Caderno de ideias escrita por Benihime


Capítulo 22
Beautiful Mask




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A garotinha estava sentada na ambulância, tremendo, com um cobertor sobre os ombros. Pessoas se moviam e passavam apressadamente. Samantha podia ouvi-las falar, mas não compreendia as palavras. Eram irrelevantes, de qualquer forma.

Alguém, cujo rosto a menina nem se importou em olhar, lhe entregou um copo de plástico descartável. O que quer que houvesse dentro, estava quente, e seus pequenos dedos se enrolaram automaticamente ao redor do objeto para absorver aquele calor.

Demorou alguns segundos para que percebesse que a pessoa, quem quer que fosse, não havia ido embora. Pelo contrário, falava com ela. Os olhos castanhos, da cor de chocolate ao leite, da menina se ergueram, fixando-se em sua interlocutora. Era uma mulher. Uma das policiais, a de cabelo ruivo com um rosto sardento e simpático.

— Qual é o seu nome, mocinha? — A mulher perguntou gentilmente.

— Samantha. — A menina respondeu. — Mas eu prefiro Sammy. Todo mundo me chama assim.

— Sammy. — A policial sorriu. — É um nome muito bonito. E quantos anos você tem?

— Dez.

A ruiva assentiu para si mesma, seu sorriso simpático desaparecendo enquanto ela se sentava ao lado de Samantha.

— Você sabe o que aconteceu aqui, Sammy? — Ela perguntou baixinho, seu tom novamente gentil, quase insuportavelmente doce.

A menina pensou por um momento, depois balançou a cabeça em negativa, fazendo seus cabelos negros e cacheados pularem como pequeninas molas.

— Alguém entrou na sua casa. — A mulher mais velha explicou em tom grave. — Uma pessoa muito, muito má.

Samantha quase sorriu ante aquela explicação, mas se conteve e franziu a testa, fazendo um ar inocentemente confuso.

— Policial … — Sua voz saiu fina e hesitante, ligeiramente trêmula. Perfeita. — Onde estão minha mãe e meu pai? Cadê a Lucy?

— A pessoa má os machucou, querida. — Foi a resposta. — Os machucou muito. Eles não estão mais aqui.

Samantha desatou a chorar como se já não soubesse daquilo. As lágrimas vieram sem esforço. Chorar era fácil, como mentir.

Após a morte de seus pais, a pequena Samantha foi para um orfanato. Em seu novo quarto, dividido com uma outra menina chamada Maria, pegou a mala com os parcos pertences que haviam sobrado de sua casa destruída pelo fogo, procurando entre as roupas danificadas até encontrar o que procurava: a pequenina, porém muito afiada, faca que roubara de seu pai.

Seus dedos delicados tocaram o metal frio da lâmina por um breve segundo antes de voltar a esconder a arma. De entre as roupas, tirou um vestido rosa claro com uma saia de babados que lhe caía até os joelhos.

A menina avançou até um espelho pendurado na parede em um canto do quarto, onde pegou uma escova e penteou cuidadosamente seus cabelos, enfeitando as mechas com uma presilha em forma de borboleta, presente de uma das funcionárias do orfanato. Quando terminou, balançou a cabeça para fazer seus cachos pularem e então sorriu. Estava pronta.

— Sammy, vamos. — Uma das funcionárias chamou, dando uma leve batida na porta. — Os Henderson chegaram.

Samantha olhou uma última vez para si mesma, garantindo que nada estivesse fora de lugar antes de calçar os sapatinhos negros estilo boneca, prendendo com cuidado as pequeninas fivelas prateadas que seguravam os calçados no lugar.

— Já estou indo, Ângela! — Disse enfim, virando-se para seguir a funcionária loura.

Pegou o desenho que deixara em cima da cômoda ao lado de sua cama, retratando um bonito campo florido, e correu para fora. Em seu rosto brilhava um perfeito e inocente sorriso. O jogo estava prestes a começar novamente.


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