Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 5
iniciante na provocação


Notas iniciais do capítulo

Cá estou novamente, como prometido.
Estou tentando fazer um cap grande, mas não foi dessa vez.
Com vocês, sr.Blake arrasando de novo ^.^ aproveitem.



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Acordei com um cheiro inconfundível de almôndegas. Minha mãe deveria ter voltado do hospital e começado a cozinhar sua “janta” atrasada, –Ou seria adiantada?. Joguei minhas pernas para fora da cama, e me espreguicei lentamente sentindo o cansaço ainda invadir-me. Eu havia ficado até de madrugada desperta no silêncio, então, consequentemente, pouco consegui dormir... Pra variar.

De repente, meu celular começou a tocar.

—Bom dia pra você também, mundo. —Ironizei. Com uma tremenda preguiça, quase tendo que recorrer ao auxilio dos dedos, eu abri os olhos e apanhei o aparelho de dentro do meu tênis. —Quem é o filho de uma...

—Vamos passar aí pra lhe dar carona, Griffin. —A voz animada de Jasper, fez-me balbuciar.

Como ele conseguia ter tanta disposição logo de manhã?

—Por acaso eu pedi? —Desdenhei.

—Cale a boca e vista uma roupa. Não queremos perder a primeira aula... Não é? —A provocação brincava em sua fala.

—Idiota! —Soltei, encerrando a chamada logo em seguida.

Acabei me arrumando rápido demais, e como não estava com vontade de comer, sentei no sofá da sala. Abri meu caderno de desenho como um leque, onde os personagens característicos da minha mente surgiram retratados com primor e incrivelmente estranhos. Lá estava a mulher de rosto angelical, e o homem de cicatrizes nas costas. Eu vinha desenhando essas criaturas desde a infância, e não conseguia descarta-los da minha imaginação.

Novamente fiquei à deriva, perdida em pensamentos triviais: escola, tarefas, sonhos, pesadelos, meu pai... Vez ou outra mordia amargurada a parte de dentro da bochecha, e uma pontada de tristeza me invadia assim que passei meus dedos no pulso. A imperceptível protuberância ali me fez esquecer qualquer devaneio e guardar o caderno em seu devido lugar. Longe das memórias insistentes.

Logo Jasper veio me buscar. Passamos para pegar Monty, e seguimos até a escola.

O dia começou não tão bom assim para mim. A primeira aula era de biologia, e isso significava mais tempo tendo que aguentar o Blake.

O professor Kane estava postado diante do quadro-negro no meio de uma lenga-lenga infinita sobre algum assunto, mas minha cabeça vagava bem distante das complexidades da ciência. Eu estava ocupada em reunir motivos que justificassem por que o aluno novo e eu não deveríamos mais nos sentar juntos e os anotava em uma lista no verso de um antigo questionário.

—Não vai adiantar, de novo! –Jasper falou, sentado ao meu lado enquanto acomodava o rosto, despreocupado, em cima de seus braços.

Agora ele decidira dormir? Incrível!

—Vai dar certo sim. Tem que dar! Não vou aguentar até o fim do semestre. —Falei mais para mim mesma do que pra ele. Já que o castanho parecia ter entrado num cochilo na exata velocidade da luz.

—Não vai resistir ficar sentada ao meu lado até o fim do semestre, princesa? —Olhei para cima, Bellamy estava parado me encarando com aquele sorriso cafajeste.

Ah como eu o odeio.

—Você ainda não está me impressionando. E, será que da pra parar de me chamar de princesa?

—Não vai ser possível. —Ele fez um gesto com a cabeça para Jasper sair do seu lugar. Porém, o garoto sequer notou. Continuava absorto, com os olhos fechados.

—Acorde, bela adormecida. —Cutuquei-o com lápis.

—Hã?! —Ele murmurou perdido. —Quem morreu?

—Ninguém ainda. —Fitei o Blake, que permanecia de pé com um olhar impaciente. E temi de fato pela vida do meu melhor amigo.

Quando percebeu a presença intimidadora, o castanho rapidamente levantou e olhou para mim como se estivesse dizendo “Sinto muito, vai ter que ficar sozinha”.

Pelo canto do olho podia perceber que Bellamy continuava com aquele sorriso. Comecei a pensar na possibilidade dele ser um psicopata que estivesse me perseguindo. Realmente não podia descartar essa sugestão.

—Clarke?

Marcus estava na frente da sala, com a mão estendida como se esperasse uma resposta minha.

—Oi? É... O senhor poderia repetir a pergunta?

Alguns alunos riram.

