Avatar: A lenda de Mira - Livro 3 - Terra escrita por Sah


Capítulo 7
Últimas palavras




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Haru

Eu dispensei todo mundo para ficar aguardando qualquer notícia dela.  O seu pai  anda de um lado para o outro na recepção. Seus olhos estão fundos e cansados, mas aparentemente o tratamento está funcionando. 

Me levanto para finalmente falar com ele.

— Senhor Iroh?

Ele me encara e fecha o rosto.

— O que você ainda está fazendo aqui? Achei que só família e amigos pudessem ficar aqui.

Estou pronto para contrariá-lo, mas desisto. Melhor evitar qualquer aborrecimento, não quero que ele tenha razões para me odiar, por isso me sento novamente. 

Passa uns 10 minutos até  finalmente uns dos médicos se aproximar dele . O médico diz alguma coisa que só ele consegue ouvir.

A cara de alivio dele transparece.  Isso é um bom sinal.  Vou até a recepcionista e pergunto.

— A Mira já acordou?

— Me desculpe senhor essa informação só diz respeito à família.

— Você sabe quem eu sou não é?

— Sim.

— Então não preciso dizer mais nada.  Apenas me diga o estado dela.

Ela me encara novamente antes de voltar a digitar no computador.

— Bem, a senhorita Mira  acabou de acordar, seus sinais vitais são bons, e o médico já pretende dar alta.

— Então eu posso vê-la?

— Só família e amigos.

— Ótimo, sou amigo dela.

Vou em direção à ala médica, pergunto a uma enfermeira onde fica o leito , com a informação vou até a ala oeste.

Entro devagar tentando não fazer estardalhaço.  Em um quarto com vários leitos vazios  o dela está rodeado de pessoas.  Meelo, Suni, o pai dela e também Riku me olham feio.  Ela me olha com um pouco de medo, mas não importa isso é o suficiente, eu já me sinto bem melhor.

— O que ele faz aqui? – Riku exige saber.

— Eu só queria me certificar, que ela está bem.

Ele ri.

— Você já conseguiu a sua vitória, por que ainda nos persegue?

Eu não estou os perseguindo, talvez a Mira, mas isso eu não consigo evitar.   Mira não diz nada,  mesmo assim eu sinto  a sua tensão. Ela não me quer aqui.  Eu já cumpri  meu objetivo, ela já está bem,eu não preciso mais me preocupar.

Me despeço com um olhar. Eu tenho coisas para fazer, coisas muito importantes.

Chego ao departamento e logo sou avisado. O julgamento de Unac irá acontecer naquela semana e eu sou uma testemunha chave.

Os dias passam rapidamente, apenas tenho alguns vislumbres da Mira no restante da semana, ela se mantém quieta e distante, não indo para a escola ou saindo para qualquer lugar.  Meus pensamentos se voltam ao julgamento de Unac.

Meu verdadeiro desejo é acabar  com a vida dele, fazê-lo  sofrer mais do que eu sofri em suas mãos . Ele me enganou, me fez perder os melhores anos da minha vida e destruiu a minha família, eu tenho motivos suficientes para vê-lo morto, mas vou me contentar com sua prisão perpétua.

Reúno os melhores da minha equipe para me acompanharem, quero que eles documentem todo o processo, será uma boa propaganda ao meu favor.  O julgamento será no prédio da justiça. Um monumento antigo, fundado  por mim em outra vida. 

O sol está alto, a audiência foi marcada ao meio dia. Existe um relógio solar em frente ao prédio, e  nele há uma homenagem as antigas quatro nações, os símbolos da água, terra, fogo e ar ficam sombreados no chão ao meio dia, e assim eu posso ver que eu estou quase atrasado. 

Quando entramos todas as pessoas já estão em seus devidos lugares, me sento no banco das testemunhas e um homem de longa barba cinzenta vestido formalmente vem falar comigo.

— Senhor, estamos prontos para começar, sou representante da promotoria e queremos que o senhor deponha por último.

Eu assinto.

Hina está ao meu lado anotando tudo o que acontece, ao longo dessa semana ela se mostrou muito eficiente, ela como eu ficou preocupada com a Mira, mas se manteve distante. Eu sinto que ela precisa se provar, tanto para a Mira, quanto a sua própria família. Ah sim, Sina pediu transferência, ele não trabalha mais no meu setor. Ele ainda cuida do caso da Mira e do Riku, mas por causa da minha batalha com o Riku ele conseguiu provar que eu não seria imparcial em relação aos dois. E ele tem razão, no fim das contas foi melhor me livrar da presença dele.

