Mira

Hina vai trabalhar com o Haru? Isso ficou na minha cabeça por um tempo que nem notei que todos me encaravam.  Estávamos na porta da sala da aula e um professor que eu não conhecia parecia surpreso, Suni passou na minha frente e se sentou ao lado de Meelo.

— Quem é você mesmo?  - O professor perguntou.

— Ela é a Mira, professor. – Suni nos interrompeu.

— Ah, aquela garota. Bem você ainda está matriculada, pode se sentar.

Não gostei do tom de voz dele, mas relevei. Os alunos me olharam com uma certa admiração que eu nunca havia percebido. No fundo da sala um rosto conhecido me encarava com um sorriso.

— Riku! – Falei feliz  quase correndo em direção a ele, eu realmente senti a falta dele.

— Mira. – Ele falou.

— Onde você esteve todo esse tempo? – Eu exigi saber

Quando voltamos de Laogai Riku quase foi preso. Sina teve que interver em seu nome, provar que ele estava fora de si quando atacou aqueles policiais. Eu achei que ele estivesse passando por algum tipo de tratamento, já que os estabilizadores não funcionaram quando ele voltou. Mas parece que agora ele está como antes.

— Por ai, em algum lugar. – Ele deu uma resposta vaga.

— Pelo jeito os estabilizadores já voltaram a funcionar.

Ele olha para mim e eu posso ver uma faísca no seu olhar.

— Talvez.  

Eu me sento ao seu lado e dou um pequeno soco no seu braço.

— Espero que isso seja um não, apesar do jeito maluco e psicótico aquele Riku faz as coisas acontecerem.

Ele não diz nada.

O professor se chama Doen e ele ensina literatura. Ele está falando de um livro que foi escrito  por alguém da época do Avatar Aang, eu ignoro totalmente o que ele fala. Por que eu vim para cá mesmo? Por causa da Suni? Acho que eu não sei de verdade, eu tinha esquecido como escola é um porre.

— Mira? – Alguém me chama.

Eu olho e vejo Zelena. Ela parece feliz em me ver. Isso é bem estranho.

— Oi, tudo bem? – eu digo sem jeito.

— Podemos conversar depois?

Eu confirmo com a cabeça.

— o que será que ela quer comigo? – Eu digo baixo.

— Bem, Mira. Você esteve ausente nos últimos meses e não sabe a devoção que a turma do fogo criou por você. – Riku me disse se espreguiçando.

— Devoção?

Ele ri. Não como antes, um tipo de risada que verdadeiramente expressa graça.

— Depois que você salvou todo mundo das mãos da União do fogo isso seria o mínimo que eles podiam sentir por você.

Eu não havia feito mais nada que a minha obrigação. Eu precisava fugir e acabei ajudando todo mundo, na verdade eu estive inconsciente na metade do tempo.

— Isso é muito esquisito.

— Você não viu nada.

O tempo passou e aquele professor foi embora. Zelena finalmente se aproximou e educadamente pediu a Riku para que nos deixássemos em sozinhas. E isso está ficando cada vez mais assustador.

— Mira! Eu não tive a oportunidade para me desculpar.

— Não precisa. Sério.

— Não! Precisamos sim! Todos nós.

Os olhos delas estavam esquisitos. Ela parecia realmente emocionada. 

— Está bem. Eu aceito as suas desculpas, seja lá o por quê.

Ela pegou as minhas mãos e apertou.

— Saiba que  todos nós estamos do seu lado. Você e a verdadeira Avatar! Não acreditamos naquele tal de Haru. Nós vimos você fazer coisas incríveis. A turma do Fogo estará ao seu lado e parece que o da água também.

Eu não sei por que mas aquilo mexeu comigo. Ver alguém que inicialmente não gostava de mim, acreditar tanto em mim.

— Obrigado – É só o que eu consigo dizer.

Ela sorri e vai para o seu lugar.

— Isso foi muito estranho. Zelena não é assim, o que aconteceu com ela? – Eu pergunto a Riku que já voltou.

— O pai dela foi deposto. Ele era um general que ficou do lado do conselho na dissolução.

Isso faz sentido, do por que ela não está do lado do Haru.

De repente as coisas  ficaram um pouco movimentadas. Nenhum professor entra na sala, e os alunos se sentam todos de uma vez.  

— O que está acontecendo? – Eu cochicho para o Riku.

—   Você acha que eu sei?

O diretor entra em passos rápidos.

— Bem, turma, temos uma interrupção. Uma pessoa veio visitá-los hoje. – Ele diz e limpa a garganta.

Quem entra em seguida é Haru.  Ele usa roupas verdes e militares, um visual que lembra das suas origens em Nova Ba Sing Se Ele entra devagar, olhando tudo como se procurasse alguém. Nossos olhos se encontram e ele me encara. Demoro para perceber que ele não está sozinha. Um grupo de crianças entra com ele, inclusive Hina. Ela me da um sorriso contido.

— O que ele quer?  -- Não consigo imaginar o por que dele estar aqui.  

— Bem, eu não sei, mas quero muito descobrir.  – Riku diz e da um tapa que estrala  alto na mesa, chamando toda a atenção.

O primeiro encontro de Riku e Haru foi catastrófico. Haru ainda estava confuso e Riku logo o viu como uma ameaça. A  sede de sangue de Riku estava beirando o absurdo, eles quase se enfrentaram. Sorte nossa que Meelo conseguiu impedir o pior.

— Olá. – Haru disse para toda a turma.

A maioria estava com a cara fechada e os outros não demonstravam muito interesse. Haru não é muito popular com essa geração.

 — O que você quer? – Riku se levanta.

Haru parece que não está a vontade.

—- Eu estou aqui para conhecer a nova geração de dobradores. E propor algo a vocês.

Riku ri.

— Então eu vou indo. Não tenho qualquer interesse em nada que você irá propor.

Riku anda em direção a Haru. O clima fica tenso. Não acho que Haru deixará por isso mesmo, caso isso aconteça ele nunca conseguirá ter o respeito dos alunos.

Riku está quase na porta quando Haru o pega pelo braço.

— Você não vai a lugar nenhum. – Haru diz visivelmente irritado.

— Não vou? E quem vai me impedir? Você? Um falso avatar?  

Isso foi a gota d’água.  Haru não irá conseguir se manter. Eu sinto isso vindo dele, ele está pronto para explodir.

— Riku! – Eu me levanto chamando a atenção de todos.

—  Não se envolva Mira, isso irá acontecer mais cedo ou mais tarde.

— Certo, vamos resolver isso. Diretor prepare a arena, eu irei ensinar esse pirralho o verdadeiro poder de um Avatar, não se preocupe eu não irei te machucar muito. – Haru fala e eu sinto uma similaridade em suas palavras. Como se tivessem sido roubadas da minha mente, uma coisa que eu facilmente falaria.

Cochichos podem ser ouvidos de todos os lados, acho que nem todos conheciam esse lado do Riku. O louco psicótico de pavio curto que desafiaria qualquer um, não importando quem para lutar. Apesar de tudo eu não fico nenhum pouco triste. Na verdade eu estou muito animada, faz muito tempo que eu não me sinto assim.  E realmente quero ver Haru apanhar.