Heath estava contente mais uma vez. Exibia um sorriso sincero, um sorriso que não ousava sorrir há muito tempo, mas que brilhava de maneira bela em seus lábios.

O motivo desse sorriso? Eles estavam juntos novamente, corriam juntos de novo, estavam conectados mais uma vez. Mas seu sorriso sumia vez ou outra, trocado por um sorriso amarelo de ansiedade antes de uma corrida ou, por uma face inexpressiva por medo de mais uma segregação. Se fossem separados mais uma vez, Heath acreditava que não conseguiria sorrir verdadeiramente de novo, nem um sorriso falso saltaria em seus lábios.

Não importava a ocasião, por mais feliz que estivesse, corroía-se ao pensar em Kyosuke longe do clube de stride novamente, longe de si mais uma vez...

Sua relação com o Kuga sempre foi, digamos, diferente das com os demais. Às vezes, quando corriam juntos de manhã, lado á lado, suas mãos se tocavam sem querer e nenhum deles recuavam ao toque... Ou quando demoravam um pouco mais na hora do high-five ao se conectarem em uma corrida de stride... Em uma dessas vezes, Heath percebeu.

Ele nutria algo por Kyosuke e tinha noventa e sete por cento de certeza que era correspondido. É, noventa e sete é um bom número.

O noventa e oito por cento veio quando corriam em uma manhã, como sempre faziam, uma chuva fina incomum da primavera os atingiu.

Enquanto Heath apertava o passo entre alguns resmungos, Kuga desamarrava a costumeira jaqueta da cintura e passou por cima de seus braços, apertando o passo em seguida para alcançar o outro e cobri-lo também.

Caminharam próximos e conseguiram evitar grande parte da chuva graças a Kyosuke. Chegaram em uma parte coberta do parque em que corriam e pararam um pouco, esperando a chuva parar. Jogando-se no banco, Heath viu Kuga praticamente encharcado enquanto ele mesmo, estava quase que seco.

— Obrigado... –disse sem fita-lo – Você se molhou por minha causa...

Sua resposta foi apenas um sorriso e Heath sorriu de volta

Noventa e nove foi no mesmo dia, depois que a chuva parou. Voltaram a caminhar, mas Kuga insistiu para que seguissem por um caminho diferente dessa vez, ele alegou algo como: ‘’A brisa está melhor para esse lado’’.

Caminharam por alguns minutos e deram de cara com um jardim de cerejeiras, Heath parou seus passos para contemplar a paisagem a sua frente e se perdeu no rosa das pétalas na leve brisa de primavera, só voltou aos sensos quando sentiu dedos finos e longos entrelaçarem aos seus. Não questionou, apenas se deixou levar e continuou sorrindo.

O cem por cento, essa certeza absoluta, só veio quando seus lábios se tocaram pela primeira vez, e seria clichê se eu dissesse que foi em um momento em que Heath sorria?