Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 16
Tecidos


Notas iniciais do capítulo

Olá, desculpe se atrasei, é que eu perdi os arquivos (ah Zeus, porque me odeias tanto?) e tive que reescrever.
Como sempre, desculpe os erros, aproveite a história e nos vemos lá no final.
Boa leitura ♥



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Katie estava sentada no pátio do colégio, sob um antigo salgueiro bem ao fundo, sozinha e lendo um livro de romance clássico, seu gênero favorito. O silêncio gostoso pela falta de alunos e brisa lhe balançando os cabelos presos em uma trança lateral davam uma sensação de paz a garota.

As aulas já haviam terminado e todos os alunos, exceto aqueles que participavam de algum clube, já haviam ido embora. Katie participava do clube de jardinagem mas já havia acabado suas tarefas. Ela estava indo embora quando viu o salgueiro e entre ler seu livro calmamente em paz ou ir para casa e aguentar seu pai a escolha era bem obvia.

Ela gostaria de estar com Thalia mas a menina tinha um compromisso, leia-se obrigação, com a família dela e se ela faltasse teria muitos problemas. Katie não entendeu isso muito bem pelo que ela sabia Thalia não era exatamente o tipo de garota que ligava para sermões, mas dessa vez parecia sério, Katie não tinha certeza mas Thalia havia mencionado algo como uma reunião com um comprador e com Luke, e ele parecia alguém importante já que a amiga punk parecia desesperada e afobada para encontra-lo.

Respirou fundo e fechou os olhos sentindo a brisa mais uma vez se acariciar, passou os dedos pela grama, sentindo toda aquela vida em baixo de si e sorriu. Ela sentia-se muito mais humana longe de toda aquela humanidade, de toda aquela falsidade e das brigas.

Os últimos dias tinham sido insuportáveis para a garota. Os machucados ainda não haviam sarado completamente, era possível identificar algumas marcas ainda mas por sorte estava conseguindo disfarçar, graças a Silena, que se mostrou uma pessoa ainda melhor do que Katie esperava. Mas essa quase amizade com Silena era a única coisa boa, além de Thalia, que estava acontecendo na vida de Katie, as brigas com o pai se tornaram algo ainda mais constante, tudo era motivo de briga, um papel no chão, uma manchinha no casaco até mesmo pelas goteiras no teto o pai de Katie a culpava, era ridículo.

Porém o que ela podia fazer? Brigar, revidar ou ao menos tentar argumentar seria pior, e a situação de Katie já era horrível o suficiente. Ela nem menos sabia o porquê de tudo isso acontecer com si, ela sempre tentava seu melhor, não levantava a voz a ninguém, nunca foi o tipo rebelde, nunca cometeu nenhuma infração, nem mesmo mentir fazia com frequência. Limpava, passava, cozinhavam, fazia de tudo em casa, tentava ser a filha perfeita, alguém que seu pai se orgulhasse em chamar de filha, mas parecia que quanto mais se esforçava mais as coisas davam errado para si. Todo seu esforço era em vão, ela era uma pessoa em vão.

Sentiu os olhos, que ainda estavam fechados, se umedecerem. Ela queria chorar, berrar, gritar ao mundo que ela só queria ser a filha perfeita, berrar a todos que a culpa não era dela, a dor que ela sentia era tanta, Katie sentia que estava morrendo sufocada nas palavras que não disse, sentia que estava sendo consumida pela dor.

Os cortes nem mesmo ajudavam quanto antes, o alívio passageiro já não era mais suficiente. Katie se sentia tão frustrada, sua alma pesava. Sentia como se sua vida já não fizesse mais sentido. E se o tal suicídio fosse à saída? Ela já havia lido muito sobre isso, sobre garotas que sentiam-se como ela e encontraram no suicídio a saída definitiva para tudo de ruim que acontecia na sua vida.

Seria tão fácil, era só mudar a direção do corte. Era tão simples, um corte na vertical e adeus problemas, adeus sofrimento, adeus dor, adeus noites acordadas pensando no que poderia melhorar, adeus noites que fora dormir chorando, adeus sentimento de inutilidade...

—Katie? –Uma mão em seu ombro e uma voz suave a tirou completamente dos pensamentos mórbidos. Só foi preciso mirar sua linha de visão nas unhas pintadas de rosa em seu ombro para saber que era Silena ali.

—Oi. –Quase sussurrou, abriu os olhos e forçou seu melhor sorriso, o que não era tão difícil, havia ela vivia fingindo.

—Desculpa te tirar do seu momento. –Silena disse um tanto embaraçada.

—Sem problemas. –Katie disse gentilmente e fechou seu livro, guardou-o na sua mochila e se levantou, limpando a grama que havia ficado presa em sua saia. –Aconteceu alguma coisa?

—Na verdade não. –Silena começou e mexeu as mãos e Katie percebeu que a menina segurava diversos tecidos. –Você havia dito que faria roupas para mim, naquele dia... Acho que você já esqueceu, não precisa fazer se não quiser, eu sei que deve ser um incomodo e... –Silena começou e olhava para baixo, envergonhada, Katie não conseguia entender aquela atitude, era ela quem devia estar envergonhada, Silena era a pessoa mais linda do colégio, ela tinha uma presença tão imponente que era cômico vê-la com vergonha de alguém como Katie, por isso a menina a interrompeu.

