Avatar: A lenda de Mira - Livro 3 - Terra escrita por Sah


Capítulo 18
Tremor e vendaval




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Suni

Eu me senti segura por um momento ao lado de Meelo, ele estava contando histórias para as crianças e Nari está quase adormecendo ao meu lado. Encaro a testa dele, ainda não consigo acreditar.  Ele vai se tornar um monge. E eu não poderei mais vê-lo com tanta frequência. Isso me deixa chateada.

— Você pode parar de me encarar? – Ele me diz

— Você sabe que sua testa está parecendo um outdoor?

Ele suspira. Eu ainda faço piadas, mesmo quando o clima não é esse. Ele continua a contar a história do seu bisavô, e de como ele salvou o mundo todo.  Ouço um barulho alto. Som de vidro se quebrando. Olho ao redor. Cadê a Mira? Ela ainda não voltou? E isso me deixa com a consciência pesada.

— Meelo? – Falo em direção a ele. – O que foi isso?

Pelo seu rosto ele também não parece saber.

Me levanto e vou até a porta da sala. Tudo está escuro. Não há energia nesse templo. Mas mesmo assim me adentro na escuridão.

— Suni, espere! – Meelo vem atrás de mim.

Ele consegue me acompanhar.

— Estranho. – Ele diz. – As tochas deveriam estar acesas.

Realmente, está estranho.

Ouvimos mais uma sequência de sons altos.

— Isso está vindo da câmara das estátuas. – Meelo se apressa.

A terra treme, eu a sinto sob os meus pés. Meelo tambem sente uma alteração no ar.

— Suni, a Mira está fazendo isso?

— Não acho que ela faria isso sozinha. Ela está com problemas.

— Então, vamos até ela.

Ele pega o meu braço e eu o guio pela a escuridão.

Um clarão machuca os meus olhos. As paredes tremem com o impacto e nós finalmente a vemos.  Mira esta voando, a cúpula que existia nessa sala está quebrada e há vidro espalhado para todos os lados. Meelo parece não acreditar no que vê.

Ela está cercada, vários soldados estão a sua volta, mas não é isso o que nos choca. O pai de Meelo está lá, e não parece estar fazendo nada para ajudá-la, na verdade, ele parece está apoiando os soldados.

Eu não penso duas vezes, estou pronta para ajudar a minha amiga, porém, Meelo parece chocado demais para fazer alguma coisa.

— Meelo? – Eu tento chamar a sua atenção.

— Isso tem uma explicação. Eu tenho certeza. – Eu o ouço balbuciar.

— Meelo! – Eu chamo de novo.

Aarion está lá, cochichando para o pai. 

Tudo está voando, assim não consigo chegar ao centro da sala. Os soldados não prestam atenção em mim. Sou quase atingida por uma cabeça de estátua, porém a jogo para longe. Meu coração aperta quando eu os vejo. Aquele brasão que me persegue em meus piores pesadelos. O clã do metal.

Para  as outras pessoas, um dobrador de terra entrar para o clã do metal parece ser uma honra, um privilégio. Porém a verdade é que é uma sentença de prisão.  Desde que Opal, a antiga matriarca, morreu, Zaofu foi tomada por um conselho militar tão rígido quando a União do fogo.  E por causa de um acordo de 50 anos atrás, o clã do metal tem todo o poder sob qualquer dobrador de terra que tenha essa subdobra.  Zaofu é a cidade que mais tem dobradores de todo o mundo, há mais dobradores  de terra lá que em qualquer outro país. Zaofu, é a maior potencia militar do mundo, e apesar de territoriamente pertencer a Laogai,  tem poder de bater de frente com qualquer país, mesmo sendo apenas uma cidade.

 Eu já conheci alguém que foi mandando ao clã do metal. Uma pessoa que não existe mais. Quando eu era mais nova, cerca de cinco anos atrás, Kieran um colega mais velho, mesmo tentando esconder de todos, foi descoberto pelo nosso professor. Não houve muito o que se fazer, antes mesmo que ele pensasse em fugir, eles vieram. Ele foi arrastado por correntes de metal no meio de uma aula. E ficamos sem notícias dele, até que apenas dois meses depois, a familia recebeu suas cinzas. Não houve respostas e nem um tipo de investigação. E desde esse dia eu sei. Se eu for descoberta, essa será a minha sentença de morte.

