Don't Lie To Me escrita por MamaRamona


Capítulo 6
Capítulo 6 - GRITO




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  Ainda que tivesse os olhos demoníacos, notei algumas feições que estranhamente lembravam-me Elena Gilbert naquele rosto que refletia no espelho.

    Senti-me sufocada com a semelhança e a única coisa que consegui fazer foi gritar. Stefan e Elena tinham seus olhos assustados pousados em mim. Virei para Elena e voltei para o reflexo do espelho, fazendo isso algumas vezes de forma frenética e compulsiva. Tão iguais, mas tão diferentes.

     A Elena do espelho encarava algo que estava além da minha visão, talvez se o espelho fosse mais largo eu a veria junto com a mulher medieval. Mas, no meu mundo o bichinho de temperamento estranho, pêlo arrepiado, garras e dentes para fora encarava uma poltrona, enquanto no outro lado, aparentemente no mundo dos espelhos, ela deveria estar encarando aquela mulher estranha.

    Pareciam dois mundos diferentes, o que eu conhecia e vivia, e o outro era uma versão paralela que seria a do outro lado do espelho. Elena do espelho no outro mundo ocupava o lugar que seria o da Gata, já a mulher medieval somente aparecia no mundo dos espelhos. Confuso, mas dava para entender.

    A Elena do espelho levantou os braços e puxou a mulher medieval para perto, segurando em seu ombro com força. Ambas agora refletiam no pequeno espaço do espelho. As coisas que a outra Elena fazia, alterava de alguma forma a mulher, a Gata ainda estava na mesma posição.

    Elena do espelho pareceu apertar mais forte, agora enfiando as unhas, e a mulher gemeu de dor. Elena do espelho tinha fogo nos olhos, fúria e ódio.

     Era estranho, somente eu via tudo o que estava acontecendo. Somente eu via os dois lados. Somente eu estava enlouquecendo. Eu podia sentir os olhos de Stefan e Elena assombrados, preocupados e incomodados diretamente em mim.

    A gata ainda continuava alterada.

    Elena do espelho falou algumas palavras em outra língua enquanto apertava ainda mais a mulher. A mulher respondeu, aparentemente no mesmo idioma.

    A mulher medieval parecia implorar pela própria vida para Elena do espelho, que tinha um olhar impiedoso, maligno e insensível.

    Ela apertou ainda mais o ombro da mulher, fincando de vez as unhas. O sangue começou a descer por baixo dos dedos dela, e eu poderia jurar que a origem não era de seus dedos, mas sim do ombro da mulher. Elena do espelho solto os ombros da mulher e levou a mão direita para o pescoço da mesma. Apertando com força e falando alguma coisa que soava como “tova e pŭrvata i edinstvenata mi preduprezhdenie (*) de fato não era inglês.

    Ela sorriu como uma psicopata e a mulher medieval gritou apavorada e cheia de dor.

    Seus gritos agonizantes entraram pelos meus ouvidos e invadiram minha alma, arrepiando-me da cabeça aos pés. Fecho meus olhos assustada, levando as palmas das minhas mãos até os ouvidos na busca de encontrar o silêncio.

    Sinto-me sufocada, estou me afogando em algo, estou sem chão, vou desmaiar. Então, sei que estou no inferno e não consigo achar uma saída. O calor queima minha pele e sei que vou morrer. O desespero atinge seu auge e eu grito ainda mais alto que aquela mulher, dobrando minhas pernas de forma que meus joelhos ficassem na altura do meu peito, enquanto me balanço de um lado para o outro.

    Tudo parece desmoronar, meu coração parece rasgar meu próprio peito. Grito, sentindo as lágrimas caírem, ainda que estou de olhos fechados. Não consigo me controlar e não sei o que esta acontecendo. Só tenho certeza que quando gritei, e o som chegou aos meus ouvidos, eu soube que aquilo seria morrer. Aquele era o grito da morte.

    Alguém me agarra, ainda não consigo abrir meus olhos e nem tirar a mão dos ouvidos. Sinto pegarem no meu braço fazendo minhas mãos afastarem dos ouvidos.

— NÃO! _grito, não quero abrir os olhos, não quero ouvir.

    A força insiste, eu nego com a cabeça, mas ela é mais forte. Ela me abraça e sei que tudo esta bem. Ela me tirou do inferno, mais uma vez. Elena segura minha nuca e aproxima-me de seu colo.

— Abra os olhos, eu estou com você, tudo está bem Crys. _a voz doce e ofegante de Elena sussurra no meu ouvido_ Esta tudo bem, querida.

— Não, Elena, ela... elas.... _sinto-me perdida e confusa.  Olho para o espelho e vejo não mais os demônio, mas sim o reflexo normal de um pequeno animal.

    A mulher medieval não estava mais ali.

— Crys? Crys?

    Continuo olhando para a gata e seu reflexo freneticamente, esperando que ele mude a qualquer momento.

— Crystal?

    Esse animal, ainda que com um reflexo demoníaco e assustador, desapareceu com a maldita mulher medieval. Ainda que de forma traumática esse bichinho conseguiu tudo o que eu mais queria: parar de ver aquela mulher.

    Pensar em parar de vê-la fazia-me pensar em parar de ter alucinações, sonhos e experiências reais que pareciam sonhos. Já que tudo começou a acontecer logo depois de sua primeira aparição....

