Caderno de ideias escrita por Benihime


Capítulo 27
A Garota no Telhado




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A noite está acabando. No leste, o horizonte cada vez mais claro é prova disso.

A garota esfrega suas mãos uma contra a outra, tentando aquecer os dedos rígidos de frio, e seus olhos se iluminam. Finalmente, a escuridão chega ao fim.

O mundo vai ficando cada vez mais claro. No horizonte, tons de dourado fazem as nuvens, antes negras, adquirirem um tom lilás suave. Primeiro lilás, em seguida rosa, salmão, bege e creme, até enfim chegarem ao branco puro como a neve. É estranho, ela se pega pensando, como uma cor tão fria pode transmitir tanto calor.

Uma brisa fresca sopra e a garota estremece, mas não se abala. Sabe que o frio logo irá passar. Os minutos se arrastam lentamente, mas a jovem não se importa. Bebe a beleza das nuvens lilases, saboreando-a como ao mais delicioso banquete.

Finalmente os tons de dourado ficam mais intensos. Nas nuvens, estrias vermelhas de fogo colorem a tela branca de seus corpos imateriais. Logo o sol surge no horizonte, tornando viva a paleta de cores pastel que antecede o amanhecer.

Nuvens cobrem o sol nascente, e é como se aquele ponto fosse uma cascata de luz. Todas as outras cores esmaecem em comparação àquele dourado radiante. Mas logo o astro-rei sai detrás das nuvens e seus raios iluminam o alto do prédio em que a jovem espera.

Ela dá um passo, ficando sob a luz daqueles primeiros raios de sol. Seus olhos se fecham e ela abre os braços, arqueando o corpo, se abrindo para a luz. Assim como o sol agora ilumina o mundo, seu rosto se ilumina com um sorriso. Tudo ao seu redor agora é calma. Ela não tem mais pressa.

Seus olhos se abrem e, num único movimento firme, seus pés encontram apoio na borda do telhado. Ela olha em volta, apreciando mais uma vez o horizonte. Ali, de tão alto, tem a impressão de que basta estender a mão para tocá-lo. Sente-se, mesmo que apenas por um momento, a rainha daquele mundo ainda semiadormecido.

Seus braços se erguem como se asas fossem, no exato momento em que um bando de garças brancas como a neve passa voando. Irá com elas? É preciso pensar rápido, pois não há muito tempo para decidir.

Os olhos castanhos se fixam no voo gracioso das aves, e o coração se aperta de inveja. Voará? Não, decide. Ainda não é a hora certa. A jovem volta à segurança do terraço do prédio e segue para as escadas que a levarão de volta ao mundo lá embaixo. Ela para na porta, uma das mãos já no corrimão de metal, e olha novamente para o horizonte distante antes de descer os degraus cinzentos.

Uma vez no saguão do prédio, seus olhos se voltam novamente para a escada. É cinza, com um corrimão de metal, enfiada quase fora de vista em um canto escuro do edifício. Olhando para ela, a jovem se pergunta como algo tão sem graça pode conduzir a algo tão extraordinário.

Ela dirige um último sorriso de ternura a escadaria antes de girar nos calcanhares e sair do edifício. Amanhã, voltará a subir aqueles degraus. Pensa mais uma vez nas garças, na brancura alva contra o azul do céu. Um dia, talvez, voe com elas. Quando chegar a hora certa.


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