Eles a acorrentaram. Hastes de metais voavam em direção a ela. Até predenderem suas pernas e mãos.  Ela foi trazida até o chão. Porem , não desiste, ela tenta se reenguer, outros soldados dobradores a forçam com outros elementos. Estou pronta para agir, pronta para ajudá-la. Me preparo para fazer isso. Sinto a dureza e a frieza do metal daquelas correntes. Não há uma conexão solida, mas sim volátil, sinto que posso perdê-la a qualquer momento. Movo minhas mão para cima.
— Não. – Meelo pega uma das minha mão.

— O que você está fazendo? – Pergunto com raiva. – Preciso ajudá-la!

— Suni! Olhe para a nossa situação por um momento!

E eu faço o que ele pede.

A realidade é mais dura do que eu pensava. Há 15 soldados nessa sala. 10 deles são dobradores e entre esses 10, cinco do clã do metal.  É suicídio tentar fazer qualquer coisa nessa situação. E se eu dobrar metal na frente de tanta gente, mesmo que eu consiga ajudá-la, não haverá forma de nos escaparmos daqui com vida.

— Mas, o quê podemos fazer?

— Agora? Só esperar. Quando tivermos qualquer chance, nós iremos revidar. – Ele me diz e me tranquiliza um pouco.

Ficamos escondidos, mas sei que eles sabem que estamos aqui.

Meelo está focado. Ouve tudo com atenção. Quando ele vê sua tia, Jinora. Sinto que ele está prestes a desabar. Seguro a mão dele.

— Seja forte Meelo! Nós vamos fazer alguma coisa!

Ele aperta a minha mão com força.

Mira está desmaida. Um dos soldados a carrega enquanto os outros a escoltam. Eles passam por nós e eu me sinto inútil. Fraca! Uma pessoa imprestável que nem pode tentar salvar a sua amiga.

— Eles não vão matá-la ainda. Não teriam todo esse trabalho por nada. Tem alguma coisa, Suni e precisamos nos agarrar a isso.

Quando os soldados vão embora. Meelo corre até ficar de frente para o seu pai e tia.

— Meelo. – Jinora diz em um suspiro. – Você não deveria estar aqui.

— Não deveria? – Por que? Você vão me trair também?

— Filho... Você não deveria ter visto isso. Você não entende...

— Não entendo? O que eu não entendo? Eu sei muito bem o que eu vi! Vocês a entregaram! Vocês traíram a minha amiga!

— Era necessário! – Seu pai fala alto.

— Uma coisa que eu sempre convivi, pai, foi com a sua hipocrisia.  Você sempre nos diz para sermos bons, para vivermos os preceitos dos monges. Mas, a única coisa que eu sempre vi é você indo contra isso. Luxúria, orgulho, avareza, ira e inveja ! Você me diz para não ceder a isso, mas desde que eu vim para cá eu só o vejo fazendo coisas incompatíveis com a vida que você quer que eu leve. Sempre achei que Aarion fosse o incescrupuloso, mas agora percebo que ele é apenas o reflexo do pai.

Meelo está chorando. Seu pai e tia não dizem nada. Com a chuva que cai ele limpa as marcas na sua testa.

— Eu nunca irei me tornar um monge do ar. Eu ainda tenho escrúpulos. Vocês dois mancharam tudo o que meu bisavô construiu.

Jinora se aproximou de Meelo, parecia que ela queria se desculpar. Mas, ela apenas continuou o seu caminho, passando por mim.

— Traidora. – Eu disse baixo.

Meelo saiu da frente do pai, não olhou para trás e veio até mim. 

— Vamos, Suni! Mira precisa de nós.

Ele tentava parecer forte, mas eu percebia, ele estava desmoronando por dentro.


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Notas finais do capítulo

Capítulo do ponto de vista da Suni. Daqui para frente isso vai ser bem comum :)

Obrigada por acompanharem.



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