Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 19
covardia não é do seu feitio


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouquinho. Mas foi quase lá haha
Queria agradecer a Heloisa por expressar tão precisamente o que eu desejo transmitir a vocês quando escrevo. Obrigada.
.
Este cap foi escrito com muito carinho.
Espero que gostem.



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Uma chuva fria caiu durante toda a manhã do sábado, e eu fiquei sentada próxima à janela, observando as poças no gramado aumentarem de tamanho. Eu tinha alguns papéis de rabiscos no colo, uma caneta apoiada sobre a orelha e uma caneca vazia de chocolate quente aos pés. Embora eu tivesse adquirido um entusiasmo contagiante por causa de Octavia, aqueles pensamentos torturantes ainda percorriam por minha mente.

De repente o som do telefone residencial me despertou dos questionamentos. Corri até a cozinha, na expectativa de serem os meninos.

—Alô! —Atendi um tanto afobada.

—Me diz que está totalmente entediada. —A voz reconhecível de Jasper me fez sorrir.

—Completamente entediada.

—Esqueça o tédio, pois eu vou fazer um convite que te deixará extremamente animada.

—Vamos ao Veneno comer açaí? —Insinuei uma possibilidade que realmente me deixaria animada.

—Não. É melhor ainda.

—O que pode ser melhor do que açaí?

—Estudar para a prova. —A ironia brincava em sua fala.

—Ainda estou esperando o convite animador.

—Não têm. —Pude ouvir o suspiro do outro lado da linha. —Monty está obrigando a gente ir à biblioteca.

—Não me diga.

—Ele está naquela fase do ano.

—A fase de nervosismo?

—Última semana de aula, no ultimo ano de escola... Eu diria que ele está na fase de nervosismo com doses de estresse acumulado.

—Toda essa pressão que o Sr. e a Sr(a)Green depositam nele. Tenho pena quando chega à semana de provas.

—Tem que ter pena de nós. O Monty é um gênio asiático. Já você e eu...

Ri daquela verdade, mas foi preciso alguns segundos para eu me preocupar.

—Acho que estudar vai nos fazer bem.

—Ah que droga, Clarke. Pensei que fosse dizer que não ia.

—Foi você que ligou.

—Mas eu tinha que ligar! Achei que você fosse me ajudar com uma boa desculpa.

—Deixa de ser vagabundo.

—Não dá, nasci assim.

—A gente podia estudar aqui mesmo, em casa.

—Esquece isso! Monty me avisou que já está na biblioteca.

—Ele nem quis carona?

—Quando se trata de biblioteca, acho que o cara tem alguma entrada secreta que liga a casa dele com as estantes de livros.

—Ah, Jordan. Meu querido Jordan... Tenho certeza que se entrarmos na faculdade, você vai ter que por si mesmo criar uma entrada com acesso a todos os livros possíveis.

—Sua tentativa de me deixar com medo foi bem sucedida. —Ele suspirou.

◘◘◘◘

▬▬▬▬▬▬▬

Depois que encerrei a ligação, não demorou muito até que eu estivesse passando pela porta da biblioteca central.

Na ultima mesa, próxima às janelas, encontrei Monty e Lexa compenetrados em uma conversa, enquanto cadernos e livros didáticos permaneciam espalhados.

—Boa tarde. —Sentei-me ao lado dela.

—Boa tarde. —Os dois responderam sorrindo.

—Devo me preocupar? —Apontei para uma folha do caderno dele que possuía uma infinidade de números.

—Preocupação é algo impossível de fugir, principalmente quando nossos futuros estão em jogo. —Disse ele.

—Monty estava me explicando sobre a dificuldade, porém inquestionável importância da física quântica. —Ela respondeu contente.

—Estamos nesse nível? —Fiz um movimento de que iria levantar-me novamente.

—Na verdade, estávamos agora mesmo discutindo filosofia. Lexa tem conceitos muito legais sobre a realidade. —O pequeno continuou.

