Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 3
Capítulo 3 - Fabricando Varinhas (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora haha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675666/chapter/3

 

─ Meus irmãos costumam dizer que fabricar é difícil, mas é divertido ─ exclamou Rodrigo, agarrando um pedaço de bolo da mesa de café, que dividia com Maria Flor e Miguel. A primeira se contentava com uma xícara de café, enquanto os amigos se chafurdavam na comida. Miguel já começava a perceber algo estranho na amiga, que comia muito pouco, pouco que nenhum ser vivo conseguiria viver com tal quantidade, mas no fim deixava de lado. Não queria perturbar a privacidade da garota.

─ Pelo que li são quatro etapas: encontrar a madeira, escolher o interior, esculpir a varinha e encher o núcleo ─ disse Maria, deixando o café de lado e se arriscando a pegar um pedaço de tapioca, agarrou, mordiscou e deixou o resto de lado, engolindo com receio ─ quero conhecer a professora de feitiços, estou ansiosa.

─ A Amara? ─ perguntou Miguel, deixado sua broa de fubá de lado.

─ Sim, ela mesma ─ respondeu a garota, eufórica ─ ela é mãe da Lara Lavena, a maior atriz do Brasil... ─ disse Maria, suspirando. Miguel encarou confuso, quem diabos era Lara Lavena?

─ Quem? ─ perguntou o rapaz, Rodrigo deixou de comer e encarou o amigo, assim como Maria. Estavam estupefatos, de que mundo Miguel veio?

─ Como assim tu não sabes quem é Lara Lavena? ─ perguntou Rodrigo, com os olhos arregalados ─ Ela é só a Oprah Winfrey brasileira.

─ Uma das mulheres mais poderosas da América. Já foi atriz, cantora, apresentadora e hoje viaja o mundo retratando a realidade de bruxos em situações precárias. Ela é tipo Jesus, só que mulher ─ respondeu Maria, encantada. Rodrigo parecia concordar com cada palavra da amiga, já Miguel duvidava que uma pessoa pudesse ser assim tão boa, muitos dos artistas que ajudavam pessoas em situações precárias visavam o bem próprio em relação a sua imagem de mártir, era pura fachada.

─ Bom dia mocidade! ─ exclamou Rafael, sentando-se na quarta cadeira da mesa e agarrando um pedaço de bolo, colocando-o inteiro na boca e tentando engolir, com dificuldade.

─ Quem é esse? ─ perguntou Maria, confusa.

─ Irmão do Rodrigo e futuro professor de vocês! ─ respondeu Rafael, bebendo um pouco de suco. Miguel e Maria se entreolharam, enquanto Rodrigo ficou todo orgulhoso do irmão.

─ Professor? De que? ─ perguntou Miguel.

─ Da matéria mais sensacional dessa escola ─ ele abriu as palmas das mãos e fez uma linha invisível no ar, abriu um branco sorriso e remexeu as orelhas élficas ─ Bio.Magio.Logia ─ respondeu ele, pausadamente. ─ É o estudo da natureza bruxa. Em outros países eles dividem em duas matérias: Herbologia e Magizoologia, mas como vocês estão vivendo os estudos do primeiro e do segundo ano, por conta dos incidentes do ano passado, resolveram unir as duas matérias ─ Rafael para de comer e olha ao redor, não vendo ninguém além de funcionários servindo as mesas, então, debruçou as sobrancelhas sobre os olhos e franziu a testa ─ Vocês não teriam aula agora? ─ perguntou. Maria, Miguel e Rodrigo pararam o café e perceberam que a aula já devia ter começado. Sem dizer ao menos até logo, os jovens partiram em disparada pelo salão, indo na direção do jardim, onde se iniciaria a aula.

...

A professora Amara já conversava com os alunos do primeiro ano, que se agrupavam de pé, frente à saída da escola, que levava ao matão. De longe Miguel pode perceber Daiana, Fernando e Diego, além de uma dúzia de outros alunos. Amara já estava pronta para dar prosseguimento em sua aula, mas ao perceber os três atrasados, abriu um olhar desconfiado e foi de encontro com os jovens.

