Avatar: A lenda de Mira - Livro 3 - Terra escrita por Sah


Capítulo 25
Heróis




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Suni

Era fácil prever o desastre que estava por vir. Tudo estava errado. A terra tremia levemente em protesto contra alguma coisa, ao nos aproximarmos todos os dobradores de terra perceberam.

Engoli em seco.

— Não é só eu que estou sentindo isso, não é?  - Eu perguntei para tirar um peso na consciência.

Sohee se colocou na frente.

— Alguma coisa ruim vai acontecer, por isso temos que tirar Kitten desse lugar, o mais rápido possível.

Antes de chegar até ali. Fei teve que planejar. Quem iria, como chegaríamos e como tirariamos Kitten e Mira dali. Meelo foi contra e eles discutiram muito antes de chegarem a um acordo. No fim, apenas sete pessoas iriam nessa missão. E naquele momento, eu sabia que não seriamos suficiente.

Não havia como entrar naquele lugar de outra forma, tínhamos que atacar e imobilizar. Por isso fora Meelo, éramos três dobradores de terra e três de água. Sohee ainda estava tonta por causa da bebida e mesmo assim ela estava aqui.

Meelo ainda estava nervoso. Acho que ele tinha a impressão que poderia encontrar  o seu pai naquele lugar. Mas, eu sabia que ele não encontraria.  Uma coisa que sabíamos sobre o pai do Meelo e que ele sabia se retirar quando as coisas não iam muito bem.

Eu não sabia que horas eram. Eu só sabia que o sol estava prestes a nascer. A chuva estava cessando e os raios cada vez mais raros.

Andávamos devagar, longe dos olhos dos guardas que protegiam a entrada. Eu tentei ficar próxima ao Meelo, mas ele mal olhava para mim.

— Eu sei que é difícil Meelo, mas pelo menos estamos tentando. – Eu cochichei para ele

— Isso é culpa minha. Tudo isso. Se eu não tivesse insistido, ela estaria bem.Todos nos estaríamos.

Ele se culpa, mas ninguém culpa ele. Eu acho que se ele não tivesse insistido tando na Mira, ter tanta certeza de que ela era realmente o avatar, outra pessoa teria feito, mesmo se ninguém fizesse, isso não é algo que fica escondido por muito tempo. Eu já disse isso para ele várias vezes. Mas, parece que ele não me escuta.  No fim, eu não sou a mais teimosa de todos.

— Esse foi o ultimo trovão. – Meelo diz alto o suficiente para todos ouvirem.

A  chuva finalmente havia terminado. As nuvens negras estavam dando espaço para um céu  pálido.

Agora estávamos perto o suficiente para enxergar tudo o que acontecia no palácio presidencial.  Haviam cerca de 10 guardas. Dois deles me fizeram tremer.

— Clã do metal. – eu disse baixo.

Meelo finalmente me olhou.

— Suni. Você precisa ir embora. Nós nos viramos.  Nós vamos conseguir.

Meu medo era real. Todas as minhas memórias referente a eles me atingiram em cheio.

— Ela está bem? – Fei perguntou.

Senti uma mão tocar meu ombro. Era Meelo.

— Você está bem? – Ele me perguntou diretamente.

Eu não estava. Eu tentava não tremer. Eu tentava não pensar nisso. Mas, me lembrei de  Kieran, dele sendo arrastado na frente de todos. Nas suas cinzas sendo entregues a sua família em uma cerimônia hipócrita de honra. Eu assim eu  me vi na mesma situação.

/Só que apesar de sentir tudo isso. Eu vi Mira. Em como ela lutou com todos aqueles soldados quando ela foi levada. Em como o meu terror foi menor. E minha vontade de ajudá-la venceu esse meu medo.

— Eu estou. – Eu digo firme.

Assim me viro para Fei.

— Há algum dobrador de metal aqui? – Eu digo sério.

Vejo os dobradores de terra segurarem um riso.

— Até parece. Ninguém é louco o suficiente. – Sohee diz parecendo incrédula.

Suspiro. Realmente ninguém é louco o suficiente.

— Então eu vou na frente. 

Tateio os meus bolsos e sinto a corrente de metal que eu havia pego. Apesar de morrer de medo de ser vista dobrando metal, eu procuro sempre carregar um pouco comigo. 

Pego e a moldo. Cobrindo as minhas mãos com uma fina camada prateada.

Todos menos Meelo parecem surpresos.

— Cuidem do resto. Eu me viro com aqueles dois.  – Eu digo com uma certeza que eu não sei da onde veio.

Nós corremos. Perto o suficiente para sermos vistos. Antes que um dos soldados grite alguma ordem. Sohee já estava preparada, e assim ele é enterrado até o pescoço.

Em um reflexo absurdo um dos dobradores de metal joga em nossa direção uma haste de ferro que envolve um dos pulsos de Sohee e a leva ao chão. Eu engulo em seco. E da mesma maneira que ele a prendeu eu a solto. 

Eu vejo o sorriso do soldado. Ele parece feliz em nos ver, ou melhor está feliz em ver o que eu fiz.  Ele é alto, pelo menos tem o dobro da minha altura e pelo menos o dobro da minha idade. Eu vejo a sua experiência nas marcas do seu rosto, marcas de ferro fundido,  marcas que representa a hierarquia no clã.  Ele é um general, isso é claro. O outro do seu lado, exibe marcas menos impactantes e mostram que ele é apenas um aprendiz, sua idade é bem mais próxima a minha. Porém ele é tão perigoso quanto o outro. Vai ser impossível lidar com os dois.