—Que qualidades atraem você em um possível parceiro? —Disse irritado.

—Possível parceiro? —Repeti confusa.

—Vamos logo, não temos a tarde toda.

Eu podia ouvir alguns alunos dando gargalhadas no fundo da sala.

—Nunca parei pra pensar nisso. —Falei. E de fato nunca tinha parado para pensar mesmo, não fazia ideia do que dizer.

O professor fez gestos impacientes para minha esquerda.

—Você, Bellamy.

—Inteligente, atraente, vulnerável. —O moreno falou rapidamente e com confiança.

—Vulnerável? Por quê?

—Não estou encontrando nada disso no livro, onde tem relação com a matéria. —Jasper interrompeu.

—Todos os animais do planeta atraem parceiros com o objetivo de se reproduzir. —Marcus disse, parecendo incomodado. —Mas já que você é espertinho, por que não nos apresenta sua lista também?

—Simples. —Ele levantou dois dedos. —A garota tem que ser bonita, e... Gostar de mim. —Jasper falou sorrindo, e eu dei uma leve risada.

—O problema com a atração humana é que você não sabe se será correspondido. —Bellamy interrompeu sem dar importância. —Os seres humanos são vulneráveis, porque são capazes de sofrer.

Nesse momento ele tocou o joelho em minha perna. Afastei-me ligeiramente, sem ousar pensar o que ele queria com aquele gesto.

—Os homens se sentem atraídos pela beleza porque é um indicativo de saúde e juventude. Não há sentido se acasalar com uma fêmea doente. —O Blake continuou.

—Isso é totalmente machista. —Comentou uma menina sentada perto da janela.

—Isso é biologia senhorita, Williams. —Falou Kane com um tom empolgado. —E obrigado, Bellamy, por seu comentário. Finalmente conseguimos chegar no assunto do semestre... Sexo! —Ele ergueu o dedo conseguindo ganhar nossa atenção. —Prosseguindo com seu raciocínio, senhor Blake, digamos que você está em uma festa, o lugar está cheio de garotas, e você encontrou uma que se encaixa em seu perfil: atraente, inteligente, vulnerável. Como mostra a ela que está interessado?

—Eu a escolho, vou falar com ela.

—Como você saberá se ela está correspondendo ao flerte?

—Eu a observo, presto atenção em seus movimentos. Se ela vira o corpo em minha direção? Olha nos meus olhos e desvia? Morde o lábio e brinca com o cabelo? Como a Clarke está fazendo bem agora.

Todos riram, e eu senti meu rosto corar.

—Se é assim, está no papo. —Prosseguiu divertido, esbarrando o joelho em minha perna novamente.

O professor mandou todos ficarem em silêncio, e disse que a atração era essencial para a reprodução humana. Então começou a escrever um texto na lousa.

—Está vermelha de novo, princesa? —Bellamy sussurrou em meu ouvido. —Ficou nervosa?

Afastei minha cadeira um pouco para o lado, ele sorriu, e dissimuladamente esticou o braço para as costas de minha cadeira. Todos voltaram a rir novamente. Foi quando a raiva me dominou. Apoiei as mãos na mesa, levantei da cadeira e tentei demonstrar que ainda tinha alguma dignidade. Pedi em plenos pulmões para Marcus deixar eu ir ao banheiro, e o professor assentiu depois de um suspiro.

 Sai batendo os pés pelo corredor. Estava tão nervosa que no momento em que cheguei à porta do banheiro, esbarrei em uma garota que saia de lá e nossos corpos caíram subitamente, comigo em cima dela.

—Aiii!!! —Ela reclamou quando sua cabeça atingiu o chão com a queda.

Olhei para a presença posta debaixo de mim, e a primeira coisa que reparei foi em seu olhar. Sua maquiagem escura fazia seus olhos verdes se destacarem, de uma forma totalmente bonita.

—Olha por onde anda! —A garota quebrou a troca de olhares, e empurrou meu corpo para o lado. Levantando com a maior rapidez.

—Desculpa. —Falei constrangida. Fazendo um esforço para ficar de pé também.

—Tudo bem... —Ela estendeu a mão e ajudou eu me recompor.

—Eu sou um desastre. —Confessei forçando um sorriso.

—Você está bem? —Perguntou analítica. —Está vermelha.

—Estou. —Confirmei automaticamente. —Só tive que sair da sala porque estava muito quente.

—Ah! —Ela sorriu de canto.

—Eu te conheço de algum lugar? —Se me questionassem o motivo da pergunta, eu não saberia dizer. No entanto, enquanto observava sua face, apenas tinha a sensação de estar em um dèjá vu.