─ Diria bom dia, mas se atrasaram tanto que eu poderia dizer boa tarde ─ disse ela, se aproximando dos atrasados. Maria ficara envergonhada e decepcionada consigo mesma, dava para ver em seu olhar ─ Bom, vou passar a vocês as instruções que dei aos demais: Vocês devem procurar pelo matão um galho no CHÃO. Nada de arrancar das árvores.

─ Mas faz diferença professora? ─ perguntou Rodrigo, tentando parecer interessado.

─ Muita! ─ ela respondeu convicta ─ É como comparar roubar a ganhar de presente. As árvores nos dão de presente seus galhos caídos, os novos servem para florescer e dar vida as florestas. ─ exclamou, voltando ao grupo de alunos, acompanhada do trio ─ Assim que encontrar um galho que agrade, segure as pontas com as mãos e diga: ARBITRYÔ, com convicção e boa vontade, caso o galho quebre significa que ele não te escolheu ─ Amara terminou a explicação e caminhou na direção do portão, empurrou e abriu ─ Só mais um aviso: não se afastem muito do grupo, pois existem inúmeros perigos nessa floresta que levariam um bruxo inexperiente a  óbito em horas, talvez minutos, talvez segundos ou até instantaneamente ─ ela deu as costas para os alunos e seguiu em frente. Muitos tiveram medo e se recusaram a ir em seguida, apenas um rapaz de cabelos negros enormes, que se estendiam até as costas, se atreveu a tomar a frente e entrar, encorajando todos os colegas a fazerem o mesmo, com exceção da pessoa que Miguel não queria ver agora: Daiana, acompanhada de outras duas garotas.

Antes que pudessem fugir do inevitável papo com a loira, foram interceptados pelo trio de jovens. Ela parecia convicta na ideia de tornar Miguel um seguidor, ou pior que isso, na visão do rapaz, um namorado.

─ Oi Marcos ─ disse Daiana, sorridente. Miguel começava a cogitar se ela errava seu nome de propósito ou se era realmente burra. Maria chutaria na segunda questão. ─ Maíra, Ronaldo ─ exclamou, cumprimentando erradamente os amigos. Miguel começou a se convencer pela segunda opção.

─ Como vai, Daiana? ─ perguntou Miguel, educadamente. Não devia julgar a garota sem ao menos conhecer antes, ela não parecia tão vilã de colegial assim. As outras duas garotas cutucaram a amiga, como se pedissem para serem apresentadas.

─ Muito bem, obrigada. Quase me esqueço... Essas são minhas Be-witches, Aline ─ e então, Daiana aponta para a garota de cabelos castanhos ondulados, que havia sido escolhida para os Tarantavélicos. Aline sorriu e acenou ─ E essa é a Doralice ─ e depois apontou para a garotinha de cabelos em trança, com vestido florido e trejeitos de quem havia vindo do interior, escolhida pelos Arabelos. Doralice acenou e sorriu, quando estava próxima de dizer oi, foi impedida por Daiana ─ Então, recebe meu presente? ─ perguntou ela, tapando a boca da amiga.

─ Recebi sim, muito obrigado, mal posso esperar para ler! ─ exclamou Miguel simpático. Daiana, Aline e Doralice se entreolharam, caindo em gargalhadas.

─ Você lê os livros? ─ perguntou Daiana, gargalhando. Ela parecia realmente ter achado graça em ouvir que alguém lê livros. Miguel encarou Maria e Rodrigo sem saber o que dizer. No fim, abriu um sorriso forçado e permaneceu em silencio.

─ Bom, acho melhor a gente ir, sabe? ─ exclamou Maria, tentando livrar os amigos do deprimente papo com a loira ─ Antes que a Amara perceba nossa falta, não quero que ela pense que somos tão distraídos a ponto de esquecer da aula... ─ enrolou a garota, agarrando nas golas dos uniformes dos amigos e arrastando-os para dentro do matão. Daiana ficara para trás, conversando com suas amigas.

