Contos De La Roza escrita por Tsuki Dias


Capítulo 1
1 - Um conto De la Roza


Notas iniciais do capítulo

O primeiro conto dessa série. Conheçam Ofélia e Rodrigo.



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Rodrigo embalou o corpo frio de Ofélia nos braços enquanto a levava para longe do rio que a tragara. As fortes chuvas da época elevaram as águas gentis, transformando-as em ardilosas correntezas ceifadoras de vidas. Encheram tanto o rio que a ponte de pedra que sobre ele passava desfarelara com as ondas como um castelo de areia na praia.

A trilha que seguia por entre as árvores levava ao seu local secreto, um lugar de descanso que construíra para si no meio da floresta, quando desenvolvera as habilidades necessárias para sobreviver sozinho. Uma grande árvore partida elevara suas raízes do solo, trazendo pedras soterradas de volta a superfície e formando, assim, o local perfeito para se esconder. O cheiro de mato e terra geralmente o acalmava e a escuridão parcial que a caverna proporcionava era acolhedora, mesmo com a luz que incidia às vezes.

Rodrigo passou pela entrada de seu covil e, com a mente, acendeu algumas velas dispostas pelo fundo do buraco, onde nem mesmo o mais persistente fiapo de luz ousava passar. Pousou suavemente a donzela sobre a cama de palha improvisada e pôs-se a observá-la. O corpo frio e delicado se estendia graciosamente em sua partida mortal, os negros cabelos molhados estavam empapados e emoldurados em volta do rosto fino e sereno, onde os belos lábios rubros que cobiçara todos os dias desde que a conhecera se tornavam azuis a cada segundo que a morte se alastrava.

As roupas molhadas aceleravam a frieza em seu corpo e quanto mais perto da morte ela chegava, mais difícil seria trazê-la de volta. Desnudou-se de suas vestes e seu orgulho, jogando-os num canto qualquer do esconderijo, e pôs-se a despi-la devagar, desatando os laços de seu vestido, tocando a pele exposta e se aninhando ao lado dela, relembrando tudo que acontecera até ali. Relembrando dos passos que o levaram àquele destino...

Seu pai era um Senhor influente e administrador de terras e campos dados pelo Rei Humano (como um pagamento por salvar a vida do pequeno príncipe), além de percursor do Conselho de seu povo. E ele, Don Rodrigo De La Roza, era seu herdeiro, tanto das terras quanto do título de realeza de seu povo, quando tivesse mais de um século e meio de vida. A vida inteira fora educado para assumir a liderança e a vida inteira se sentira frustrado com seu destino. Foi então que decidiu fazer sua existência valer a pena, antes que as responsabilidades chegassem.

O que não demorou muito.

Seu pai comprara o apoio de uma família de mestiços do sul, cujo sangue imortal estava a ponto de desaparecer, em troca de seu casamento com a herdeira. A revolta o consumiu de tal forma que mal conseguia raciocinar a respeito. Naquele dia, saiu com amigos e assaltou caravanas fora de suas terras, liberando toda sua raiva e frustração naquelas vítimas. Mal podia acreditar que estaria casado dali a cinco luas...

Uma comitiva simples apontou na estrada e efetuou o ultimo saque do dia. Permitiu que seus companheiros saqueassem os baús enquanto ele e seu primo Carlos se ocuparam da carruagem principal. Duas nobres viajavam naquela caravana, aparentemente a caminho de um casamento político. Uma delas, a de seu povo, era a visão da pureza encarnada. Cobria-se inteira com véus tão claros que confundiam-se com brancos, protegendo sua palidez da claridade excessiva e dos olhos dos homens. Mas a outra, a selvagem humana de belos cabelos negros, saltara da carruagem e pôs-se a lutar bravamente contra eles, protegendo sua Companheira com espada em riste e esgrima impecável.

Poderia ter acabado com a jovem, mas conteve-se. Estava admirado com a coragem da humana e a diversão que ela lhe proporcionara o fez esquecer todos os seus problemas. Quando desarmou a moça e preparou-se para reivindicar seu prêmio, a outra interviu, expondo-se mais que devia. Cecília não reclamou seus bens roubados, somente pediu que liberassem o caminho para que elas chegassem ao seu destino. Comovidos com a coragem que demonstraram, os primos De La Roza atenderam ao pedido da donzela e retornaram para sua morada após escolta-las à entrada da cidade.

