Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 23
remédios em excesso causam piadas


Notas iniciais do capítulo

Este cap é totalmente dedicado a Letícia Boldrini. Sua linda :3
Anjo obrigada pela recomendação, estou tão feliz em saber que a fic alcançou 4 já - o/ uhuuu - Quero agradecer por todos seus comentários tbm.
Foi tão bom entrar aqui no Nyah! e ver seu rostinho lá nas recomendações. São esses apoios que me deixa mais e mais empolgada e inspirada pra cont firme e forte aqui.
Novamente, gratidão. ♥ ♥ ♥



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O sinal do ultimo período tocou, libertando toda a euforia guardada durante a semana. Os alunos do terceiro ano pulavam, gritavam e abraçavam-se, enquanto eu caminhava pelo corredor escutando ecos, completamente atordoada. Não era assim que imaginava meu último dia na escola, mas também, nunca fora deste jeito que imaginei minha vida!

Abri o meu armário dando um adeus mental aqueles adesivos e a combinação do cadeado. Peguei o ultimo item restante ali e desviei de todos, tentando chegar o mais rápido possível em meu carro. Precisava sair dali, estava começando a me sentir sufocada.

 Assim que tranquei a porta do meu calhambeque, abafando todo o som e encontrando o silêncio, cai em lágrimas desesperadas. Meu coração parecia partido com a culpa que sentia. Sem perceber juntei minhas mãos e proferi preces impensadas: —Se há algo de errado comigo, cure-me. Por favor, cure-me!

Havia tempos que não me permitia chorar, mas ali, no meio de um estacionamento movimentado e repleto de alegria, soluçava em prantos.

•••

O centro médico de Coldwater ficava em um prédio de tijolos vermelhos de três andares, com uma passarela coberta que conduz até a entrada principal. Passei pelas portas giratórias de vidro e parei na recepção. A recepcionista logo avisou minha mãe. Ela, rapidamente chegou abraçando-me e perguntando como havia sido na escola. Não respondi como esperado, meu único pedido era saber o quarto em que Monty estava.

Sr. e Sr(a) Green me encararam assim que cheguei na sala de espera, suas expressões de desapontamento não me surpreendeu.

—Como ele está? —Minha pergunta, obvia, foi automática.

—O braço esquerdo foi quebrado durante a agressão, ele precisou fazer uma cirurgia. —Sr(a).Green respondeu, enquanto seu marido permanecia calado, como sempre.

—Ele está no quarto?

—Sim.

—Ele não pode receber visitas?

—Seu amigo já esta lá dentro.

—Jasper?

—Exatamente. —Ela soltou um suspiro profundo.

—Posso entrar também?

—Por mim nenhuns de vocês estariam aqui. Mas... Monty exigiu que eu, deixasse você entrar assim que chegasse. —Seu comum tom de repugnância com relação a nossa amizade, me fez prender a respiração por alguns segundos.

“Velha chata.”

Não esperei que ela soltasse prováveis ordens de raiva que estivessem presas em sua garganta. Apenas avancei até o corredor dos quartos e entrei assim que encontrei o dele.

O sentimento de culpa invadiu-me novamente quando me deparei com a cena de Jasper debruçado na cama, chorando, enquanto Maya acariciava seu ombro, -aparentemente tentando acalma-lo-. Monty permanecia deitado com o braço engessado, e o corpo com algumas marcas roxas expostas.

Os três me olharam no momento em que fechei a porta.

—Oi. —Minha voz saiu fraca, quase inaudível.

—Só faltava você. —Maya disse, tímida.

—Sinto muito. —Falei aproximando-me da cama.

O pequeno apenas revirou os olhos.

—Nunca mais, vocês dois me assustem desse jeito! Entenderam? —Jasper ordenou com os olhos umedecidos.

—A culpa foi minha. —Fiz o maior esforço para não chorar outra vez. —Eu vi o agressor, e mesmo assim, deixei que Monty saísse pra fora, sozinho.

—Você viu o assaltante? —Jasper me olhou surpreso.

—Eu sei que foi ele.

—Você não poderia saber... Claro que não é sua culpa. —Maya tocou levemente em meu braço.

—Vocês dois sabem que meu coração não é muito forte pra ficar recebendo esse tipo de notícia. —O Jordan insistia em nos acusar, ressentido.

—Ele passou a manhã inteira, aqui, no hospital. —Maya avisou.

—Exatamente, ele passou a manhã inteira mesmo! E agora, os meus pais estão te odiando ainda mais, por isto. —O pequeno Green falou, enfim. —E sim pessoal, eu ainda estou aqui se vocês querem saber.

—A gente sabe que você está aqui. —Jasper retrucou.

