Caderno de ideias escrita por Benihime


Capítulo 20
Broken




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Megan sentiu seu cérebro entorpecido voltar à tona e um leve gemido de dor escapou-lhe dos lábios rachados. Não queria acordar. Queria poder esquecer o mundo e dormir para sempre.

A jovem rolou na cama, afastando do rosto as madeixas negras que se amontoavam caoticamente, e seus olhos enfim se abriram. Tinham uma expressão tão apagada quanto tudo o mais em seu rosto.

Com um gesto lânguido, fraco, sentou-se e deixou suas orbes castanhas analisarem o local. Era um quarto grande e arejado, de madeira escura e tons de rosa. Seu pai achou que a cor, antigamente sua favorita, poderia anima-la.

Suspirando delicadamente, a jovem se pôs de pé. Notou a bandeja com comida deixada em cima de uma pequena mesa ao lado de sua cama, mas não era aquele seu destino. Seus passos lentos a levaram até a janela, que abriu sem se importar com o vento de inverno que soprava. Gostava do frio, na verdade. Ajudava a aliviar o frio que crescia dentro de si mesma.

Megan sentou-se no parapeito da janela, sem se importar com o equilíbrio precário de seu corpo e, mais uma vez contrariando as expectativas, voltou-se para dentro do aposento. Seus olhos estavam fixos em um único ponto, logo acima da escrivaninha, uma coleção de fotografias coladas na parede. Sua mãe e irmã mais nova, mortas em um acidente. Megan fora a única a sobreviver, e ninguém sabia explicar o milagre.

A morena levantou-se de um pulo e foi até a fotografia, tocando-a com as pontas dos dedos.

Me perdoem. Sussurrou para as imagens Eu sei. Era para ter sido eu naquele dia, não vocês. A culpa é minha.

Tomada por uma decisão, Megan resolveu agir. Foi até a porta do quarto e a abriu cautelosamente. Ao não ver ninguém no corredor, saiu. Deslizou como um fantasma até a porta dos fundos, agarrando uma garrafa de água no caminho, e então se pôs a correr.

Era um final de tarde gélido, e as ruas da pequena cidade estavam desertas. A jovem corria rápido, mas não se sentia cansada. Sentia-se tão determinada que nada poderia impedi-la. Não demorou a alcançar seu objetivo: as lápides com os nomes Kathleen e Miranda Davies. Sua irmã. Sua mãe. Seus amores. Mortas por culpa sua.

Eu vou fazer isso direito, mamãe Garantiu, sua voz tremendo pela corrida Vou sim. Me espere aí, Kath, que eu já estou indo. Vou consertar as coisas.

Ao terminar de falar, tirou do bolso da calça jeans um pequeno frasco cheio de pílulas, colocando-as na boca sem parar para pensar e engolindo tudo com água. Eram muitas pílulas e sua garganta doeu, mas logo a escuridão veio para substituir a dor.

Megan foi encontrada várias horas depois, seu corpo já frio. Havia, porém, o mais doce sorriso em seus lábios. Era o sorriso daqueles que, enfim libertos da crueldade deste mundo, encontram a merecida paz.


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