E foi naquela noite que as coisas mudaram. Fora naquela noite que seu pai apresentou sua noiva. Eram Senhorita Cecília e sua dama de companhia humana, Ofélia, que vieram do sul para selarem o acordo entre as duas famílias. Era com Cecília que estava comprometido, mas fora Ofélia quem o interessara.

Os dias que se seguiram revelaram-se interessantes. Carlos ficara encantado com Cecília e sua fragilidade velada, ficando quase sempre em sua companhia. A afeição que o primo demonstrava para com sua prometida era digno de poemas épicos. E apesar se ser um tanto possessivo, nada o fazia mais satisfeito ver o cortejo dos dois.

Entretanto, seu relacionamento com Ofélia não fora dos melhores. Ela era arredia, reservada e definitivamente o odiava. Toda vez que tentara se aproximar, fora repelido duramente e cada vez que era repelido, mais e mais queria domá-la.

— Sempre a biblioteca... – ele riu acariciando os cabelos molhados. – seu lugar favorito em toda a propriedade... Ou era para fugir de mim que tu ias para lá, Preciosa?

Aquela noite foi a ultima vez que falara com ela.

Era tarde, passara da hora em que humanos deveriam dormir. Vagava pelo castelo, sem conseguir pensar em muita coisa quando a encontrara lá na biblioteca, sentada sobre o parapeito da janela lendo um livro grosso sob a parca luz de um toco de vela, trajando um vestido leve que revelava seu colo e braços, velados por um manto de lã sobre os ombros. Estava concentrada, séria e arredia. Mesmo em momentos solitários ela não baixava guarda, como se soubesse que algo espreitaria sua humanidade.

O que era verdade, dado o meio em que vivia.

— Tu não cansas de ler, Ratinha? – perguntou ao entrar na sala, assustando-a por alguns momentos. – devias estar na cama.

— E tu, Señor, devias cuidar de sua vida. – ela respondeu sem fôlego, marcando a página com uma fita. – desejas alguma coisa ou posso terminar minha leitura?

— Não se incomode comigo. – ele sorriu, puxou um livro qualquer de uma pilha e sentou-se no chão, aos pés dela, folheando as páginas no escuro.

— O que estais fazendo? – ela perguntou incomodada.

— O mesmo que você: Lendo.

— De cabeça para baixo? – ela quase sorriu quando ele ajeitou o livro. – o que queres comigo, De La Roza? Diga logo e deixe-me em paz.

— É esse tipo de atitude que me impede de ser direto contigo, Ofélia. – ele se levantou num ímpeto e a encurralou entre os braços, encarando-a firmemente no fundo de seus olhos. – quero saber se tu me odeias mesmo, ou é seu senso de responsabilidade que a impede de se entregar ao que sentimos. Eu a farejo, senhorita, e vem a mim com tanta intensidade quanto o cheiro de minhas vítimas. Eu a sinto e sei que também me sentes. Então, diga-me, Ofélia, por que me odeias tanto?

— Tu és o herdeiro de sangue, mas não entende suas responsabilidades. Não entende que meu dever é para com minha família e o teu com Cecília? Tu ainda vens me perguntar por que... – ela pausou, contendo as lágrimas de raiva que surgiam em seus olhos. - Tu não perderás nada se flertar com outras.

— Flertar? Achas que sou tão cretino a ponto de arrastar asas para qualquer uma? Achas que também não sofro com meu dever para com todos? Achas que eu seria tão cretino a ponto de roubar a amada de meu irmão enquanto penso em ti? Acho que é você, Ofélia, que não entende... E eu quero que entenda... Agora... – ele segurou o rosto dela entre as mãos e beijou-a longa e inesperadamente.

Sentir os lábios daquela humana sob os seus fora como provar o néctar dos antigos deuses. A pele dela se aquecia deliciosamente sob seu toque, revelando-se macia, sedosa e rosada onde a encontrava. Ela resistiu quando a enlaçou e colou-a em seu corpo, e tentou fugir quando deitou-a sobre a grande mesa de madeira maciça. Rodrigo prendeu suas mãos acima de sua cabeça e pressionou seu corpo contra o dela, obrigando-a a senti-lo como ele a sentia.