—Então será que da pra pararem de falar de mim como se eu não estivesse! —Monty bufou. —Estou cansado de você chorando. Desde que o horário de visita começou, a única coisa que tenho ouvido é seu choro irritante. Sinceramente Maya... não sei onde você encontrou masculinidade no seu namorado.

O casal se entreolhou, e então, Jasper me encarou secando as lágrimas de seu rosto.

—Nosso amigo aqui, está um mal educado desde que chegamos. A enfermeira disse que a culpa é do remédio, que está fazendo efeito. Logo ele vai dormir.

—Saco! Saco! Saco! —Monty repetia balançando a cabeça.

—Acho que vou deixar você aguentando ele, um pouco. —O magrelo segurou a mão de Maya. —A gente vai tomar água. Boa sorte, porque tá difícil.

O barulho da porta sendo fechada fez toda a coragem que eu possuía se esvair pela janela.

—Adoro drogas. Juro! São incríveis. Melhores do que os acordes do meu violão. Ei, ficou bonito. Acordes do meu violão. Meu destino é ser poeta. Quer ouvir mais? Sou bom em improvisos. Eu corri pra te ajudar. Ajudar. Ajudar. Ajudar. Ajudar... —Monty cantava as palavras.

Minha única vontade era de enchê-lo de perguntas. Era especialmente importante que eu ouvisse sua versão do ataque, antes que ele resolvesse esquecer.

—Sinto muito. —Não resisti e o abracei. Deixei que algumas lágrimas escorressem, até ouvir um leve gemido de dor. —Te machuquei? —Afastei-me.

—Deixa pra lá essa história de poeta. Meu destino agora é ser um comediante. Toc, Toc.

—Monty... —Eu respirava fundo.

—Você tem que responder ‘Quem é?’ —Ele revirou os olhos. —Vamos lá, de novo. Toc, Toc.

—Quem é?

—Victoria.

—Que Victoria?

—Victoria, a toalha que vamos para a praia. —Ele riu.

—Vou pedir pra enfermeira dar menos analgésico, ok? —Estava ficando mais triste com seu estado.

—Victoria tem seu jeito, mas ela é ruiva. —O pequeno continuava.

—Tenho certeza que é! —Entrei na onda do seu delírio.

—Não quer saber qual é o veredito?

—E qual é?

—Meu médico é um babaca. Parece um Umpa-Lumpa. Da ultima vez que passou aqui, começou a fazer a dança da galinha. E não para de comer chocolate. Principalmente bichinhos de chocolate. Sabe aqueles coelhos de chocolate que vendeu na páscoa esse ano? Foi o jantar do Umpa-Lumpa. Almoçou um pato de chocolate.

—Você disse sobre o veredito...?

—Sua mãe poderia ser minha médica.

—Eu é que deveria estar num leito de hospital. Não você.

—E ficar com todas as drogas? Não, não. Nem pensar.

—A polícia encontrou alguma pista?

—Not. No. Non. Não.

—Nenhuma testemunha?

—A gente estava no cemitério no meio da maior tempestade. A maioria das pessoas normais estava entre quatro paredes.

Ele tinha razão! Qualquer pessoa normal não estaria ali naquele momento. Mas era exatamente por isso que eu temia saber, quem teria sido aquele homem.

—Eu corri. Corri o mais rápido que pude quando o vi, te seguindo. Mas não consegui alcança-lo. Não consegui... —Parei em frente à janela. —Me desculpe.

—Eu estava subindo a ladeira do cemitério. Queria pegar o carro o mais rápido possível, porque estava com medo de que você ficasse sem ar, como aquelas outras vezes. E de repente ouvi passos atrás de mim, quando olhei, foi tudo muito rápido. Vi um revólver de relance e o cara apontando a arma pra mim. Como contei aos policiais, meu cérebro não estava exatamente me mandando registrar todos os detalhes da aparência dele. Eu só pensava: Caramba! Vou levar um tiro!... O sujeito me disse algo, deu algumas coronhadas em mim, e então sumiu. Depois, só consigo me lembrar de você chegando, no meio da chuva. Lembro que quando se abaixou pra me ajudar, não parecia ser você. Parecia uma outra garota, muito idêntica.

“Pergunte sobre o cara!”

—Você viu o rosto do homem?

—Tinha os olhos cinzentos. Ele usava uma mascara de esquiador, não consegui ver mais nada.

Quando ouvi a menção à máscara de esquiador, meu coração disparou. Automaticamente peças foram se encaixando num quebra-cabeça mental que nem sabia se existia. Eram tantas coisas que começavam a fazer sentido que eu sentia que meu cérebro não aguentaria e acabaria entrando em pane.

Eu não havia surtado, não havia tido uma alucinação, nem sequer imaginado. Monty era a prova de que não! Lembrei-me de como todos os sinais da batida, haviam desaparecido do carro do Jasper naquela noite. Não importava como, nem porquê, mas eu sabia que esse homem é real... e ele está em algum lugar, lá fora.

