Don't Lie To Me escrita por MamaRamona


Capítulo 2
Capítulo 2 - STEFAN




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Quando entrei o Gato estava sentado na cama. O pêlo castanho todo arrepiado.

— Aconteceu alguma coisa amiguinho? _perguntei aproximando-me.

     O Gato continuou do mesmo jeito, apenas me encarando, parado como se tivesse feito algo de errado. Olhei em volta e tudo parecia em ordem. Perguntei-me mentalmente como ele entrou no quarto. E deduzi que talvez eu tenha deixado a porta aberta antes de sair e que o vento tinha fechado-a. Olhei para a janela e ela estava aberta.

— Por favor, não se meta em encrenca, não quero ter que tirar você daqui. _passei a mão em sua cabeça e ele esfregou-se na minha mão.

    Fui até o banheiro e lavei as mãos. Ainda evitando o espelho. Enquanto fazia o caminho para o pequeno closet fui tirando minha roupa e colocando outra mais casual possível. Parei na frente do espelho, depois de quase um dia inteiro sem encarar o reflexo, e arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo no alto. Meu coração estava acelerado, o sonho de mais cedo ainda deixava-me nos nervos e provavelmente eu ficaria assim por algum tempo.

    Na minha cabeça, quando eu olhasse para o lado, lá estaria aquela mulher, que era apenas vista no mundo dos espelhos, simplesmente me olhando. Eu tive a estranha sensação que ela estaria ali, fechei meus olhos e respirei fundo, quando voltei a abri-los, pelo espelho, olhei para o Gato, ele me encarava sem piscar, como se estivesse hipnotizando pelo meu reflexo, agora ele parecia mais relaxado, porém hipnotizado.

— Comprei comida para você, Gato. _eu não sei se ele entendia, mas eu me sentia confortável em poder falar com alguém, normalmente era com Elena que eu conversava. E hoje ela não estava aqui.

    Virei-me para o Gato, caminhei até ele e o peguei no colo.

— Você precisa comer, amiguinho.

    O Gato miou quando eu o apertei um pouco, e suas garras sequer tiveram a ousadia de aparecerem. Desci as escadas ainda com ele no colo e o deixei no chão da cozinha.

— Agora preciso saber em que sacola coloquei. _fiquei encarando todas as sacolas no chão.

    Depois de um longo tempo abrindo-as, finalmente achei.

— Hey Gato, achei! _sentia-me idiota por falar com um animal como se fosse um ser humano. Zombei de mim mesma e balancei a cabeça.

    O Gato estava sentando perto da porta, sacudi o saco de ração para ele entender que agora tinha comida, mas ele continuou me olhando sem se mover. Na sacola de compras peguei dois potes que tinha comprado para colocar a água e a comida. O da água coloquei em cima da pia e o da comida fiquei segurando.

— Vem gatinho, você precisa comer. _passei por ele e fui até o “canto perfeito do Gato”. Agachei-me, coloquei o potinho ao lado do outro potinho provisório que coloquei mais cedo, enchi com ração e procurei o Gato com os olhos.

    Ele ainda estava na porta da cozinha, só que agora ele estava virado para o lado da sala, ou seja, para mim.

— Vem Gato. _balancei o potinho cheio de ração e então ele veio. Levantei-me e percebi que enquanto ele fazia o trajeto para o potinho, ele rebolava com o que seria seu quadril e seu rabo. Isso era muito... Afeminado(?)_ Gato, você é Gata? _franzi minha testa.

    O Gato parou na minha frente, inclinou a cabeça para o lado e ficou encarando-me, pude jurar que até estava sozinho. Peguei-o no colo e tentei vira-lo de barriga para cima, eu precisava saber o sexo do meu bichinho. Por favor, quem não sabe o sexo do próprio bicho de estimação? Isso mesmo, EU.

    Eu acabei de descobrir que o Gato na verdade é Gata. Quando o coloquei, digo, quando a coloquei no chão, minha expressão era de “por favor, alguém tem algum lugar para que eu possa esconder minha cara?”. Mas, ainda bem que não tínhamos uma platéia para isso.