Os corpos de ambos queimavam, a luxúria se alastrava como fogo em grama seca. Mesmo acuada, mesmo imobilizada, Ofélia continuava a afrontá-lo, a encará-lo e a desafiá-lo. Não gritava, não emitia som, apenas forçava sua liberdade e encarava-lo com fúria e lágrimas. Podia ver que ela se odiava por estar naquela situação, e odiava-se ainda mais por querer. Podia ver em seus olhos, podia decifrá-la, e tinha certeza de que ela também o fazia... Que sabia que o desejo que sentia por ela não era vago.

Era real.

— Ofélia... Não me tenha mal. – ele começou aproximando-se do rosto dela. – por favor...

— De La...

— Rodrigo. Chame-me de Rodrigo. - ele a beijou novamente, traçando um caminho até o colo desnudo. A pele dela queimava e sua respiração era pesada, entrecortada e ofegante. Seu coração batia forte, bombeando sangue para todo o corpo delgado e alimentando a fonte bruta do cheiro dela. Era linda, maravilhosamente linda. – chame meu nome, Ofélia. Chame por mim.

— Ro... – ela balbuciou desconexa, incapaz de raciocinar. – Rodri...

— Diga Preciosa, Diga. – ele sussurrou em seu ouvido, deslizando os dedos por sua clavícula.

— Rodrigo... - ela sussurrou rendida.

Rodrigo não aguentou. Beijou-a, tocou-a com mais urgência que antes e deleitou-se com a correspondência dela. Céus! Se seu povo acreditasse em paraíso, aquilo seria uma pequena amostra. O cheiro dela impregnava o ar e a luxuria reinava na sala fria. Ofélia sussurrava seu nome e "preciosa" era o que saia de seus lábios quando parava de beija-la.

Quando um raio iluminou o céu e jorrou luz para dentro do cômodo, a face de Rodrigo mudou, liberando sua fera interior. Queria-a muito e a teria de qualquer jeito.

— Não! - ela gritou assustada quando ele a mordeu.

O sabor do sangue que inundou sua língua era diferente. Não se parecia em nada com o gosto do sangue humano, muito menos com o de uma mulher ardendo de desejo. Era estranho, forte... Sobrenatural.

Ofélia aproveitou seu momento de surpresa e empurrou-o longe, valendo-se de toda sua pouca força e desespero. Ela sentou-se assustada e afastou-se pela mesa, segurando o ombro ensanguentado. Ela o olhava com desespero, como se um segredo antigo e perigoso tivesse sido revelado... O que provavelmente acontecera.

— Ofélia o que... - Cecilia apareceu na porta, despida do véu que ocultava sua brancura inteiriça, seguida de Carlos. - o que houve?

— O que é... - Rodrigo perguntou aturdido, sentindo o sangue escorrer dos lábios. - quem são vocês?

— O que fizeste com ela, Rodrigo? - Carlos o apartou e o levou para longe das mulheres. - O que diabos tu fizestes?

O choque do primo o impedia de se mover. Seu olhar vidrado na jovem causava calafrios em quem o via e a força com que ele se obrigava a permanecer focado nela, desvendando-a e pedindo uma explicação era avassaladora. Mortal.

Ofélia simplesmente não ousava devolver o olhar. Limitava-se apenas a chorar nos braços de Cecilia, ainda estancando a ferida aberta.

— Fel... - Cecilia chamou tristemente, obtendo a atenção da humana. - temos que contar.

— Não!

— Ofélia!

— Não! - Ofélia chorou e correu para fora, deixando um rastro de sangue e lágrimas.

— Fel! - Cecilia chamou ao correr atrás dela.

— O que fizeste, Imbecil? – Carlos confrontou-o enfurecido. – o que fizeste com aquela jovem?

— Ela não é humana... – ele murmurou, se desvencilhando do primo. – Ela não é humana!