—Acho que não. —A garota mexeu no cabelo. —É meu primeiro dia, aqui.

—Parece que te vi em algum lugar, não sei... Esquece. —Ri baixinho. —Você disse que é seu primeiro dia?

—Basicamente.

—Nossa, então... —Fiz movimentos aleatórios com a mão. —Seja bem vinda à única escola da cidade.

—Valeu. —Ela coçou a testa indiferente.

Aparentemente, estava fazendo o que Jasper e Monty sempre imploram para eu parar: Incomodando as pessoas com conversas entediantes, tentando de algum modo, ser a simpática forçada.

—Olha eu aqui te enrolando. —Apontei pro meu rosto. —Foi mal de novo por ter esbarrado em você.

—Ainda estou inteira pra enfrentar o resto do dia. —Sorriu.

Ia perguntar o nome dela, mas a garota apenas deu as costas e começou a subir as escadas para as salas.

••

Entrei na cabine do banheiro e fiquei lá olhando pra parede, por um breve momento tinha esquecido o motivo de eu ter pedido pra descer. Bellamy era o cara mais irritante e convencido, isso porque eu havia lhe conhecido em apenas um dia. Só nesse breve tempo ele despertou em mim raiva, ao ponto de me fazer ir a um local não muito apropriado. Ele não é o tipo de companhia que eu esperava, não iria terminar o último ano tendo que aguenta-lo.

Lembrei-me da lista que estava em meu bolso e me animei voltando para a sala. Iria entregar para o professor assim que o sinal tocasse.

Quando passei pela porta, não resisti revirar os olhos ao ser obrigada a sentar ao lado dele outra vez.

—E aí está. —O professor falava, prosseguindo com a aula sem notar minha entrada. —A biologia em ação.

Olhei para o lado perifericamente. O Blake continuava com aquela cara dissimulada.

—Será que podemos falar sobre sexo agora? —Um garoto perguntou, levantando a mão.

—Semana que vem. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para debater o assunto.

Como se fosse o atendimento de minhas preces, o sinal tocou e os alunos levantaram e saíram tão rápido quanto o Bolt.

 Bellamy empurrou a cadeira para trás.

—Foi divertido. Vamos repetir a dose um dia desses.

Antes que eu pudesse pensar em uma resposta mais contundente do que simplesmente Não, obrigada. Ele se esgueirou por trás de mim e desapareceu porta afora.

—O que aconteceu na aula hoje? Foi quase pornografia. —Disse Jasper, aproximando-se da minha carteira.

Lancei-lhe um olhar que dizia: Não precisa exagerar.

—Ok, ok. —Ele recuou fingindo que estava desarmado.

—Preciso falar com o professor. Encontro vocês em frente ao armário daqui a pouco.

—Tá.

Fui até a mesa de Marcus, que estava sentado, debruçado sobre um livro. Entreguei o papel, e ele olhou parecendo nem ler.

—Clarke, essa é a segunda vez que pede para mudar de parceiro.

—Então deve ter entendido.

—Sim, você está acomodada. É como falei ontem, familiaridade não ajuda um biólogo.

—Investigador. —Corrigi irritada.

—Você e Jasper sempre sentaram juntos em minha aula, e nós sabemos que ele não para de falar um segundo. Isso atrapalha o desenvolvimento escolar de ambos. No caso do Bellamy Blake, ele é aluno novo, calado, e não sei se percebeu, mas ele parece ter repetido de ano.

—Uau. Nem parece. —Kane notou meu sarcasmo.

—Só de ter sentado aqui na frente e fazer dupla com você, ele tem ficado participativo. Hoje ele falou mais do que todos os dias em que esteve aqui, depois de ter sido transferido.

—Isso significa? —Sabia a resposta.

—Significa que não vou muda-la.

—Pela lei, nenhum estudante deve se sentir ameaçado enquanto estiver nas dependências da escola.

—Você se sente ameaçada?

—Me sinto constrangida.

—Isso não é motivo.

Queimei o cérebro tentando encontrar mais um argumento, mas aparentemente eu estava sem inspiração. Marcus começou a assobiar e saiu. Ele só podia estar enfeitiçado, o que mais queria? Além de sentar ao lado daquele idiota, tinha que me tornar repetente também?

 


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Notas finais do capítulo

Reviews?
Gente, definitivamente esta fic é movida por comentários, então não sejam tímidos, podem criticar, falar mal, falar bem, eu to aceitando viu?
Mil beijos
Ahhh quase esqueci, se preparem pq amanhã o cap vai ser intenso.



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