—Adoraria ouvir depois. Nem mesmo eu sei o que é real. —Falei.

—Eu adoraria te explicar num outro momento. —Ela sorriu abertamente, e piscou.

Somente eu havia percebido esta piscada? O que isto queria dizer?

—Por onde vamos começar? —Foquei em Monty.

—Por Biologia e Sociologia, que são as disciplinas de segunda-feira. —Ele respondeu ao mesmo tempo em que olhava para trás.

—Procurando alguém? —Perguntei, também olhando para a mesma direção.

—Jasper está bem encrencado com as notas. Não acredito que ele não vai vir. —Exasperou desacreditado.

—Minha cabeça chega a doer só de pensar em notas. —Aproximei meu rosto e sussurrei para Lexa.

—Você é inteligente, vai se sair bem. —Ela sussurrou em resposta, e então segurou minha mão embaixo da mesa. —Acredito na sua capacidade.

—Espero que sim. —Encarei nossas mãos, mas ela não soltou. E isto, de certa forma, deixou-me satisfeita. Mesmo sem eu estar entendendo o jeito exageradamente feliz dela.

—Até que enfim! —Monty exclamou assim que um Jasper resmungão passou pela porta, aparentemente sem nem um pouco estimulo.

O magrelo caminhou em nossa direção, e foi possível ver seus olhos revirarem quando percebeu a presença da castanha, conosco.

—Não sabia que viria alguém, além de nós três. —Ele disse, colocando sua mochila no chão e sentando ao lado de Monty.

—Encontrei Lexa no caminho, e achei apropriado convidá-la para estudar. —Green argumentou.

—Quatro cabeças pensam melhor que três. —Tentei defenda-la.

 —Eu teria chamado minha namorada para vir também. —Jasper insistiu na implicância.

—Namorada? —Perguntei surpresa.

—Jasper pediu Maya em namoro. Os dois foram para um jantar romântico, e quem emprestou o dinheiro fui eu. —Monty respondeu antes mesmo que o amigo abrisse a boca.

—Parabéns. —Lexa não parecia ter se importado com a atitude dele.

—Eu vou devolver o dinheiro. —Ele ignorou-a.

—Não estou cobrando agora. Podemos simplesmente estudar? —A voz de Monty, sempre tão calma e contida, agora subia umas boas oitavas.

—Podemos. —O outro bufou com o impasse. Enquanto a mulher que trabalhava atrás do balcão fazia um sinal de silêncio com o dedo.

—Faço biologia em outro horário. —Monty abriu o livro da matéria, e nós todos copiamos sua ação. —Em que parte vocês pararam com o professor?

—A única coisa que sei, é que nesse bimestre todo falamos de sexo. —O magrelo disse arqueando as sobrancelhas.

—Reprodução humana. —Corrigi.

—É a mesma coisa. —Ele bufou.

—A prova dele não vai ser muito difícil. —Lexa participou da conversa que até então estava excluindo ela.

—Vai ser difícil sim. Principalmente quando temos virgens fazendo a prova. —Jasper retrucou.

—É anatômico teórico. Não necessita de prática. —Ela tentou argumentar, mesmo o outro não dando importância.

—Se bem que a Clarke e o aluno novo já devem ter estudado bastante pra essa prova, não é? —Jasper continuou brincar com as sobrancelhas, e no mesmo momento, senti a mão dela desencostar da minha.

—Por que diz isso? —Questionei-o, incomodada.

Jasper tinha deixado claro que não ia com a cara dela, mas isso não justificava o modo como ele agia. Entretanto, ao mesmo tempo em que eu desejava repreendê-lo, no fundo, sabia o porquê daquele comportamento.

Diferente dos pais do Monty, ele não havia crescido em uma família preocupada. Seus pais poderiam facilmente ser considerados hippies da década de 60, e sua casa azul podia ser confundida com um centro de incensos e silêncio. Toda a sua hiperatividade era culpa do exagero de calmaria do qual âmbito familiar viveu.

