Garota Valente 3: Guerra Civil escrita por Menthal Vellasco


Capítulo 14
Não Há Lugar Como o Lar


Notas iniciais do capítulo

Vamos logo, quero terminar essa trilogia incrível



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— Krys! — Acordei gritando.

Foi nostálgico de certa forma acordar gritando no quinjent. Mas dessa vez, quando fechei os olhos e cobri o rosto, alguém deitou a minha cabeça em seu ombro. Quando virei, era meu pai. A nave estava pousada e ele estava sentado no chão comigo. Eu estava com outras roupas, uma blusa de alça cinza e uma calça moletom preta, com meus ferimentos devidamente enfaixados.

— Ela tá se recuperando, não se preocupe. — Meu pai faloui.

— Onde estamos?

— Dunbroch. Depois que você desmaiou e eu te tirei das mãos do Stark, Barnes acertou a joia do Visão. Wanda ficou louca e quase destruiu o lugar, o que fez eles recuarem. Antes de ir, sua mãe disse que Elinor estava doente e queria te ver.

— Minha mãe, Elinor? — Perguntei, preocupada.

Me levantei, um pouco abatida pelos ferimentos, mas tentando ficar firme. E ele me acompanhou.

— Estamos na floresta, um pouco longe do castelo. Não quis preocupar ela com seu estado, então se perguntar, diga que não foi nada de mais.

— Você vai ficar?

Então, com um olhar triste, ele apoiou a mão em meu rosto e respondeu. — Sabe que eu não posso. Eles precisam de mim.

— E de mim!

— Sua mãe adotiva precisa de você. Depois resolva isso, mas agora, precisa ficar com ela.

— E se você morrer? — Perguntei apavorada.

Então, ele me olhou com certa tristeza. Após algum tempo, ele apoiou a mão no meu ombro e olhou em meus olhos.

— Eu tenho esperança de ficar vivo.

Naquele momento eu entendi. Elinor não estava apenas doente. Ela estava morrendo. Me sentei no chão novamente e chorei, e ele me abraçou. Fiquei algum tempo naquela posição, e quando me recuperei, ele enxugou minhas lágrimas e saímos juntos de lá.

— Achei que era uma desculpa.

— Se fosse só um resfriado, seria uma desculpa. Ela não disse o que era, mas disse que tinha pouco tempo. E você não está bem também. Precisa se recuperar. Sua cabeça está confusa, isso é mais do que uma equipe para você, é sua família!

— Por falar em família, falou com a mamãe sobre o divórcio?

— Não deu tempo. Eu disse que ao precisava ser pessoal. Ela respondeu que não tinha outro jeito. — Ele disse, com uma voz triste. — Depois, lutamos.

— Talvez você esteja certo. Mas guerras não fazem bem a ninguém. Por que eu seria diferente?

— Porque você está numa fase delicada. Noiva, com a mãe adotiva doente. Você chegou na fase adulta há pouco tempo, então, é mais difícil pra você.

— Quanto ao Peter?

— A Tia do Peter foi assassinada, ele fez o mesmo que você. Fugiu.

Ouviu aquilo foi um baque. Eu não conhecia Mey pessoalmente, mas pelo que Peter dizia, ela era uma mulher incrível.

— Tantas pessoas boas morrendo... isso é terrível. — Comentei.

— Não vamos falar em morte. Essa é a última coisa que uma pessoa morrendo quer ouvir.

Concordei com a cabeça. Saímos da floresta entrando na vila. Tudo estava diferente. As roupas eram as mesmas, mas agora tinham postes de energia elétrica. Stark estava ajudando Dunbroch a se desenvolver, e isso foi muito bom. O local foi reconhecido oficialmente na Escócia e como lá é um país que tem como língua principal o inglês, todos estão aprendendo. O celta está sendo quase deixado de lado. Mas essas coisas são bem gradativas. Alguns homens usavam calça, mas eram poucos, e calças largas de tecido, nada muito moderno.  Algumas janelas tinham rádios, e eu podia ouvir sons de TVs pequenas, mas poucas. Quase ninguém lá tinha smartphone, o que fazia muito sentido, mas cheguei a ver um ou dois.

Quando cheguei no castelo, notei de cara algumas mudanças. Meu pai, Fergus, era um homem que não ligava muito para tradições, tanto que me ensinou a lutar quando eu era criança, já minha mãe, tinha receio de qualquer novidade, mas aceitava. Haviam lâmpadas nos tetos, alguns aparelhos modernos, tudo mesclado à arquitetura clássica. Senti que aquele talvez não fosse mais o meu desejado refúgio, isolado do mundo. Mas então, um jovem adolescente veio na minha direção:

— Mana! — Era um de meus irmãos, o que usava uma trança.

— Harris! — Falei, me aproximando e o abraçando — Como estão os outros?

