Thalia revirou mais um pouco a comida em seu prato com o garfo e soltou um suspiro, atraindo a atenção de Zeus e Hera.

—Você mal tocou na sua comida. –Zeus informou, quase para si mesmo e ao analisar um pouco a filha, com as sobrancelhas arqueadas, completou. –Está doente?

—Estou com sono. –Respondeu dando de ombros, queria que fosse apenas sono mas sabia, em seu íntimo, que não era apenas sono.

Qualquer pessoa que tivesse o mínimo de convivência com Thalia também acharia que a menina estava doente. Tudo começava pela aparência, Thalia não estava Thalia, usava uma calça jeans totalmente simples, sem correntes, rasgos ou cintos pesados; usava um all star preto, não seu coturno, e o tênis não tinha nenhum spike ou customização; estava com os cabelos presos em um coque bagunçado, sendo que eles estavam sempre soltos ou, no máximo, num rabo de cavalo; estava com uma blusa regata simples, sem estampas nem nada, e nem mesmo preta era, era um tom de azul profundo. A única coisa “padrão Thalia” ali era o colar de raio, apenas; nem mesmo a maquiagem característica de Thalia se encontrava, os delineados e sombras fortes foram substituídos por uma leve camada de lápis de olho e mascara de cílios.

E isso já era esquisito por si só, o que piorava era a falta de animo, sentou-se a mesa e começou a comer em silêncio, não implicou, fez comentários ou iniciou uma discussão, como fazia todas as manhãs, apenas sentou-se e tentou comer.

—Oh, querido, vai ver ela apenas decidiu ser uma adolescente normal. –Hera disse, com certa ironia.

—Só nos seus sonhos. –Thalia revirou os olhos. –O dia que eu passar por aquela porta com um vestido e dizendo coisinhas fofas podem me dar uma remada na cara.

—Uma remada? –Zeus franziu o cenho. –Com remo? Onde vamos arrumar um remo?

Thalia bufou e levantou-se, puxando a mochila com si.

—Onde pensa que vai? –Zeus a chamou.

—A escola?  -Retrucou de modo irônico.

—Não sem antes tomar seu café direito. –Zeus ordenou-a.

—Não estou com fome. –Respondeu-lhe e saiu antes que dissessem mais.

No momento que saiu de casa logo puxou um cigarro para os lábios, acendendo e tragando, com certa brutalidade. Não conseguia se entender, por que estava com tanta raiva? Por que só conseguia pensar em Luke? Na possível namorada dele? Por que mal conseguia fazer suas coisas? Aquilo lhe consumia, sabia bem o que estava sentindo.

Ciúmes. Estava completamente dominada de ciúmes e odiava aquilo. Dava passos rápidos enquanto tentava esvaziar a cabeça da imagem de Luke com outra garota qualquer, aquilo lhe dava refluxos. Sentia-se patética, sempre achou que nunca se apaixonaria, que não seria como aquelas garotinhas que se apaixonam e ficam sofrendo, sonhando acordadas e suspirando e olha como estava? Mordendo-se de ciúmes.

E o que mais doía era saber como se iludirá, acreditará que tinha uma chance com o garoto, não conteve o suspiro e olhou para o céu, implorando para que um raio caísse em cima de si, porém não foi um raio que caiu e sim uma garota, fazendo Thalia ir ao chão.

—Ai. –Foi o que conseguiu soltar.

—Ah, meus deuses, me desculpa. –A outra garota, que havia levantado em um pulo ao perceber que havia derrubado alguém, ajudava Thalia a levantar. –Não foi minha intenção... eu não te vi... eu não... –A menina se embolou nas desculpas, fazendo Thalia dar uma risada.

—Sem problemas. –Thalia disse enquanto ajeitava novamente o coque, que bagunçará.

Aproveitou para ver melhor a garota com quem trombará, tinha quase certeza que a conhecia. Ela era loira e tinha olhos cinzas bem característicos, usava roupas simples e carregava alguns livros.

—A gente se conhece? –Thalia questionou.

—A gente estuda junto. –A menina esclareceu. –Sou Annabeth Chase. –Disse, lhe estendendo a mão.

—Thalia Grace. –Respondeu, e apertou a mão dela.

—Desculpe parecer arrogante, mas eu realmente preciso ir. –A menina desculpou-se e saiu correndo, Thalia apenas riu da pressa da menina.