O dia que nos tornamos conhecidos, Jasper grudou em nós dois, depositando toda a sua carência de afeto e atenção nos únicos amigos que ele possuía. E nada mudou desde então... Ainda somos os seus únicos amigos, e ele é capaz de agir egoistamente toda vez que seu trio é ameaçado.

—Nada a declarar sobre quarta! —Ele riu. — Você saindo bêbada do fliperama, ao ponto de ser carregada. E ainda dizendo: Oh Bellamy, você tem um irmão gêmeo. Estou vendo dois de você. Quero os dois só pra mim. —Falseou a voz, tendo imitar-me.

O pequeno ao lado, ficou se segurando para não rir.

—Não me lembro disso. Será que dá pra parar de inventar?

—Não estou inventando. O Monty estava lá também.

—Bem... —O menor pensou em falar, mas eu chutei a perna dele.

—Aiiiiii. —O alvo não tinha sido atingido, e sim Jasper, que não demorou em responder igualmente.

—Aiiii. —Agora havia sido a castanha que recebera o chute infantil.

Nós três nos entreolhamos, e em seguida a encaramos.

—Desculpe. —Jasper teve a decência de se manifestar. —Eu tenho alguns problemas relacionados a ser normal! —Aquelas palavras caíram sobre mim.

—Quer saber... —Fechei o livro de biologia. —Acho que você tem razão Lexa!... Vai ser uma prova fácil. É melhor começarmos por sociologia.

—Uma boa ideia. —Monty também fechou o livro, compartilhando da mudança necessária de prioridades.

•••

Não percebemos que a noite chegara até as luzes serem acesas no local. Eu realmente tinha mergulhado no estudo. Jasper que já tinha guardado todo o seu material na mochila, agora mexia no celular. Deixei que eles decidissem o momento certo de parar. Eram muitas informações e reforços da memória para um dia apenas, e nossas mentes estavam esgotadas, dava-se pra perceber nos olhos cansados de todos.

Quando Monty decidiu terminar sua leitura, ele e Jordan levantaram e se despediram. E então, eu finalmente juntei coragem para olhar nos olhos da garota muda que ainda permanecia ao meu lado.

Lexa transmitia angustia. Ela arranhava a mesa fazendo um barulho baixo, porém irritante.

 —Jasper tem um jeito problemático de se relacionar. —Puxei o assunto, tentando justifica-lo.

—Não me importo. —Exasperou. —Se ele não gosta de mim, tanto faz.

—Parece chateada. —Insisti.

—Não estou. —Ela fechou seu caderno, o único material que trouxera.

Nunca fui boa em traduzir pessoas, enxergá-las além... Mas eu podia sentir certa decepção emanando dela. Como se toda a felicidade que ela ganhara quando me viu, evaporasse.

—E eu não estou fazendo o que ele tentou insinuar.

—Não precisa se explicar.

—Só quero que saiba que não é verdade.

Lexa levantou-se.

—Tenho que ir. —Disse irritada.

—O que acha de um café amanhã cedo? —Propus tão rápido que quase misturei as palavras.

“Isso!” A voz do meu consciente comemorou.

—Café? —Perguntou surpresa.

—Conheço um lugar aqui na cidade que faz o melhor café. Sei que é incomum jovens acordar cedo pra isso, mas faz tanto tempo... Seria muito bom se pudesse ir comigo.

—Que horas? —Eu havia acabado de renovar toda a sua esperança. Estava nítido.

—É aqui perto. Me encontre em frente a praça, às seis da manhã.

—Tá bem. —Um sorriso formou-se em seu rosto. Os olhos dela brilharam.

—Então, está marcado?

—Sim. —Ela saiu abraçada com seu caderno, seguindo para a porta principal. Lá na frente, acenou para mim e eu respondi o gesto com uma sensação reconfortante em meu coração.

