Annabeth recolheu os copos e limpou a última mesa da lanchonete, e permitiu-se respirar aliviada, havia finalmente terminado. Tirou seu avental, soltou os cabelos e despediu-se dos colegas, logo indo até a porta e passando pela mesma, sentindo uma leve brisa embalar seu corpo. Soltou um sorriso mínimo, bendita seja a liberdade.

Antes que pudesse dar o primeiro passo sentiu uma mão fazer pressão sobre seu ombro e virou-se, levemente assustada pela repentina aproximação, mas aliviou-se ao ver parado ali Ethan.

Não se classificava exatamente como amiga do garoto, estava mais para colega, porém simpatizava com ele, havia mudado a imagem terrível que possuía do garoto após conhece-lo melhor, ele não era, no fundo, uma pessoa ruim, era apenas muito influenciável e tinha más companhias.

—Oi. –Annabeth sorriu da melhor forma que pode, por mais que tudo que quisesse naquele momento fosse ir para casa, poder tomar um belo banho e deitar-se em sua cama enquanto lia seus livros, forçava-se a disfarçar que não queria estar ali.

—Oi. –Ethan devolveu o sorriso e tombou a cabeça, como se quisesse dizer algo mas estivesse se contendo.

—Precisa de algo? –Annie pediu, mesmo que não estivesse tão interessada, podia simpatizar com Ethan, mas não ao ponto de importar-se realmente com ele.

—Na verdade... Eu queria... –Ethan parecia escolher com cuidado as palavras que dizia. –Tem um filme que estreou esses dias... –Parecia desconcentrado, como se estivesse com vergonha e de fato estava.

—Sim, e daí? –Annie não queria exatamente ser grossa, apenas soou mais desinteressada do que gostaria, não que realmente tivesse vontade de dar um fora em Ethan, apenas não se interessava na indústria cinematográfica, era, de fato, uma amante dos livros.

—Então... É um filme sobre arquitetura, na verdade, acho que é sobre arquitetura greco-romana... E como você curte esses negócios achei que talvez você fosse querer... –Ethan ia dizendo mas naquele momento Annie já havia esquecido o cansaço, seu rosto se iluminara e ela parecia uma criança que acabará de ganhar um doce.

—Arquitetura greco-romana...? –A fala da garota soou extremamente animada e isso animou Ethan, que estava com o rosto levemente corado.

—Isso. Eu ouvi falar que demorou meses de pesquisa a finco para que esse filme fosse produzido, eles queriam faze-lo da forma mais fiel possível a história real. –Ethan soara tão animado quando Annie.

—Uau, finalmente um filme com base nos dados corretos, estou farta desses filmes que parecem que saíram da imaginação de algum diretor mirabolante... –Annie sorriu docemente mesmo que estivesse reclamando.

—Isso quer dizer que você vai comigo? –Ethan questionou, parecendo um tanto inseguro.

—É claro. –Assim que Annie respondeu, Ethan pareceu aliviado. –Quando é a sessão? –Questionou, espreguiçando-se.

—Na verdade... –Ethan olhou de relance para o relógio em seu pulso. –É daqui a pouco.

—Hum? Já? –Annie surpreendeu-se. –Que ótimo! Estou ansiosa.

Ethan sorriu e logo tomou o caminho, sendo seguido por Annabeth. A menina ajeitou seus cabelos, que agora parecia ter vida própria, em um coque e tentou dar uma “passada” com as mãos nas roupas.

Durante o caminho até o cinema iam se envolvendo em conversas triviais e hora ou outra em alguma conversa um tanto mais profunda. Annabeth surpreendeu-se com a compatibilidade que possuía com Ethan, até então, achava que o máximo que tinham em comum era que estudavam na mesma escola e trabalhavam na mesma lanchonete, mas esse passeio mostrou que possuíam outros pontos semelhantes.

Ethan mostrou-se um amante da literatura, em especial a literatura jurídica. Ele também era muito decidido com relação ao futuro, ele tinha intenção de formar-se em direito e tentar chegar ao cargo de juiz, ele falava sobre advocacia com o mesmo amor que Annie falava da arquitetura e isso a encantou.