Só então percebeu que seu cigarro havia caído e bufou ao ve-lo caído próximo ao asfalto, respirou fundo e ajuntou, jogando no lixo logo em seguida; não acendeu outro pois logo chegaria ao colégio.

E ao chegar logo foi procurar Katie e franziu o cenho ao não encontra-la em lugar nenhum, o que era suspeito já que ela teria prova hoje e Katie era extremamente responsável com seus compromissos. Thalia não pode evitar preocupar-se, pensou em ligar para ela mas lembrou-se, com certa raiva, de que a amiga não possuía telefone, tudo que Thalia pode fazer foi suspirar e planejar falar com Katie no dia seguinte e exigir uma explicação por parte da menina.

Sem muito mais o que fazer dirigiu-se a sua sala, não estava afim de perambular pela escola sob o risco de trombar com Luke, Thalia ainda não tinha estrutura suficiente para sorrir e felicitar o garoto pelo namoro, sentia-se que se visse Luke desabaria em lágrimas e parecer fraca na frente dele era o que Thalia menos queria.

Conseguiu chegar a sala e desejou não o ter feito, já que naquele momento o único lugar vago era ao lado de Lacy e desde o incidente do chiclete Thalia evitava ao máximo aquela garota, sabia que não conseguiria se controlar se ficasse ao lado daquele projeto de futuro hambúrguer.

Sentou-se, a contra gosto, e viu Lacy arregalar os olhos e tentar fingir que lixava as unhas com toda sua atenção, Thalia não evitou o sorriso, era ótima a sensação de causar medo numa garota daquelas.

Logo o professor chegou e aula iniciou, Thalia tentou prestar atenção, não queria reprovar nem nada, porém era difícil, toda a vez que tentava se concentrar tudo que vinha em sua mente era Luke, por Hades, Thalia estava exatamente igual aquelas meninas ridiculamente apaixonadas que sempre criticara.

Por sorte as aulas passaram voando e logo viu-se livre daquele lugar porém não conseguiu  comemorar pois a primeira coisa que viu quando saiu de sua sala foi Luke, encostado no corredor, mexendo no celular e parecendo distraído. Thalia trincou os dentes e tentou passar rápido mas Luke a viu e como um raio, correu ao seu econtro.

—Hey, Punk. –O garoto disse sorrindo e logo fazendo uma expressão surpresa. –Uau, você ‘tá bem diferente.

—Hum, oi, Luke. –Thalia disse tentando não parecer decepcionada ou triste.

—Aconteceu alguma coisa? –Seu semblante agora era preocupado.

—Não, eu só... –Thalia não sabia o que dizer, não podia admitir que estava apaixonada por ele e cheia de ciúmes, por isso tratou de usar uma desculpa. –Estou preocupada com minha amiga que tem faltado sem aviso, só isso.

—Ah, ela tá bem? –Luke questionou, parecendo aliviado por não ser nenhum problema com Thalia em especifico.

—Espero que sim, vou ir na casa dela para ter certeza. –Disse tentando poder sair daquela conversa que estava lhe machucando.

—Legal, posso ir com você? –Luke sugeriu animado, já visando poder passar mais tempo com Thalia.

—Ah, é... –Thalia surpreendeu-se, não esperava aquela resposta. –Acho melhor não. –Assim que ela disse isso o sorriso de Luke murchou. –O pai dela é meio controlador e se ele ver um garoto por lá pode entender errado e eu não quero dar mais problemas para ela.

—Entendo... –Ele disse e logo retomou o sorriso. –E o que vai fazer depois?

—Eu vou para casa. –Thalia disse e logo completou, usando mais uma desculpa. –Um garoto da minha sala vai lá para a gente fazer um trabalho. –Não era totalmente mentira, só que quem iria era uma garota, Thalia não sabia porque ter mentido, apenas o fez.

—Um garoto? –A expressão de Luke mudará drasticamente.

—Uhum. –Thalia apenas concordou e logo mudou de assunto. –Preciso ir, tchau.

—Tchau, Punk. –Luke abaixou o olhar e assim que Thalia estava longe de si soltou um palavrão junto com uma bufada, enquanto chutava um armário, quem era o idiota que iria na casa de Thalia?

Já a menina tentou não pensar no que acontecerá apenas dirigiu-se para a casa de Katie. Assim que chegou tocou a campainha repetidas vezes e ninguém lhe atenderá, logo estranhou. Bufou e amaldiçoou a garota por não ter um celular, teve que ir embora, de nada adiantaria ficar ali igual a uma louca tocando a campainha.