— Crystal? _a voz de Elena alterou-se levemente. Vire-me para ela afastando-me de seu abraço acolhedor, meus olhos encontraram-se com os dela._ você estava me ouvindo, querida? _perguntou.

— Você não viu? _perguntei sentindo-me tola e não respondendo sua pergunta, Elena negou.

    Mais uma vez eu vi tudo sozinha, tudo loucura da minha cabeça. Ou não, tudo era real demais, só não para eles.

— Eu, eu só...

— Shhh _ela secou minha bochechas molhadas.

    Senti-me doente e fraca, tudo pareceu desmoronar, mas agora de forma devagar. Eu tinha acabado de sair de uma guerra entre o real, irreal e o sobrenatural. Minha cabeça parecia explodir. Não sei o que pensar sobre a Gata, mas sei que ela me protegeu em relação a mulher.

    A ultima vez que senti-me assim, perdida, desesperada e sem rumo, foi no dia do acidente e uma lembrança empurrou-me para dois anos atrás.

—Flashback 2012-

    Entrei em casa com o resultado das ultimas provas do ano em mãos e um sorriso no rosto. Mamãe ficaria orgulhosa das minhas notas. Eu entraria no High School em menos de alguns meses e três anos mais tarde na faculdade. Tudo estava perfeito e de fato os trilhos da minha vida já estavam formados. Tudo planejado para a vida perfeita.

— Mãe? _chamei-a colocando a mochila em cima do sofá.

    Esperei alguns segundos e não obtive respostas. Franzi minha testa. Mamãe normalmente respondia logo em seguida e agora eu não conseguia ouvir nada. Passei direto pelo aro da cozinha sem me importar em olhar lá dentro. Parei no primeiro degrau da escada.

— MAMÃE? _gritei fazendo uma concha com as mãos. Silêncio_ Mam- _interrompi a mim mesma ao ouvir alguns gemidos vindos da cozinha.

    Vagarosamente virei minha cabeça e deparei-me com mamãe caída no chão segurando um cabo de faca, provavelmente o resto estava dentro de sua barriga. Em volta uma enorme mancha vermelha em sua camisa branca. Senti meu corpo inteiro esfriar, fiquei sem chão.

— MÃE! _gritei desesperada aproximando-me dela e me agachando.

    Comecei a tremer e a sentir falta de ar. Minha cabeça envolvida em uma neblina preta que não permitia-me pensar com clareza.

— Cr-Crryst-- _ela gaguejava. Fiz carinho em sua cabeça enquanto meus olhos enchiam-se de água e desabavam em lágrimas.

—Shh _pedi pra ela fazer silencio, não queria que ela fizesse esforço. Sem saber exatamente o que fazer peguei meu celular no bolso._ mantenha os olhos abertos mamãe.

    Não conseguia digitar. Tinha que manter a calma emocional e física, mas meu corpo não conseguia parar de tremer e eu não queria deixar mamãe ainda mais nervosa com o meu jeito de falar. Liguei para a ambulância.

— Cryst--al _ela tirou a mão da faca ensanguentada e segurou a minha _ me p--per--doe _seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Qual a emergência? _a mulher falou do outro lado da linha.

— Preciso de-de _comecei a gaguejar ao ver minha mãe começando a colocar sangue pela boca_ UMA AMBU-BU-LÂNCIA, UMA AMBULÂNCIA, P-OR FAVOR. _minha voz estava tremula, alterada e desesperada.

— Me-me perdo-doe. _ela gaguejou mais uma vez, eu não entendia porque ela falava isso a todo momento.

    A mulher pediu para que eu me acalmasse e pediu o endereço, dei a ela e quando a ligação terminou desliguei e voltei a falar com mamãe.

— Mãe, por favor, fique comigo. _segurei sua mão com mais força.

    Alguns minutos se passaram. Minha mãe estava agonizando e a ambulância não tinha chegado.

— POR QUÊ? _gritei para o universo tacando meu celular no chão. Ambulâncias chegavam rápido e logo agora que eu mais precisava ela ainda não estava aqui.

— des-desculpa. _ mamãe já não tinha forças para falar.

    A adrenalina atingiu-me com força assim que percebi que mamãe já estava indo embora. Ela estava com os olhos sem vida e parada como estatua. Segurei o cabo da faca ensaguentado e sussurrei para ela que precisava ser forte.

— Não me deixe. _beijei sua testa e algumas lágrimas minhas caíram em seu rosto.

    Puxei a faca devagar e o barulho do metal saindo deu-me ânsia de vomito. Seu corpo saiu alguns centímetros do lugar e voltou para o chão fazendo um pequeno eco que me fez arrepiar.

    Ouvi alguns passos, mas não desgrudei os olhos da mamãe. Eu ainda estava segurando a faca no alto, atenta a qualquer movimento dela.

    Então o barulho da arma destravando fez com que eu levantasse minha cabeça e olhasse para o lado.

— Pai? _sussurrei enquanto olhava ele apontando a arma para mim.

    Ele atirou.


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Notas finais do capítulo

** "tova e pŭrvata i edinstvenata mi preduprezhdenie” = frase que Crystal escuta, será explicado nos próximos capítulos.

Olá amiguinhas, como estão?
O capítulo não deveria ter parado na metade do flashback, mas acabou ficando muito grande e precisei cortar. Espero que estejam gostando. Comentem, digam o que estão achando, isso é sempre muito importante. Por hoje é só.
Um beijo ♥



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