— E normal confundir os sexos, não é? _tentei disfarçar minha própria vergonha para a Gata._ vou pegar sua água. _agachei-me novamente, peguei a Gata e a coloquei perto do pote de ração, em seguida pegando o antigo e provisório potinho de água e indo para a cozinha.

    Joguei a água fora e deixei o pode provisório dentro da pia, peguei o potinho novo que eu tinha colocado logo ao lado e o enchi de água.

— Potinho azul, tsc tsc. _neguei balançando a cabeça de um lado para o outro. Consigo ser mais inútil que isso? Sim, consigo. A coleirinha que comprei não é rosa. Dentro da sacola peguei a pequena coleira com a mão vaga e balancei minha cabeça mais uma vez.

    Quando voltei para a sala, a Gata estava parada do mesmo jeito que eu tinha deixado-a quando fui para a cozinha. Ela olhava para o pote e mantinha certa distância. Parecia estar com... Nojo?

— Algo errado, Gata? _aproximei-me dela, me agachei e coloquei o potinho do lado do pote da ração, que ainda estava intacta. Ela sequer mexeu na comida.

    A Gata miou, dei de ombros e passei a mão em seu pêlo.

— É o que tem para comer. _sorri colocando a coleira branca com o pequeno sininho_ Pelo menos não é azul. _levantei-me_ Se você não vai comer, eu vou. _falei olhando para o relógio na parede.

    Preparei toda a minha comida e fui tomar banho. Quando terminei, coloquei um moletom e um blusão. Desci as escadas e com o olhar tentei encontrar a Gata, ela estava sentada no sofá, que da posição que estava dava vista para a janela. Olhei para o pote de ração e ainda estava do mesmo jeito. Balancei a cabeça e fui comer.

    Ao terminar, escovei meus dentes e sentei no sofá da sala, que ainda estava toda escura já que eu não queria ligar a luz. Não demorou muito para a Gata sentar ao meu lado. Sorri pra ela e ela respondeu balançando o rabo, fiquei fazendo carinho em sua cabeça enquanto com a outra mão segurava o controle da TV.

    Liguei TV e estava no fim de algum seriado, fiquei assistindo até terminar. Minutos depois eu não aguentava mais assistir o programa que tinha começado logo depois. Olhei para a Gata e ela estava com os olhos fechados, parecia relaxada e muito calma, continuei com a caricia. Mudei aleatoriamente os canais até achar algo que despertasse meu interesse. Era o Jornal da Noite.

“ Na manhã de hoje, dia 25/01, dois corpos foram encontrados na reserva de Mystic Falls. Os jovens foram atacados por um animal selvagem. Os corpos foram identificados como Darren Malloy de 24 anos e Brooken Fenton de 22 anos, de acordo com as autoridades os jovens estavam acampando quando um urso os atacou na madrugada do dia 25, porém os corpos só foram achados na manhã seguinte quando o guarda florestal os encontrou. Os corpos estavam mutilados e drenados de sangue...”

    Eu estava prestando atenção na TV quando Gata começou a arrepiar o pêlo e a emitir um barulho estranho enquanto olhava fixamente a TV. Tirei rapidamente minha mão de cima dela e ela ainda encarava o aparelho. Estava em modo alerta, rosnando e cuspindo, as garras estavam para fora. Meu coração estava a mil, meus olhos estavam arregalados.

— Gata, fique calma _tentei conter minha respiração. Gata estava tão nervosa quanto eu, ou até mais_ Gata! _gritei repreendendo-a.

    Ela olhou para mim de um jeito que só um ser humano poderia olhar. Seus meigos olhos castanhos agora ferviam, como se seus olhos fossem o portal para o inferno, olhando mais fundo eu podia ver medo, pavor, pânico. E Elena. Franzi minha testa ao lembrar-me dela.