—Eu não me esqueci, eu pedi apenas para ter certeza que não havia nada de errado. –Katie sorria com ternura. –É claro que eu quero fazer as roupas para você, será a primeira vez que eu terei uma modelo tão bonita.

—Sério? –Silena disse abrindo um sorriso gigante. –Obrigado, obrigado, obrigado... –Pulou de alegria e abraçou Katie no calor do momento, Katie arregalou os olhos e meio desajeitadamente retribuiu o abraço e assim que Silena a soltou e percebeu o embaraço da menina se desculpo, dando uma risadinha.

—Hãm, você que me entregar os tecidos e deixar que eu faça ou quer vir comigo e assistir? –Katie sugeriu, torcendo para que ela escolhesse a primeira opção, ela não gostaria de receber Silena em sua casa, não pela presença da garota mas pela presença de seu pai.

—Na verdade... –Silena começou e passou as mãos no cabelo em um ato de nervosismo? –Eu queria saber se não podemos ir à minha casa, sabe, o meu pai ficaria preocupado, eu já não tenho passado muito tempo em casa. Não se preocupe, nós temos maquina de costura, linha, agulhas, tudo que você precisar, mas se não quiser eu...

—Eu posso. –Katie sorriu, quase aliviada. –Na verdade, fico aliviada por você ter sugerido isso porquê na minha casa seria um pouco complicado de fazer...

—Seu pai é muito rigoroso? –Silena perguntou sorrindo, inocentemente.

—Muito, quase controlador. –Katie respondeu com simplicidade, e Silena assentiu, mesmo sem imaginar tudo que o pai da menina já havia feito.

—Podemos ir? Desculpa se pareço afobada, é que estou ansiosa para ver meu novo vestido. –Silena deu alguns pulinhos e logo parou, envergonhada.

—Claro. –Katie disse, soltando uma gargalhada.

Silena sorriu e engatou seu braço com o de Katie e saiu quase saltitando pelo colégio, fazendo Katie, em um primeiro momento, estranhar o ato de lhe andar de braços dados e em seguida sorrir, envergonhada. Em nenhum momento houve silêncio, Silena era muito falante e estava sempre puxando assunto, provavelmente para não deixar Katie desconfortável, e esse ato deixava Katie feliz, sempre respondendo calmamente todas as perguntas que Silena tinha.

—Ah, sem querer parecer intrometida... –Katie surpreendeu Silena fazendo uma pergunta, até então a hippie só estava ouvindo e respondendo. –Porquê você estava até aquele horário no colégio? Quer dizer, você faz parte de algum clube?

—Eu faço parte das líderes de torcidas. –Silena respondeu sorrindo, e Katie soltou uma risada, a resposta não era nem um pouco surpreendente.

—Mas, novamente sem querer sem intrometida, hoje não é dia de treino. –Katie falou com cautela.

—Touche*. –Silena soltou uma risadinha. –Eu estava trabalhando num projeto, numa maquete para ser mais exata.

—Ah, sim. –Katie assentiu. –Sozinha? –Questionou inocentemente e sorriu maliciosa ao ver o rosto de Silena avermelhar-se.

—Não, é, que... bom, o trabalho é individual, mas eu não sou muito boa em fazer essas coisas sozinha... então o Charlie que estudava a noite e agora estuda de manhã esta me ajudando e ele... –Silena começou e se embolou fazia pausas e falava muito rápido, com o rosto mais vermelho que o normal e a respiração quase ofegante.

—Calma. –Katie colocou a mão livre no ombro da menina. –Não precisa se explicar para mim. –Katie sorriu tranquilizadora.

—É claro que preciso. –Silena franziu as sobrancelhas. –Somos amigas agora, e é isso que amigas fazem. –Falou de forma simples, pegando Katie de surpresa, fazendo a menina abrir a boca em surpresa.

—Tudo bem... –Katie começou e pode perceber que ela queria falar sobre o tal Charlie. –Então... Quem é esse Charlie? –Perguntou de forma sugestiva e sorrindo.

—O nome dele na verdade é Charles, mas eu apelidei de Charlie, achei mais fofo, sabe? –Silena parecia ter entrado num mundo próprio, entrando em devaneios e sorrindo de forma fofa. –O pai dele tem uma oficina e ele é um amor de pessoa, apesar de ter uma aparência meio intimidadora. Ele tem um jeito todo assustador, sabe? Mas os olhos deles, aqueles olhões lindos dele, são leitosos, tão gentis que é impossível sentir medo. Ele é tão...

E continuou falando sobre Charles enquanto ia de braços dados com Katie, segurando vários tecidos e sorrindo bobamente enquanto pensava no mais novo amigo, ou quase.


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Notas finais do capítulo

*Touché (lit. "tocado", em francês; pronuncia-se tu-chê) na esgrima, é usado como um reconhecimento de um golpe, dito pelo esgrimista que foi golpeado.

E aí? O que acharam? Eu achei mórbido ahsuahsuahs
Não se esqueçam de comentar, amo ver a opinião de vocês, ah e se preparem porque logo logo Traviszinho aparece e-e
Beijocas, minhas amoras lindas ♥