Avatar: A lenda de Mira - Livro 3 - Terra escrita por Sah


Capítulo 17
Ódio


Notas iniciais do capítulo

Depois de tanta demora, me desculpem pessoal, mais um capítulo novinho para vocês.



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Mira

Desde que falamos com Jinta, ou qualquer que seja o nome daquele dobrador , estamos correndo sem parar. Minha respiração está desregulada, e eu estou quase ficando sem fôlego.  Meu rosto está quente e sinto o suor escorrendo da minha testa. Suni não está em seu melhor momento, ela parou de deslizar pelo concreto e agora só corre, como eu.

É fácil correr com as ruas desertas, porém é difícil se esconder. Por isso corremos, indo de um ponto ao outro, e quando ouvimos qualquer movimento,  corremos novamente.

— Mira, vamos parar. Eu não consigo mais. – Ela me diz rouca.

— Mas, falta pouco. Estamos quase lá.

Apesar da escuridão é possível ver de longe o mosteiro. Ele está no nosso horizonte, nos limites da cidade. Quando chegarmos lá, nos abrigaremos e falaremos com o Meelo.

— Eu não sei se consigo mais. Minhas pernas estão cedendo, e se alguém nos atacar eu não poderei fazer nada.

— Seu tio Jinta disse que iria nos dar cobertura. Por isso, vamos, chegando lá poderemos descansar.

Ela não pareceu muito convencida.  Mas, continuou.

O mosteiro estava cada vez mais perto. Podiamos ver suas torres altas, seu portão de ferro e suas paredes de 100 anos de idade.  Eu nunca havia parado para pensar nele, ele sempre foi apenas mais um prédio na vista. Mesmo se destacando entre os prédios mais novos , eu  nunca parei para pensar no  por que de haver um mosteiro no meio dessa cidade tão grande e movimentada.

A sirene tocou novamente e ouvimos um barulho constante de motor. Eles estão perto. Tento apertar o passo, mas não consigo, Suni está aterrorizada, ela está cansada e não consegue mais dar um passo sequer.

Eu tento reunir todo o meu fôlego e correr até ela. Pego o seu braço e a puxo para continuar.

— Continue Mira, me deixe aqui. Você terá mais chance sozinha.

Ouvir ela dizendo isso corta o meu coração.

— Eu prefiro morrer do que abandonar um amigo. – Eu digo com convicção.

Ela me encara e sorri.

— Que frase cafona Mira, viu isso é algum filme?

Ela ainda tem forças para fazer piada, mas eu falo sério, eu nunca abandonaria ninguém que eu goste, mesmo que isso custe a minha vida.

 Eu me posiciono atrás dela, de frente para os faróis que se aproximam.

Não é um carro policial. Nem nada do gênero. Isso me alivia por um momento.

— Aarion? – Suni me diz me chamando a atenção.

— É ele sim! – Suni acena.

Quem é Aarion mesmo? Esse nome soa familiar.

O carro para na nossa frente.

O homem é da idade do meu pai. Seu cabelo é castanho claro e curto, seus olhos são familiares. Ele está usando uma bandana amarela que esconde a sua testa.

— Ele é um dos irmãos do Meelo. – Suni me diz aliviada.

— Irmão? 

Ás vezes eu esqueço que o Meelo tem muitos irmãos. Mas, esse eu conheço de algum lugar.

O olhar do Aarion é intimidador, porém ele sorri.

— Precisam de carona? – Ele diz calmamente.

Antes que eu possa responder alguma coisa, Suni já está sentada no banco da frente.  E eu não tenho alternativa além de ir junto.

— Todos estão bem? – É a primeira coisa que Suni diz a ele.

— Se todos, você quer dizer, meu pai, e meus irmãos e meus sobrinhos , sim todos estão bem.

— E , o Meelo, ele está bem? – Suni pergunta novamente.

Aarion demora a responder, mas diz:

— O bastardo também.

Isso me choca. Poucas vezez vi alguém chamar o Meelo de bastardo, mas ver um de seus irmãos dizer isso me machuca.

Suni não apresenta nenhuma reação, e isso me diz, que isso é normal.

E como isso pode ser normal? Ele me irrita, esse tal de Aarion! Se eu tivesse com todas as minhas forças, ele sentiria o sabor do meu soco.

Me afundo no banco de trás, tentando conter a minha raiva.

— Chegamos. – O babaca do Aarion diz.

