Silena abraçou-se com o máximo de força que podia, enquanto se agachava, sentia as lágrimas escorrendo, aquilo doía muito. Silena estava no banheiro feminino, em uma das cabines, tentando não fazer barulho.

Seu estomago ardia, implorava por comida, o pouco que havia vindo logo foi despachado por vômitos, aquilo queimava. Silena não sabia como lidar, devia estar acostumada com aquela sensação, mas não deixava de ser horrível.

Mordeu os lábios com força e levantou-se, mesmo zonza e sentindo a visão turva, abriu a porta e seguiu até a pia, jogando água fria em seu rosto, sem se importar com a maquiagem, queria apenas um pouco de alivio.

Suspirou e olhou-se no espelho, estava deplorável, a roupa amassada, a cara borrada e o cabelo bagunçado, sentia vontade de rir, quanto mais tentava ficar linda mais feia parecia. Tratou de tentar ajeitar aquilo que chamava de cara.

Conseguiu minimizar o estrago e ajeitar a maquiagem, passou um pouco de blush para disfarçar a palidez e um perfume para disfarçar o cheiro forte de vômito. Respirou fundo algumas vezes tomando coragem para sair do banheiro, e saiu já sorrindo.

Caminhou até seu armário e conferiu mais uma vez o rosto no espelho que havia ali, passou um pouco mais de batom e perfume, para garantir, porém tirou os brincos e decidiu prender o cabelo. Pegou seu livro e fechou o armário e logo viu um garoto loiro parado ali.

—Hey, Si. –O garoto disse, de forma despreocupada.

—Oi, Travis. –Silena sorriu para o garoto, apesar de não ser exatamente amiga dele. –Tudo bem? –Questionou, mais por educação do que por curiosidade.

—Bom, na verdade, sim... Mais ou menos. –Ele se atrapalhou na resposta.

—Aconteceu alguma coisa? –Franziu a sobrancelha perfeitamente delineada.

—É, eu preciso da sua ajuda... Acho. –Ele parecia confuso com a própria resposta que deu.

—Hum... Certo... O que foi? –Silena perguntou.

—Você foi na festa do Mason, né?

—Sim. –Silena assentiu e Travis pareceu aliviado.

—Ótimo. Olha, eu sei que isso pode parecer estranho mas eu preciso encontrar de novo uma pessoa que eu vi na festa mas eu não sei como, e já que você é a deusa da popularidade e conhece todo mundo, bem que você poderia ajudar esse mero mortal a encontrar, né? –Travis disse, de forma divertida mas deixando transparecer ansiedade.

—Quer encontrar alguém? –Silena repetiu para confirmar.

—Sim, uma garota. –Travis completou.

—Uma garota? –Silena abriu um sorriso malicioso e soltou uma gargalhada a ver ele arregalar os olhos. –Certo, você pode descrever ela? Sabe o nome ou algo assim?

—Ela tem olhos verdes, cabelos castanhos com umas mechas verdes, ‘tava de vestido verde e o nome dela é Gardner. –Travis disse e Silena fez uma expressão surpresa. –Katie Gardner.

—Por que está procurando a Katie? –Silena perguntou, de forma quase acusadora.

—Conhece ela? –Travis fez uma expressão surpresa.

—Sim, ela é minha amiga, ela estava comigo na festa. –Silena disse, sorrindo.

—Sério? Uau, que aliviado, fica mais fácil encontrar ela. –Travis sorriu.

—Por quer tanto encontrar ela? –Silena arqueou uma das sobrancelhas, fazendo uma expressão desconfiada.

—Ah, eu preciso... falar com ela. –Travis atrapalhou-se. –Isso, preciso falar com ela.

—Apenas falar? –Silena ainda mantinha a expressão desconfiada.

—Sim...

—Ok. –Silena soltou uma risada. –Quer falar com ela agora? –Questionou.

—Se a vossa divindade pudesse... –Respondeu Travis, fazendo Silena revirar os olhos e logo soltar um suspiro.

—Eu não vi ela hoje... –Comentou mais para si mesma do que para Travis. –Bom, vamos procura-la.

E saíram em busca da hippie, porém não a encontraram; Silena não pode deixar de estranhar e perceber que já fazia alguns dias que não falava com Katie, logo desesperou-se ao lembrasse do pai dela, meu deus, e se algo tivesse acontecido com ela?

—Silena? –Travis chamou. –Que cara é essa? –Questionou, fazendo Silena perceber que fazia uma expressão muito preocupada.

—Nada. –Suspirou e viu de longe uma garota com roupas pretas andando. –Oh, já sei, vamos falar com a amiga dela, talvez ela saiba de algo.

Dito isso logo foram ao encontro da garota que ouvia música. Cutucou levemente o ombro da menina e ao ve-la se virar, com uma expressão confusa, tentou sorriu.