O matão era estupendo. Espécies mágicas e não mágicas, raras e comuns, em grande quantidade e extintas estavam ali, distribuídas em quilômetros de floresta amazônica, protegida contra a ação dos Peros. Rodrigo parecia em casa. Era comum de sua raça a grande euforia quando estavam diante de grandes matagais, por isso trepava pelas goiabeiras no jardim botânico do centro de São Paulo. Maria também parecia estar encantada com a fauna e a flora presente ali. Por se dizer não era uma mata fechada, pelo menos não pelos arredores da escola. Tinha trilhas, pouca ação de animais e criaturas mágicas, além de vergonhosos sinais de que aquela floresta já fora visitada por bruxos, muito mal educados alias. Papéis de bala, pacotes de salgadinho, latinhas de refrigerante e todo tipo de lixo industrializado. Ainda estávamos no Brasil, afinal.

O curioso era que a própria natureza agia para dispersar o lixo que poluía sua casa: o solo absorvia as latinhas, enquanto micos pretos, os únicos animais que se aproximavam de bruxos, agarravam as coisas recicláveis e jogavam nas latas de lixo no interior da escola. Amara estava claramente decepcionada com a situação, mas estava concentrada em sua aula, deixando a natureza fazer o seu trabalho limpando o matão.

O grupo de alunos que a acompanhava de imediato começou a se dispersar, indo floresta adentro, a procura dos galhos para criarem suas varinhas. Daiana, Aline e Doralice foram a trio, caminhando próximas as intermediações da escola, assim como Diego, Fernando e mais dois alunos. Amélia Britânia, Frederico Gaspar e José Aristides, um trio de Javalentes mais corajosos, se embrenhou mata adentro, deixando Miguel, Maria, Rodrigo e Amara no local de partida. Eles não faziam ideia sobre qual caminho tomar.

─ Acho que a gente deve ir mata adentro, como os Javalentes! ─ exclamou Rodrigo, escorando-se em uma das árvores, observando o solo a procura de galhos uteis para confeccionar sua varinha. Encontrou um, segurou nas pontas e suspirou ─ ARBITRYÔ! ─ encantou, apertando firmemente o galho que, instantemente, explodiu, jogando elfo de cara no chão. Carioca levantou a mão direita, mas não ergueu o rosto ─ Extou bem.

─ Parece que essa não te quis, Sr. Pavanelli ─ disse Amara, sentando-se em uma cadeira e agarrando um livro para ler, curiosamente, o mesmo que Daiana havia dado para Miguel “Grandes triunfos bruxescos” de M.P de Assis. Rodrigo se pôs de pé, limpou o uniforme e, antes que pudesse perguntar como ela sabia seu nome, sendo que perderam a hora das apresentações por conta do atraso, a professora lhe desviou um simpático olhar ─ As orelhas te denunciaram ─ ela olhou para os outros dois jovens e sorriu ─ Já vocês são bem famosos, o infante e a indígena da tribo perdida. Sr. Miguel, Srta. Maria Flor.

─ Muito prazer! ─ respondeu Maria, educadamente. Miguel, por sua vez, estava avoado, concentrado em algo dentro da mata. Seus ouvidos se envolviam em uma melodiosa canção, cantada por vozes femininas e masculinas, mescladas em um coro harmonioso e calmo, como o cantar dos anjos. Sem perceber o rapaz deu um passo à frente, depois outro e mais outro, quando percebeu já estava caminhando para dentro da mata ─ Miguel? O que deu nele? ─ gritou Maria, assustada. Amara estampou um olhar de preocupação, se levantou e caminhou atrás do rapaz, acompanhada de seus alunos.

─ Não tenho certeza, mas acho que a árvore esta chamando por ele ─ disse Amara, andado vagarosamente atrás do bruxo ─ E, se realmente estiver, ele pode estar correndo perigo ─ ponderou, levando Maria e Rodrigo a ficarem preocupados. Miguel estava em transe, nem ser acertado por um galho na perna o fez parar. Quanto mais ele caminhava, mais fechada se tornava a floresta. A luz do sol começou a não passar pelas árvores, deixando aquilo muito escuro.

─ Que árvore esta chamando por ele? ─ perguntou Maria, curiosa. Sua resposta se materializou bem na sua frente: uma árvore em chamas, que, curiosamente, não queimava a mata. Amara parou e ordenou que os alunos fizessem o mesmo, Miguel tomou a frente e se aproximou da enorme planta flamejante.