Na escola de combate, eles ensinam a lidar com todas as dobras, porém é proibido ensinar a combater a dobra de metal. Eles nos querem dóceis e obedientes e caso não sejamos, eles sabem quem chamar. Por isso não deve existir dobradores de metais em outras nações,  somente em Zaofu.

Sohee se aproxima de mim.

— Eu não vou deixar você ficar com toda a diversão.

Diversão? Essa mulher realmente está bêbada.

Mas, por que ela parece tão determinada?  Ela realmente acha que isso é possível, que nós duas podemos dar conta. Eu não sei que tipo de treinamento ela tem, mas eu não recuso a sua ajuda.

—Então cuidem dos outros. – Eu digo firme.

Assim eu ataco.

Uma coisa que eu notei quando eu aprendi a dobrar metal e a sutileza que existe entre essa dobra e a de terra. Eu imagino quando Toph descobriu isso. Afinal o metal faz parte da terra, mas a terra não faz parte do metal. E só precisamos  descobrir quando acaba um e começa outro. A leveza do metal sob a terra, e a densidade da terra sob o metal. Eu não  preciso sentir o metal, eu preciso apenas domina-lo. O metal que envolve a minha mão se desprende e o faço deslizar pelo ar, a caminho do meu adversário. 

Não é suficiente o mesmo metal que eu enviei se desfaz na minha frente, indo para todos os lados. Sohee é mais incisiva. Ela ataca o mais jovem com blocos de pedra maciça. Eu ouço o impacto da pedra com o metal. E me distraio por um momento assim sinto flechas de metal cortarem o meu rosto de raspão.

Eu o deixei se aproximar. Isso não pode acontecer. Limpo o sangue com as minhas mangas sujas e dessa vez, piso com força no concreto e faço um bloco. Apesar de saber dobrar metal, a terra sempre foi o meu porto seguro. O caminho que eu sempre poderei me agarrar. E é nesse momento, quando eu me conecto de novo com a terra sob os meus pés que eu sinto.

— Sohee – Eu grito.

Porém, ela já percebeu. Os dobradores na minha frente não percebem. Eles estão a absorvidos demais na batalha. A dobra de metal é cegante, faz a maioria abandonar a dobra da terra em si. E eu creio que esse é o caso das pessoas em nossa frente.

Não dá tempo de fazer muita coisa.

—Todos juntos! – Eu grito para todos. Eu preciso que todos se aproximem.  

O tempo se esvai em câmera lenta. Quando o primeiro pedaço de concreto cai, deixa todos surpresos. E assim como em uma fila de dominós, todos começam a cair em seguida. Um tremor. Eu sinto a terra tremer violentamente.

Não existe mais batalha, aqueles dois e todos os outros soldados já foram afogados naquela pilha de concreto e pedra que fica cada vez melhor.

—Meelo? – Eu grito. 

Eu sinto sua mão em meu ombro. Ele está aqui comigo. Eu forço essa espécie de campo de força. Repelindo toda a pedra que o toca. Meelo também me ajuda. Ele afasta tudo o que pode. 

Sinto todos aqui. Todos estão se esforçando para sobreviver.  Olho ao redor tentando enxergar sob a cortina de fumaça e fuligem.

O primeiro tremor finalmente parou. Mas, não demora a vir outro, um ainda mais violento. A terra sob os nossos pés ameaça a ceder. O que está acontecendo? Eu posso sentir. Tudo está concentrado aqui. O epicentro é sob o palácio presidencial.  

Tudo durou apenas um minuto e meio. Eu contei. Mas, a cada segundo, a cada grito que ouvimos abaixo de nós, tudo pareceu durar horas.

Quando a fumaça e a poeira finalmente se acalma. Meelo faz uma corrente de ar limpar a nossa visão.

O que eu vejo é uma calamidade completa. Algumas pessoas estão presas, eu posso sentir.  Temos que ajudar! Temos que tentar salvar essas pessoas.

Eu estou exausta. Repelir tantas pedras e pedaços de concreto me consumiu quase por inteiro, mas, eu consigo. Eu sei que consigo ajudar.

— Vamos logo. – Eu digo em direção ao nosso pequeno exército. Aponto para um dos dobradores de água que veio conosco.

— Você sabe curar? – Eu pergunto  séria.

Ele parece preocupado. Mas, se envergonha.

— Não.

— Então busque ajuda. Todos que você encontrar. – Me viro para o Fei – E você. Se prepare, precisaremos de todas as suas habilidades médicas.

Meelo não demonstra muita reação. Acho que ele ainda está tentando absorver tudo. Diferente de mim, que costumo sentir e reagir a tudo imediatamente.

— Meelo? – Eu pergunto.

— Suni. O meu pai.

Perco um pouco da minha paciência.

— Tente não pensar nisso.  Tente pensar em todas as pessoas que conseguiremos salvar. Vamos salvar essas pessoas, e nos lamentarmos depois. Vamos tentar ser heróis. Eles precisam da gente.


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