Não vi quando atravessamos os portões, mas definitivamente estamos no mosteiro. As torres são mais altas do que eu imaginava.

— Menina.

Acho que Aarion se refere a mim.

— Sim? – Eu digo secamente.

Ele sorri.

— Que bom que você está aqui.

E isso me deixa incomodada.

Sigo Suni, para onde qualquer lugar que seja , que ela está indo.

Esse lugar é mais velho do que a ilha em que o Meelo morava. As paredes internas estão de desfazendo aos poucos e o chão possui buracos. Ele está literalmente caindo aos pedaços.  Não a luz elétrica, somente tochas acesas pelos corredores. Suni parece conhecer bem  o lugar.

Nós ouvimos a voz dele de longe. Meelo! Tentamos correr, mas não temos força, vamos devagar até uma das salas daquele lugar.

Ele está sentado em círculo com algumas crianças. Ele conversa com elas, como se tentasse acalmá-las.  Das crianças só reconheço a pestinha da Nari. Ela está maior, desde que nós a vimos pela ultima vez, ela cresceu. E ela é a primeira a nos ver.

Ela sorri e isso é estranho. Nari me odeia, e odeia a Suni, elas costumavam competir pela atenção do Meelo. Mas, agora parece que ela não apenas cresceu, mas depois de tudo o que aconteceu com ela , Nari tambem amadureceu.

Meelo finalmente nos vê, e suspira aliviado.  Ele não se levanta e nem vem até nós, apenas pede para sentarmos junto com ele e as crianças.

— Aarion nos trouxe até aqui. – Foi a primeira coisa que Suni disse.

Meelo está como sempre,  mas o que nos chama a atença é um pontilhado acima da sua testa.

— Desde quando? – Suni pergunta para ele.

Meelo toca o pontilhado.

— Está chegando a hora. Não há como adiar.

— Mas, eu achei que você iria terminar a escola antes. – Suni diz.

— Que escola? Do jeito que as coisas estão, não teremos escola por muito tempo, Suni.

Eu não entendo muito bem sobre o que eles estão falando, apenas sei que é da marca que está se formando na testa do Meelo. Acho que é alguma coisa dos monges.

Nari não para de me encarar.  Olho de volta para ela.

— Mira? – Ela me chama.

— Sim?

— Está tudo bem? Sinto uma agitação em você. É estranho.

Agitação? Ah, sim. Nari era uma iluminada, e eu não entendia o que isso queria dizer, só sabia que ela podia ir até o mundo dos espíritos, mas fora isso, eu não sabia nada.

— Agitada?

Meelo e Suni pararam de conversar e olharam para nós.

—Depois de tudo o que passamos para chegar aqui, acho que estou agitada mesmo. – Respondo.

— É diferente.  Quase como o Haru, da primeira vez que eu o vi.

Suspiro.

— Não fale dele.  Ele é a causa de tudo isso.

— Tia Jinora disse que a alma dele está desequilibrada, e eu tenho essa mesma sensação vida  de você.

Sinto um arrepio na espinha e travo o maxilar, contendo uma raiva que se formava.

— Eu não sou como ele.

Me levanto e fico de frente para eles.

Todos me olham com apreenção, até as crianças que estavam distraídas brincando.

— Nunca me compare a ele. – grito.

Eu não deveria falar assim com ela. De todos nós, foi ela que mais sofreu em Laogai. Mas, eu lembro. De quando ela o acolheu, de quando ela explicou quem ele era, de como ele era importante. Foi por causa dela que não o deixamos lá.  Se não fosse ela, as coisas não estariam dessa forma.

Ás vezes eu percebo, quando os meus pesamentos estão indo longe demais, quando a raiva começa a ser a única coisa que eu sinto. Foi nesse momento que eu tive que parar e repirar. Várias vezes eu já repassei esse pensamento. Nari é inocente, ela não sabia, ela não tinha como saber, ela é uma criança.  E isso faz a raiva se dispersar.

Saio da sala, não quero que ninguém me veja desmoronando.  Manter tudo isso dentro de mim está cada vez mais difícil.

Ouço Suni, ela quer vir atrás de mim. Mas, Meelo a impede.

Ando sem rumo, passando por salas e câmaras escuras. A chuva cai lá fora sem piedade e trovões fazem as paredes balançarem. Estou com frio, minha roupa ainda está molhada e eu tremo enquanto ando. 

Uma das salas me chama a atenção, ela está bem mais iluminada que as outras, parece estar bem mais quente tambem. Aperto o passo e chego até ela.