Rodrigo irrompeu a porta e correu para fora, para a chuva torrencial que banhava aquela noite tenebrosa. Cecilia estava caída sobre seus joelhos diante de uma Ofélia jogada ao chão, sangrenta e açoitada pelas gotas de chuva. Choravam e imploravam uma à outra para que cedesse à sua vontade. Aproximou-se delas e parou, olhando-as fixamente, pedindo uma explicação, uma luz... Uma verdade.

— Diga. – pediu, olhando no fundo dos olhos esbranquiçados de Cecília.

— Ceci... Por favor, não... – Ofélia suplicou, agarrando-se às vestes da outra.

— Sinto muito, Fel... Não temos mais escolhas. – Cecilia a abraçou e, aninhando-a protetora em seus braços, devolveu um olhar suplicante a Rodrigo, que as encarava seriamente. – Senhores, vos suplico por perdão. Perdoe-nos por guardar esse segredo. Nossas vidas dependiam desse sigilo, não sei o que será de nós, agora que vou revela-lo. Não somos o que pensaram. Não sou eu a herdeira que deverias desposar.

— Pare Ceci! – Ofélia gritou.

— Eu sou uma criada que crescera em companhia de uma jovem forte e maravilhosa que teria o mundo se o destino não fosse tão injusto. Eu, uma criada fraca e doente, ganhou a Dádiva da Noite em lugar dela, que tinha tudo para me odiar, mas ao invés preferiu me ter como irmã e amiga.

— Isso quer dizer... – Carlos interrompeu abismado. – Céus! Senhorita Ofélia é uma Sem-Presas? Como puderam trocar de identidade assim, sem cogitar que cedo ou tarde alguém descobriria?

— Não fomos nós, Senhor. Ofélia nem ao menos foi debutada para nos preocuparmos com isso. Iriamos para o isolamento logo se não fosse Don De La Roza propor a união. Nosso mestre ficou satisfeito com a proposta e esperou ansiosamente que sua filha legítima herdasse o sangue da família. Eu sou o plano B.

— Mas ele vai perder o nome da família e seu legado de sangue, se fores esposa de Rodrigo, Cecilia... – Carlos comentou horrorizado. – a menos... Ah, não...

— Entendes agora, Meu Senhor? Entendes porque sou tão fraca? Preciso me alimentar do sangue dela até que eu me torne sangue de seu sangue. Esse pecado que sou obrigada a cometer para honrar a promessa que fiz me consome dia após dia e aceitarei as punições que me reservam. Mas poupem Ofélia. Por favor.

— Se for puni-la por se alimentar de uma imortal latente, teria que condenar Rodrigo também, pelo que vejo. – Carlos suspirou cansado. – Primo?

Rodrigo não mais escutava. Tudo ao seu redor parecia se resumir ao som da chuva e o choro de Ofélia. Compreendia a história delas e, principalmente, as coisas ardilosas que os Anciões faziam pelo poder. Mas, mesmo entendendo, ainda se sentia traído, enganado... Tudo que fizera até ali podia ter sido diferente se soubesse da verdade. Poderia ter direcionado seus cortejos diretamente a ela, sem sentir culpa pela outra ou pelo compromisso que romperia.

Ofélia sabia de seus sentimentos e mesmo assim...

— Porque, Ofélia? – Perguntou a ela, baixando-se para encará-la.

— Eu lhe disse, Rodrigo, que meu dever era para com minha família. – ela respondeu rouca, devolvendo-lhe o olhar. – e nada iria mudar isso. Nada...

— Se é o que deseja, Minha Senhora... – Rodrigo levantou-se e, depois de uma reverência, afastou-se das duas, voltando para casa com o que restava de seu coração nas mãos. Estava destruído.

Na manhã seguinte não saíra do quarto e dedicou-se a espairecer em seu covil na floresta durante a tarde. Não ousaram importuná-lo e muito menos procura-lo. Provavelmente, Calos tentaria entender a situação e tentava levantar mais informações com Cecilia. Mas bem sabia que ela não diria mais nada e bem sabia que Ofélia não apoiaria mais a amiga depois de tamanha traição.