    Por que diabos comparei Elena com todas essas coisinhas ruins? Amaldiçoei-me.

    Seu pêlo eriçado agora estava voltando ao normal junto com suas garras. Seu olhar ficava mais calmo a cada segundo, porém ainda em alerta. Gata miou pra mim.

— Hey gatinha, está tudo bem. _aproximei-me dela e ela encostou sua cabeça nas costas da minha mão_ tudo bem, está tudo bem. _sussurrei repetindo algumas vezes.

    Dizem que os animais sentem as coisas ruins, talvez Gata sentiu isso quando estava assistindo ao jornal, talvez ela tenha achado que seria atacada. Voltei a olhar para a TV e as imagens do local do assassinato ficavam passando junto com algumas fotos de Darren e Brooken. Gata tirou a cabeça da minha mão e eu poderia entender os motivos do seu comportamento tão, estranho... eu acho. Até mesmo eu estava chocada com a notícia. Espera, gatos assistem jornais?

    Quando voltei a olhar para Gata ela tinha sumido.

— Gata? _faltei em um tom alto para ela ouvir. Não obtive resposta.

Sábado, 25, Janeiro, 2014. Mystic Falls

Autora

    O vento gélido batia em seu pêlo marrom, ela corria o máximo que podia. A rua estava deserta, todos já estavam dentro de suas casas. Que horas eram? Deveria ser quase 22:40. Seu coração estava a mil. Aquele acidente não foi causado por um urso, por favor, quem ainda era o idiota pra acreditar nisso? Todas as famílias fundadoras de Mystic Falls sabiam o que realmente teria os atacado. O quê não, quem...

    Apenas os novatos na cidade ainda não eram cientes do lado escuro da cidade, o lado podre, o lado ruim, o lado que poucos poderiam e conseguiam sobreviver. Os que não faziam parte de uma antiga árvore genealogia, ou seja, os que não faziam parte das famílias fundadoras de Mystic Falls, que tinham se mudado a vinte ou dez anos atrás, provavelmente não sabiam de nada. Até porque depois do massacre em 1864 os fundadores encerraram o assunto ali.

    Os fundadores foram capazes de acreditar que tudo tinha se encerrado para sempre. Tolos. Uma hora ou outra isso iria regressar. Só os filhos das famílias fundadoras poderiam imaginar o que realmente tinha acontecido com aqueles jovens que foram atacados, já que a história era sempre passada de pai para filho, às vezes como mito, às vezes como fato, enquanto os outros idiotas que eram mais novos em MF eram enganados.

    O coração dela estava a mil, estava amaldiçoando a si mesma pelo ataque que teve a alguns minutos atrás ao ver o jornal, um ataque na frente de Crystal ainda. Sua doce e inocente Crystal. Ela precisava proteger aquela garota. Talvez se realmente tivesse sido um urso ela não teria ficado tão nervosa, só que ela sabia a verdade.

    De fato ela era a melhor predadora do mundo, estava no topo da cadeia alimentar e se orgulhava muito disso, mas agora, ou pelo menos por enquanto, precisava manter essa forma inofensiva de uma pequena gata. Só que suas pernas curtinhas não lhe ajudavam muito na hora de correr, demorou mais do que gostaria para chegar a seu destino, e quando chegou parou no começo da floresta, estava em posição de alerta. Seu coração deu um salto enorme quando ouviu alguém falando do outro lado da rua, virou-se rapidamente e viu um homem falando ao telefone.

    Ele parecia distraído, estava atravessando a rua, vindo exatamente em sua direção. Como uma boa manipuladora ela apenas sentou no meio-fio gelado e inclinou a cabeça para o lado, como costumava fazer até mesmo em sua forma original. Mas, quem teria medo de uma doce gata inofensiva? O homem passou por ela ignorando sua existência e assim que ele deu uma distancia considerável, ela finalmente retornou a sua forma original.