Sou surpreendida, diferente do restanto do prédio, as paredes parecem bem firmes. No teto existe  uma cúpula de vidro e atravez dela eu  posso ver o céu e a chuva que cai. Há muito mais tochas que em qualquer outro lugar e bem no centro do espaço, várias estátuas olham para mim.

Me aproximo devagar . Posso ver  os olhares empredados das estátuas, elas parecem me julgar.   Há uma familiaridade nelas.

Eu reconheço uma delas, é a mulher dos meus sonhos, das minhas projeções. Avatar Korra? Tenho certeza que é ela. E assim eu posso reconhecer mais algumas estátuas.

Logo atrás dela, o Avatar Ang com um sorriso pleno e suave, Avatar Roku com as roupas do antigo reino do fogo e Avatar Kyoshi com o seu olhar impassível. O restante eu nunca vi, mas tenho a certeza que são outros avatares.

Outra estátua me chama a atenção, ela é menor que as outras, quase da minha altura, quando eu chego mais perto eu descubro quem ela representa.  Apesar dos olhos totalmente diferentes a aparência é a mesma. Haru.

Até mesmo ele está representado nesse lugar. E isso me faz sentir pequena, desnecessária, inútil. E aquela melancolia que estava se formando, se espande.

Sinto uma presença atrás de mim. Viro-me rapidamente e o vejo. Meelo, não o meu amigo, mas sim seu pai.

— Muitos disseram que esse lugar não deveria mais existir. – Ele diz pausadamente –  Mas, meu pai mesmo dizia, nós precisamos de um reduto para as nossas memórias.

Eu não sei o que dizer para ele.

— Deveriamos ter te trazido aqui há muito tempo. Desde a nossa primeira desconfiança. Isso teria evitado muitas coisas ruins.

Ele se aproxima devagar.

— Todas essas pessoas e só uma alma, uma missão.  Essa era a coisa certa. O mundo já estava em desequilíbrio, mas você dois. – Ele aponta para mim e a estátua do avatar Haru. Vieram para terminar de afundá-lo.

Seu tom muda. Ele parece triste, mas ao mesmo tempo incorformado.

— É minha culpa. Eu deveria ter deixado, eu deveria ter ouvido a minha razão.

— O que você quer dizer com isso? – Eu finalmente falo.

— Poucas pessoas sabem o que aconteceu, quando Vaatu quase foi libertado nesse mundo. Eu era uma criança, mas eu lembro de como Korra ficou, eu lembro de tudo o que aconteceu com ela, de como ela foi traída e teve que ir contra a própria familia.

— Ela conseguiu, ela salvou o mundo daquela vez. – Eu disse com conviccção.

— Mas foi ela também que condenou o mundo. Existe um ciclo para tudo. O Ciclo da chuva, o ciclo da vida  , o ciclo avatar, mas o mais importante dos ciclos e o do mundo.  Há muitos anos atrás estávamos caminhando para o fechamento de mais um ciclo, o mundo humano se fundiria com o espiritual e o mundo se reiniciaria. Porém Avatar Korra não deixou. Ela foi atrás das respostas e fez um acordo com algo muito mais poderoso e antigo que qualquer coisa que existe.   E agora ele está cobrando tudo isso com juros.  Quase ninguém sabe disso. Além de mim só alguns membros da Lotus Brancas, e pelo jeito você.

Sim, eu já havia ouvido essa história. Korra havia me contado na primeira vez que me conectei verdadeiramente com ela.  

— E você e o Haru são a maior prova de que o mundo está se despedaçando.

Ele realmente acredita nisso. Ele realmente acha que Korra condenou o mundo.

— Achei que vocês eram amigos, familia.

— Ah sim. Ela sempre será minha amiga. O que ela fez foi para nos proteger afinal. Porém, eu não posso mais fechar os olhos para isso Mira. Korra errou, mas agora temos que consertar o erro dela. E para isso um de vocês deve morrer. Haru ou você, só um pode existir nesse mundo.

Mais pessoas se aproximaram.  Homens de uniforme militar. Aarion, o irmão do Meelo que nos trouxe aqui, cochicha nos ouvidos do pai.

— Você vai mesmo tentar me matar?  -- Eu pergunto.

— É o necessário. Eu conversei com ele. Haru entendeu, ele se dispôs a se sacrificar, mas não posso fazer isso com ele. Ele já se sacrificou demais nessa vida. – o pai de Meelo diz tentando se explicar

Eu só consigo rir.