Só não entendia por quê de Ofélia manter sua posição tão fielmente, por quê de rejeitá-lo se tudo o que precisava era algumas gotas de seu sangue. Que diferença faria ser humana se a tornaria sua de corpo e alma do mesmo jeito? Se seria ela que planejava desposar enquanto deixaria Carlos ser feliz com sua amada Cecilia? Céus! Estava tão devastado, tão confuso!

— Rodrigo? – Carlos apareceu a sua frente, melancólico e abatido. – posso me esconder contigo?

— Claro, sente-se. – concedeu, observando o primo sentar-se pesadamente a seu lado. – o que houve? Pensei que estivesse consolando Cecilia há essas horas.

— Quem me dera Primo... – ele suspirou. – teu pai as expulsou, estão voltando para o sul hoje e quem sabe o que lhes acontecerá quando retornarem... Cecilia chorava tanto e não pude fazer nada... Sinto como se estivéssemos abandonando-as.

— Também estou mal por causa delas, mas... Foi ela quem me bloqueou, não o contrário! Não posso obrigá-la a minha vontade.

— Mas vai deixa-la partir assim?

— Pergunto-te o mesmo. Afinal, Cecilia não vai partir também?

— Eu vou encontra-la na ponte. Se ela quiser vir comigo, levá-la-ei para minha terra, em Oviedo.

— Vais me abandonar também?

— Se tu não fizeres algo a respeito, perderá mais que minha companhia. – ele expôs o levantar-se. – o problema de ambos é que não veem outras soluções para seus problemas, e por causa disso, todos estão sofrendo. Agora lhe pergunto Primo, virá comigo vê-las ou mofará sozinho aqui?

Rodrigo sorriu ao lembrar-se do sermão que o primo lhe dera naquela hora e do calor que preenchera seu peito quando fora com ele à ponte, enquanto cortava seu braço e o dela, em linhas verticais idênticas a partir dos pulsos. Lembrava-se da conversa que tiveram enquanto esperavam e lembrou-se do som longínquo que as pedras em arco faziam ao se desprenderem umas das outras. Devia ter dado mais atenção àquelas premissas. Devia ter previsto que algo aconteceria.

— Eu devia ter imaginado que a ponte estava se desfazendo... O peso das carroças e de todos sobre ela a estilhaçaram. Por um instante, Carlos e eu ficamos sem reação quando vocês caíram no rio. Eu devia ter sido tão rápido quanto ele ao salvar Cecilia. – ele suspirou culpado, acariciando o rosto pálido de Ofélia. – por minha causa, você ficou tempo demais presa naquela carruagem submersa. Sou o único culpado por tudo isso, Preciosa. Espero que me perdoe.

O vampiro voltou à realidade quando a morte chegou para sua amada. O fraco coração que lutara para manter o corpo vivo se rendera ao cansaço e começara a falhar. Rodrigo se apressou e interlaçou sua mão à dela, pressionando os cortes abertos um no outro. Seu sangue era mais denso que o dela, mas o controle que tinha sobre ambos poderia salvá-la. Era aquele momento pelo qual esperou: o minuto que separava a vida da morte, onde poderia resgatá-la do submundo e ergue-la na nova vida que lhe pertencia desde o nascimento.

O problema seria se ela não suportasse a viagem.

— Não devia ter te pressionado, Preciosa. E definitivamente não devia tê-la deixado partir de minha casa. – ele falou decidido, segurando a mão dela enquanto lutava para mantê-la viva. – eu sei o que vai acontecer se você não sobreviver, mas eu não quero esse futuro! Volte para mim Ofélia! Fique comigo preciosa! Peça-me o que quiseres, faça de mim o que desejares, mas volte... E seja minha...

Longas horas se passaram enquanto ele travava aquela luta com os ceifeiros que a carregavam. Estava cansado, sedento e fraco demais para sequer manter-se no controle. Nunca ficara tão seco antes e se não se controlasse, se não a salvasse... Fracassaria em tudo que acreditava em um único dia.

— Por favor, Ofélia... Volte para mim, Preciosa... Por favor...

— Rodrigo... – uma voz fraca e trêmula soou dos lábios do corpo ao seu lado. – Se... Nosso filho tiver olhos azuis e cabelos escuros... Quiero llama-lo de Miguel.

— Sim, minha Preciosa. Esse será o nome. Então fique comigo para sempre.

Siempre...


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