    Suas habilidades sempre foram as melhores, mas quando estava transformada em gato elas eram reduzidas para as habilidades de um gato, ou seja, para nada, comparando ao que estava acostumada. Sentiu um alivio enorme ao não ter pêlo por todo o corpo, suas pernas longas nunca foram tão bem recebidas. Mas agora não era tempo para pensar nisso.

    Ela adentrou na floresta, atenta a qualquer barulho desde os mais baixos até os mais altos. Andou por dez minutos, sem ouvir nada. Então seu olfato capturou algo a trinta quilômetros de distancia. Sangue. Ela estava faminta, tinha passado o dia todo sem comer absolutamente nada. Crystal até chegou a oferecer comida de gato pra ela. Não, ela não iria comer ração para felino, até porque não era exatamente uma.

    Em passos mudos, ela foi aproximando-se do local X, vinte e cinco quilômetros, o cheiro já estava mais perto. Vinte quilômetros, estava indo na direção certa. Quinze quilômetros, isso seria um massacre? Poderia sentir o cheiro do sangue em todo o lugar. Dez quilômetros, as veias perto de seus olhos estavam dilatando-se para fora de seu rosto. Cinco quilômetro, seus caninos estavam tão finos que poderiam perfurar qualquer tipo de pele, seja ela humana ou não.

    A menos de três quilômetros do ponto X, já tinha boa parte do local coberto por seus habilidosos olhos. Olhos castanhos que perfuravam a escuridão, olhos castanhos que enquanto sua presa gritava, agonizava, suplicava pela própria vida, lutava para sobreviver, eram de longe os olhos castanhos mais frios que olhavam para dentro da vitima até entregá-la a uma imensa escuridão.

    Eram esses mesmos olhos que agora viam o lugar coberto de sangue. Um veado caído no chão, com o pescoço dilacerado, o corpo totalmente mutilado. O corpo do animal estava decapitado e a cabeça perdida sabe sei lá aonde, os membros do veado também tinham sido arrancados. Sua barriga estava cortada em uma linha vertical que pegava desde o peito até a parte de baixo do corpo. Estava tudo aberto.

    Somente ela caçava desse jeito, somente ela mutilava suas vitimas assim, mas não foi ela que fez aquele belo espetáculo, também não foi ela que atacou os jovens na reserva. Ela caminhou lentamente, perguntando-se quem também gostava de brincar de doutor, quem jogava os mesmo jogos que ela e quem estaria disposto a deixá-la brincar um pouco.

    Estava concentrada na respiração que ouvia, uma respiração pesada e ofegante e não era a dela. Ela mesma já tinha parado a sua, ciente de que o estripador que estivesse a quilômetros de distancia ouviria ela a qualquer momento. Essa era a parte boa de ser um ser sobrenatural, da distância que estava conseguia pegar 90% do lugar. Nenhum humano conseguiria aquilo, ainda mais no breu em que se encontrava.

    Já estava bem perto, sua testa estava franzida e seja lá quem for ainda não tinha notado-a. Ela estava escondida atrás de alguns arbustos, estava a menos dez metros do assassino, mas ainda não tinha visto o rosto e nem ouvido a voz, até agora...

— Sinto muito por isso, mas eu realmente estava morrendo de fome.

    Seu coração quase saiu pela boca. ERA ELE, sim era ele e ela tinha certeza disso.

    Ela arregalou os olhos. A voz dele era inconfundível. Ela esticou o pescoço com a cautela e lá estava ele segurando a cabeça perdida do veado com a mão direita, olhando dentro dos olhos mortos do animal decapitado, sentando em um pedaço de madeira cortado.

— Stefan. _ela sussurrou quase não acreditando.


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Notas finais do capítulo

Olá amiguinhas, como estão?

Como assim, duas pessoas acompanhando, uma favoritou e quarenta e duas visualizaram? Gente eu estou morrendo, sério! Obrigada pelo tempinho que gastam lendo minha fanfic, isso me deixa feliz.

Sintam-se livres para opinar e perguntar qualquer coisa.
Acho que por hoje é só.
Um beijo ♥



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