—Tem algo que eu preciso te contar. —O pequeno era o único agora que eu podia compartilhar sem me sentir mais maluca. —Lembra a noite que eu dirigi o carro do Jasper até em casa e achei que tinha atropelado um animal?

—Sim? —Disse ele, franzindo o rosto.

—Eu tentei explicar, mas parecia surreal naquelas circunstâncias. A verdade, é que não atropelei um animal aquela noite. Foi um homem. Um homem com uma máscara de esquiador.

—Não brinca. —Sussurrou. —Está querendo me dizer que o ataque que eu sofri não foi aleatório? Quer dizer que esse sujeito quer alguma coisa.

Senti o corpo pesado, como chumbo.

—Clarke, isso é muito perigoso, por que não contou antes?

—Tive medo que me achassem louca. Eu estava parando de tomar os remédios, não queria voltar.

—Precisa contar pra polícia.

—Não confio em ninguém.

—Então foi por isso que você estava agindo estranho. Era por isso! —Ele afundou no leito.

—Estou perdida, Monty...

—Meu corpo está formigando. —Ele interrompeu-me.

Encarei-o, analisando sua postura sonolenta. Ficara claro que a medicação tinha surtido efeito.

—Lá vem. —Falou. —A onda da droga... A qualquer momento um calor e tchauzinho dor.

—Monty. —Tentei novamente fazê-lo me notar.

—Toc, Toc

—Não vai contar nada mais, né?

—Toc, Toc

—Desculpa pelo que fiz.

—Toc, Tooooooooooc. —Falou como se tivesse cantando.

“Tá maluquinho.”

Suspirei.

—Quem bate?

—Victoria.

—Quem é Victoria?

—Victoria. Alguém chora, mas não sou eu! —Ele começou a gargalhar histericamente. —Victoria tem o seu jeito, mas ela é ruiva.

Percebi que era inútil insistir no assunto.

—Trouxe seus cadernos e livros do armário. O professor e a professora passaram as ultimas provas hoje, mas eles disseram que não vão considerar essa nota pra fechar sua média.

—Eles todos me amam. Sou foda!

—Onde quer que eu deixe suas coisas?

—Ali! —Ele apontou para a lixeira. —Vai ficar muito bem guardado. Pode ter certeza.

•••

Minutos depois, o magrelo entrou no quarto e ficou sentado ao lado da cama tentando aproveitar as poucas horas que ainda seria permitido. Maya e eu nos despedimos, e sentamos na sala de visita.

—A gente percebe que aqueles dois são ligados quando este tipo de coisa acontece. —Ela disse sorridente. —Jasper não quer sair do lado dele de jeito nenhum.

—Jasper e Monty são irmãos gêmeos, só nasceram em famílias diferentes. Nenhum pai e mãe aguentariam eles na mesma casa.

—Eu já disse o quanto admiro a amizade de vocês?

Sorri, mas minha mente ainda estava dentro daquele quarto. Descobrir que o homem dos meus pesadelos era real, tinha me deixado perturbada.

—Não quero te incomodar. Mas, eu tenho um compromisso com meu pai... E o Jasper não parece que vai sair dali tão cedo.

—Quer carona? —Perguntei analisando seu rosto. A palidez dela destacava sua grossa sobrancelha.

—Eu agradeceria.

—Tudo bem.

Bellamy era o único que eu pensava agora. Comecei a me recordar da minha surpresa em descobrir que ele e Lexa aparentemente se conheciam. Seria errado dizer que estava com uma única preocupação? Pois minha mente girava em confusão. Agora, mais do que nunca, almejava respostas conclusivas. Queria esclarecimento total, e ninguém iria me impedir.

—O Bo, alguma vez, já te falou sobre o Bellamy? —Perguntei, fingindo surgir com o assunto de repente.

Estávamos caminhando lado a lado em direção da saída do hospital.

—Bellamy Blake?

—Sim.

—Não converso muito com meu tio. Mas das poucas vezes que fui no fliperama, o Blake sempre estava jogando sinuca.

Se eu não pudesse manter-me em segurança sabendo que o homem da máscara podia estar planejando algo contra mim, pelo menos, cavaria até o fundo toda a verdade relacionada a eles.

—Conhece o Borderline?

—O melhor mexicano da cidade? Claro, conheço sim.

—Você se importaria de eu passar lá, antes? É rapidinho.

—Está com vontade de comida mexicana? —Maya sorriu.

—Estou morrendo de vontade. —Forcei um sorriso.

“Perfeito!”

 


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Notas finais do capítulo

>> Essa é só a metade do cap q escrevi. A parte mais intensa ficara pra depois.

Favoritem tbm
E comentem pooor favooor
Beijos e abraços
(To tentando ser fofa, proximo cap vou ter q ser mais fofa ainda)



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