Eu não conheço o juiz,  ele é jovem para o cargo. Mesmo com o traje completo de juiz ele parece não ser mais velho que eu.

—  Em nome das quatro nações antigas e das novas iremos iniciar o julgamento de Unac, filho de Dejardi e Malori,  originado de Republic City. Eu Kato Beifong presido esse julgamento e prometo ser justo e imparcial. Vocês do Juri prometam ouvir todos os fatos e julgarem com base nos seus ideais de verdade.

Um grupo de pessoas atrás de mim se levantaram.

— Eu prometo. – Eles disseram em coro.

— Então podemos continuar, o réu pode se apresentar.

Com isso as portas se abriram e Unac adentrou o espaço algemado e escoltado por dois guardas. Ele parecia abatido,  haviam tirado todos o pelos do seu rosto, e ele usava uma roupa chamativa laranja. Nossos olhares se cruzaram. E eu pude lembrar-me desse olhar. Foi com esse olhar que ele me manipulou e enganou. Esse julgamento não será fácil.

Ele andou com classe, não abaixando a cabeça para ninguém. Não houve nenhum tipo de manifesto por parte do júri ou da plateia. Plateia que não parecia se importar.

Ao se sentar ele sorriu, como se tudo aquilo fosse um espetáculo feito para ele.

— Eu sou  Unac. Filho de Dejardi e Malori.

— Com a identidade confirmada podemos começar com as testemunhas.

Eu me surpreendi quando o filho de Meelo se sentou no banco das testemunhas. O que ele tem haver com isso? Ele foi um dos que me achou, mas fora isso não consigo pensar  em nenhuma ligação entre ele e Unac.

— Meelo, como o pai. Por favor nos diga a sua ligação com o réu.

Meelo usava roupas formais dos nômades do ar  e seu cabelos estava preso.   Seu olhar era um pouco incisivo e cauteloso.

—  Eu fui sequestrado  quando eu tinha 7 anos a mando de Unac. Ele contratou pessoas para sequestrarem jovens dobradores de várias nações, por sorte eu e o grupo de crianças que estavam comigo conseguimos escapar.

Um dos advogados se levantou. Ele estava descabelado e usava um tapa olho branco em um dos olhos.

— Eu sou, Vandir, advogado do nobre cientista Unac. Eu quero fazer uma pergunta para Meelo.

— Pergunta concedida. – Falou o juiz.

— Meelo, você tinha sete anos quando supostamente foi sequestrado a mando do meu cliente, certo?

— Não foi supostamente,  tivemos provas!   Crianças que sumiram naquela época foram encontrados no laboratório dele.

— Você poderia ter sido mais pontual. Então pergunto de novo. Você tinha sete anos quando tudo aquilo aconteceu?

— Bem, sim.  – Meelo respondeu  

Meelo estava suando muito, e seu rosto cada vez mais vermelho.

— E depois disso segundo seus laudos médicos você desenvolveu uma espécie de stress pós-traumático  que o fez esquecer totalmente o que aconteceu naquela época, vindo a recordar dos fatos recentemente.

— Sim. – Ele respondeu aparentemente a  contragosto.

— Então como uma pessoa com todas essas questões pode servir de testemunha?  Como você pode lembrar-se de todos os detalhes e as outras crianças que estavam com você não?

— Eu recuperei todas as lembranças. – ele disse em um ataque de fúria.

— Recuperou mesmo? Até do fato que você  matou aquelas pessoas, seus supostos sequestradores?

Isso me surpreendeu! Eu olhei para o rosto dele e ele realmente parecia afetado, seu rosto demonstrava culpa.  Pelo jeito não fui o único surpreso, as pessoas  do júri começaram a cochichar e pela suas reações , Meelo perdeu toda a credibilidade.

— Muito bem, mais alguma pergunta? – O juiz perguntou ao advogado.

— Nenhuma pergunta meritíssimo.

 O advogado era bom, muito bom para ser verdade, ele conseguiu fazer a mesa virar, todas as testemunhas  seguintes foram contrariadas e desacreditadas.  Até as vítimas que foram encontradas recentemente, como eu, tiveram que ser retiradas em cadeira de rodas, por passarem mal.

Eu comecei a ficar preocupado.   Era possível perceber um tipo de comoção se formando ao redor de Unac. 

— O réu poderá depor ao seu favor agora.

