Caderno de ideias escrita por Benihime


Capítulo 30
Aprisionada




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Ser diferente é sempre um fardo. Muito tempo atrás, houve uma garota que provou a veracidade dessa afirmação na própria pele. Seu nome era Catrina, e esta é sua história.

 Fruto de uma união ilegítima, sua mãe a abandonou logo nas primeiras horas de vida, para morrer de frio e fome nos rochedos que isolavam do mundo a pequena ilha em que viviam. Felizmente, a jovem esposa de um pescador encontrou a bebê e decidiu criar a menina.

Com a mãe adotiva, Catrina cresceu feliz. Sua felicidade, porém, teve curta duração. Sete anos depois de acolhê-la, a mulher sucumbiu à praga que assolava a ilha. O pescador, que apenas aceitara a menina por amor à esposa, logo encarregou a criança dos deveres da casa.

O povo da ilha, inclusive seu pai adotivo, temia aquela criança estranha. Ela era inteligente, mais do que muitos adultos, e não gostava de brincar com as outras crianças. Tinha olhos cinza, quase translúcidos de tão claros, que mais pareciam de vidro, e uma afinidade natural com os animais, junto dos quais passava horas, cantando ou conversando com eles como se pudessem entendê-la. Por causa disso, era chamada de bruxa, considerada uma cria do diabo.

Uma noite, esse medo enfim se transformou em ódio. Amarrada, Catrina foi levada até uma antiga cripta na floresta, no lado mais distante da ilha, onde ninguém se aventurava a ir em circunstâncias normais. Os moradores a trancaram lá, trabalhando juntos para selar a entrada de forma que ninguém mais entrasse ou saísse do local.

Não se sabe o que aconteceu com a pequena Catrina, pois ninguém nunca voltou ao local para descobrir. Reza a lenda, porém, que o passar das estações não mais a afeta e, a cada ano aprisionada em sua tumba de rocha, crescem sua fúria e sede de vingança.

Catrina continua lá, dizem os mais supersticiosos, esperando aquele que irá libertá-la, assumindo seu lugar na prisão empedernida por toda a eternidade.


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