— Hamish tá fingindo de forte, mas a gente escuta ele chorar a noite. Eu e Hubert estamos tentando levar.

— E o papai?

— Tratando a mamãe como se fosse de porcelana. E fazendo tudo o que ela quer.

— Quem dos dois vai assumir o trono quando... acontecer. — Perguntei, um pouco receosa.

— Provavelmente Hubert, ele arrumou uma namorada em outro clã, então é o mais perto de se casar aqui. Tirando você, mas você abdicou do direito ao trono, não é?

— Não seria o mais velho dos três? — Perguntou meu pai, Clint.

— Não tem como saber. Éramos muito iguais. — Meu irmão respondeu.

Tanto que atualmente, Harris usa trança, Hubert tem as laterais da cabeça raspadas baixas (não muito baixas, mas de notável diferença) e Hamish mantinha os mesmos cortes de quando era criança. Agora era possível diferenciar.

— Onde está a mamãe? — Perguntei.

— Geralmente ela está cavalgando, mas como chegou uma visita, ela deve estar na sala de jantar conversando com ele.

Imaginei que fosse o pai de Ana, mas não mencionei. Concordei com a cabeça e comecei a entrar.

Minha sorte é que não importa o meu lado, todos tem enorme carinho por mim, então dificilmente Stark me atacaria. Eles me viram crescer, e por esse motivo, ainda me tratam como criança. As vezes, isso é uma vantagem. As vezes, tudo o que eu quero é ser tratada como igual. Que o Stark me olhasse com os mesmos olhos que olha para minha mãe, com respeito e igualdade. Mas eu não podia cobrar isso de um homem que me viu quando eu era adolescente. Quando eu era apenas uma menina de 15, 16 anos.

Quando entrei, vi minha mãe sozinha. Ela parecia abatida, com seu vestido azul e um lenço sobre os ombros. Ela me olhou com surpresa e depois sorriu. Eu corri até ela e a abracei. Ela retribuiu. Chorei um pouco, mas não de soluçar. Meu ombro ainda estava ferido, mas eu não ligava. Mesmo que doesse eu precisava abraçar minha mãe. Ela se afastou e falou:

— Senti tanto sua falta!

— Eu também. O que aconteceu? O que você tem?

— Uma espécie de esfera dentro do meu seio. Grande demais. Todas as mulheres que conheço que tiveram isso morreram em pouco tempo. Não sei quanto tempo tenho, provavelmente é pouco.

— Câncer... eu sei o que é isso.

— Sabe? Há uma cura?

— No ponto que está, só um milagre. — Confessei. —Quando descobriu.

— Alguns dias antes da sua formatura. Não queria estragar sua noite.

Então, arregalei os olhos, cobrindo a boca.

— Você devia ter contado!

— Como você vê hoje sua formatura? Como a melhor noite da sua vida, não é? Como a noite em que Lion pediu sua mão! Eu não queria estragar isso.

Então, suspirei. Ela estava certa. Minha formatura foi a melhor noite da minha vida.

— Queria que houvesse algo que se pudesse fazer. — Murmurei.

— E há. Honre tudo o que aprendeu comigo. Tudo o que eu fui um dia. — Ela falou, apoiando a mão em meu rosto — Existem varias formas de ser imortal. Deixar um legado é uma delas.

— Não se preocupe. Cuidarei de sua memória.

Então, ela beijou minha testa. Seus lábios eram frios e secos, mas me passavam segurança e conforto. Era tudo o que eu queria, ficar ali, com ela, mas ela se afastou e falou:

— Mais uma coisa. Quando liguei pra Nat, logo depois, ela recebeu outra ligação, também falando de você.

— Quem? — Perguntei curiosa.

Então, ela se levantou, com dificuldade, e me guiou até o estábulo. Angus havia morrido de velhice um ano atrás, mas ainda haviam alguns cavalos por lá, os do meu pai e meus irmãos. Mas não foi um cavalo que me surpreendeu quando cheguei. Foi Lion. Ele estava com uma camisa polo preta e uma calça jeans azul clara, com um sorriso simpático e um pouco triste.

— Como veio parar aqui?

— Estratégia do seu pai pra te manter aqui quanto tempo for preciso até você se recuperar. — Ele falou, caminhando até mim.

— Eu não queria isso. Eu queria continuar a lutar.

— Nem sempre queremos o que precisamos. — Ele respondeu, já bem perto, com a mão no meu rosto. — Pode sorrir pra mim? — Aquele pedido foi um pouco engraçado, então soltei uma pequena risada espontaneamente. — Seu sorriso é tão lindo.

— O seu também não é feio. — Comentei, e então, ele me beijou.

Férias... mesmo contra a minha vontade.


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Notas finais do capítulo

O próximo não tem data, mas não vai demorar. Juro. BJSSSS



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