Finalmente ele iria falar.

— Bem senhores, eu acho que o que estão fazendo comigo uma injustiça sem tamanho. Eu dediquei anos da minha vida ao conselho, ajudando os cidadãos de Republic City,  me corrijo, ajudando todas as pessoas  do mundo.  Fui exilado pelas pessoas que eu havia me dedicado, fui forçado a encontrar abrigo em Laogai, e lá eu finalmente pude continuar com os meus estudos e pesquisa. Todas as pessoas que participaram do estudo estavam lá como voluntárias, algumas estavam em uma situação critica, mas foi assim que eu as encontrei, eu as salvei,  dei abrigo e uma razão para viver. Tentar encontrar uma cura para todos os problemas do mundo.

Ele discursou pela a sua vida, lágrimas brotaram dos seus olhos, deixando varias pessoas da plateia e do júri emocionadas.

— É só isso que eu tenho a dizer meritíssimo. – Unac disse limpando as lágrimas com as mangas.

— Dando procedimento, agora temos como testemunha chave, o Avatar Haru.

Eu me levantei, todos os olhos estavam em mim.  As câmeras focalizaram o meu rosto e a minha indignação prevaleceu nas imagens.  Eu não estava feliz, todo esse julgamento parecia ensaiado, toda a promotoria parecia comprada. Tudo estava errado.

Quando eu me sentei no banco das testemunhas alguma coisa aconteceu comigo. Uma fúria intensa começou a brotar no fundo da minha mente. Meu coração acelerou e minha pele ficou mais quente.   Eu precisava me acalmar.  O advogado se levantou e olhou diretamente nos meus olhos. Era difícil não ficar olhando para o seu tapa-olho.

— Bem, Avatar Haru, podemos começar com a seguinte pergunta. Você também era um voluntário de Unac não é? Você aceitou por livre e espontânea vontade participar da pesquisa.

— Bem, sim. Eu aceitei. Mas ele não havia me dito que iria me congelar por 15 anos

—  Ele te congelou? Você se tem provas disso? È possível congelar alguém  por 15 anos sem matar a pessoa no processo?

— Sim é possível. Eu sou o Avatar e isso já aconteceu antes.

— Você quer mesmo usar lendas como prova? O que aconteceu com o Avatar Aang  é uma lenda, uma história sem veracidade, apenas  para enaltecer o mito.  

— Você está  me dizendo que o que aconteceu comigo é mentira? Que eu estou inventado tudo isso? Por que razão eu faria isso?

— Oras, você quer se tornar um avatar de prestigio. Sabe sua popularidade é questionável, você não fez nada de incrível comparado com os Avatares anteriores. Eu não me espantaria se tudo o que falassem de você fosse boato.

A raiva estava crescendo cada vez mais, quando a voz começou a falar eu tive que cravar minhas unhas na cadeira. 

Ele não tem o direito de falar nada sobre nós. E nem de nos manipular assim. Impeça-o.

A  voz falava claramente, ela abafava as demais.  Foi quando eu percebi as mãos do advogado. Ele falava gesticulando, mais que isso toda a vez que ele apontava para mim, eu me sentia mais quente.  Ele não estava apenas gesticulado, ele estava manipulando o calor do meu corpo. Ele era claramente um dobrador de fogo.  Ele fez isso com as outras testemunhas, para deixá-las impacientes e nervosas, não as fazer pensar direito.

Porém ele enraiveceu a pessoa errada. 

— Bem, não tenho mais nada a dizer. Os fatos dizem o que eu preciso.

— Senhor Haru, acho que isso foi o suficiente.

— Sim foi o suficiente.  – Eu explodi. Não literalmente, mas eu não conseguia mais segurar todos esse calor, toda a essa tensão. Foi como na luta com o Riku. O meu poder estava acessível, e potente.

As câmeras me  focalizaram bem quando eu derrubei o advogado com o ar. A corrente foi tão forte que todos da platéia se levantaram assustadas.

— Guardas. – Foi a última coisa que eu ouvi do juiz. Mas não tinha mais volta. 

Me virei para Unac, que sorria como um doente.

— Se a lei não consegue te alcançar, eu posso. 

Eu o ergui do lugar e  com as pedras do chão eu fiz uma grande estaca.

— Últimas palavras?  - Eu disse.

—  Experiência bem sucedida.  

Foi o que ele disse antes que eu cravasse a estaca no seu coração.

No fim eu só consegui sorri para as câmeras.  


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