—É, oi. –Disse, parecendo um pouco desconfortável, era verdade que Thalia lhe intimidava um pouco.

—Oi? –Parecia uma pergunta a resposta.

—Bom, pode parecer estranho a pergunta aleatória, mas você sabe da Katie? –E ao dizer o nome da garota a expressão de Thalia mudou.

—Katie? –A expressão da garota tornou-se dura. –Por que quer saber dela?

Silena trocou olhares com Travis, que parecia avulso, ele olhava em volta como quem procura algo, no caso dele alguém, então, soltou um leve suspiro antes de dizer.

—É complicado. –Foi tudo que pode dizer, não podia simplesmente expor que Travis a estava procurando, a garota ali poderia entender de forma errada e não seria nada bom se isso acontecesse.

—Escuta aqui... –Thalia começou a falar de uma forma que fez Silena assustar-se, a Punk levantou-se e encarou Silena um pouco de cima, já que ela era mais alta (mesmo Silena usando um salto). –Se você for uma daquelas patricinhas nojentas que ‘tá procurando a Kat para zoar com ela ou tentar humilhar ela saiba que se, eu descobrir que você fez algo com ela, você ‘tá morta. –Ameaçou de forma que surtiu efeito, Silena arregalou os olhos e até mesmo Travis parecia meio sem reação, Thalia era de fato muito assustadora quando queria.

—Não...Não é isso... Eu... –Silena embaralhou-se, estava assustada. Thalia estreitou o olhar e pareceu lembrar-se de algo.

—Você fez alguma coisa, não fez? –Questionou de forma acusadora. –Por sua culpa ela esta faltando, não é? O que você? –Quanto mais dizia mais assustadora parecia, Thalia estava realmente enraivecida.

Silena não precisou de muito para entender o porquê da agressividade, sob o olhar raivoso, Silena conseguia identificar preocupação, Thalia se importava verdadeiramente com Katie e toda aquela postura ameaçadora resultava da desconfiança, naquele momento Silena entendeu, da forma mais verdadeira possível, o que a amizade e o sentimento de proteção para com alguém significava.

A menina não segurou um leve sorriso e fez um sinal discreto para que Travis saísse e assim que o fez, Silena disse:

—Eu entendo que se preocupa com a Katie, acredite eu também. –Disse e viu que Thalia mantinha o olhar ameaçador. –Eu sou amiga dela também.

E ao dizer aquela frase a expressão de Thalia suavizou.

—Você disse que ela está faltando... Aconteceu alguma coisa? –Silena assumiu um semblante preocupado.

—Sim. –Thalia suspirou e toda a fachada agressiva dissipou-se. –Eu não faço a mínima ideia do que aconteceu, fui na casa dela mas não tinha ninguém.

—Já tentou ligar para ela? –Silena disse, tentando não deixar fazer aquilo soar muito obvio.

—A Katie não tem telefone. –Thalia parecia sentir-se prepotente, o que de fato ela sentia.

—Acho que não temos opção. –Silena suspirou. –O jeito é ir na casa dela e não sair de lá até conseguir informações. –Cruzou os braços de forma decidida.

—Gosto do seu jeito de pensar. –Thalia afirmou e Silena sorriu.

—Você tem planos para depois da aula? –Questionou Silena; Thalia pareceu pensativa por alguns instantes e em seguida negou.

—Só o almoço mesmo. –Deu de ombros. –Por que?

—Porque iremos a casa da Katie. –Afirmou. –Você sabe onde é certo? –Pediu de uma forma constrangida, era vergonhoso ser amiga de Katie e não saber onde a menina morava.

—Sei, sei sim. –Thalia afirmou. –Você quer mesmo ir? Não tem que ir em um salão de beleza, num shopping ou algo assim? –Questionou, de uma forma irônica, que, de certo modo, foi cômica, ao olhar de Silena que soltou uma risada.

—Assim você me ofende. –Disse, de falso modo, ainda sorrindo. –A Katie é mais importante para mim do que meu cabelo ou minhas roupas.

—Uau, a Katie é muito importante para você, mesmo. –Thalia disse rindo.

—Sem dúvidas. –Silena disse e sorriu docemente, era bom ver o que Thalia realmente era sob toda aquela armadura.

Logo um barulho razoavelmente alto pode ser ouvido, algo como uma barriga “roncando”, a barriga de Silena, que logo arregalou os olhos. Thalia, que não havia ouvido com clareza, olhava em volta em busca do que teria causado o som.

—Você ouviu alguma coisa? –Questionou e Silena negou de modo quase frenético.

—Não, eu preciso ir. –Disse de forma rápida e saiu de lá, quase correndo, tentando disfarçar a vergonha e a fome que sentia. –Nos encontramos hoje após o fim da aula.