Fiquei um bom tempo, ainda, sentada tentando entender o porquê Lexa expressou decepção quando mencionamos aquele acontecimento no fliperama. Era como se ela estivesse contente com algo a mais entre nós duas, que eu não faço ideia do que seja.

Eu sequer tinha a intenção de convidá-la tão cedo para uma saída. Minha boca simplesmente abriu e soltou as palavras. E isto era estranho! Não posso negar.

Acabei desistindo de protelar e caminhei até a porta da biblioteca, estava prestes a sair quando ouvi alguém chamar meu nome. Ao virar, vi Cassandra, -minha pedra do sapato na escola-, se aproximando.

—Cadê os seus amigos horrorosos? —Ela perguntou jogando seu longo cabelo para um lado. Atitude bastante comum daquela víbora.

—Não interessa a você. —Respondi ríspida.

Ela formulou um sorrisinho sínico e avançou um passo.

—Fiquei sabendo que você e aquela aluna nova masculinizada estão tendo um rolo.

—Puxa, foi ótimo falar com você, mas tem um monte de coisas que eu preferia estar fazendo agora, como colocar a mão dentro do triturador de lixo.

Prossegui caminhando, ignorando-a como sempre fiz.

—Na verdade eu não fiquei sabendo, mas este é um assunto que estou pensando em espalhar.

—O que você está querendo? —Virei-me.

—Eu vi aquele dia na aula de educação física, você não parava de secar ela. Depois as duas ficaram sozinhas na ducha.

—E qual o problema?

—Nenhum! Só quero que se lembre. —Cassandra apontou aquele dedo fino com uma unha postiça enorme, em minha direção. —Não tente me atrapalhar, e eu não postarei nada no ‘Face’ sobre suas preferencias esquisitas.

Deveria perguntar o que ela queria dizer com: atrapalhar, mas a raiva já havia me consumido.

—Chega! Mais uma palavra ou eu vou... —Nós duas sabíamos que era uma ameaça vazia.

—Você vai o quê?

“Esfolar sua cara no asfalto”

—Vaca. —Foi a única coisa que consegui dizer.

—Nerd.

—Piranha.

—Esquisitona.

—Porca anoréxica.

—Uau. —Falou, cambaleando para trás de forma melodramática, com a mão apertada contra o coração. —Devo parecer ofendida? Deixe eu lhe contar uma coisa. Isso não é nenhuma novidade.

O segurança na porta pigarreou.

—Muito bem, vamos parar! Resolvam isso lá fora ou eu vou telefonar para seus pais.

—Fale com ela. —Cassandra apontou o dedo para mim. —Eu estava apenas sendo simpática.

—Saiam daqui. —Ele ordenou zangado.

A loira encarou-me por alguns segundos mais, silenciosamente ela ainda estava me ameaçando. Por fim, decidiu sair. Não antes de rebolar até a porta, totalmente superior ao fato de estarmos sendo expulsas.

Eu não a segui. Tinha certeza do que poderia acontecer se eu fosse atrás dela, mas estava tão cheia de sentimentos negativos que poderia fazer alguma coisa da qual me arrependeria depois. Eu tinha de estar muito acima destas atitudes, afinal, nada estava acontecendo com Lexa. Ou estava? Não, não. Nós somos apenas amigas, e a ultima vez no carro fora um erro. E nada mais ocorreu desde então...

Dei meia-volta e segui até o elevador no fundo da biblioteca. Eu sabia que o elevador levava somente ao subsolo. Cinco anos antes, o município havia aprovado a mudança da biblioteca pública para aquele prédio histórico bem no centro da parte antiga da cidade. A construção de tijolos vermelhos datava da década de 1850, e o prédio tinha uma cúpula de arquitetura romântica e uma sacada que permitia a observação dos veleiros que se aproximavam. Infelizmente, não havia estacionamento, e por isso o túnel foi construído para ligar a biblioteca à garagem subterrânea do fórum, do outro lado da rua. O espaço servia agora aos dois prédios.