─ Andurá. Ela é uma árvore sagrada do povo Tupi, costuma pegar fogo apenas a noite e, ao dia, é protegida pelo ─ e então, Amara encara uma criatura humanoide, semelhante a um gorila, com uma boca vertical que se estendia do peito ao umbigo, um único olho que ocupava toda cabeça e um odor atordoante, caminhando na direção de Miguel ─ Mapinguari ─ completou, assustada. O monstro ainda não havia percebido Miguel, era um tanto lento. Amara retirou do bolso sua varinha e a girou duas vezes ─ LEVANT VOLAR! ─ exclamou a professora, fazendo com que uma pedra levitasse e caísse a alguns metros do monstro, que nem sequer percebeu. Depois, a mulher fechou os olhos e apertou a varinha ─ LUXICTUS ─ e então, a pedra explodiu, deixando um rastro luminoso no ar e chamando a atenção da criatura, que, depois de um assustador uivo, correu na direção do brilho, irritada. Miguel finalmente acordou de seu transe, olhou ao redor e caiu no chão. Os amigos e a professora correram para acudir o rapaz.

─ Onde é que eu to? Vou postar no meu twitter que estou perdido... ─ ironizou Miguel, se pondo de pé, desnorteado. As chamas do Andurá se apagaram, deixando apenas um galho em chamas, que se desprendeu da árvore e caiu sobre Miguel. Amara correu para junto do rapaz, percebendo que o Mapinguari já voltava, levando em conta o uivo da criatura, qe começou a ficar cada vez mais perto. Maria e Rodrigo foram atrás da professora.

─ Depois explicamos ─ disse Amara, agarrando a varinha e fazendo um circulo ao redor dos alunos. Assim que ela o fechou, o Mapinguari surgiu e começou a correr em sua direção, com um olhar voraz e babando por todo lado. A professora se manteve calma, entrou no círculo e ficou bem na frente ─ Estrela de Davi, símbolo de Salomão, queime o círculo brotando fogo do chão! Exclamou, fazendo o círculo pegar fogo e desenhar no centro uma estrela, em tempo antes da chegada do Mapinguari, que tentou, mas não pode violar o círculo ─ Nada que queira te ferir passa pelo Círculo de Salomão. Uma das magias arcanas mais poderosas.

─ Que bicho feio... e fedorento! ─ disse Rodrigo, enojado. O Mapinguari desviou o olhar para o rapaz e uivou, lançando sobre o elfo sua asquerosa saliva, que grudou no uniforme do rapaz como cola.

─ E ele pode te entender ─ disse Maria, com um olhar de medo. Depois, a garota tomou a frente e sorriu simpaticamente para o Mapinguari, observando flores amarelas entrelaçadas em sua cabeça, percebendo também que ele tinha tinta vermelha (Ou sangue) ao redor dos olhos ─ Não é “o Mapinguari”... ─ disse ela, encarando os rapazes e a professora ─ é A Mapinguari! ─ exclamou a garota, fazendo com que a Mapinguari lhe olhasse com curiosidade e amizade ao mesmo tempo. 

─ Sendo ele ou ela, continua assustador! ─ exclamou Rodrigo, assustado. Maria lhe olhou com raiva e encarou novamente a Mapinguari, sorridente.

─ Ela só esta fazendo o trabalho dela, protegendo a Andurá. Nós somos os errados da história. ─ respondeu ela, convicta. A Mapinguari sorriu e ergueu sua mão, tentando passar pelo círculo. Maria lhe olhou com um simpático sorriso, enquanto ela passava sua mão pelo feitiço e aproximava do rosto da indiazinha, lhe fazendo uma delicada carícia ─ Qual seu nome? ─ perguntou ela, sem expectativas de respostas, mas, para sua surpresa, a criatura começou a mover sua boca vertical, esforçando-se ao máximo para dizer.

─ Ja.Bu.Ti.Ca.Baa ─ disse a Mapinguari, pausadamente e com dificuldade. Sua voz era grave e assustadora, mas Maria não teve medo. Era uma garota diferente, acreditava em uma sociedade justa para mulheres, não se rebaixava para homens, tampouco fazia o tipo donzela indefesa, era feminista convicta.