— Você coloca todo o peso do mundo em nós, mas quem realmente condenou o mundo foram vocês. Humanos egoístas que não aceitam que as coisas mudam. O ciclo não acabou seu babaca. Ele está apenas começando.

Aquelas pessoas se aproximam mais e mais.

São dobradores. Eu posso sentir.

O primeiro tenta prender os meus pés ao chão. Mas assim que sinto o tremor eu me impulsiono para cima em uma corrente de ar.

O ar fica quente, porém eu já estou  esperando. A cúpula de vidro quebra e eu tento me proteger dos cacos , sinto pequenos cortes nos meu braços, mas isso não me faz parar. Agora chove aqui dentro.

Estou cansada. Porém, consigo dobrar água. A noite me empresta um pouco da sua força. Faço a água se tornar uma extenção do meu próprio corpo . E com isso tento abrir caminho.  Eu só penso em fugir.

Conto cinco pessoas e mais chegando. Espero que Suni e meu amigo Meelo estejam bem.

São dobradores de terra em sua maioria, porém me preocupo mais com os poucos de água que estão tentando acabar com a minha conexão. Eles também ficam mais fortes à noite.

Sou cercada por todos os lados. Tento me impulsionar com a ajuda do ar, mas não tenho forças para isso.

Só posso contar com a água.

Congelo pequenas gotas de água e jogo em direção a eles.

Eles são rápidos e desviam com facilidade sinto que essa é uma batalha perdida.  Caio de joelhos com toda a minha força se esvaindo. Esse é o fim? Eles vão me matar?  

Um dos guardas fica de frente para mim. E vejo o seu rosto. Eu nunca o vi antes, entretanto sinto a sua sede de sangue, ele realmente está disposto a isso.

— Não matem a garota. A única pessoa que pode fazer isso é o Haru, é a única forma de recuperar o equilíbrio, um deve matar o outro. – Ouço o pai de Meelo falar ao longe.

Mas, parece que aquele soldado não ouviu, sinto a estaca se formar aos seus pés, ele vai me empalar, aqui e agora e ninguém vai impedi-lo.

Estou preparada para a dor, porém só sinto um calor se formar no meu peito. Um calor familiar, que me acompanha desde que eu nasci.

Quando eu abro os olhos, vejo as coisas voando, os cacos de vidro, as estátuas que já estão em pedaços e toda aquela água. 

Eu mesma não estou mais no chão. 

Lá de baixo eles olham assustados, o soldado que tentou me matar está caído, e o pai de Meelo me olha com apreenção.

Eu não consigo me controlar, porem confio naquela força, sei que ela fará todo o necessário para me proteger.

Eles recuperam a confiança, o restante dos soldados, posso ouvir alguém gritando ordens, mas está tudo tão distante.

Sinto alguma coisa agarrar o meu braço.  Olho para o lado e vejo uma algema de metal. Pelo jeito a dobradores de metal entre eles. Sou puxada para baixo com força. Mais algumas correntes me puxam e eu sinto uma delas prender os meus braços nas costas.

Eles são muitos, mesmo em estado Avatar eu não consigo me mexer.

Sinto uma explosão de poder dentro de mim, tento me erguer novamente, porém agora não só os dobradores de metal, mas os de terra, água e até ar me forçam a ficar imóvel.

Outra pessoa se aproxima, eu já o vi, naquela transmissão do Haru, ele estava ao seu lado, assim quando ele me encara, chuta homem caído, aquele que tentou me matar.

— Ele é um idiota. Achou que iria ser uma espécie de herói acabando com você, mas como o velho disse, tenho que te entregar para o Grande Avatar Haru.

Ele sai da minha frente e abre caminho para alguém conhecido.

— Jinora? –Eu a vejo se aproximar.

— Me perdoe Mira, eu realmente acho que essa não é a melhor forma, mas o único jeito.

Ela toca a minha testa e sinto aquela força que se formava se dispersar. Tudo fica escuro, não posso mexer o meu corpo, porém, o único sentimento que eu sinto é ódio e tenho a impressão que é a única coisa que irá importar dali para frente.


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Notas finais do capítulo

Essa capítulo foi um pouco mais longo que o normal e bem intenso também, a parti desse muitas coisas vão mudar e várias conexões com outros fatos da história acontecerão.
Obrigada por lerem!



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