estava perto. Lion foi para a casa dele e eu fui para a minha. Krys estava resolvendo problemas do trabalho dela e eu precisava esfriar a cabeça. Tomei um banho gelado e fui dormir.

Ao acordar, estava decidida a não me deixar abater pelo dia anterior. Vesti algo confortável, fiz minha higiene matinal e desci as escadas, logo observando que meus irmãos estavam sentados no chão, brincando com Lola. Estranho. Quase sempre, ou ainda estão tomando café ou nem acordaram. Acordei tão tarde assim? Olhei o relógio: dez da manhã. Eu sempre acordo cerca oito horas da manhã. Dormi demais, sim.

— Filha, está tudo bem? Quase que você perde o café! - falou minha mãe preocupada, segurando minha mão.

— Estou ótima! - respondi – Melhor do que ontem.

— Conhecia o garoto? O primo do Lion? - ela perguntou.

— Sim, mas nos vimos pouco. Ele era legal.

— A família dele deve estar péssima. - comentou – Mas não vamos falar disso agora. - continuou, se sentando no sofá.

— Mãe, eu – me sentei e continuei – estou um pouquinho preocupada. Você viu aquela mulher falando com o Stark lá na igreja? Culpando, não só ele, mas nós, os Vingadores, pelo que aconteceu?

— Isso vai dar grandes problemas, mas não vamos pensar nisso agora.

— Por que não? O mundo está uma bagunça dês de ontem. Temos que nos preparar para o que vier!

— E se nada vier? E se isso passar?

— Bem... preciso de ar livre.

— Vai dar uma caminhada. Pode ser bom. - ela sugeriu, beijando minha testa.

— Sim, mãe. Te amo.

— Eu também.

Antes de sair, tomei o meu café da manhã (suco de uva com soja e sanduiche de queijo branco com frango, opção saudável), e então voltei e me troquei de novo, dessa vez, pondo uma calça de tecido justa e uma blusa comprida, mas leve, com um tênis para completar. Era a roupa que eu usava para caminhar. Começo a correr. Ando muitos quarteirões acompanhada apenas por meus pensamentos. Minha vida era ótima, meu pais eram ótimos, meu noivo era ótimo, meu emprego, trabalho, família... o que poderia dar errado agora? Isso me faz pensar em Thor, que disse isso em Sokovia e atraiu confusão. Não subestime o destino.

Mas eu tinha o amor de todos os meus amigos, da minha família! Um amor tão quente e duradouro, que sempre me serviu de farol para as coisas que passei e que sabia que ainda ia passar. Então, começo a pensar em algo: uma canção. Só não sabia de quem. Então, parei em uma calçada e anotei em meu celular em meu celular:

"Como uma estrela é esse Amor

Mostram do norte seja onde for

Amor que queima como um Sol

Uma luz que parece um farol"

Eu já havia escrito essa música em algum lugar, só não sabia exatamente quando, já que o T.H.A.I.T.I. bagunçou minha cabeça. Tento me recordar do resto dela, mas não me vem a mente. Decido caminhar mais. Quem sabe eu não me lembro do resto? Então, ao invés de pensar nisso, o nome de Daniel Mason invade minha memória. Era um garoto divertido e brincalhão, cheio de vida e com um futuro brilhante pela frente. Meu celular toca: era Krys.

— Meri, está ocupada?

— Não! Pode falar.

— Eu e Pietro não vamos poder voltar para a Lua de Mel. Eu pedi umas mil vezes para que a S.H.I.E.L.D. não me perturbasse durante esse tempinho, mas eles querem mesmo me envolver nisso. Disseram que sou peça chave.

— Por que?

— Não sei! Não sei o que eles querem! E o problema é exatamente esse. Eu estou muito preocupada.

— Já basta eu de preocupada, tá? Você confia na S.H.I.E.L.D. dês de sempre, mas o que está havendo agora?

— Confiava mais no Phill do que na própria organização. E tem esse cara novo que eu não vou com a cara, Glenn Talbot.

— Quem? - perguntei confusa.

— Um velho amigo do Phill que está com a S.H.I.E.L.D. enquanto ele está no hospital. Sofreu um acidente e está em coma.

— Nossa! Mas o Coulson era quase indestrutível! - falei surpresa.

— O mesmo dizem de Nick Fury, que de tanto lutar, se aposentou. Ainda acho que tem muita coisa ruim por vir. Talbot está aprontando alguma e eu tenho algum envolvimento nisso.

— Acha que tem a ver com Stamford?

— Não duvido. Está tudo uma loucura por causa disso.

— Pois é...

— Estão supondo até registrar os heróis! Eu acho desnecessário, mas por que não? - ela comentou.

— Preciso saber do que se trata andes de apoiar ou não.

— É, você tem razão. Tenho que ir. Manda um abraço pros seus pais.

— Tá bem. Manda um pro Peet. Tchau.

Com isso, decido voltar para casa. O caminho de volta parecia mais curto que o de ida. Deve ser pelos meus pensamentos. Quando chego em casa, vejo minha mãe brincando com Lola e meus irmãos desenhando. É uma bela visão, como a história que acontece depois do conto de fadas. Pretendia dizer algo, mas sou interrompida por meu pai, que desce as escadas correndo e ofegante:

— Liguem a TV agora!

— O que foi?! - perguntou minha mãe surpresa.

— Liga!

Mamãe ligou e chegou para o lado, para que eu me sentasse ao lado dela. A mesma me abraçou, mas não olhou para mim. O repórter contava sobre os acontecimentos do dia anterior. A legenda mostrava a frase: "Está na hora dos super-heróis serem registrados?". O mesmo dizia o quanto foi insana a atitude dos Novos Guerreiros e como eles deveriam ter tido algum treinamento ou uma supervisão. Fazia sentido? Não para mim. Tinha alguma coisa muito errada e eu sabia que não ia acabar bem.

A situação dos heróis ia de mal a pior.