─ Sou Maria Flor! ─ respondeu ela, sorridente. Jabuticaba aplaudiu, agarrou uma flor de sua cabeça e envolveu no cabelo da garota, combinava perfeitamente com Maria ─ Obrigada!

─ Floo-or! Floo-or! ─ exclamou a Mapinguari, entusiasmada. Depois, olhou nos olhos de Maria e foi saltitando para dentro da mata, contente. Pareia que ela só queria não ser temida, que alguém a achasse bonita. Amara estava orgulhosa, Rodrigo, assustado, e Miguel, confuso.

─ Bom, vamos indo. Um de vocês já encontrou o material de sua varinha e posso dizer, Sr. Apogeu, que você é bem mais especial do que eu pensava. ─ disse ela, desfazendo o círculo  ─ Além de Infante, conseguiu conquistar a mais rara das árvores. O Andurá é bastante poderoso e, acredite, vai ser bem útil quando precisar de fogo! ─ e então caminhou em frente ─ A senhorita também me surpreendeu Maria, foi um dengo com uma criatura incompreendida e conquistou sua amizade, a tratou com o respeito que ela desejava ter ─ ela olhou ara Maria, simpática ─ mesmo sabendo que não existem Mapinguaris fêmeas... ─ e deu uma leve piscadela.

─ Mas... Não entendo! ─ disse Miguel, agarrando o galho de Andurá do chão e caminhando atrás do trio.

─ Fica calmo, eu te explico! ─ disse Maria, contente com seu feito.

Eles caminharam floresta adentro, conversando sobre o acontecido e explicando tudo a Miguel, que a todo custo tentava reacender o Andurá, porém, sem sucesso. Rodrigo estava na frente dos amigos, decidido a encontrar algum galho que lhe sirva, mas, para sua tristeza, eles sempre explodiam. Maria se concentrou tanto na conversa com o amigo que até esqueceu o motivo que havia lhe trazido ali, só quando ela sentiu um frescor natural envolver sua mente e refrescar seus sentimentos que ela se lembrou de seu intuito, e, como Miguel, ela entrou em transe e caminhou alguns metros para fora da trilha, na direção de uma estupenda árvore, com folhas verdes radiantes e um tronco reto em direção ao céu.

─ Pau Brasil... ─ disse Amara, se aproximando de Maria, acompanhada de Miguel e Rodrigo. A garota agarrou m galho do chão, fechou os olhos e segurou nas pontas.

ARBITRYÔ ─ exclamou a garota, convicta. O galho estremeceu e liberou raízes pelas pontas, que rastejaram e se conectaram as mãos de Maria, fazendo lhe caricias e lhe passando uma deliciosa sensação, que duraram alguns segundos e passou ─ Isso é muito bom! ─ proclama a garota, sorridente. Miguel, por sua vez, agarrou o galho de Andurá pelas pontas e se concentrou.

ARBITRYÔ! ─ exclamou o rapaz. O galho deu dois rodopios e liberou uma chama pelas pontas, que, magicamente, não queimava Miguel, mas passava um bom agouro. Amara se orgulhou, sorriu e caminhou de volta a trilha, assim como Miguel e Maria, Rodrigo, por sua vez, foi enfeitiçado pelo doce aroma de goiaba madura da goiabeira ao lado do Pau Brasil. Ele se aproximou, trepou sobre a árvore e agarrou um galho caído entre os que ainda estavam bons, correu atrás dos amigos, confiante.

─ Agora vai! ─ exclamou, agarrado o galho pelas pontas ─ ARBITRYÔ! ─ disse o rapaz, contente. O galho deu um salto, rodopiou, girou e, no fim, parou quieto nas mãos de Rodrigo, enquanto um broto se formou, este que, segundos depois se tornou flor, e finalmente um fruto, que cresceu absurdamente rápido. O elfo agarrou a goiaba, mordeu e se deliciou com o doce gosto da fruta madura, no ponto ideal.