Apertei o botão e a porta se abriu. Entrei no cubículo e esperei que descesse.

O elevador chegou ao andar fazendo barulho e eu saí. O túnel estava iluminado por luzes fluorescentes que brilhavam com um tom púrpura pálido. Levei um momento para obrigar meus pés a iniciarem a caminhada. Fui assaltada pela súbita lembrança de meu pai na noite em que foi assassinado. Fiquei pensando se ele estava em uma rua tão escura e remota quanto o túnel que se abria à minha frente.

 “Aquilo foi um ato aleatório de violência. Você passou o ultimo ano paranoica em relação a todos os becos escuros, todos os quartos escuros, todos os armários escuros. Não pode passar o resto da vida apavorada pela perspectiva de ter um revólver apontado para você.” A vozinha lá no fundo dizia.

Determinada a provar que o medo estava só em minha cabeça, eu me dirigi para o túnel, ouvindo o som dos meus passos no concreto. De repente me perguntei o porquê de estar ali. Qual a lógica de me colocar em risco neste estacionamento vazio?

Foi quando uma silhueta saiu da escuridão. Interrompi o passo e meu coração perdeu o ritmo. O homem não precisava das sombras, já que sempre andava envolto de sua própria.

Recuei um pouco enquanto analisava sua aproximação. Seus olhos não pareciam nada bem comportados. O sorriso era malicioso demais para oferecer conforto.

—Então você e Octavia andaram se encontrando.

—Não sei do que está falando.

—O que ela lhe contou? —Bellamy ficou perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração.

—Nada. Eu não a vi. —Minha voz estava entregando meu desconforto.

—Eu sei quando está mentindo.

—Não ligo! —Lhe encarei com a expressão mais desafiadora que conseguia. —Eu não tenho medo de você.

A boca dele estremeceu, e eu tive praticamente certeza de que ele tentava reprimir sua habitual risada debochada.

—Como sabia que eu estava aqui? —Perguntei desconfiada.

—Achei que seria um bom palpite.

Eu não acreditei por um segundo que Bellamy estivesse ali por conta de um palpite. Havia algo nele quase predatório.

—O que aconteceu no fliperama aquela dia? —A pergunta saiu de mim, sem eu sequer calcula-la.

—Você bebeu demais.

—Foi você que me levou até em casa?

—Sim.

Minha respiração estava acelerada e eu mordi meu lábio inferior.

—O que estamos fazendo?

—Não estamos fazendo nada. Ainda. —Ele enfatizou a ultima palavra.

—Você desaparece e reaparece, e isso é cansativo. Não sei no que acreditar.

—É bom que seja assim. Quanto mais souber, pior.

—Não! —Alterei minha voz. —Você mesmo disse que precisava conversar comigo, e eu estou esperando.

—Pensei melhor sobre isto.

—Então por que deixou que eu tocasse em sua cicatriz?

—Não deixei.

—Deixou sim. Você foi comigo até aquele quarto e expôs. É óbvio que queria.

—Eu esqueci! —Gritou. —Esqueci-me dessa maldita cicatriz.

—Como pôde simplesmente esquecê-la?

—É o que acontece quando estou com você. —O Blake soltou todo o ar de seu pulmão. —Eu esqueço a aberração que sou.

Aquela revelação fez minha mente girar. Não consegui sentir outra coisa, senão vontade de segurar sua mão.

—Então fale. —Pedi. —Eu quero saber.

Bellamy olhou para nossas mãos entrelaçadas, e acariciou meu pulso marcado. Já estava ficando natural ele tocar em minhas antigas marcas.

—Você não está pronta.

—Pare!!! Tem noção do quanto minha vida esta um caos? Estou farta de todo mundo dizendo que eu não estou pronta. —Soltei da mão dele. —Octavia disse que é meu direito saber a verdade.

—Octavia lhe disse isso? —Ele sorriu como campeão. —Eu sabia que ela tinha ido até você.

