Caderno de ideias escrita por Benihime


Capítulo 12
A Lenda do Lírio


Notas iniciais do capítulo

Sim, outro original. Talvez nem tanto, uma vez que grande parte da ideia veio de um conto de terror que ouvi na televisão. De qualquer forma, espero que gostem. Boa leitura!

Se gostarem mesmo digam nos comentários e faço uma long fic com essa história.



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Lívia sempre foi bela. Desde o nascimento, seus lábios rosados, pele clara e os imensos olhos azuis da cor do céu faziam todos que a conheciam suspirar de deleite. Conforme crescia, sua graça e os longos cabelos negros como a noite atraíam olhares onde quer que fosse.

Por causa de sua beleza, muitos homens, incluindo o rei, quiseram desposá-la. A jovem Lívia, porém, jamais aceitou nenhum deles, pois sonhava encontrar um amor verdadeiro. Sua mãe, no entanto, valorizava dinheiro e poder acima de tudo, até mesmo da própria filha, que vendeu para o rei.

Apesar de seu descontentamento com aquela união arranjada, tristeza e amargura não faziam parte da personalidade de Lívia, e isso permitiu que ela escondesse de todos que aquele não era seu desejo. Poucos meses depois, subiu ao altar, e o reino caiu de amores por sua nova rainha.

O rei, porém, era um homem cruel e egoísta que jamais se importou com sua nova jovem esposa. Escolhera-a meramente por sua beleza e juventude, uma vez que sua primeira esposa tornara-se velha demais para lhe dar um herdeiro.

Por muito tempo o casal real tentou, mas a jovem não engravidava. A cada tentativa frustrada seu marido se tornava mais e mais violento, seus acessos de raiva culminando em surras brutais sem a menor piedade.

Os anos se passaram. Lívia aos poucos tornou-se uma sombra de si mesma, uma criatura fria, tão magra que os ossos apareciam por sob a pele, e tão taciturna que somente o rei conseguia suportar-lhe a companhia por mais do que alguns escassos minutos.

Após cada tentativa malsucedida, com as dores das surras recebidas por seu marido ainda reverberando por cada célula de seu corpo, Lívia se refugiava no topo da torre mais alta do castelo, e lá chorava, rezando por algo que enfim pusesse um ponto final àquela tortura.

Quatro anos após seu casamento, Lívia enfim engravidou. O rei, satisfeito com a certeza de seu herdeiro tão longamente desejado, passou a tratar sua jovem esposa com a consideração que ela merecia. Isso bastou para avivar-lhe o ânimo, trazendo de volta a mulher alegre que fora antes de seu casamento. Foram nove meses de felicidade.

Ao final da gestação, o bebê enfim nasceu, uma garotinha perfeitamente saudável. O rei, furioso, arrancou a criança dos braços da mãe e arremessou-a da torre mais alta do castelo, onde depois trancafiou também sua esposa.

O quarto no alto da torre era minúsculo, com apenas uma janela. Trancafiada lá dentro, Lívia se desesperava. Ela não sabia o triste fim que tivera sua filha quase imediatamente após o nascimento, e a incerteza sobre o destino da pequena princesa a punha em um estado de febril desespero. Isso, aliado a dias com pouca comida, água e companhia, serviu para enlouquecer a jovem.

Em desespero, ela seduziu um dos guardas a destrancar a porta e escapou para o alto da torre. Sua morte foi descoberta somente ao amanhecer, muitas horas depois, porém seu corpo, apesar das buscas na espessa vegetação que cercava a torre, jamais foi encontrado.

Meses depois, ao pé da torre, flores brancas como a pele da falecida rainha começaram a florescer, entrelaçando-se às pedras. O rei ordenou que fossem cortadas, porém não demoraram a crescer novamente. Várias vezes o monarca ordenou o extermínio de tais flores, apenas para vê-las voltar a florescer cada vez com mais viço. Entre os criados e os camponeses, logo surgiu a crença de que as flores eram um sinal da rainha e, em homenagem à jovem morta, passaram a chamá-las de lírios.

As flores aos poucos se espalharam, florescendo em todos os lugares nos terrenos reais até que, um dia, numa pacata noite de verão, o castelo foi consumido por um terrível incêndio. Não houve sobreviventes, exceto os lírios, cujas pétalas brancas reluziam em contraste com as cinzas.

Agora séculos já se passaram, porém as ruínas do castelo ainda existem, e os lírios continuam a florescer. Reza a lenda que, se um viajante for até lá numa noite tranquila de verão, quando a lua cheia brilha com intensidade sobre o mundo, poderá ver o fantasma aflito da rainha percorrendo sem descanso os destroços de seu antigo lar e ouvir seu choro, um lamento que jamais cessará até que mãe e filha sejam mais uma vez reunidas.


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