─ Um galho de ANDURÁ, para ter sempre o calor do fogo, um galho de PAU BRASIL, para sempre terem a dádiva da cura dos ferimentos, e um galho de GOIABEIRA, pra que nunca tenham fome... É estupendo! ─ disse Amara, orgulhosa ─, mas precisamos voltar logo. Seus colegas já devem estar esperando, impacientes, acredito! ─ exclamou, voltando a caminhar na direção da escola. Miguel e os amigos foram atrás, conversando.

...

Como já era de se esperar, todos os alunos estavam no aguardo do retorno de Amara. Alguns, admirados com o poder secundário de suas varinhas, rodopiavam e brincavam de duelo de feitiços. Do galho de Daiana brotavam flores roxas com aroma açucarado, que davam uma incrédula sensação de que tudo ficaria bem, a mesma que Acir, o curupira, passava ao usar seu poder. Aline, a amiga silenciosa de Daiana, carregava consigo um galho pequeno e verde vivo, que, ao apertar, lançava espinhos pontiagudos na direção que a moça apontava.

─ Quaresmeira e limoeiro... ─ sussurrou Maria, nos ouvidos de Miguel, que ergueu as sobrancelhas, surpreso. Depois, voltou a observar os galhos que os demais colegas traziam consigo: O de Fernando era seboso, com seiva marrom escorrendo pelas extremidades e manchado o uniforme do rapaz, que já se desesperava com o ocorrido, Amara correu e o auxiliou, instruído a girar a varinha, ele fez, e, em questão de segundos, toda seiva líquida evaporou como água, se tornando uma fumaça cinza. Maria arregalou os olhos, mostrando que não fazia a mínima ideia de qual árvore havia saído esse galho. Miguel continuou observando os alunos, até que sente a mão de Amara o empurrando para frente, juto de Maria e Rodrigo.

─ Bom meus dengos, já encontramos o exterior de suas varinhas ─ disse a mulher, sorridente ─ Agora vamos encontrar o interior delas ─ um aluno levantou a mão ─ Pois diga meu rei.

─ A gente vai ter que correr atrás de lobisomens pra pegar o pelo deles? ─ perguntou o rapazote, tímido. Era um Javalente, só que um pouco medroso. Todos os alunos gargalharam, deixando o jovem envergonhado. Suas bochechas coraram e suas pernas tremeram.

─ Qual seu nome mesmo, nego? ─ perguntou Amara, simpática. O rapaz relutou, olhou para os colegas e falou:

─ Oscar ─ disse o rapaz, tímido. Amara sorriu, se aproximou do rapaz e atrapalhou seus cachos. Ele deu uma leve risada, mostrando todos os dentes. Miguel, o único a não rir de Oscar, também sorriu, ele já esteve no lugar do garoto muitas vezes, todos riam da sua timidez, sabia como era ruim ser alvo de chacotas.

─ Muito que bem, Oscar ─ respondeu Amara, caminhando na direção do enorme portão ─ Não temos que caçar o interior há alguns séculos, pode ficar calmo! ─ disse ela, saindo do matão e conduzindo os alunos para dentro da escola novamente. Oscar se deu por entendido, fechou os olhos e abriu um sorriso, depois, caminhou para fora, esbarrando em Miguel por acidente.

─ Desculpa, n-não te vi-i ─ gaguejou o tímido. Miguel sorriu, ergueu as sobrancelhas e desviou o olhar para Oscar.

─ Tudo bem ─ então, uma tristeza repentina atingiu o coração de Miguel, uma sensação de saudade e arrependimento. Em questão de segundos as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, Oscar, desentendido, tentou acalmar o colega, que agarrou em seu muiraquitã, fazendo com que os olhos do amuleto brilhassem em vermelho, e então, um choro feminino ressoou pelos ouvidos de Miguel.

─ O que houve? Garoto? ─ perguntou Oscar, desesperado. Assim que o rapaz ergueu as mãos para tentar acalmar o colega, Miguel despencou ao chão, tento espasmos musculares a todo instante. Enquanto isso, o choro da mulher continuava mais intenso e agudo.

─ Úrsula, se acalme! ─ fora a última coisa que ele ouviu: uma voz masculina, fazendo a mulher parar de gritar. Logo depois desmaiou, com a frase sendo repetida diversas vezes em sua mente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.