Tapei minha boca no segundo em que a ficha caiu. Ah, que merda!

—Não. Não. Não. —Tentei dizer algo que anulasse o que já tinha sido dito.

—Eu sabia que ela iria fazer isto.

—Bellamy, ouça. —Agarrei seu braço. —Ela não disse nada. Nós só passeamos.

—Ela é meu problema, entendeu? Não quero que se aproximem outra vez. —Ordenou.

—Seu problema? —O encarei com raiva. —Ela não é problema algum. Muito pelo contrário, sua irmã é muito melhor do que você.

—Jura? —Ele sorriu petulante.

—Ela só está feliz por finalmente presenciar sua vida aqui na terra.

—Octavia não faz ideia de nada.

—Pois eu sei o que você é. Sei que não é o único. Sei que veio até mim por algum motivo, e eu vou descobrir.

—Existe algum motivo além do óbvio pra entrar em sua vida?

—Não sei... Você tem me perturbado bastante.

—E ainda assim, meu dia favorito, foi aquele que sentamos juntos na aula de biologia.

Parei alguns segundos, até me lembrar de como respirar novamente.

—Eu confio em você. —Falei com sinceridade. —Por favor, confie em mim também.

—Esse é o problema, Clarke... Você não deve confiar.

Então, sem dizer uma única palavra que me tirasse daquela sensação, ele me deu as costas e foi se distanciando. Fiquei totalmente confusa e sem reação, observando-o até que alcançasse a escuridão, que cobria gradativamente seu corpo.

Foi quando explodi.

—Então é assim? —Gritei. —Vem até mim, faz todas essas perguntas, e desaparece. Se diverte com minha confusão, com meus problemas!

Diante de minha fala, vi o diminuir os passos, mas sem parar de caminhar.

—Você é um covarde. —Cuspi as palavras sentindo meu rosto esquentar.

Ao ouvir isso, ele finalmente parou de caminhar. Então, virando-se com os olhos em chamas, perguntou, quase sibilando:

—Covarde?

—Sim, foi isso que eu disse. —Reforcei, sem me importar com o aviso em seu tom de voz.

Mal havia terminado a frase e ele já se encontrava caminhando novamente em minha direção a passos largos. Seus olhos negros pareciam mais enfurecidos do que nunca, só que nem mesmo vacilei diante de sua visão. Eu parecia pior.

No entanto, assim que chegou até mim, não gritou, retrucou ou hesitou. Apenas encaixou suas mãos em minha nuca e com urgência, levou meu rosto ao seu, capturando meus lábios com um beijo ardente.

Imediatamente, esqueci tudo ao meu redor. Passei meu braço por seu pescoço, trazendo-o para mais perto de mim, enquanto retribuía o beijo com igual intensidade. Bellamy desceu sua mão até minha cintura e eu sorri satisfeita com sua atitude.

Permanecemos assim até ele me soltar, e da mesma forma que da ultima vez na cozinha de minha casa, continuei com os olhos fechados e com a boca entreaberta, ainda tentando voltar à realidade.

—Quer sair em um encontro amanhã? —Perguntou urgente.

Abri os olhos, encontrando aquelas orbitas negras que eu havia viciado em pensar. Claro que era o que eu queria, mas também era o que eu não queria.

“Isso é tão errado!” 

E eu sabia que era. Sabia que o Blake nunca fora confiável. Por que tudo tem que ser tão complicado? Mas o que eu podia fazer, além de tentar ouvi-lo uma vez. Afinal, Octavia tinha pedido que eu exigisse isto.

—Sim. —Respondi certeira do meu objetivo. —Eu quero.

 


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Notas finais do capítulo

Comentem.
Favoritem.
Recomendem.
Indiquem para os amigos haha
Espero mesmo que todos se manifestem nesse cap. Quero muito conversar com vocês, meus anjinho(a)s
Beijo :3
Laila.