No caminho para a sua casa tudo que conseguia pensar era em Luke e sem perceber finas lágrimas escorriam por seu rosto, meus deuses, Thalia estava chorando por Luke. Ao perceber isso esfregou com violência o rosto e respirou fundo, que patético.

Não podia chegar em casa naquele estado, seria degradante, por isso mudou a rota e seguiu, sem rumo, pelo centro e logo entrou dentro de uma cafeteria aleatória, estava com fome, afinal. Sentou-se e esperou pela garçonete e ao levantar o olhar, franziu a testa.

—Ei, Annabeth, certo? –Questionou ao ver a garota loira usando um avental e segurando um bloquinho de anotações.

—Thalia. –A menina foi simpática. –Bem vinda, já sabe o que vai pedir?

—Já. –Thalia fez o seu pedido, um sanduiche e um suco de ameixa.

—Certo, trago tudo em uns minutinhos. –A loira sorriu e seguiu para a cozinha.

Thalia não evitou de fazer uma expressão abatida, tudo estava dando errado novamente em sua vida, quando finalmente Thalia sentia que as coisas poderiam dar certo elas simples desmoronam em suas mãos. Finalmente conseguirá uma amiga e agora não sabia do paradeiro dela, conseguiria achar alguém que lhe entendia e sentia pela primeira vez o que era o tal amor e ele sai em um encontro e possivelmente esta namorado, para melhorar tudo só faltava sua mãe voltar para lhe encher mais.

 Sem perceber, novamente, as lágrimas caíram, mas que merda estava acontecendo com si?

Annie chegou até a sua mesa com seu pedido e surpreendeu-se ao ver Thalia chorando, aquela ideia era esquisita, Thalia parecia tão inabalável, logo correu para perto dela.

—Hey, calma. –Annie tentou tranquiliza-la e fez algo que não costumava fazer, abraçou a menina e deixou que ela chorasse em seu ombro.

Thalia deveria sentir-se exposta, odiava demonstrar a mínima fraqueza e ali estava ela, chorando nos ombros de uma completa desconhecida, porém sentia-se bem, sentia que ela não zombaria de si. Chorou até lavar a alma e ao se separarem sentiu-se envergonhada.

—Desculpa. –Murmurou, e tentou limpar os últimos resquícios de lágrimas. –Deve estar me achando meio ridícula agora, né? –Tentou perguntar com falso humor.

—Que nada. –Annie respondeu de forma singela. –As vezes é bom lavar a alma. –Disse com um sorriso. –Olha, não sou a melhor a conselheira do mundo, mas dizem que desabafar é bom...

—Não quero parecer rude, você me ajudou, mas não faço o tipo que compartilha traumas, sabe? –Thalia disse e suspirou. –Mas muito obrigado.

—Não tem de que. –Annie sorriu de forma simples. –Tenho que voltar para a minha bancada, mas se precisar pode me chamar.

—Obrigado, Annie. –Thalia disse e tentou comer o lanche.

Assim que conseguiu, levantou-se, pagou a comanda e despediu-se de Annie, com a promessa de que se veriam no colégio, logo dirigiu-se para casa, dessa vez mais aliviada. E quando chegou logo tratou de correr para o seu quarto, deitando-se e colocando o travesseiro na cabeça, berrando o mais alto que pode, o que estava acontecendo com si? Por que tudo estava desmoronando?

Ouviu seu celular tocar, chegará mensagem; sem animo pegou o aparelho e viu um mensagem de Luke pulsando, logo sentiu os membros travarem e milhões de pequenas borboletinhas passarem por seu estomago, patético.

Quis apagar a mensagem mas a curiosidade foi maior, maldita menina apaixonada.

“Já terminou o trabalho?” Era o que dizia, franziu a testa e arregalou os olhos ao lembrar-se do trabalho porém, como não recebeu nenhuma mensagem de sua parceira tranquilizou-se, vai ver ela também se esqueceu.

“Quase.” E mesmo sem querer, Thalia respondeu a mensagem, droga de garoto lindo que impedia Thalia de conseguir ignora-lo.

“Seu colega ainda está na sua casa?” A pergunta veio logo em seguida.

“Sim” Respondeu, aquilo era meio obvio, que tipo de pergunta era aquela.

“Hum.” Foi a resposta de Luke, o que estava acontecendo?

Droga de vida que desmoronava, Thalia já não sabia mais o que fazer.