Ao chegar ao cinema Ethan logo se ofereceu para comprar a pipoca, já que os ingressos já tinham sido adquiridos e por mais que o orgulho de Annie a inclinasse a dizer não, teve que aceitar, pois a falta de dinheiro no momento era maior que o ego.

Assim que Ethan lhe ofereceu o ingresso Annie sentiu um calafrio, como se alguém lhe encarasse, uma sensação desconfortável. Mordeu os lábios e balançou a cabeça, afastando esse pensamento; às vezes era supersticiosa de mais, herança que infelizmente trouxe de sua mãe.

Entraram na sala do cinema e o filme logo começou, após alguns trailers e propagandas. Annie mal podia conter a ansiedade.

Logo nos primeiros minutos já estava totalmente envolvida pelo filme, ele estava realmente muito fiel. As construções eram ricas em detalhes e eram totalmente fieis as reais e isso deixava Annabeth extremamente empolgada.

Em determinado ponto, no momento em que Annie foi pegar um pouco de pipoca, seus dedos, acidentalmente, esbarraram nos de Ethan; a menina logo tratou de puxar a mão de volta porém o garoto não seguiu seu gesto, pelo contrário, parecia que ele queria enlaçar os dedos. Annie porém logo descartou esse pensamento, ela era paranoica demais, precisava pensar menos em detalhes mínimos.

Tentou concentrar-se no filme mas era difícil com Ethan ao seu lado, o garoto a todos os momentos fazia algum comentário, desnecessário, sobre o filme, tirando a atenção de Annie dele e isso já começava a irrita-la. E outro ponto, a cada momento ele tentava encostar em si, seja juntando os dedos na pipoca ou tocando os braços no braço da poltrona. Isso já estava deixando Annie desconfortável.

Um pouco depois da metade do filme, Annabeth sentiu um braço ser passado sobre seus ombros e mordeu os lábios, aquilo ultrapassava o limite do aceitável, Ethan sabia o que era espaço pessoal? Isso irritou a loira, ele havia chamado ela para ver o filme porque gostaria de debater sobre ele com ela ou porque queria dar em cima de si?

Tentou dar um gesto sutil que aquele braço a estava incomodando, mas além de não saber o que era espaço pessoal, Ethan também não sabia ler linguagem corporal, pelo jeito. Annie suspirou, frustrada e Ethan interpretou como um suspiro apaixonado (?) fazendo com que ele chegasse ainda mais perto.

Mais uma vez, sentiu aquela sensação desconfortável de alguém lhe encarando, mas achou que o mal estar vinha do perfume exageradamente forte que Ethan usava.

Tentou mais uma vez, da forma mais delicada que conseguia, livrar-se do abraço. Podia facilmente empurrar ele, mas isso seria grosseria e querendo ou não ele havia convidado ela para ver um filme espetacular e ainda havia pago a pipoca!

—Ethan? –Annie sussurrou.

—Sim? –Ele abriu um sorriso e aproximou seu rosto do dela, muito perto, na opinião de Annie. Ele definitivamente precisava aprender a respeitar o espaço pessoal.

—Você poderia pegar mais pipoca? –Usou a única desculpa que soaria convincente o suficiente, ela estava desesperada, afinal de contas. E não era uma desculpa qualquer, ela realmente queria mais pipoca.

—É claro. –Ele sorriu, mesmo que parecesse um tanto decepcionado e logo levantou-se para buscar pipoca.

Annie respirou aliviada assim que os braços saíram de cima de si, o doce e fresco ar da liberdade!

Ajeitou-se na cadeira e murmurou para si mesma “calma, já passou da metade do filme, aguente mais um pouco, pense no final espetacular que esse filme terá...”

E foi somente com a recitação desse quase mantra que Annie conseguiu aguentar as investidas nada sutis de Ethan. Mas o filme valia a pena e disso a menina sabia.

Mas o que não sabia era que sua paranoia não era nada de sua cabeça, há alguns acentos dali, alguém a observava, com um olhar magoado.